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Reunião em Brasília é assim…

1)      Quem está falando não está realmente falando e sim discursando. Pior ainda os que leem os discursos. Ao abrir a boca em uma reunião na capital federal, parece que os políticos ficam mais políticos e quem não é (ou tem aptidão) mostra sua inaptidão para a oratória. Os que falam com desenvoltura, como o presidente da Embratur, Flávio Dino, a quem sempre gosto de ouvir (concordando ou não com ele) saem na frente.

2)      Quem está escutando as falas da reunião (os discursos, na verdade) não está realmente escutando (até porque discurso só é bom no primeiro minuto…). Fica aquela plateia com cara de sério mas o olhar no smartphone, no tablet ou buscando na sala o contato que lhe interessa.

3)      Depois de falar (discursar), ainda mais se há uma crítica veemente no discurso, o orador rapidamente sai da sala por algum motivo. Assim, não ouve os comentários ou resposta (por direito) às críticas. Influência do Congresso. Fala-se, desce-se da plenária e volta-se ao gabinete. Tipo: recado dado. Mas sem retorno.

4)      Para se mostrar influente, durante a reunião você tem de levantar e cochichar no ouvido de alguém (teoricamente) mais importante que você (naquele momento, ao menos). Se houver risadas de cumplicidade, então, seu índice de poder vai subindo. Não importa se tem alguém falando (discursando), dê a volta na sala (pelo caminho mais longo), abaixe no ouvido do ministro (por exemplo) e conte uma piada para ele rir. Vão te achar o máximo (ou assim alguns acreditam).

5)      Alguns levantam em direção à fileira de autoridade e em vez de cumprimentar os cinco ou seis, fala apenas com um ou dois. Não se surpreenda, provavelmente são esses dois que vão assinar a liberação da verba para o projeto do interlocutor mal educado. Piscadinhas e acenos do outro lado da mesa também serve. Tem que se fazer presente. Tem até um ditado novo: diga-me quem abraças em Brasília, que te direi quem financia teu projeto (ou ao menos quem assina a liberação).

6)      Pedir a palavra para protestar contra quem não está presente também chama a atenção. Não é muito ético, mas… estamos em Brasília.

7)      Ser um dos primeiros a falar é importante. Pois em Brasília há sempre a desculpa: “meu voo sai tal hora”. Do meio para o final, só fica quem mora na cidade ou tem tempo para ouvir todos os discursos. Todo mundo sabe que reunião longa não é proveitosa… menos os políticos de Brasília.

8)      Se você é importante leve ao menos um assessor, pois eles atendem telefone, passam informações, levam recados… E salvam na hora H. Atender o telefone e sair da sala olhando para o infinito é outra cena clássica.

9)      Não tem argumentos? Faça-se de injustiçado e se a cara de pau for grande, diga que inventou a roda. Nesses poucos meses ou anos que está no poder, diga que reinventou o universo. Ninguém ouve, ninguém leva a sério. Mas reafirma o seu poder.

10)   O problema maior é: na reunião seguinte, dois ou três podem ter sido substituídos. Se for troca de governo então… começa-se tudo de novo. Do zero. E lá vêm discursos, discursos, discursos e o mesmo rito de sempre: reuniões sem diálogo. O poder que está em gabinetes. Longe do que de fato acontece no País. O Brasil de Brasília é outro. Mas temos de fazer essa viagem sempre que necessário, até porque quem está lá deve satisfação a todos nós. Seja por causa de um centavo ou um milhão de reais. Seja por uma carona de FAB, seja pela não continuidade de um projeto. Seja pela promessa não cumprida, seja pelo que poderia ser mas não é. Aqui que tem remédio, mas parece que nunca terá.

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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