Esse é o editorial do Jornal PANROTAS 1.017, que já circula na versão impressa (com um Guia de Compras nos Estados Unidos encartado) e que pode ser visto também no Portal PANROTAS.
Quando queremos dar uma espetada em alguém e dizer que aquela figura não manda nada, só tem pose e pouco mais que isso, logo sacamos da memória a expressão (um tanto gasta): “é a rainha da Inglaterra”. O que significa dizer: acha que manda, mas já perdeu o poder faz tempo. Quem resolve é outro.
Pois a tal da rainha que deu razão de ser a essa ofensa semi-velada comemorou na semana passada seis décadas no posto. Esquecida? Ignorada? Triste e deprimida com a perda do poder? Longe disso. A máquina de manutenção da fidelidade (uma fidelidade quase de alma) à coroa e suas joias agiu com perfeição e súditos anônimos e famosos comemoraram com alegria e orgulho os 60 anos daquela que não manda nada…
Mas se não manda de onde vem essa fascinação com a realeza britânica? Lembram-se dos casamentos de Lady Di e, anos depois, de seu filho William? São loucos os britânicos (e o mundo, que observa e segue tudo isso com madmiração e fascinação)? Orgulhosos demais? Tem afinal um papel que não sabemos a rainha da Inglaterra? Pelo visto sim. E uma liderança e cuidado com a imagem, que acaba sendo a imagem de toda uma nação, que nunca tivemos e talvez nunca teremos no Brasil.
Sim, há escândalos na realeza e nos deliciamos em acompanhá-los, com nossa necessidade de que os ídolos sejam tão mortais, pecadores e imperfeitos quanto nós. Mas o lado da inspiração se mantém quase intocado. Por aqui, há escândalos não punidos (e desde Cabral, é bom destacar, não nos referimos somente à época atual, pois já vimos de tudo nesse País e em todos os governos). Por aqui, há líderes que não inspiram e perdem súditos a cada ano, a cada besteira despejada em nossos ouvidos.
Por aqui, a imagem que nos persegue há décadas, além da corrupção, é a do país do futebol, que a Copa do Mundo 2014 vem ratificar (e cabe a nós aproveitar para ampliar percepções e mostrar outras alternativas), do samba e das mulheres bonitas (beirando, em muitos casos, o turismo sexual).
O que nos une além do futebol? Que símbolos nos fariam celebrar conjuntamente, mesmo com o mundo não entendendo bem o motivo de tanta alegria? Quem pode entregar comendas a nossos maiores ídolos e deixá-los orgulhosos?
Há esperança? Sempre. E a presidenta Dilma, em seus discursos sinceros, emocionados e engasgados com uma sede que pode fazer a diferença, ainda não caiu na armadilha que outros líderes abraçaram. Mas a corte no Brasil, vale dizer, está contaminada, e também seus súditos. Não nos cabe mais a inocência de acreditar que uma pessoa apenas possa mudar tudo. Mesmo que queira.
Nossas rainhas da Inglaterra estão ricas e só nos entretêm se pagarmos ingresso. Mesmo já pagando tanto por tão pouco. Nossas leis são frágeis, nosso sistema corrompido e corroído, nosso passatempo, samba e futebol, cada vez mais comprometido. Que nossa alegria, um dos grandes diferenciais de nosso “produto”, juntamente com essa mistura de cenários e “gentes”, sempre ache motivos para celebrar, e não termine louca ou, pior, triste.
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