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SOLDADOS SEM RELIGIÃO

(Me inspirei por um post do Sidney “Alonsinado” (blog Sem Fronteira, aqui no Portal PANROTAS), mas não é uma resposta a ele. E sim uma reflexão do lado de cá, como imprensa, funcionário, amigo, profissional… Sidney está certo apo criticar a banalização de certas expressões, e “ter um novo desafio a cada semana” é praticamente um surto psicótico. Mas olhar a palavra desafio mais ligada ao ato criativo, à inquietação, é quase um dever. Sidao, portanto, não me responde, pois concordo com você, mesmo usando frases contrárias aqui. Você sabe que é possível rs. E aquele abraço carinhoso).

Há uma certa controvérsia besta quando há notícias de profissionais deixando empresas. E deixando pode significar pedindo demissão, sendo demitindo, enlouquecendo, sendo roubado pelo concorrente, cuspindo no prato que comeu, sendo injustiçado, se libertando, sendo escorraçado, mandando o chefe se lascar ou simplesmente nada, um ciclo que termina, uma vida que segue.

Seja qual for o motivo, à frente sempre haverá desafios. Novas portas. Novos projetos. Tempos de espera ou de adaptação. Más e boas escolhas.

Uma empresa, regra geral, não deve soltar comunicados para dizer que esse ou aquele não fazem mais parte de seu quadro de funcionários, sócios, frilas, visitantes, experimentos, testes ou peças de museu. Simplesmente porque, como na justiça, não se deve ser obrigado a produzir provas contra si mesmo. Em alguns casos, quando se quer desvincular de vez a imagem do fulano (ou fulana) da empresa ou quando se quer divulgar imediatamente o sucessor e a fase de transição, um comunicado sucinto é bem vindo. Mas tem de ser muito bem escrito, algo raro hoje em dia.

Já o profissional saído ou que pediu pra sair, surtado ou que estava surtando o chefe ou patrão, tem todo o direito de comunicar ao mercado, com quem se relacionou antes, durante e depois do último emprego, seus planos (ou a falta deles). Não vejo nenhum problema em dizer: sigo para novos desafios. Com todo o respeito. E objetividade. Lavar roupa suja em público ou mesmo falar “estava cansado dessa função” ou “se cansaram de mim” não acrescenta nada. Que os próximos empregadores peçam referências, ou não.

Cabe à imprensa noticiar passado, presente e futuro. Expor podres, acho que não. Afinal, são relações pessoais e empresariais com muitas nuances que poucos irão saber ou ter acesso. Fulano foi demitido pois fingia que visitava clientes mas estava num cinema de sexo no centro. Outro fulano foi desligado por ordens superiores mas levou objetos de valor em sua saída. O chefe assediava sexualmente a demitida. O funcionário ficou obsoleto. A empresa ficou obsoleta… Não interessa ao mercado e sim aos fofoqueiros, que, não temos como evitar, soprarão em nossos ouvidos o que acham haver por trás de cada saída. Cabe a nós pesar o que se ouve. Dar atenção ao que merece. Mas tanto o profissional que sai quanto o que entra, tanto o chefe ou o patrão têm de ser encarados como pessoas e não apenas peças de um jogo cheio de artimanhas.

O turismo está se profissionalizado mais e mais (já está até na bolsa, já digere bem as fusões) e empresários que não sabem lidar com desligamentos, demissões e afins; e empregados que não sabem se posicionar em um momento de saída fazem parte de um mesmo passado: a era dos dinossauros, dos coronéis, do “prendo e arrebento”, dos casamentos até que a morte separasse. E isso não apenas no turismo. Não sei que empresa usa a expressão “gestão de pessoas” para RH, mas é bem por aí. Gerenciar pessoas. Seres humanos e não apenas xingamentos e adjetivos jocosos, ou elogios e títulos comprados. Casamentos profissionais, assim como os pessoais, podem acabar sim (aliás, isso me inspira para um post barra pesada sobre perdas em nossas vidas… encaram?).

Não quer que saia que sua empresa está demitindo? Não demita. Quer que a notícia seja positiva? Há inúmeras estratégias. Menos a de negar, se esconder.

Não quer que saibam que você foi demitido ou diluído? Antecipe-se aos fatos. Planeje os meses seguintes. Busque amigos e aliados. E deixe o que passou no passado.

Em todo o caso, seja transparente. Você foi demitido, mas pode ter alguém que esteja precisando exatamente de você. Ou de você com uma mudança aqui e outra ali. Ou de metade de você… E vice e versa.

O fim pode ser bom para ambos os lados. Mais para um, menos para outros? Assim é a vida. O tempo empurrará essa gangorra para cima e para baixo, poucas vezes atingirá o equilíbrio, e na média, dará empate. E o mesmo tempo apagará lembranças frágeis, recordações sopradas nos ouvidos. O que não se sustenta será esquecido. E muitos poderão seguir novos caminhos, conseguir novas chances, olhar além do próprio umbigo. E empresas se renovarão, se reinventarão, sem que agressões fossem o cerne da questão nessas idas e vindas.

Preocupemo-nos com o futuro. Pois o tempo passa atrás da gente como um vulto ágil. Olhamos para trás para identificá-lo, talvez até num sobressalto, e quando voltamos a cabeça, lá se foram décadas, lá se foram dezenas e dezenas de pessoas, momentos, chegadas e partidas. Em vez de tentar pegar o vulto, melhor é olhar para frente. Contabilizando sim perdas e danos, mas muito mais ganhos, sucessos e lições de cada fase por que passamos.

Você tem um grande ou novo desafio pela frente? Deveria. Iria lhe fazer muito bem. Esteja você saindo ou ficando. Demitindo ou contratando. Com ou sem razão nesse caso específico.

Agora, se já está tudo dominado, parte pro seu ano sabático e seja feliz. E nem mande notícias, e nem coloque posts no Facebook. Release para a imprensa, nem pensar. Deixe os fofoqueiros que ficaram imaginar. Quem sabe isso lhes traz de volta certa criatividade… A boa criatividade que não se acostuma com o vulto, que não padroniza ou classifica, que não exclui, que está aberta a tudo e a todos. A que não grita e sim… multiplica.

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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