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Dia a dia

POLÍTICA DO TURISMO

Entra ministro e sai ministro (do Turismo) e, tirando os presidentes de entidades que organizam feiras e têm convênios com o MTur, o empresariado do setor não se importa muito com as ações da pasta. Claro, nas conversas todos comentam, criticam e dão opinião, mas como as ações do MTur têm pouco ou nenhum impacto sobre a vida desses empresários, parecem mundos paralelos.

Não que os empresários não tentem entender ou até ajudar, mas o que afeta mesmo o setor está sendo decidido no Congresso e ali o turismo é fraco e não tem força, ou lobby. É até injusto comparar todos os ministros que entram com o ex-ministros Mares Guia, pois, além de ter sido o primeiro (e o trade se engajou, confiou e o apoiou), ele era politicamente muito bem articulado e um empresário (da educação) de uma inteligência fora de série.

Na semana passada, o empresário João Dória Jr. criticou duramente o atual minisitro, em uma reunião da Fecomercio, que estava instalando um conselho de Turismo comandado por uma ex-integrante do governo federal, Jeanine Pires. Muitos ou todos os presentes concordaram com Dória em vários pontos, mas dificilmente as críticas tomarão corpo ao ponto de se criar um movimento para mudança no ministério. Mais uma vez porque as políticas de turismo pouco impactam o setor.

Ou alguém acha que o recorde de desembarques domésticos é fruto de alguma ação do MTur? Ou alguém duvida que Guido Mantega e sua política econômica fizeram muito mais pelo turismo do que todos os que passaram pelo MTur juntos? Ou que o Ministério da Defesa ou o dos Transportes são muito mais decisivos para o turismo que o próprio MTur? Ou ainda que o Ministério das Relações Exteriores pode causar uma revolução no turismo brasileiro, algo que o MTur nem sonha em fazer?

Ok, é só o começo, o ministério tem apenas oito anos… Mas até agora não impactou o setor. O próprio presidente do Fornatur, Domingos Leonelli, da Bahia, pediu revisão do Plano Aquarela, que pode ser lindo e maravilhoso no papel mas que até agora não funcionou.

De Eduardo Sanovicz a Jeanine Pires, de Mário Moysés a Flávio Dino, cada um vai ter uma boa desculpa, uma razão consistente para o plano não ter trazido os resultados esperados por Leonelli e tantos outros. Mas o que queremos é: se o Brasil é caro, se o Brasil não tem malha suficiente, se o Brasil não tem dinheiro para investir em publicidade de massa, se estamos longe dos principais centros emissores, se nossos prdoutos não têm a qualidade e a consistência do Caribe… o que pode ser feito para que tenhamos mais turistas e mais qualidade? Como trazer mais europeus (que estão sumindo desde 2005), mais americanos, mais de todos os lugares? Como  aumentar a receita não vendendo mais caro e exigindo que o turista gaste mais por causa do câmbio? Se a culpa é da crise, da Varig, do câmbio e de tantos fatores, melhor então é apostar só no doméstico? Sempre há uma desculpa? Mas o que foi feito para combater esses “se”, essas adversidades? Mais verba? Nem pensar.

O receptivo sentiu na pele os resultados do Plano Aquarela e é por isso que talvez seja a única voz mais ativa a criticar o que já foi feito: Leonelli chiou, mas também a Bito fala que o setor está falido e a hotelaria do Rio, por exemplo, não aposta mais no turismo internacional. São os eventos internos e as viagens de negócios que sustentam a hotelaria da Cidade Maravilhosa.

O mesmo vale para o doméstico. Problemas de infraestrutura, aeroportos e estradas mal preparados, destinos difíceis de serem acessados, Estados que dependem mais de si que do governo federal quando o assnto é política do turismo. Tudo que o MTur poderia ajudar a melhorar, mas o ministério sequer é chamado para debater as questões da aviação, sequer tem poder e dinheiro para mexer com qualquer coisa dessas. E o único canal, que seriam as emendas parlamentares, acabam sendo decididas pelos deputados, para obras muitas vezes fora do escopo de apoio ao turismo. Deputados mais preocupados com a próxima eleição do que com o desenvolvimento do turismo regional. Falta lobby (forte) no Congresso.

Não serviu pra nada? É melhor ter o Turismo ligado a outra pasta? Não, também não é assim. As políticas específicas para nichos, como o Viaja Mais Melhor Idade (que de repente sumiu), ou os bureaux de aventura, golfe e outros setores, funcionam e funcionaram em diversos momentos. O mapeamento comandado por Milton Zuanazzi, Tânia Brizolla, Ricardo Moesch e outros funcionou, mas o que foi feito dele? Vamos ver no próximo Salão do Turismo? Esperamos. Mas duvidamos.

Houve debate. Mas em algum momento não houve continuidade. A cada ministro parece que começamos do zero. Daí a insatisfação de Dória e de tantos. Nada pessoal. A Bahia do mesmo Leonelli citado acima já provou que continuidade é fundamental e o Estado sofreu quando houve a ruptura do passado (o legado da escola Paulo Gaudenzi) com uma nova gestão. E só agora a casa baiana parece estar arrumada e pronta para recomeçar. Daí ser legítimo o grito do secretário contra o Plano Aquarela, apoiado por diversos de seus pares. Mas o próprio Leonelli foi questionado pelo trade por ter rompido com radicalismo contra o trabalho anterior. A Bahia perdeu tempo. E espaço no turismo nacional. Perguntem aos hoteleiros de Salvador.

O MTur e a Embratur precisam se integrar mais com o setor e não é pelo Conselho Nacional de Turismo, onde pouco se discute ou resolve e poucos direcionam o que fazer. O trade real, o que movimenta o setor não é impactado pelas ações do ministério e em sua maioria não está no CNT, inchado por entidades, algumas no mínimo questionáveis (outras lamentavelmente ali pereenchendo um espaço que era para ser nobre).

 E quando é p setor impactado, geralmente negativamente, o MTur em nada pode ajudar, como nos projetos de lei parados no Congresso (alô, agentes de viagens, vocês sabem do que falo), os vetos considerados absurdos pela indústria (receptivo como exportação, a reciprocidade dos vistos…), a falta de infraestrutura…

Não adianta também ser saudosista (e isso não é uma guerra tucanos X petistas) pois o turismo no governo FHC não era prioridade e a estrutura era outra. Não dá para comparar. A questão não é essa.

Em resumo: o MTur não impacta o dia a dia do empresário e do profissional de turismo (quantos não dizem que têm registro na Embratur ainda? quantos não são sequer fiscalizados?) e não ajuda em questões cruciais. POr isso, muitos não ligam para ele (o MTur) e seus atos. O ministério foi um passo importante. Mas ainda falta alguém para transformar esse passo em uma caminhada. Se Mares Guia tivesse continuado (do verbo continuar, que gera continuidade), pode até ser que estaríamos olhando a política pública de turismo de outra forma.

Ah, e a Copa? Olimpíada? Outros ministérios se encarregarão de fazer acontecer. O nosso ministério tem de aproveitar os eventos e agregar o turismo onde for possível, para colher os frutos depois. Saberemos fazer isso? Os empresários, não tenho dúvida, que sim.

Já os planos e políticas públicas… Tomara.

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

Comentar

  • Arthur,

    Parabéns, esse foi um dos seus melhores posts dos últimos lidos. Você sabe que costumo ler todos apesar de pouco me manifestar. Peço licença e autorização, para copiar, replicar, enviar aos pares e amigos.
    Grande abraço,
    Danielle Novis
    Turismo Alagoas

  • Artur,

    deixo uma pergunta, pq quando viajo para os destinos mais visitados por brasileiros, encontro publicidade brasileira?

    Nosso plano de mídia é feito baseado onde os brasileiros vão?

    Acho q você entendeu minha pergunta.

  • Muito bom Artur! Acrescento que minha visão dos empresários de receptivo no Brasil também é de certa forma antiquada e desprovida de uma estratégia mais ampla e coordenada. Quando vamos a feiras internacionais vemos um monte de DMCs brasileiros nanicos brigando por migalhas e não temos nenhuma “powerhouse” nacional que ofereça o país todo, em todo seu potencial, para os grandes operadores internacionais. Para ter força uma classe tem que ter líderes modernos e providos de mais espírito coletivo, algo que ainda não conseguimos ver. Eu já tinha “secado” o ministro em sua grande aparição no Fórum Panrotas, mas parece que todo mundo (ou quase) tem medo de criticar as otoridades, como se ainda vivessemos nos anos sombrios da ditadura. E não é por medo político que não o fazem, mas por medo de perder benesses e favores que posam estar vinculados ao governo…

  • Política de Turismo?… O que é isso? É de comer, ou beber? Aonde se vende, sem ser nos escritórios de conchavos políticos pós-eleições?
    Turismo na Política… Não obrigado, crianças não são bem-vindas, pois podem tumultuar o plenário com suas birras e reinvindicações… O fato é que tido como uma pasta de sobras e como tal é tratada. Desta vez, pior do que nunca. Sidney, concordo contigo em parte, quando percebe que as pessoas / empresários têm medo de criticar tais “otoridades”. Porém, no mesmo Fórum PANROTAS, ano passado, eu insisitia em poder questionar a então presidente da ANAC, Sra. Solange Vieira, mas esta só veio ao palco, na condição “blindada”, ou seja, sentar, falar (montes de bobagens e números e mentiras), levantar e ir embora, sem responder uma única pergunta da platéia. O Artur deve se recordar que estava vermelho de raiva, com esta situação. Como não tenho muito a perder nem rabo preso com linha política alguma, não tenho receio à este tipo de exposição. Estranho, é ver as ditas autoridades, sim, com este tipo de receio, pois sabem que se um levantar e questioná-la em pontos chaves, outros também o farão e, dificilmente, sairão ilesos desta experiência.

  • Parabéns pelo post Artur!
    Sugiro que utilizemos este espaço para avançar nesta reflexão.
    Acredito que seja importante pensarmos o Brasil e seus destinos como produto, pois o “único” produto que temos de relevância internacional é o Carnaval. Não podemos ficar refém de um produto que se vende por apenas 4 dias. Como sobreviver como atrair turista nos outros 361 dias?!

    Analisemos os EUA,
    Nova York – se posicionou como a capital do Mundo e todos querem visitá-lá
    Los Angeles – terra do cinema, mito de se esbarrar com algum ator/atriz
    Miami – posicionada como terra de sol e praia e dos aposentados americanos, agora pelo volume de brasileiros, a cidade das compras e dos outlets
    Orlando – a terra dos parques de diversões

    Vamos para a Europa
    Itália – terra do design, gastronomia,vinho e história
    França – país da moda, gastronomia elaborada, vinhos finos
    e assim por diante em outros países

    O Plano Aquarela foi o 1º grande projeto de imagem para o país, elaborado com maestria por Sanovicz e conduzido de maneira exemplar por Jeanine Pires e Mario Moysés, a segmentação em produtos foi sábia – golfe, cidades históricas, sol e praia e outros…

    Todos são produtos para venda o ano todo, porém não somos uma liderança em nenhum deles. Temos concorrentes muito fortes em todas as áreas e por fim na mente do estrangeiro, o que fica é a lembrança em ser o país do Carnaval e do futebol, este último como celeiro de jogadores nada mais.

  • Artur,

    O turismo não é visto como prioridade no Brasil e vejo 2 motivos:
    1- A qualidade de vida dos que vivem nos “destinos” é ruim: Rio, Foz, nordeste etc
    2- O excesso de informalidade (ou caixa 2)

    O pior é ver que o MTur é, assim como os outros ministérios, terra de articuladores políticos, não técnicos.

    Estou como o Dória..

  • Artur,
    João Dória foi aplaudido lá no Fecomercio, e deixou bem claro que ele podia falar o que muitos na platéia não poderiam… Sidney captou bem esta idéia !

    Quando um produto é deficiente, quebra facilmente, queima toda hora, desbota, encolhe – ou você descarta ou devolve.

    No turismo é a mesma coisa – ou você volta, fala bem, compartilha a grande experiência ou não volta, não recomenda. Se a mídia do produto (e aí vi a mesma coisa do Augusto…) não convence, fica mais ainda dependente do compartilhamento entre usuários.

    Os destinos turísticos internacionais cresceram, melhoraram, se promoveram e criaram um círculo virtuoso. Se reinventam, veja Nova York, você retorna e sempre tem algo novo, surpreendente.

    E lá, como em tantos outros lugares, nem ministério tem….

  • O especialista John Swarbrook, em seu livro Gerenciamento do Turismo Sustentável, diz que “o turista gosta de destinos que o tratam com dignidade, mas que também tratam com dignidade seus cidadãos”. Por isso concordo com as razões mencionadas pelo Gustavo Syllos. Precisamos melhorar nossos destinos, torná-los verdadeiramente sustentáveis, e isso implica não apenas lidar adequadamente com o meio ambiente, mas também com inúmeros outros indicadores e aspectos. Com relação aos recursos para promover mais e melhor o Brasil lá fora, lembro o exemplo de Portugal, que tem um eficiente sistema de tributação dos cassinos, cujas receitas sofrem pesados impostos, que são prioritariamente aplicados na promoção do país e no desenvolvimento do seu turismo. Não estaria na hora de, pelo menos, o Brasil discutir de forma séria e profissional a legalização do jogo? Afinal, discutir um assunto nunca fez mal a ninguém, e serviria para encontrar alternativas. Talvez pudéssemos criar milhares de empregos e, com um sistema inteligente de tributação, reforçar o orçamento do MinTur e da Embratur. Penso que o caminho aberto pelo Plano Aquarela está correto, mas é preciso ir mais fundo e, principalmente e de uma vez por todas, convencer todos os setores do governo de que o turismo é forte indutor da economia, gera emprego de forma intensiva e com pouco investimento, distribui renda, melhora a qualidade de vida e a auto-estima das comunidades que o exploram adequadamente, e pode transformar-se numa excelente alternativa para o desenvolvimento sustentável do Brasil e das populações menos favorecidas. Mas, por melhores que sejam nossos argumentos, eles de nada valem sem números. É preciso apresentar dados concretos e confiáveis que comprovem o que foi dito acima. Só para se ter uma idéia, a última vez que se fez uma pesquisa para dimensionar o setor de eventos no Brasil foi em 2001! De lá para cá, por mais que tenha havido melhoras, não se conhece um trabalho sério, abrangente e voltado para os impactos do turismo de eventos nos destinos brasileiros. Já está na hora de deixarmos a retórica de lado e mostrarmos os números que podem dar forma concreta aos nossos surrados argumentos. Sem dados consistentes, e na comprovada falta de representação política, não conseguiremos nunca sensibilizar o Congresso Nacional de nossa força. Não teria chegado o momento de nossas entidades do turismo (o tão falado TRADE) trabalhar unido no sentido de viabilizar uma ampla pesquisa nacional que nos forneça os números que imaginamos, mas não conseguimos provar?

  • Caro Artur.
    Eu ia fazer um comentário, mas seu post está tão fundamentado que qualquer comentário meu pareceria ter sido feito por uma “ameba tetraplégica”. Logo, só posso dar os parabéns, tomo a liberdade de copiá-lo para divulgar na politica local.
    Abraço grande
    Conrado

  • Oi Artur,

    Mais uma vez, um belo post.
    Eu acho que a visibilidade do produto Brasil melhorou muito no exterior, mas o pais eh caro, muito caro quando comparado com outros destinos mais procurados pelos europeus – o que faz com que o turista sonhe em conhecer o BR mas….as contas vencem no final do mes!
    O destino BR compete duro com a Thailand, India, Australia e Nova Zelandia, alguns destinos africanos como o Egito, a Tunisia e a Africa do Sul e caribenhos como Barbados e Republica Dominicana, por exemplo. No Reino Unido a popularidade por esses destinos acima citados e para os destinos short haul eh imenso (Espanha, Turquia, etc, por exemplo), ficando o BR mais focados para o ecoturismo, backpacking entre jovens de 18-25 anos que estao viajando pela America do Sul, Carnaval e o Ano Novo no Rio). Eh uma pena….
    Enquanto pensarmos somente no dinheiro que o turista traz (e importante, e claro que eh, mas o turista nao e bobo), esqueceremos de considerar a lembranca que o turista levara consigo para casa.
    Revejam os precos dos servicos prestados em todos os segmentos da nossa industria e os turistas visitarao o BR.

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Sobre o autor

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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