Não é nada empolgante, não é motivo de orgulho, não traz qualquer alegria as notícias que lemos em veículos como O Estado de S. Paulo (de novo, ontem, na edição de domingo) ou a revista Veja sobre o mau uso de verbas federais inicialmente destinadas ao turismo, via Ministério do Turismo. Para uma pasta tão carente em recursos, e que depende tanto das emendas parlamentares para diversas obras e projetos, ver-se ludibriada por laranjas e institutos fantasmas, é frustrante e revoltante.
A questão da liberação de verbas federais para o setor, para a realização de eventos, promoções de destinos, capacitação, entre tantos projetos importantes para nossa indústria, sempre foi delicada, neste e em outros governos. A atual fase democrática do Brasil é muito recente e as regras vêm sendo aprimoradas para assegurar que o dinheiro público, fruto do trabalho de todos nós, seja usado em nosso benefício e não desviado para fins particulares de poderosos ou mesmo para o financiamento de milionárias campanhas políticas.
Em oito anos, o Ministério do Turismo já tem história e passado. E comprovações das parcerias frutíferas e dos projetos que não passavam de fumaça. Sabe quem são as entidades sérias, os empresários que somam.
É preciso investigar essas brechas que ocorreram nestes escândalos, para que não se tornem regra, para que sejam exemplos do que não pode ocorrer e para que os honestos (a grande maioria) não sejam punidos e paguem um preço alto.
Antes desses escândalos pontuais que citamos, a Lei de Diretrizes Orçamentárias 12.309/2010, que baliza o uso do orçamento para 2011, já estipulava que: “não poderão ser destinados recursos para atender a despesas com transferência de recursos a entidades privadas destinados à realização de eventos, no âmbito do Ministério do Turismo”. Ou seja, o Ministério do Turismo não pode, em 2011, destinar recursos para eventos de entidades. Que eventos, então apoiaria? Quem pode receber esses recursos? Somente os Estados? O trade precisa de respostas.
A Abav e demais entidades do setor já estão se mobilizando para que as associações do Conselho Nacional de Turismo (CNT) sejam a exceções a essa regra. Afinal, é o MTur quem preside e coordena os trabalhos do CNT e sabe com quem está falando. Não que o modelo seja infalível, pois brechas para corrupção sempre haverá enquanto envolverem seres humanos, mas é preciso que se acredite e confie 1) na competência do Ministério do Turismo para gerir os recursos; 2) na idoneidade do mesmo para controlar e fiscalizar; 3) na expertise dos integrantes do ministério para conhecer as entidades e seus eventos. Se há desconfiança, ela valerá para programas de capacitação, obras de saneamento e divulgação do Brasil no Exterior e não apenas para os eventos de entidades privadas. São muitos os exemplos do que pode ser feito para desviar recursos públicos, mas é preciso também saber que a grande maioria das entidades de turismo e dos empresários do setor é honesta e vem fazendo sua parte muito antes de haver um ministério exclusivo para o Turismo.
Não sabemos ao certo que motivos levaram a LDO a incluir essa proibição para 2011, mas é preciso, mais uma vez, ouvir o setor. A lei passou despercebida pelo próprio CNT.
Esperamos que os atuais escândalos, que são pontuais no Turismo, não deem argumentos para o exagero em fechar mais ainda o leque de opções para o uso da verba federal. Esse dinheiro existe para ajudar no desenvolvimento do turismo no País e da indústria que justifica a existência do próprio Ministério do Turismo. Se houve falha no processo de aprovação de documentação nesses casos específicos, que se aprimore isso. Afinal, entidades e empresas de turismo passam por um processo longo, detalhado e repleto de documentações na hora de receber verba federal. Que as regras sejam para todos: pedidos de políticos, emendas parlamentares e parcerias com a indústria. Se há maus exemplos, que sejam corrigidos com veemência e rapidez.
Mas que não se faça todo um setor, que inicia uma década fundamental para seu futuro, pagar pelos delitos de uns poucos irresponsáveis.
Acho um absuro isto, estas farras que fazem com dinheiro público, nosso turismo e nossos orgãos governamentais deveriam abrir os olhos e darum “up” de uma vez por todas no turismo aqui no Brasil, lembrando que vem olimpiadas e copa do mundo…