Estive ontem em Brasília, durante o primeiro Aviation Day do Brasil, organizado pela Iata, com apoio de outras entidades, e, claro, estou com aviação no pensamento.
Os assuntos mais interessantes (ou alguns deles) estavam mesmo nos bastidores.
Conheci pessoalmente, por exemplo, o Paulo Kakinoff, presidente da Gol, e o Constantino Jr. E o Henrique Constantino também estavam lá, prestigiando o evento da Abear, lançada em um almoço, e o da Iata. Vindo da indústria automobilística, está ainda no período de transição, tomando pé, com o Júnior ainda a seu lado, aprendendo… A cara é de disposição e de muito trabalho. “90% é transpiração”, disse ele. Já a cara do Constantino Jr. estava boa também, cara de quem deixou para trás uma rotina pesada, apesar da responsabilidade continuar. “Ainda estamos na transição. Como sou fundador e era presidente havia muitos vícios que quem chega de fora observa logo. Eu resolvia coisas que não precisa resolver, mas como era assim no início foi ficando…”, explicou Júnior.
Depois de um balanço tenso do segundo trimestre do ano e da chegada do novo presidente, é natural que a Gol esteja arrumando a casa e um pouco sumida. Essa reaparição pública da empresa ontem foi bastante positiva. Kakinoff foi muito assediado no evento, Júnior idem, como sempre, e fica para os próximos meses a expectativa sobre o que vem por aí. Quase toda semana, aliás, vem um boato de que a Gol vai comprar uma empresa aérea. Pelo que ouvi, a fusão com a Webjet deve mesmo ocorrer, mas ninguém confirma oficialmente o fim da marca Webjet.
Nas estatísticas apresentadas no evento da Iata (Aviation Day) muito se falou das low cost/low fare, com a Gol sendo classificada assim. Low fare chegou-se à conclusão que é, até porque, segundo Kakinoff, não aumenta tarifas há cinco anos (e deve vir um reajuste por aí). Low cost não é, pois os custos sobem a cada ano, com o QAV à frente. Mas a redução nas tarifas não é exclusiva da Gol: nos últimos dez anos, segundo a Anac, as tarifas domésticas em geral caíram 50%. Somos um país low-fare então? Mas esse excesso de promoções não acabou viciando o consumidor a esperar sempre pelo menor preço, pelo feirão de passagens? Caiu a internet tem de ser o menor preço?
Aí vão entrar alguns agentes de viagens reclamando que as aéreas não os prestigiam mais em detrimento da venda direta na internet. E que suas tarifas médias são mais altas. Esse último ponto é verdadeiro, mas a primeira afirmação não. As empresas aéreas antigamente (antes da internet) tinham dois canais de vendas: as agências, responsáveis por 90% do movimento, e o telefone e as lojas próprias. Não tinha outra alternativa. Com a internet, ninguém em sã consciência deixaria esse novo canal de lado, mesmo com ele sendo usado pelo consumidor para buscar essencialmente (em alguns casos) preços baixos. Sobre cobrar ou não a DU no site, é outra questão. Que se duvidar vai ocorrer logo, pois as aéreas estão cobrando por tudo mundo afora e a gente sempre copia as “melhores práticas”…
Sobre as companhias não reconhecerem as agências: já escrevi isso uma vez e vale repetir. As pequenas agências foram direcionadas para as consolidadoras, que ganham para isso e dependendo da empresa e da condição repassam algum incentivo para as agências. Essas, por suas vez, cobram a DU, que as agências corporativas adoram e a maior parte das demais também, pois representa até um ganho maior em relação ao que as aéreas pagavam antes. Quanto às grandes e médias agências, ou aquelas que fidelizam vendas, ou que ocasionalmente apresentem um bom negócio, alguém duvida que elas ganham incentivos, mimos e atenção? Antes, era tudo para todos, hoje, tem que fazer merecer… Ou algo assim.
Ser multicanal acho que traz mais problemas que soluções para uma empresa aérea, a pressão por preços e a concorrência fica mais explícita. Mas o mundo é assim. Não dá para viver com “e se?”, “e quando?”, “e eu?”…
Como o post ficou enorme, vamos considerá-lo a primeira parte de uma série.
Aviação na cabeça…
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