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Dia a dia

VAPT VUPT

Depois do que vi no Alasca – cidades de 700, 7 mil e no máximo 18 mil habitantes recebendo, muito bem, diversos navios ao mesmo tempo – acho que essa indústria no Brasil continuará como está por muito tempo. Oscilando aqui e ali, mas sem grandes incrementos. Batemos no teto (da capacidade, da boa vontade das autoridades, do empenho das cidades, da visão de como um navio pode mudar um vilarejo de 700 habitantes que passam seis meses sob um inverno rigoroso) e a não ser que apareçam lideranças locais dispostas a apostar ou autoridades federais com força política, dinheiro e caneta forte, vamos continuar longe dos grandes destinos marítimos do mundo. Uma pena.

Já estou em terra firme. Mas ainda com muito para contar sobre a experiência no Alasca. Se bem que meu primeiro dia em Vegas foi agitado… diria que veloz e agitado… conto depois.

Um dos segredos para o sucesso de um cruzeiro ao Alasca é a escolha dos passeios. Com dois meses de antecedência estudei as detalhadas opções da Oceania Cruises e busquei mesclar passeios de barco com de helicóptero, tour mais generalistas com os mais especializados, equilibrando também o orçamento. Eis que me deparo com as opções de Hoonah/Icy Strait Point. O que essa cidade de 700 habitantes tinha a oferecer? Mais passeios de barco? Apresentações de nativo-americanos? Optei por uma tirolesa, que se vendia como a maior do mundo e com uma fantástica vista da cidade.

Se em um cruzeiro cuja média de idade está na casa dos 60 anos, estão oferecendo uma tirolesa, imaginei que não seria algo tão radical, mesmo com a anunciada altura de 400 metros. Mas depois de uma pesagem por precaução, o guia, nativo, com certo sotaque que não sei se um tanto forçado, deu as recomendações: tirem objetos soltos dos bolsos, não levem óculos, chapéus, bonés, bolsas… tudo que possa cair. “Não quero deixar ninguém constrangido, mas quem usa aparelhos de surdez e dentaduras deve deixá-los aqui…”. E começa a rir (com sotaque)… “Já teve gente que deixou os dentes cair na descida…”.

Na subida de ônibus (40 minutos), mais histórias, piadas e ele ia mostrando a altura. “Nossa tirolesa é maior que a pista de nosso aeroporto”. E ria…
Lá no topo, nada se via. A névoa simplesmente tornava a experiência mais…. misteriosa. Mas eu imaginava que seria um voo panorâmico. Devagar quase parando. Que ia dar para tirar várias fotos. Com a câmera, com o celular… Fazer vídeo. E cinco minutos depois, estaríamos sãos e salvos no nível do mar.

De repente, uma informação, os 1.700 metros da tirolesa são feitos, em média, em 70 segundos, a uma velocidade de até 100 km/h. Com o meu peso, já me apavorei. Vou ser pole position… primeiro colocado… a cobaia do grupo.

Lá estamos nós… seis cabos… seis cadeirinhas (daquelas que se ajustam ao corpo…tipo um cinto de segurança). Sou o primeiro da direita. O operadora fala comigo em um sotaque mais forte ainda e eu não entendo… Ele quer que eu estique as pernas contra uma portinhola de metal… Quando ela se abrir, ele me empurra e… seja o que Deus quiser. “Where are you from?”, ele me pergunta, estranhando eu não entender que ele queria straight legs (pernas esticaaaaadas). Contagem regressiva… Seis, cinco, quatro, três, dois, um…

Não consigo respirar. A velocidade da primeira descida é tanta que a corrente de ar me impede de respirar. “Será que aguento 70 ou 90 segundos sem respirar?”, é a primeira coisa que vem à minha cabeça. Continuo descendo e nada da névoa sumir… Olho para trás e vejo os demais descendo… e que consigo respirar. Viro então um pouco de lado e começo a disparar algumas fotos. 30 segundos parecem minutos já… Quando enfim vemos a cidade e estamos relaxados, já está no final do percurso. Com um tranco, paramos e ainda sem entender o que aconteceu, começo a rir. Uma sensação louca, como se tivéssemos pulado de paraquedas. É melhor que montanha-russa (e sempre que estou lá no topo delas, penso “que estou fazendo aqui?”, mas sempre quero voltar, depois de terminada a volta). Dessa vez nem pude pensar… Fui empurrado ladeira abaixo e ainda bem que meu pivô lateral não caiu, ou minha obturação mais antiga…

E o Biaphra Galeno (com ph mesmo) feliz pois domou a Cheetah, que é uma das montanhas-russas mais agradáveis do Busch Gardens. Quero ver ele encarar a Sheikra. Ou a maior tirolesa do mundo. Chupa, palmeirense (espero que esteja se comportando na minha ausência pelo menos).

Vejam a sequência da aventura, agora em fotos:

Prepara....
... e vai!!!! Mas... pra onde?!!!! Como faço para respirar? Aguento 90 segundos?
Seres saem da névoa em minha direção...

A névoa querendo engolir o Regatta, da Oceania Cruises

Prova da aventura... (foto de foto)

PS: Uma coisa muito legal sobre os índios Tlingit, que povoam a região de Hoonah. Ao se apresentarem em sua língua nativa, citam os nomes de seus pais e avós. O respeito pelo passado e pela natureza é impressionante. Como se eu fosse me apresentar e falasse: meu nome é Artur Luiz, que significa urso nobre da floresta, sou filho de Everaldo e neto de Artur, etc etc etc. Além do que, vivem cercados de natureza e de animais. E sabem as regras da boa convivência… 700 habitantes. A maior tirolesa do mundo. Cinco navios por semana na temporada. Frio abaixo de zero no inverno. Como eles conseguem? Integração… E compreensão. Acho que são as palavras-chave.

Viagem a convite da Oceania Cruises, via American Airlines, com proteção GTA

 

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Sobre o Autor

Artur Andrade

Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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Artur Luiz Andrade é carioca, taurino, jornalista e nasceu em 1969. É editor-chefe da PANROTAS Editora e mora em São Paulo desde 1998

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