Entra o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, que justiça seja feita, pegou rápido o gosto e as engrenagens da indústria, e sabe articular um discurso bem pragmático, com começo, meio e fim. Sim, está a serviço do governo, mas bem próximo dos players de sua pasta. “Turismo vai subir ainda mais de nível”, garante. Sai apressado, pois tinha uma reunião com o presidente do Senado para falar de orçamento, contingenciamento…
Fala então o presidente da Embratur, Gilson Machado, que fala de “quebra de monopólio de companhias aéreas brasileiras”, criação de uma zona franca para parques temáticos e atrações turísticas, e que a “propaganda negativa dos nove milhões de brasileiros que viajam ao Exterior” são um desafio da Embratur.
Na sequência, o presidente da Comissão de Turismo da Câmara, Newton Cardoso Jr., em sua fala, reafirma a crítica aos altos preços das passagens aéreas, diz que a entrada da Azul na ponte Rio-São Paulo já fez os valores caírem e critica ainda as altas taxas aeroportuárias. Segundo ele, as prioridades da comissão em sua gestão são implementação do tax free no Brasil, a criação de uma zona franca do Turismo (fazendo coro com Gilson Machado), transformar a Embratur em agência e a liberação do jogo, ligado a resorts e áreas turísticas.
Outro deputado federal, Herculano Passos, também fala dos desafios do Turismo, e propõe um evento em sua cidade, Itu, para debater a indústria. A secretária de Turismo do DF, Vanessa Mendonça, reforça a importância da captação de voos para Brasília e para finalizar os discursos, todos na manhã de quarta-feira, 21, durante o Sindepat Summit, em Brasília, o secretário executivo do MTur, Daniel Nepomuceno, fala em baixar o custo de se fazer Turismo no Brasil, se pergunta por que as passagens aéreas são tão caras, diz que haverá concessão de 30 terminais rodoviários e 15 portos de passageiros (algo que Marcelo Álvaro já havia anunciado anteriormente), e manda um recado aos parques brasileiros: “tenham orgulho do que vocês fazem aqui”.
Um resumo apenas do mar de discursos que tomaram um café da manhã e cerca de uma hora da abertura do evento.
Tudo isso para lembrar que só do MTur foram três falas, com temas similares, mas focos até distintos, parlamentares pelo menos quatro e demais autoridades locais, como a secretária de Turismo do DF. Imaginem cada um deles recebendo visitas de entidades como Sindepat, Abav, Braztoa, Abracorp, ABIH, FBHA, Abrasel, Resorts Brasil, Clia, Fohb, Bito, Abla, Adibra, Alagev, Câmara de Turismo LGBT, Abear, entre tantas outras, além de empresários, secretários estaduais, secretários municipais, políticos com negócios no Turismo, representantes de outros setores ligados direta ou indiretamente ao Turismo, além de curiosos e gente sem ter o que fazer…
Não dá para ter um discurso claro na cabeça de um parlamentar sobre do que o Turismo precisa ou mesmo o que representa. Até porque outros setores, mais fortes, unidos e com lobby, também os procuram. No caso do MTur, dependendo do interlocutor, o encaminhamento pode ser diferente, mais lento, menos contundente…
Não estaria na hora de facilitar a vida dos políticos em Brasília e pelo Brasil e termos uma só voz falando em nome da indústria de Viagens e Turismo? Uma entidade que se encarrega dessa interlocução com a política e tenha bem desenhada e clara a estratégia da iniciativa privada e suas prioridades? É viável algo assim? Um guarda-chuva como a US Travel, falando por todos os setores, sem tirar a representatividade dos mesmos e nem o dia a dia que precisa ser mais próximo dos associados. As entidades usariam esse tempo e dinheiro hoje dispendidos com a política para focar na eficiência de seus segmentos e associados, e essa nova voz potente trataria das questões de Brasília e de outras negociações macro, que envolvam o todo.
Como está hoje, quem faz o melhor lobby (cruzeiros, hotéis) sai na frente, mas outros setores (agenciamento, por exemplo) não são lembrados como estratégicos e ainda alguns (aviação) são olhados como vilões de uma indústria que é única e deveria ser mais… unida. Como os próprios políticos fazem em votações estratégicas, se unindo a “inimigos”, outros partidos e representantes de bancadas que, no final das contas, têm em comum o fato de estarem ali pelo bem do… Brasil. E pelo bem do Turismo? Cada um por si ou um por todos?
Como sempre, muito bem colocado meu caro; Aliás, este tema é rotineiramente trazido à tona, há alguns anos inclusive, e apesar dos avanços e amadurecimento de entidades, associações, ainda não temos uma arquitetura estruturada na linha do que você defende com bastante propriedade…São muitos interlocutores, várias frentes, faltando uma voz, que pudesse condensar os pontos que são comuns a todos! grande abraço