A vida não é exatamente que postamos nas redes sociais. Nem as fotos do Emerson, para quem todos riem (diria que a maioria com sinceridade, uma parte por obrigação, e outros tão poucos que nem contam). Nem as fotos da Playboy e da Caras, com mais retoques e remendos que Dr. Frankenstein jamais ousaria imaginar.
A vida é dura, complexa e não é fácil. Mas e daí? Não é tão bom viver?
Não queremos ver e ler e ouvir só tragédias e casos de cortar o coração (afinal, só temos unzinho) e acho que nem devemos mesmo focar a vida em perdas e danos. Nas imperfeiçõezinhas debaixo do Photoshop. Nessa luta eterna do bem contra o mal (opa, ficou pesado o ar), melhor é sorrir.
Essa angústia que sabe-se lá por que nos atinge no final do ano é passageira e imaginária, apesar de fazer parte de nós. Quer dizer, a gente até sabe o porquê, mas viver vale mais. Raios de luz contra a maldade. Pelo bem que se quer. Quem sorri os males espanta. Cantar também funciona. Nada de lamentações.
Mas aí alguém chega pertinho de seu ouvido e diz que ouviu o que você não quer ouvir. Afaste-se desses. Afaste-se de quem só fala mal dos outros ou bem de si mesmo (nem sei qual o pior). Afasta-se dos atropelamentos nas ruas, das balas que só acham inocentes, das injustiças e dos crimes sem sangue que matam mais que bombas, fuzis e espadas. Afaste-se do que te faz perder tempo/vida.
A vida é tudo isso sim. Mas a gente pode, um pouco, escolher como viver. Melhor.
No primeiro minuto de janeiro com certeza prometeremos mais tempo com a família, mais gestos sem interesse, mais cuidado com o dinheiro, mais atenção à saúde, menos vícios, menos culpa… Se prometemos, é porque sabemos que precisamos de tudo isso, que vivemos reféns do que dizem por aí e da ansiedade de aparecer para os outros da forma que não somos e sequer perto da forma que sonhamos quando crianças ou planejamos quando saímos da faculdade.
No dia a dia esquecemos as promessas, e batemos as metas. Semana após semanas não nos lembramos dos fogos de artifício coloridos sobre nossas cabeças, dos abraços e beijos, dos desejos de um novo ano. E o ano anterior se repete. Mas batendo as metas…
Cabe a pergunta: é automático? Ou podemos fazer alguma coisa para mudar isso? Como aliviar o estresse sem remédios ou chocolates? Como passar um dia sem olhar o telefone inteligente e sábio? (sim, o telefone é tudo isso; nós, obviamente, não) Como dar conteúdo farto ao Facebook e demais redes (e por conteúdo leiamos: a nossa vida) e sermos recompensados? Como pensar em liberdade se somos espionados e ainda ajudamos a quem quer nos bisbilhotar?
No dia 1º de janeiro, prometerei passar os finais de semana com o celular desligado. Prometerei e não cumprirei. Prometerei também não usar minha santa imagem em vão. Nem a dos amigos, parentes e passantes. Prometerei mas a vaidade há de falar mais alto. No primeiro minuto do primeiro dia do ano da Copa vou torcer para que tudo passe logo. Mesmo sabendo que haverá um verdadeiro massacre midiático, uma obrigação de torcer, de dar audiência, de colocar moedas de ouros em cofres alheios. E ai de quem passar mal durante a Copa e buscar um hospital… Se hoje, já não temos saúde, imagine na Copa.
A resposta para as perguntas chatas é dúbia: depende de nós e não depende de nós. No que depender da gente, culpa a ser creditada. Mas ainda temos salvação. Não para os grandes saltos, mas para a mudança nos detalhes. Nos pequenos gestos. Em nossos atos (pensados).
No que depender de outros… também culpa na nossa conta: 2014 é ano de eleição. Só continua assim (em todos os níveis, não estou aqui atirando pedras e sim pesando uma a uma para ver quem merece as mais pesadas e quem pode levar uma só de raspão) se nós quisermos que continue ou se nos omitirmos. Sim, sabemos que não é simples assim.
Mas é Natal. É só abrir um sorriso e ho ho ho.
A vida que levamos é sim a vida das redes sociais. Ao nos mostrarmos felizes ou em lugares diferentes, estamos compartilhando. Talvez com gente demais… Talvez sem sabermos por quê. Seja para que digam “eu te amo” de alguma forma. Seja para que tenham algo para dizer a alguém (ou alguém para dizer algo). Para que nos vejamos como astros de nossas próprias vidas. Para vermos quem amamos bonitos e felizes. Para repartir beleza e alegria. Mas com cuidado. Pois junto podem vir sobras e ressentimentos.
Em terra de bunda e silicone, uma coxa mal fotografada pode virar meme. Uma selfie pode virar trolagem. Um simples post pode ser mal interpretado e você ganhará inimigos que nem conhece.
É Natal. Nada de mal entendido. Ou ficaremos sem presente. E sem fotos no Instagram. É tudo de uma alegria triste ou de uma beleza melancólica. Afinal, tem muitos significados. O passar do tempo, um deles. E se o tempo passa, que passemos bem. Com sorrisos ao receber um presente (não importa qual), com emoção ao relembrarmos um outro Natal, com molecagem ao brincar com as crianças, compartilhando não apenas fotos… mas também o que podemos compartilhar com quem nos cerca. Não com quem está do outro lado do mundo e adoraríamos conhecer e abraçar. Mas com quem vemos quase todos os dias e talvez nunca tenhamos abraçado. Com quem podemos tocar. O toque, já nos ensinaram os físicos, é mútuo. Vai e vem. Ação e reação.
Essa época do ano é assim. A gente pensa tanta coisa. Ou não pensa nada. Mas o que fica é o que a gente sente. E que vai gerar o que fazemos. Nossos atos.
Feliz… Natal. Dia 25. Para os que são de Natal. Feliz dia a mais, noite com amigos, manhã preguiçosa com quem se ama. Feliz todos os dias. E que, independentemente do que queiramos compartilhar, que estejamos bem resolvidos. Cada um consigo mesmo.
Que saiamos do automático… felizes!!!
QUANDO PARAMOS PARA PENSAR, PENSAMOS. E DEPOIS? http://t.co/yBpOv36ChZ