NÃO SE FAZ DE LOUCO, HEIN…

Quando o foco é você e mais ninguém… muito cuidado.

Como a indústria do turismo é, em sua grande maioria, formada por empresas médias e pequenas, ou por representações de companhias aéreas, destinos, hotéis, ou seja, empresas que são maiores em suas bases, mas que acabam tendo pouca representatividade no trade tupiniquim, vemos uma certa informalidade, amadorismo e até camaradagem na relação com a imprensa especializada. Media training? O que é isso? Assessoria de imprensa? Só tenho distribuidora de releases que traduzo da matriz. Estratégia de comunicação? Favor ver em nosso site em inglês.

Com isso, aparecem distorções dos dois lados da relação. Jornalistas que se acham íntimos e acabam passando do limite no dia a dia com sua fonte e executivos que acreditam que o veículo está ali para ser fonte gratuita de anúncios e boas notícias. E suas assessorias são orientadas para isso e até ganham por notícia veiculada e centimetragem conseguida no impresso. A famosa publicidade gratuita, o comercial na faixa, a notícia que interessa mais à empresa que ao leitor…

Mas o bom jornalista, a boa assessoria e o bom executivo se sobressaem mesmo em momentos de crise. Nessa hora, jogar a culpa em terceiros, tentar desviar o foco com leviandades e acusar um lado ou outro são medidas de desespero que saem pela culatra. O jornalista tem de entender a posição da empresa que passa por momento delicado e se ater ao que lhe é dito oficialmente e a empresa tem de entender que nem só de notícia boa vive o trade, e que tapinhas nas costas não salvarão empregos, empresas e imagens até então (quase) ilibadas.

Não há assunto que não possa ser tocado atualmente. Da pedofilia na igreja católica à Operação Lava-Jato, das contas na Suíça ao surto de ebola e dengue, da crise hídrica à falência de empresas que um dia brilharam, do tráfico de drogas ao de órgãos, dos pilotos em depressão aos terroristas decapitadores… todos os assuntos merecem posicionamento e/ou transparência. Se o porta-voz da empresa não se posiciona, a bola de neve cresce. Se ele tenta culpar um concorrente, fica feio e sua imagem prejudica a de sua empresa. Se ele quer dizer como e onde as más notícias vão sair, ele fica no limite da tirania e dos ditadores, que querem controlar funcionários, a imprensa, os clientes.

Por outro lado, se o jornalista vai além do que lhe foi dito e publica algo sem provas, ou usa parcialmente o que foi divulgado, não estará ajudando os leitores a entender o que se passa. Mostrar todos os lados é seu dever.

No turismo essa relação Imprensa x Empresas continua informal demais, amadora por demasiado. É estranho jantar com uma pessoa uma noite e na manhã seguinte dar a notícia de sua demissão, ou de que sua empresa faliu, ou de um acidente envolvendo a marca que representa. É delicado invadir o lado empresarial, sem resvalar no pessoal. O turismo é feito de pessoas e relacionamentos. Fechar a cara para os problemas só mostra intransigência e amadorismo. As máscaras caem, as empresas ficam.

Aqui na PANROTAS a recomendação é o diálogo claro e transparente, a publicação de palavras oficiais em relação a temas delicados, e focar na objetividade e verdade jornalísticas. Defendemos ainda a importância das análises, opiniões, de uma crítica ao que pode ser melhorado ou está sendo feito errado. Emoções baratas e chantagens emotivas não pertencem a essa relação. Nem mentiras ou omissões. E reiteramos: apenas o diálogo vai amadurecer os dois lados.

Quando o foco for você e mais ninguém, não aponte para terceiros. Mostre que você é capaz, seja transparente e, sobretudo, dialogue. Ficar falando sozinho é coisa de louco.