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O JEITO COLIBRI DE SER

“Morreu a colibri. Em estrebuchos morreu, depois de quase uma semana de tristeza, em tentativas desesperadas para alcançar o alpiste com que se alimentasse. Parecia ter vida nos seus olhos, vida humana, não querendo ir-se do mundo, porque sabia que, como todos os colibris, o seu esposo morreria assim que ela morresse. Jamais houve um colibri que conseguisse resistir a morte da fêmea, e isso é a suprema grandeza de um amor. Mas, por fim, tristemente, a colibri partiu.

Mas, vendo que o colibri morreria, a dona dos pássaros, rapidamente, quando a fêmea morria, colocou diante do colibri um polidissimo espelho do mais fino cristal, e o colibri, que era míope ou narcisista, vendo-se refletindo no espelho, considerou duplicada a sua vida e assim continuou vivendo, voando serenamente, sem se perceber que partira sua companheira, sem sentir a mortal melancolia que leva todos os colibris à tumba quando falece a amada.

Mas lá veio o dia, o dia fatal em que um moleque atirou uma pedra na gaiola e o espelho se quebrou. E então, num minuto, lá se extinguiu também aquela frágil vida. O colibri morreu. O médico veio, examinou-o e disse tristemente: “Morreu de espelho partido”.

Moral: Ninguém pode viver sem o reflexo da própria imagem.”

O conto acima faz parte do livro Fábulas Fabulosas, de Millôr Fernandes, que lembro ter lido no começo da década de 1980, ainda na quinta série se não me engano.

E lembrando dessa história ontem, depois do primeiro Encontro PANROTAS, sobre Marketing no Turismo, acabei fazendo um link entre os colibris e nós, as aves do turismo.

Ao assistirmos a uma apresentação ou participar de um debate no turismo, nós, os colibris genuinos, começamos com a expectativa de vermos o que nós mesmos idealisticamente faríamos se estivéssemos no palco. Idealisticamente pois também não faríamos o que pensamos que faríamos, pois a dinâmica de um debate ou apresentação nos faz mudar os rumos a cada instante.

Eu mesmo fui ao encontro repleto de perguntas. Algumas consegui fazer. Outars não, como sobre o uso da assessoria de imprensa pelas empresas. Geralmente subordinada ao marketing, as assessorias viram peças-chave para conseguirem mídia de graça, muitas vezes para ações comerciais que caberiam em um anúncio. E esses assessores depois que a notícia sai ainda transformam tudo em dinheiro para colocar no relatório do final do mês: media value de tanto.

O uso das assessorias de comunicação ou imprensa no turismo é tão pobre que mereceria um painel só para isso. Primeiro porque os assessores, geralmente, limitam-se a disribuir releases. Os mais criativos resolvem “visitar a Redação”. Os que pensam são muito poucos e em geral a culpa é do responsável pelo marjeting.

Mas isso foi apenas um parênteses para algo que eu queria ver no debate, mas não apenas não vi como eu mesmo não levantei. Outros com certeza queriam mais temas debatidos, mas quando pegaram o microfone (aberto a todos) acabaram falando de outros temas. Enfim, isso é normal em eventos. E é bom que os assuntos não se esgotem.

Mas voltando à expectativa colibri: queremos que os palestrantes nos façam uma apresentação que acreditamos que nós mesmos faríamos se estivéssemos no lugar deles. Mas como isso é impossível, ou criticamos, ou elogiamos com ressalvas. Mas quem foi sem a expectativa colibri, acaba aprendendo mais e saindo mais satisfeito. Também gostamos de ser surpreendidos. E isso acontece com maior probabilidade ao ouvirmos alguém de fora do turismo. Fora do trade. Esses têm mais chances de saírem ovacionados, pois nossa expectativa em relação a eles é diferente.

Mas o colibri não vê que debater o óbvio, o que já se sabe, também é importante. E que as visões diferentes sobre o mesmo tema enriquecem a nossa própria visão.

Os pré-conceitos em relação a pessoas, temas, empresas…também atrapalham. Assim como a vaidade (por que ele está no palco e eu não? por que ele não me citou entre os exemplos de sucesso?), a teimosia, a inflexibilidade, o radicalismo…

E isso tudo é muito natural. Porque somos seres humanos e contraditórios e donos da verdade. Mas um dia depois, com certeza algo ficou. A reflexão foi válida. E o colibri aprende a apreciar o voo de outros pássaros, a beleza de outras plumagens.

Já passei muito por isso aqui na PANROTAS. Quando viajo ou deixo uma publicação para outro jornalista fechar (editar), fico esperando que ele faça como eu faria. Mas como não sou eu fechando, é claro que vai ficar diferente. E aí eu tenho de analisar se está bom ou ruim, independentemente de estar diferente do que eu mesmo faria. Tenho de saber se os conceitos estão corretos, se a linha editorial da empresa está preservada, se há bom gosto, se há lógica… Mesmo estando diferente. Essa variedade e troca é o que enriquece e nos faz crescer. Não é fácil. Mas não dá para passar a vida com a expectativa de estar olhando sempre as mesmas coisas, pois, como no conto, a mesma coisa pode significar um surto narcisístico e a morte do que lhe era mais importante e valioso.

Com ou sem colibris, achei muito rico, diverso, óbvio e surpreendente, um retrato do que é o marketing no turismo brasileiro, e um encontro de muito bom nível o nosso evento de ontem. Obrigado a cada um dos participantes (seja os que falaram mais ou menos, ou os que não falaram), obrigado pelas sugestões que já estamos recebendo, obrigado pelos e-mails de carinho, obrigado por estarem abertos ao debate e à troca.

Que nossos espelhos reflitam o mundo. E que nossa essência não morra nunca. E sempre se transforme para melhor.

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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  • Gostei da analogia “Colibri”… facil criticar, dificil fazer…,fui sem expectativa e fiquei surpreendido… gostei muito do formato das palestras de todos.

  • Artur,

    Adorei o comentário de um participante, um experiente profissional do turismo, que disse ter visto como ainda tem a aprender e também a ensinar, que vai praticar mais as duas….

    Como diz a música: “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu…” seja colibri, tubarão ou peixe…..

    Queríamos reunir uns 30, reunimos 127…. Inovamos ao integralmente colocar a responsabilidade do conteúdo no grupo de convidados, a quem só temos a agradecer !

    Faltou abordar assuntos ? muitos !
    Faltou tempo para mais perguntas ? claro !

    Vamos repetir o evento e melhorar ? Já !

    Agradecer de novo ? Sim, muito obrigada a todos que lá estiveram !

  • Adorei sua analogia do colibri ! Sei como voce se sente .Realmente, muita coisa eu ate gostaria de perguntar para tirar minhas duvidas que confesso sao muitas ! Mas ,infelizmente nao perguntei seja por comodismo,seja porque vi que nao era o momento ,pelo pouco tempo disponivel,compreensivel num evento assim deste formato Assim mesmo ,uma coisa me ajudou bastante : Cada um tem que procurar o que e melhor para sua atuaçao no mercado .Proporcionou-me a oportunidade de escutar ,aprender e tirar algumas conclusoes . O que me ficou mais marcante e que cada uma tem que procurar seu lugar .O que e bom para o vizinho da esquerda ,nao e bom para o vizinho da direita ,mas, pode ser bom para mim . Nao teria esta oportunidade se nao tivesse participado e principalmente escutado !Quando a gente ainda nao fez um balanço dentro de voce ,antes de falar besteira e melhor ficar calado
    Nao vamos deixar a peteca cair ! Depois deste,outros deverao seguir e porque nao um segundo ,com menos ate de partcipantes(?), para que se possa fazer um brainstorm mais detalhado Vou falar uma coisa ! Nao costumo ficar parada dentro de uma sala ( SEM FUMAR kkkkkkk )se o assunto nao for de meu interesse . AH ! E mais outra coisa curiosa : Detesto futebol e tudo que diz respeito a ele ,mas ,adorei a palestra do representante da NIKE ,muito bom mesmo !Abraços a todos da equipe Panrotas,que nos propiciaram este evento ! Que eu saiba o primeiro do Trade ..

  • Artur,

    O Encontro foi muito bom. Concordo que há muitos temas ainda por serem discutidos para o engrandecimento de nossa industria, temos um longo caminho a trilhar e este fica mais fácil com cooperativismo.

    Sua colocação sobre as assessorias é interessante. O papel delas também mudou assim como nós profissionais de marketing, as empresas e os próprios veículos. O trabalho deles não é só calcular retorno de imagem – isto é ferramenta de avaliação, mas sim construir marcas como diz muito bem o Washington Olivetto. O tema daria um ótimo “Encontro Panrotas sobre Comunicação no Turismo” – blogs? uso das mídias online? qualquer conteúdo ou conteúdo relevante? E os veículos do trade/grande imprensa especializadas, trabalham juntos pelo turismo ou se consideram concorrentes? Assessorias das empresas de nicho (hotel, carro, aéreo, cruzeiros, resorts) e governamentais (destinos) – juntos pelos destinos? Dá caldo……..

    Mudando de assunto, para fechar, vou convidar o colibri a ser cabo eleitoral #arturnofacebook !

    Abçs e parabéns pela iniciativa, PG

  • Artur, Helô e toda equipe da Panrotas que esteve presente e ausente, mas com certeza ralou para que o evento fosse o sucesso que foi, parabéns! Principalmente por já assumirem que outros Encontros virão tendo como tema o Marketing, e como bem lembrou o PG, também sobre Comunicação no Turismo.
    Como dizia o velho guerreiro, “Quem não se comunica, se estrumbica”. E num mercado como o nosso que busca excelência e reconhecimento, comunicar-se de maneira correta e criativa é obrigação. Que venham os próximos. E que nós, assessores de imprensa, possamos mostrar que somos muito mais que escritores de releases.

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Sobre o autor

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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