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O BRASIL QUE SONHA COM A VOLTA DO IRMÃO DO HENFIL

Nesse domingão fui assistir ao extraordinário espetáculo musical sobre Elis Regina, em cartaz no Teatro Alfa, no complexo do Hotel Transamérica em São Paulo. O musical é extraordinário e imperdível apenas por dois motivos: porque as interpretações deixadas por Elis Regina estão entre as melhores da história de nossa música e porque a estrela Laila Garin, que, ruiva de cabelos encaracolados, se transforma em Elis no palco e nos faz acreditar estarmos assistindo a momentos históricos da cantora, como o programa O Fino da Bossa, com Jair Rodrigues, a gravação de Águas de Março, com Tom Jobim, a interpretação de Arrastão, de Edu Lobo, a afinidade com Milton Nascimento, em um pot-pourri que abre o segundo ato e números inesquecíveis dos shows Falso Brilhante, Transversal do Tempo e Trem Azul.

O musical não te envolve pela dramaturgia, como Cazuza ou Metralha, ou pelo humor, como Tim Maia (há cenas um tanto constrangedoras até nesse aspecto), muito menos pela direção (que brilha nesses momentos citados, mas erra em muitos outros)… Elis e Laila bastam para nos arrebatar.

Nunca assisti a um show de Elis Regina – quando ela morreu eu tinha 12 anos, lembro que estava de férias em Natal. Mas sempre amei suas interpretações, sua emoção e dor (a cena de Atrás da Porta também parte o coração no musical)… Sou um grande fã e a considero sim a maior das cantoras brasileiras – e sabemos que a concorrência é pesada.

Foi, portanto, como um sonho realizado assistir a diversos shows de Elis, com Laila Garin.

Pena que o texto não estivesse inspirado. Mas não atrapalhou a emoção, mesmo quando encerra outro número excepcional (quando ela canta para Henfil O Bêbado e o Equilibrista) de forma inadequada. Queríamos explodir a aplaudir Laila de pé… mas a cena ainda se alonga e só conseguimos exaltar a grande atriz e as grandes estrelas no final.

Confesso que chorei durante O Bêbado e o Equilibrista. Elis era acusada por Henfil de simpatizar com o Exército, por ter cantado durante a abertura de uma olimpíada das Forças Armadas. Nesse momento ela explica que fora obrigada a cantar e ainda eterniza o hino de Aldir Blanc e João Bosco contra a repressão e em lembrança aos que partiram em um rabo de foguete.

Elis, ao tentar se justificar para Henfil, que ao final, claro, a abraça em prantos, diz ainda que já tinha feitos vários shows para sindicatos e que iria votar em Lula quando ele criasse seu partido.

O Brasil ainda não resolveu seu passado com a ditadura, Lula já foi presidente e não mudou o País, o Exército hoje ajuda nas pacificações e em ações contra a violência, que chegou a uma escala insuportável em todo o território nacional, poderes paralelos mandam mais que os oficiais… será que o Brasil de Elis para cá mudou como se esperava?

Quis o destino que ela se fosse antes que estivesse em casa, guardada por Deus, contando o vil metal.

Mas nos deixou interpretações definitivas. E que bom que temos Laila Garin incorporando (ela foi ao Jô e disse que não procura imitar Elis, mas está uma verdadeira encarnação da mesma) a estrela por algumas noites, agora na capital paulista.

Também não me engano… depois dela, apareceram outras lindas vozes na MPB. Mas essa entrega, essa história e essas notas rasgadas… só mesmo Elis.

Corram para ver. Estão lá as melhores canções, com a melhor interpretação possível. Ainda senti falta de Corsário e algumas outras… Fica para Elis, parte 2.

PS: Outra coisa interessante, é que em mais de um momento Elis diz ser a fã número 1 de Ângela Maria. Os ídolos também têm seus ídolos. Isso vale um outro post.

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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