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O TURISMO AMADOR

Como lembrou o Cássio (Oliveira) em seu blog Consolidando, Guilherme Paulus está na capa da Exame, o que mostra o prestígio que sabemos que ele tem, merece e construiu. Para mim, merecia a capa da Veja, pois Paulus mudou a forma de fazer turismo no País, apostou há décadas em mercados consumidores que hoje estão na mira de todos, teve visão, empreendeu e ajudou a desenvolver o turismo do Brasil, enquanto o governo, até hoje, não sabe o que é turismo. Mas não estou aqui para comentar  a reportagem da Exame (e com ela a CVC mostra à concorrência que ainda veste a coroa sim), apesar de uma de suas frases ter me levado a pensar no tema desse post. A certa altura, falando da saída de Valter Patriani, e de como ele guardava lugar na fila dos shows de Roberto Carlos no Rio, chegando a amarrar sua cadeira de praia nas grades, para que, se dormisse, ninguém pegasse seu lugar, a reportagem fala que eram tempos românticos e até amadores. Em outro momento também recorre à palavra profissionalização para dizer que as empresas de turismo, algumas das quais ainda dirigidas por seus fundadores, estão mudando sua gestão para competir nos novos tempos.

Mais que profissionalização, acho que a definição do que está acontecendo é essa: mudando ou adaptando a gestão aos novos tempos. Só que o turismo sempre fez isso. Sempre mudou. Sempre se adaptou. E usar a palavra profissionalização pode dar a entender que antes não era profissional. O que é profissionalizar, afinal? Preencher relatórios, padronizar processos, olhar números e não pessoas?

Olhar o passado como romântico para mim é outro erro. A realidade era aquela, e Paulus começou fazendo de tudo, sendo guia, vendedor e gerente. Se tivesse de começar hoje, faria diferente? Quantos empreendedores do mundo virtual começaram no quarto de suas casas, vendendo eles mesmos seus projetos? Quantas bandas não ensaiaram na garagem de casa antes de estourar? Quantos não estagiaram sem remuneração, ou foram voluntários em projetos que os abririam portas? Românticos? Não. Reais. Alguns têm o primeiro emprego via classificados de jornais, outros por indicação, herança, sorte… Alguns ralam muito, investem, arregaçam as mangas. Não profissionais? Amadores? Longe disso.

Basta conhecer um pouco sobre agenciamento de passagens e produtos de turismo em geral para saber que não há amadorismo ali… Nem na base (emitir um bilhete, usar um GDS, pedir um reembolso não é tão simples como comprar em um site), nem no topo (fundadores já deram espaço para as novas gerações há muito tempo, sendo que, obviamente, alguns o fizeram somente depois de morrer ou se aposentarem, mas mesmo assim, a coisa evolui). Também classificar a administração familiar como amadora não é justo. Temos diversas no turismo e suas empresas crescem, com os filhos, irmãos, primos e sobrinhos, mas também com gente trazida do mercado e de fora dele. E, claro, exemplos de empresas que fecharam por isso ou por outros motivos. Porque não evoluíram, não se adaptaram ou não souberam resistir às crises.

Mas definir como profissionalização o momento atual não é justo com esse passado que também não é romântico. Românticos existem em qualquer época e são também eles que ajudam o setor a se desenvolver. Mesmo na frieza da frase “quero fazer meus acionistas felizes” ou depois de ter de preencher inúmeros relatórios, há aqueles que acreditam mais que os demais, que se esforçam mais, que dão além do que lhes é contratado.

O turismo e suas empresas passam por mais uma transformação. Alguns terão de mudar a gestão, outros a forma de relacionamento com a rede de distribuição, alguns expandirão, outros encolherão, uns se adaptarão, outros pedirão para sair… Vender a empresa não é se profissionalizar.

Guilherme Paulus construiu seu império com muito profissionalismo (o crescimento crescente, a criação de uma rede de lojas, o lançamento de produtos à frente da concorrência, o foco na classe média, a fidelidade dos funcionários são prova disso), adaptando-se às circunstâncias e com a ajuda de profissionais de altíssimo nível como Valter Patriani (o maior vendedor que o turismo já teve e ainda tem), Claiton Armelin e Michael Barkoczy. E para se adaptar aos novos tempos, dar um outro salto e atingir novas metas (além dos fatores pessoais) decidiu vender a empresa. Mais um exemplo de que profissionalismo não lhe falta. E continua um romântico, basta ver seu entusiasmo ao falar dos novos projetos hoteleiros, seja para a classe A ou para a C, que ele, ao contrário do que pensam, não esqueceu.

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

Comentar

  • Caro Artur

    Considerar que a profissionalização da empresa familiar é algo que vai depender, exclusivamente, da adequada implantação de um processo de governança corporativa é um equívoco que vem sendo cometido com muita freqüência. Um processo dessa natureza, que vise obter resultados concretos e gerar compromissos de todas as partes não pode desconsiderar também que as instâncias da família e da propriedade (representada pela sociedade entre os herdeiros-acionistas) exige os mesmos cuidados e requer uma estruturação formal. Ambos são núcleos que fazem parte da estrutura de poder que envolve qualquer sociedade, mas especialmente a de controle familiar.
    O exemplo da CVC e de seu fundador fazem com que cada vez mais possamos acreditar na Empresa Familiar porém vale sempre lembrar: O melhor e mais estruturado negócio não resiste à falta de profissionalização dos sócios. Perpetuar uma empresa de controle familiar é algo mais delicado do que a simples lógica da administração quer parecer.
    Nos meus últimos 45 anos aprendi muito com meu Pai,um renomado consultor para Empresas Familiares e venho aprendendo a cada dia em minha própria Empresa.

    Parabéns pela matéria e pelo tema tão interessante

    Abraços

    Leonor Bernhoeft

  • Artur
    Parabéns pela sua matéria. Lembrando que os responsaveis pelas quebras da Panam, Braniff,Swissair e outras empresas eram “profissionais” altamente qualificados e pos-graduados nas melhores universidades do mundo.
    Abraços
    Juarez

  • Bom dia Artur

    Obrigada pela agradavel leitura (e perdoe-me a falta de alguns acentos do meu teclado).
    Estou de acordo com você.
    Moro na França e estes dias separei uma matéria para levar para o Valter (e agora lendo a sua deixarei também uma copia com o Sr.Guilherme), comparando as vantagens e instrumentos oferecidos pelos grandes distribuidores de viagens franceses as suas redes de agências.Dentre elas CarlsonWagonLit-Havas (458 pontos de venda) , Thomas Cook (658 pontos de venda), Carrefour (102) , Nouvelles Frontières (280) AS Voyages (1200).
    Lendo o artigo pensei justamente que a gestão dita familiar da CVC sempre teve preocupações muito realistas gerando soluções bastante profissionais, não deixando nada a desejar a nenhuma das marcas acima.
    Atenciosamente
    Silvia

  • Artur,

    Taurino romantico, é isto mesmo, Artur, adorei tudo que colocou nesta sua reflexão, tudo a seu tempo! Acho heróis todos aqueles que com todas as dificuldades Brasileiras construiram suas histórias no turismo, empresas são feitas de muito mais do que simplesmente profissionalização, precisa de dedicação, “feeling”, amor, equipe, etc, e isto não faltou a este empresário, que sabe a hora de dar cada passo! bjos,

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Sobre o autor

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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