O turismo é cruel

Hummm. Será mesmo? Disse isso hoje durante um almoço, mas fiquei pensando que talvez o mundo seja assim e o que faz a diferença é a resposta que damos a essa aparente crueldade.

A princípio o turismo é dos grandes. Só eles têm mais comissão, condições especiais, acesso a tarifas exclusivasm benefícios, regalias… Só eles são convidados para famtours e eventos vips. Só eles falam diretamente com diretores e presidentes. Só eles são cortejados. Só eles se divertem e ganham dinheiro.

Mas se isso fosse realmente verdade, as pequenas empresas não existiriam, em nenhum ramo. Se o turismo girasse em torno de São Paulo (e do Rio), não haveria tantas empresas e investimentos Brasil afora.

Ah, os tempos são outros… Sim, são. Mas a pergunta é: o que essas empresas pequenas estão fazendo para garantir seu quinhão nos ganhos do turismo? Há as que esperam a caridade alheia. Há as que estão com as mãos na massa. Ou melhor, em ipads, iphones, sites, mídias diversas e, principalmente, com a mão estendida e ajudando seu cliente.

Se o agente de viagens pequeno fosse acabar, não haveria tantas empresas investindo neles, como as consolidadoras (aéreas, como Flytour, Rextur e cia. e de hotéis, como a Trend), a quem os fornecedores transferiram o ônus (e o bônus) de lidar com essa fatia do mercado. É a falta de união dos pequenos, a falta de visão sobre como se comportar, e a falta de uma entidade que trabalhe e lute por eles, que os ajude a se organizar e a usar a força que têm, é tudo isso que faz com que os alarmistas acabem ganhando terreno no turismo.

Já afirmei que se os consolidadores (novamente de aéreo e hotel) resolvessem criar uma associação do tipo “mãos à obra” e “juntos podemos”, acabariam com a já frágil Abav. E deixaria as questões políticas específicas para cada entidade setorial, para o MTur e para a própria nova entidade, que levaria uma visão mais pragmática e menos acomodada à negociação com as dieversas esferas governamentais.

O turismo é cruel com quem não se mexe. Quem tem volume merece e deve ser recompensado, bajulado, adulado, premiado. Afinal, a maioria não nasceu grande e fez por merecer. Têm mesmo que ser reconhecidos. Mas quem trabalha em casa, em home-office, também. Quem é free lancer, idem. Quem tem apenas três funcionários, também. De forma diferente, claro, mas para isso é preciso uma nova organização, um novo desenho do turismo nacional.

Do jeito que está, o turismo continuará cruel. E salvo alguns Davis e Justin Biebers (o menino que usou o You Tube a seu favor e, goste-se ou não – e eu nem sei direito quem é – é um ídolo mundial), que conseguem furar o bloqueio contra tudo e contra todos, e fazer a diferença, a maioria vai continuar à mercê da caridade alheia. E isso um dia tem fim.

PS: Portanto, caro Conrado, que comentou no post anterior… Talvez uma saída, no lugar de lamentar que algumas empresas e eventos não vão a Florianópolis, ou Cuiabá ou João Pessoa, seja prestigiar mais quem vai, quem está aí. E vir a São Paulo de vez em quando para mostrar que há valor também no Sul. Contra números e uma boa esnobada ninguém fica indiferente…