Quanto mais declarações ouvimos sobre a saída de Faustino Pereira da Abracorp, mas ficamos sem saber o que deu errado… O modelo sugerido por uma consultoria milionária não deu certo? Os associados se ressentiram de não serem eles mesmos o porta-voz do grupo – ou seja, um executivo ganhava destaque e não um empresário? A escolha do executivo foi errada? O modelo é mesmo para um diretor ou gerente e não para um presidente?
Por enquanto, nas palavras oficiais, apenas generalidades… Mas o modelo está posto em xeque (pelos próprios associados, que decidiram tirar Faustino, afinal). Definir o modelo e levar associados de peso que estão de fora do clube (e não estamos falando da Alatur, antes que atirem a primeira pedra – isso é um assunto que virou pessoal e que ainda cicatriza) são ações que precisam de urgência… Falta tempo para participar de comitês? Com tantos eventos, viagens e confraternizações, realmente é difícil se divirir. O turismo precisa enxugar seus eventos e otimizar as ações… Ou a consequência pode ser a desarticulação, a fragmentação, a desunião… O que não é bom.
Aguardemos.
E quem tiver alguma luz… pode nos apontar…por favor.
Artur,
Antigamente achava que as entidades representativas de determinada classe empresarial deveriam ser dirigidas pelos empresários mais importantes do setor, por aqueles que, reconhecidamente, fossem apontados como líderes entre seus pares. Não demorou para perceber que minha idéia era ingênua. Ora pensem: se determinado empresário é líder no seu segmento, se sua empresa é reconhecida como modelo ou exemplo, como ele terá tempo de se dedicar a uma associação/entidade que defenda os interesses coletivos? E com que isenção, afinal, ele desempenharia essas funções? Pois bem, a complexidade dos mercados e a necessidade de tecer redes de relacionamento e de interesses de configuração nada simples, tem exigido que as entidades apresentem comportamentos mais profissionais, ofereçam a seus associados serviços cada vez mais qualificados. Pelo menos assim deveria ser. Infelizmente ainda é comum vermos entidades simploriamente presidencialistas, onde um só indivíduo planeja, executa e confere todas as ações. Umas vezes é pelo “vício do cachimbo”, para alimentar a vaidade. Outras, mais comuns, é por absoluta falta de recursos para montar uma estrutura profissional que garanta a qualidade dos serviços de representação dos interesses dos associados. O que fica claro a cada dia é que os empresários têm cada vez menos tempo para dedicar às suas entidades e a necessidade de profissionalizar suas estruturas funcionais é premente e inadiável. Há os que conseguiram isso utilizando a figura do administrador, do articulador, do profissional dedicado em tempo integral e, evidentemente, remunerado. Surgiram assim os Diretores Executivos, os Superintendentes, ou os Gerentes Executivos no segmento associativo. Umas poucas entidades, com o passar do tempo, precisaram dar mais peso ao cargo, aliviando a pressão em cima dos empresários/dirigentes, e optaram pelo Presidente Executivo, modelo de inspiração claramente americana. Não quero discutir o mérito, pois o assunto, por mexer com interesses e sentimentos os mais diversos, poderia suscitar discussões que não caberiam aqui. Porém, é importante constatar que, nos setores onde a prática de se trabalhar com uma estrutura que contemple uma equipe profissional remunerada e dedicada, trabalhando sob a orientação de uma diretoria eleita e não remunerada (os empresários do setor) apresenta, salvo raras exceções, resultados muito mais robustos do que aquelas entidades que ainda dependem, no dia a dia, da ação constante e direta de seus empresários/dirigentes. Como disse, não discuto o mérito, mas conheço de perto os dois exemplos, pois foi assim que surgiu uma das mais novas profissões do turismo: a de Diretor Executivo ou Superintendente de Convention & Visitors Bureau. Podemos verificar que quase todos os CVBx que apresentam bons resultados trabalham com uma equipe independente e remunerada, dirigida por um profissional qualificado, comprometido com o setor, mas sem interesses particulares no setor. Na minha modesta opinião, só assim se pode garantir a independência necessária para garantir negócios entre concorrentes e para articular interesses antagônicos. Entidades cujo único interesse é o de servir aos caprichos de seus presidentes, ou o de carrear negócios para as empresas de seus diretores via acesso a informações privilegiadas, tendem a desaparecer, felizmente.
Não tenho como analisar o que aconteceu com a ABRACORP, entidade reconhecidamente séria, formada por empresários reconhecidamente competentes e respeitados. Acredito que todos sabem onde querem chegar e que todos nós muito temos a aprender com eles. Entretanto, seja qual for o modelo pelo qual optem daqui em diante, torço para que os motivos que levaram a essa situação, nada tenham a ver com orgulho, vaidade e ciúmes de um profissional competente que, até onde o mercado sabe, realizava um trabalho importante. Longe de mim dar pitaco em assunto de tal relevância, porém, pelo bem do associativismo e pelo bem do relacionamento entre pares e concorrentes, só posso torcer para que a ABRACORP e as demais entidades vivendo situações similares, encontrem logo o melhor modelo, mas não abram mão de ter pessoas competentes e dedicadas em tempo integral, prontas a defender os princípios enunciados pelos Presidentes eleitos e suas diretorias. Ainda acho que é o melhor modelo e o tempo dirá se tenho razão. Uma boa análise da Rede Brasileira de CVbx, formada por mais de 160 entidades, pode demonstrar claramente o acerto de se defender o modelo independente e profissional. Todos temos a ganhar quando agimos com lucidez e desprendimento, a serviço de uma causa e não de interesses pessoais. Mas para isso é preciso que respeitemos o princípio original do associativismo, o qual me permito adaptar aqui ao nosso assunto de hoje: a força do conjunto é sempre maior do que a soma das forças de seus membros!
Um abraço
Acredito ser importante a relação entre seus dirigentes e associados.
Na minha opinião existe uma sobreposição exagerada de entidades em nosso setor e a ABRACORP entou nessa onda.
O que precisamos é de pessoas capacitadas em ambientes que permitam o livre pensamento.
Acho que foi um típico caso da pessoa certa no momento errado o que dá margem para o questionamento da solidez dessas instituições e de seus ideais.
Autur,
Socio e por muitos anos parte do Conselho de Administracao de varias entidades americanas no setor do Turismo (TIA atual US Travel, RSA e ITSA /ambas associacoes de operadoras em New York e da Florida, Miami Convention and Visitors Bureau e outras) posso afirmar com conhecimento, que todas, basicamente seguem um mesmo modelo, baseado em tres pilares fundamentais:
1) Tem uma administracao profissional e independente com President/CEO, Tesoureiro e Vice Presidente de Areas, como Imprensa, Relacao com os Associados, Lobistas e Depto. de Estatisticas entre muitas outras. – Eh dona, produzem e administram sua receita, sem finalidade lucrativa para cobrir seus custos e fazer lobby, para desta forma nao ser um fardo pesado para nenhum associado. Usam o sistema parlamentar em suas reunioes e decisoes onde o President/CEO preside e tudo eh sancionado pelo conselho de administracao.
2) Tem um conselho de administracao com gestao de dois anos, onde uma estrutura de continuidade eh representada por um Chairman e Vice, mais Diretores de areas especificas, onde a administracao independente presta contas e tem suas acoes e compensacao financeira aprovadas. Geralmente o Vice Chairman passa a ser o Chairman o Tesoureiro a Vice Chairman e assim por diante ate 5 niveis para baixo, garantido desta forma o conhecimento e preparacao de seus membros para o posto maximo de Chairman, sem tomar muito de seu tempo com suas empresas. As diretrizes politicas e Lobismo sao identificados e aprovados pelo conselho de administracao e a administracao profissional executa, analisa, sugere mudancas e presta assessoria logistica.
Geralmente o Chairman antes de chegar a esta posicao ja dedicou 8 anos a associacao em diferentes funcoes preparativas e de importancia gradual e ascendente.
2) Todas permitem a associacao em niveis diferentes, basicamente dois: Membros ativos e Membros aliados – diferenca basica sendo com direito ou nao a votos na direcao politica da entidade.(Todas claramente definem as qualidades e custos necessarios para tornar-se socio)
3) Tem uma fonte de renda, seja atravez de anuidades dos seus membros e/ou eventos pontuais, feiras e patricinios.
Em todas as associacoes, o grau de envolvimento e participacao eh completamente voluntaria e valoriza politicamente os mais ativos e valoriza mercadologicamente aqueles que investem mais, sejam em acoes de marketing ou patrocinio.
Todas as reunioes e os gastos relativos sao totalmente pagos pela associacao a administracao executiva contratada, e aos membros do conselho de administracao os custos sao de suas empreas, inclusive as despesas com hospedagem e transporte. Os eventos sao totalmente pagos, garantindo desta forma total independencia e transparencia. Isto, todavia nao impede que se um evento ou reuniao eh realizado em um determinado hotel, e que um membro queira comprar o evento como patrocinador. Exemplo reuniao do conselho no Hotel Cinco Estrelas, o hotel eh contratado pela a associacao para o jantar pagando o preco de mercado e este mesmo jantar foi patrocinado pela cadeia que o proprio Hotel Cinco Estrelas faz parte tendo sido cobrado o preco de mercado pago mais o que a associacao achar necessario pelo patrocinio (para os mais cinicos, eh dado com uma mao e tomada com a outra) mais funciona, pois, eh transparente, voluntaria e todos ganham.
Existe uma definicao clara de objetivos, metas a serem atingidas e em quanto tempo, tudo eh medido e tabulado, avaliacoes e correcoes constantes e baseadas em consenso.
Para dar certo qualquer empreendimento tem que ter receita, despesas condizentes e independencia de administracao.
Todos os membros travalham com um final comum que eh o de promover os interesses da associacao e desta forma de suas empresas, o que nao impede lutas Helenicas em suas reunioes, seja em favor por maior influencia no lobby e/ou interesses especificos de suas empreas.
A imagem expressa eh quase sempre de uniao e clara em seus objetivos.
Espero que o pioneirismo da Abracorp e o amigo Faustino seu bravo Bandeirante nao seja o fim desta pratica entre as associacoes brasileiras, mas sim o inicio de um processo de amaduracao e dores de crescimento, inerente em paises como o nosso Brasil, que esta passando por um momento rapido e maravilhoso de crescimento e profissionalismo.
A cultura e a criatividade do empresario brasileiro aliada as gestoes praticadas e comprovadas dos empresarios norte-americanos possa vir a ser a formula ideal de governanca e administracao de nossas associacoes.
Somente fica faltando saber quem sera o alquimista certo, nosso Merlin que podera fazer esta pocao refinada, que podera levar nossas associacoes de classe para o proximo patamar de eficiencia e influencia junto aos orgaos governamentais e mais importante ao seus associados.
Carbone,
Faltou dizer que o cidadão americano tem, desde cedo, a cultura do associativismo, o respeito pelo trabalho comunitário, ao contrário do brasileiro que privilegia o individualismo. Não fosse isso, poderíamos ter associações bem mais fortes e representativas. outro aspecto, embora decorrente do mesmo acima citado, é que, por aqui, há uma tendência a que os dirigentes de entidades se aproveitem delas para usufruir vantagens pessoais, outra prática pouco verificada nas profissionalíssimas associações americanas. Essa distorção é ainda mais presente no nordeste, onde, por vezes, a luta interna por vantagens pessoais chega a ser constrangedora. No mais, concordo com você de que o modelo americano é um caminho a ser seguido. Mas ainda leva tempo, precisamos amadurecer muito.
Abraço
Caro Artur,
Que volta, hein?! Assunto cabeludo, diria-se, mas para pessoas com experiencias como os que acima se posicionam em relacao a ABRACORP e outras associacoes.
Na verdade ha muitas disputas pelo poder e as vaidades decolam em modelos tais. Geram distorcoes e os interesses se chocam, criando um clima negativo muitas vezes.
D’outras janelas podem-se ver claramente como se destroe o que poderia ser construido. Exemplo antigo? O time que sustenta a TAP foi impedido de sustentar a VARIG…
Sempre resisti a essas representatividades porque conhecia algumas por dentro e, tal qual os ‘sepulcros caiados’, aparentavam o que nao eram — e (quase) todos perdiam.
Sabe-se que muitas liderancas do trade estolam nas relacoes com seus representados por uma first class quaqluer + ‘modelos’ + capitais da moda mundo afora e mais e mais…
Na RG tinhamos nas fichas de reserva (vejam o tempo: fichas!) sete assentos bloqueados para os poderes e tiravam-se paxs dos avioes para acomodar os mesmos de sempre.
E os sindicatos, e ate hoje, como mutilam salarios de todos em favor dos poucos e seus destilados — essas liderancas sao, na verdade, politicos sem votos mas com seus palanques.
Quando morava em BSB e tinha a politica na veia (outros tinham outras coisas!…), cunhei uma frase: “sao politicos por serem parecidos ou sao parecidos por serem politicos?”
Pobre Brasil! Boas vindas, Bencaos do Senhor e meu abraco,
Marcos Estevao Vajas Hernandez
Manchester-UK, + 44 79 7973.3380
My two cents: outro dia escrevi que “jacaré não anda com girafa”. É mais ou menos isso, mas não tem nada a ver com o Faustino (na minha opinião). TMC Brasil (caras grandes) se juntou ao FAVECC (alguns grandes e vários menores) e nenhuma das duas pôde ficar com a “Presidência” para evitar constrangimentos (aí entrou o Faustino). Só que a agenda de profissionalização, mudanças e atividades políticas deve ter emperrado, provavelmente porque o conselho (um mistão das duas associações) não se entendeu em alguns desses pontos, o que levou a um impasse. Não adianta, em casa com muitos cozinheiros o almoço sempre atrasa e às vezes não vai prá mesa. Alguém vai ter que assumir a frente e esse alguém tem que ser um empresário de peso e representativo do setor corporativo, mas tem que ser alguém com tempo para se dedicar e ascendência sobre os dois lados agora unidos, uma tarefa nada suave.
O Sidney resumiu bem minha opnião. No comments at all.
Arthur, gostaria só de voltar no Post anterior, e com a contribuição do Rui Carvalho.
Afinal, tem o CVB de SP “responsabilidade” nos ocorridos no Morumbi, referente aos descasos de taxistas, estacionamentos abusivos?
Lembro-me Rui que em um comentario passado, você discorreu sobre o foco do seu trabalho, de Trazer o Maior número de pessoas ao seu destino.
A impressão causada aqui em SP foi péssima e se tornou manchete de jornal em horario nobre.
Ainda bem que a imprensa esta em cima e fazendo todos passarem vergonha.
E a copa vem ai…
Tiago,
Concordo com suas observações. A tarefa de aumentar o fluxo de visitantes não pode ser um fim em si mesma. Na verdade, tão importante que levar mais turistas para determinado destino, é fazer com que eles saiam de lá com vontade de voltar ou que recomendem aos seus amigos o mesmo programa. Com a atual situação de SP isso fica quase impossível, e aí, o trabalho do SPCVB passa a ser mais necessário ainda. Um bom CVB não se preocupa apenas em atrair turistas, mas em qualificar mão de obra, em cobrar responsabilidades das autoridades, em apontar falhas na infra-estrutura, enfim, em fazer com que o destino seja percebido por sua qualidade. Não estou em condições de dar lições ao meu amigo Toni Sando, superintendente do SPCVB, longe de mim tal intenção, mas parece que atacar esses problemas deverá ser uma das preocupações imediatas do SPCVB .
Abraço