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O PAPEL DE VILÃO

Ser moderno, do ponto de vista empresarial, inclui ser ético? Com tantos escândalos financeiros e empresariais no mundo, vale falar em ética? Na verdade, a retidão nos negócios, a postura ética e a honestidade, tanto nos negócios quanto em nossa vida, devem fazer parte de nossa carteira de qualidades. Claro, ninguém é perfeito. Em algum momento você vai pensar mais em si, mentir para sua mulher, enganar seu marido, fazer o que o governo faz, até porque vemos a cada edição do Jornal Nacional para onde nosso dinheiro vai.

No turismo, as discussões sobre ética sempre foram muito superficiais, com um empresário quebrando na sexta e abrindo nova empresa na segunda-feira. Outro dava um golge em janeiro e em maio aparecia feliz no concorrente. Entidades tentaram em vão fazer algo parecido com um código de ética, mas sempre há brechas e desvios. E não há punição, o que é grave.

Dá para entender que uma associação veja seu associado com problemas financeiros, devendo, perigando deixar o passageiro no chão, e não fazer nada? Até dá. Há o corporativismo, todos passam por problemas e o passageiro ainda não está no chão. E geralmente quem age de forma mais tresloucada é quem precisa sobreviver ou ganhar mercado a qualquer custo.

A falta de ética também está presente em outros momentos, na invenção de números, na alteração de dados para impressionar patrocinadores e expositores em uma feira, na invenção de histórias sobre o concorrente, em anúncios enganadores ou indutores ao erro…enfim.

Mas depois de quatro parágrafos, queria falar sobre o benefício da dúvida. Ou melhor: quando a agressividade comercial passa a ser encarada pelos concorrentes como falta de ética. Ou quem deve ser o juiz dessa dúvida? O fornecedor? A entidade? O setor? Os pares? Não o cliente, claro. Pois quando o produto chega em sua mão mal sabe ele por onde passou (para a precificação). O cliente não compraria de uma empresa bandida, mas isso, apesar de já termos tido, parece que não há ou não cabe mais no turismo. A abertura de capital das empresas aéreas ajudou, e muito, nesse passo a mais para a profissionalização.

Mas, depois de cinco parágrafos e divagações, acho que o que eu queria dizer mesmo é que precisamos de vilões em nossas vidas. Eles servem de justificativa em diversos momentos (“a culpa é do outro, que é fdp”), eles fazem a novela andar, eles são poderosos, eles nos fazem acharmos que somos bons e que não merecemos tudo isso. Eles também servem de consolo para nossas fraquezas. Mas não as justificam.

No turismo, e em cada setor, os vilões se alternam. Não há um vilão eterno, ainda mais em um mundo tão dinâmico. Há, sim, o vilão da vez. Desde que cheguei em São Paulo, eles já foram muitos e eu mesmo vivo levando esse título (“a nota não sai porque ele não gosta de mim”, e não porque não há notícia, porque os dados estão manipulados ou porque a vaidade fala mais alto). Mas tudo bem. Ser vilão faz parte. Tem papel social hehe. E quem faz seu trabalho e colhe resultados é mesmo alvo de, como direi, espectadores insatisfeitos.

Mas tudo isso, parágrafos e muito blá blá blá, para perguntar: quem é o vilão da vez?

Claro, para os hoteleiros será um. Para os mesmos hoteleiros, dependendo do ponto de vista, haverá mais um. E a cada semana isso pode mudar. Para os agentes de viagens serão sempre as empresas aéreas, mas uma sempre simboliza o mal maior. Para os consolidadores sempre há o que está indo além dos limites (sobre isso, não perca o próximo Jornal PANROTAS…).

Somos todos heróis e vilões? Mocinhos e bandidos? Ou não é nada disso. Quem gosta de rótulo é latinha de alumínio e garrafa pet? Somos todos humanos. E nos negócios, há épocas de guerra, há tempos de paz. E as armas estão aí, à disposição de todos. E por arma entendamos também regras, ética, códigos de honra. Nâo custa nada tê-los. Obedecê-los. Segui-los.

Mas e o vilão da vez? Quem é mesmo?

PS.: Esqueci de algo muiiiito importante. Às vezes a vilania do vilão é involuntária. É causada por inépcia, inércia, incompetência. Burrice mesmo. É o vilão às avessas, que mesmo querendo acertar, ferra com muita gente. Quase um vilão-vítima. Esses são os piores. Você conhece algum?

Fotos: Warner.com/Divulgação

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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  • O que é ser ético?

    Na minha opinião, ética não é a arte de ser “bonzinho”. Apenas correto. Ética significa assumir compromissos e entregar os resultados. Ser ético é tomar consciência do discernimento entre o certo e o errado, o bem e o mal. Representa ser um profissional “sustentável”. Isso é não roubar do seu futuro para consumir no presente e cair num imenso buraco amanhã. Um profissional que estuda, que planeja as vendas, que compreende como ligar os seus benefícios à vida dos clientes. Uma empresa que segmenta o mercado e posiciona verdadeiramente o seu produto, sua tecnologia, seu serviço versus a concorrência está sendo ética. A empresa que se prepara para fazer as perguntas, descobrir anseios, angustias, desejos, problemas dos clientes está sendo ética. O vendedor que vende realmente aquilo que contribuirá para o crescimento do cliente é ético.

    Os grandes profissionais de turismo e empresas que conheço e respeito são aqueles que venderam ontem, vendem hoje e continuarão vendendo sempre. São aqueles com quem os clientes preferem fazer negócios. São os que estabeleceram confiança. E são esses também aqueles que geram mais lucro para as suas empresas. Suas vendas são melhores, com ticket médios superiores, prazos de pagamento mais equilibrados, os que introduzem novos produtos com melhor margem etc. Vamos ver ali pessoas simples, trabalhadoras, dedicadas, apaixonadas, estudiosas da sua profissão, profissionais que convivem em equipe, pessoas que gostam de estar associadas com as inovações, gente otimista, pessoas verdadeiramente admiráveis.

    A ética como a estratégia permite que esses profissionais sejam grandes pela vida toda. Sem ética não tem negócio. Sem ética não tem profissional que dure fazendo sucesso!

    Ética exige compreender o mundo que nos cerca e escolher os caminhos para passarmos através desse mundo. As nossas escolhas definirão se somos éticos ou não.

  • Meu caro Artur.

    “Se o desonesto soubesse a vantagem de ser honesto, ele seria honesto ao menos por desonestidade.” Autor – Sócrates

    Tal afirmação vale para ética, obviamente.
    Abraço grande, gostei do post
    Conrado

  • Artur,

    Achei o texto sensacional, assim como a citação de Sócrates do Conrado que não conhecia.

    Muito bom.

    Abs.

    Carlos Eduardo Cordeiro

  • Artur,

    Gosto de uma frase que diz mais ou menos o seguinte: “antes de falar, certifique-se de que suas palavras serão mais importantes que seu silêncio.” Gosto de escrever, mas depois de ler o que escreveu o Alexandre Mesquita cheguei à conclusão que meu silêncio, neste caso, é muito mais eloquente. Parabéns pelo post e parabéns ao Alexandre Mesquita por seu magistral comentário.

    Abraço.

  • Caro Artur
    Como sempre, um texto limpo e direto.
    O que tem me conduzido ao longo da vida, é um conceito, também, muito simples: ética não carece de ajetivos; o conceito é auto explicativo e não depende de código…é curioso que, quando alguém é pego num problema ético, a primeira coisa que lembra é que “precisamos de um código de ética”, quando, na verdade, todos sabem o que é ético e o que não é, e não há meia ética, não há pouca ética: apenas ética.
    Outra questão que tem me assombrado ao longo do tempo, é a facilidade com que se põe a culpa “nos outros”. Procurar culpados é a desculpa para justificar incompetencia.

  • Ótimos comentários, ótimo debate.
    Mas alguns que deveriam ouvir e ler tudo isso, não estão nem aí, certo?
    Mas nós estamos de olho.
    Abs

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Sobre o autor

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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