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Dia a dia

Respiração

Senta. Não age precipitadamente. Você sabe que se esperar até amanhã, tudo isso será passado. E você, se quiser, mas não vai querer, sabemos, poderá até rir de tudo. Sem raiva. Sem desejo de vingança. E esse tempo vai te obrigar a rir. É inevitável. Sempre rimos do ridículo. Mesmo do ridículo de nós mesmos. Criados em tragédias que são apenas… desencontros.

Senta e fecha os olhos. Encosta a cabeça no estofado macio que lhe faz lembrar-se do seu pai. Da sua infância no apartamento daquele bairro que não sai de você. Talvez essas recordações sirvam para tirar o gosto amargo que essa descoberta deixou na sua boca. É só por esta noite. Você sabe disso. É só até o amanhecer. Uma desilusãozinha.

Tenta dormir. E em último caso reze por pesadelos. Ao despertar, isso será nada. Estar vivo será melhor que qualquer sentimento. E essa noite terá sido apenas mais uma qualquer. Perdida. Para não ser recordada daqui a alguns anos.

Gasta teu tempo com o que vale a pena. Não dê ouvidos a quem só fala mal dos outros e bem de si mesmo. Ouça o vento. Ouça música. Ouça a respiração e as palavras de — amor, tesão, fúria, êxtase e catarse — da hora do sexo. Ouça o seu coração. Para o resto, sorria. Dizem que os males espanta. Cantar também. Rezar então…

E nada de contar até dez. É muito para perder com o que não vale a pena. Liga a TV. Respira. Assista de nova àquele filme. Tem aquela cena… Você viu a primeira vez com aquela pessoa. E te lembra aquele dia… Só coisas boas. Nada de fofoquinhas… Nada de vaidadezinhas…

Espera até amanhã, pois você nem saberá por que esperou.

E, importante: quando o acaso lhe trouxer a vingança, quando o corpo cair, do nada, sem querer, de repente, a seus pés… tente não se sentir vingado. Apenas constate a vida. Pois aqui se faz, aqui se paga.

Outro dia alguém me disse isso: “essa queda já era prevista”. Que não seja por nossas mãos. E sim, pelos nós dados pela língua daninha daqueles que um dia pronunciaram seu nome com maldade entre os dentes… A vida sempre se encarrega desses. A tentação é não ajudá-la e acabar… perdendo tempo. Também não espere por justiça. Apenas seja justo. E se distancie de trombadinhas do dia a dia.

Não perca tempo. Você sabe o que lhe interessa. Então não espere até o primeiro minuto de janeiro para prometer. Cumpra aos pouquinhos. Abra a mente, os braços e os olhos para quem está do seu lado e sempre estará. O resto é consequência.

E enquanto espera, se é que ainda lembra disso, nada de notícias sanguinolentas, de crianças jogadas em rios, de pais que se punem matando filhos, de jovens que atiram em si mesmo mas antes disparam cegamente para todos os lados, de maledicências, de intrigas, de difamações… É tudo… o mal que nos cerca. E perda de tempo.

Abra mais ainda os olhos, a mente e os braços. Alcance quem você não vê. E esqueça qualquer sentimento de vingança ou mágoa. As pessoas são o que são. Pessoas. Como você e eu. E nem todos veem o que você vê. Isso já é suficiente para causar atritos. Que não valem a pena ser estendidos.

Entendido?

Não espere janeiro. Feliz ano novo agora!

PS: Antes que perguntem, não é um texto factual, temporal… na verdade é uma colagem de dois textos de meses, talvez anos atrás… Reflexões antes de malhar… Ódio do personal trainer? hahaha

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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