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RECICLANDO – TEXT ME – TOUCH ME

Outro dia me peguei lendo um texto meu, fui fazendo umas alterações, fui cortando aqui, mudando uma vírgula ali… E de repente me dei conta que já tinha publicado aquele texto aqui mesmo, há um ano mais ou menos… Fala sobre envelhecer, mundos diferentes, novas prioridades… Resolvi reciclá-lo. E mostrar a nova versão. prova de que mudamos, mas nem tanto assim. E que prioridades mudam… mas às vezes algumas voltam sim.

Espero que apreciem a releitura. Algo inédito ou falta de criatividade? Tudo isso e algo mais.

ENVELHEÇO NA CIDADE

Sei que estou um pouco ou um tanto mais velho quando vejo minhas prioridades mudarem. Coisas que me irritavam tanto, ou que eu queria tanto tanto… hoje me são indiferentes. A gente vai aprendendo ou ficando mais velho? Ficar mais velho é esquecer superficialidades ou abusar delas? Não sei. Mas as prioridades mudam sim. Será que algumas voltam?

Uma vantagem que tenho é que nada (NADA) me assusta. Ou me choca. Quer dizer, a violência sim. Essa eternamente vai me… violentar. Falo da violência física, covarde… Pois com olhares, pensamentos e… palavras, até eu sou “violento” quando atiçado. Nada me surpreende, mas tudo pode me deixar mais triste. Faz sentido?

Continuo não tolerando malandragem, aqueles que tentam dar voltas, que se camuflam, que se perfumam e, ao final, são descobertos, pois fedem.

Sei que estou um pouco mais velho quando só observo os mais jovens. Continuam inocentes, continuam eternos, continuam ávidos por independência e nos olham de forma estranha (você é um ET?). E posso optar por me juntar ou não a eles. Não entendo a música deles, mas com algumas até danço. E o cabelo? Fico achando que o meu o boi lambeu. Tento falar igual, mas eles não falam… eles mandam sinais (uma volta no tempo). Please, text me. Text me. Text me. Na minha época era… touch me. Pelo menos.

Tô ficando velho. Ou cansado? Ou intolerante? Acho que não… É uma questão de prioridades, cenários… Olhares…

E são fatores externos que nos dizem:  você está velho. Pois aqui dentro, salvo exceções, continuamos jovens. Ou achando que somos. Mesmo já sabendo que não tão eternos. Ou nada eternos — no sentido físico mesmo. Touch me.

É  a barriga que nos lembra da nossa “velhice” ou do tempo avançando (adianta malhar? Ficarei mais jovem? Talvez mais saudável). E ainda a internet, os ídolos cheios de botox e plásticas (e os poucos ainda com rugas),  os recordes de ida a um mesmo evento, a opinião com a qual ninguém mais concorda (“mas é um filme tão bom”, pensamos, sabendo que a indústria hoje é feita para os teens e que esse filme tão bom , “de arte”, é coisa de “velho”), os cabelos ralos…

Mas o mundo também é meu. E a setorização (por gerações, por classes sociais, por torcedores do mesmo time, por carnívoros e vegetarianos, por opção sexual, por sorteio…) ajuda a nos sentirmos ainda em nosso mundo. Algum mundo.

Lembra da tia que sempre pediu para você ajustar o vídeo-cassete dela? Hoje em dia, é só pedir para um garoto te ensinar o caminho no mundo virtual e depois nem precisamos mais dele. É só navegar. E no próximo lançamento, idem… O importante é não ter de aderir a tudo para se sentir jovem e parte de um todo que não existe mais. Hoje o mundo é feito de vários todos. Vários mundinhos que se conectam, se veem, se rejeitam, se esbarram, se apreciam, se namoram, se separam… e que formam o todo. Mas eu quero o meu mundinho ainda.

Saudosismo não tenho. Nunca tive, Mas há uma tendência “fdp” de vermos os tempos passados sem seus defeitos… A infância, então, vira um paraíso. A não ser que haja um trauma envolvido, os problemas de hoje são muito maiores que os de ontem, que foram até piores, mas nem lembramos direito. Passamos por eles. Envelhecemos. E eles também. Memória seletiva sem vergonha… Ou salvadora?

Quando temos 18 pensamos: será que vamos conseguir sustentar uma família? Quando vemos… os netos nos trazem presente no Natal. E há os velhos que nem visita recebem… mas isso é outra história. Vi o filme da Meryl Streep e da Julia Roberts (Álbum de Família) pensei nisso. “Dediquei minha vida para criar vocês… e agora estou aqui, sozinha, doente e rancorosa”. Um filme para estômagos fortes. E eu saí me achando o normal. Mesmo sendo hoje tão… distante.

Há quem não goste da palavra “velho”, mas há “velho” e “velho”. Uma pessoa com mais idade é mais velha. Nem vou entrar no mérito dos livros de auto-ajuda (que chamo de não ajuda ou me engana que eu gosto), com aquela história de que idade a que se sente ou que a mente blá blá blá.

O mundo se encarrega de mostrar que está diferente e que nós envelhecemos. É natural. Alguns se adaptam melhor ou pior ao “novo mundo” e a tecnologia e a medicina, mais que nunca, mostram que há “mundo” ou “mundos” para todos. Fique no seu. Isso é importante. Mas nunca se esqueça do “touch me”. Mesmo que de vez em quando você “text me”

Idade na maioria das vezes não importa. Mas é sempre bom tê-la em mente. E depois decidir o que fazer. Escolher. Eu tenho escolhido mudar prioridades. Não conceitos e aquilo que admiro (seriedade, qualidade no que se faz, senso de justiça, paixão), mas nas medidas movidas pela ira, por exemplo. Difícil estar há 20 e tantos anos em uma empresa, por exemplo, e continuar gostando do que se faz. Eu me adapto bem à rotina, mas sou movido a reações. Se não reagem, eu mudo. Viro a página, sigo em frente. Acompanho o ibope…

Um dos motivos é fazer coisas diferentes, saber envelhecer. Sempre arriscar.  Dividir também, claro. Fazer o que nunca foi feito, pois o mundo é outro… E quando chegam as reclamações (que não envelhecem), atenda… A maioria se contenta com muito pouco. E no meu trabalho, quem decide é audiência, quem julga são os outros.

Eu observo. Algo que nunca mudou. Um voyeurismo de atitudes, vaidades, jogadas, cartadas e também da rotina fascinante do ser humano. E de sua beleza.

Tô ficando velho. Mas de olho em todas as gerações. Mente aberta. Corpo tentando acompanhar – mas como doem as articulações… Pensamentos que flutuam dentro de mim. E que uma hora se materializam. Já velhos, porém… Tempos modernos. Velhos tempos.

Ah sim, cada um envelhece de forma diferente. E isso torna tudo mais difícil, fascinante e… misterioso, único. Não queira saber tudo, não irá conseguir. Muito menos dividir o mesmo mundo. No máximo longas interseções.

E assim vamos… envelhecendo na cidade. Querendo uma casa no campo. Enviando mensagens. Lembrando-se do antigamente, mesmo que de ontem á tarde. E sem nunca se esquecer do… touch me.

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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