Reproduzo aqui o editorial do Jornal PANROTAS 903.
Quando rir demais atrapalha
Como toda esta edição está dedicada à oitava edição do Fórum PANROTAS 2010, e as análises dos paineis, declarações dos painelistas e as fotos falam por si só, nesse espaço hoje trazemos um tema diferente. O riso. A piada. O bom humor do brasileiro. Que, em determinados momentos, e no atual estágio, possivelmente esteja atrapalhando o País.
Nossa descontração e bom humor atingiu um nível exagerado, em que a impressão é que nada levamos a sério. E se levamos, escondemos tudo sob o riso fácil, a piada para amortecer a vergonha, a dor… É como as piadas sobre a morte de Ayrton Senna, a queda do avião da Air France, o deputado que coloca o dinheiro dentro da cueca, os bispos da Renascer que escondem os dólares dentro da Bíblia…
Ao virarem piada nas ruas, no dia a dia, no Pânico, no CQC, no Casseta e até no sofá da Hebe, os escândalos nacionais sim aliviam nossa dor e vergonha, mas também diminuem o impacto dessas notícias que acabam entrando para o anedotário nacional e logo surge outra piada e outra e outra e viramos o País do riso e da impunidade. O deputado federal colocou dinheiro na cueca? HAHAHAHAHA Vamos lançar a cueca com porta-dólar. É tão engraçado. A bispa foi presa com dinheiro dentro de uma Bíblia falsa? HAHAHAHAHAHAHAHA Vamos fazer uma musiquinha e louvar, como fizeram os deputados distritais na capital federal. E assim um escândalo vai se sucedendo a outro, o nível das piadas aumenta e viramos, como diz o Simão, o país da piada pronta.
O povo Brasil afora ri conosco de nossas mazelas, a piada vai se transformando, e a verdade acaba virando causo, anedota, história engraçada acontecida em um país tão distante…
Não se trata de não rir, não fazer humor, pois somos bárbaros e excepecionais em séries cômicas, o stand-up é o máximo, o humor crítico e ajuda a expor os problemas… Mas no atual nível de escândalos e corrupção, o nível de piadas (já tem gostosonas fazendo “humor” dentro do Congresso e colocando cueca em senador da República) está anestesiando o teor do deboche.
Não, não é pára diminuirmos o escracho. O espectador, o leitor, o internauta vão dosar o limite das piadas, do bom e do mau gosto (e há horas em que somos mórbidos e gostamos mesmo do mau gosto – ou alguém aqui já não tentou ver o vídeo da baleia matando a treinadora?). Portanto, que continuemos o País da alegria e da piada, da descontração e da crítica. Mas não da piada pronta. Pois piada pronta significa aceitar a grana na meia e na cueca… Vira piada automaticamente, pois é esperado. Vamos sim fazer piada e ter uma crítica aguçada, quando adequado, para fazer humor de situações sérias. Humor também é denúncia. Sem esquecer que rimos porque é engraçado, mesmo tendo por trás algo triste e muitas vezes abominável.
Vamos rir. Mas com os políticos corruptos na cadeia. Com os falsos reis fora de seus tronos. Com os falsários de mãos atadas. Com a nossa dignidade, nossa cidadania preservadas.
País da piada pronta não. Pois a piada pronta tem comediantes que elegemos, líderes que escolhemos, gente que abusa de seus cargos, aproveitadores que não merecem estar onde estão. É bom que saibamos fazer piada de tudo (ou quase tudo). Mas não podemos esquecer que por trás do riso tem algo mais sério que requer atitude, voto, ação, protesto, consternação e outros acertismos a que não estamos muito acostumados.
Muito bom esse seu comentário, o brasileiro leva tudo na base da piada, estamos sendo vitimas de governantes e politicos sem postura, que foram eleitos para nos representar, mas só fazem para si, ou quando levam vantagens. Devemos levantar a bandeira da moralidade e do civismo, nossos educadores são tratados com desdem, hoje ser um professor é motivo de piada. A maior piada do momento é eleger a candidata de um governo, que nem o potugues sabe falar, até quando conta uma piada