Como foi 2021 para os principais players de turismo do Brasil e do Mundo

O ano de 2021 foi completamente desafiador para todo segmento de turismo, foi o início de uma recuperação de um setor que foi atropelado pela Covid-19.

Recordamos, 2020 foi o ano onde as barreiras internacionais estavam com restrições, companhias aéreas operando com malha reduzida, hotéis fechados e pessoas trancadas dentro de casa.

Segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), as perdas com atividades turísticas entre março de 2020 até junho de 2021 somaram aproximadamente R$ 396B.

Existe uma frase famosa entre economistas, que fala que “na crise, o dinheiro não desaparece, ele muda de mão”, players de e-commerce surfaram um crescimento jamais visto em todo o mundo, no Brasil, especificamente setores de lar e construção, aproveitaram a alta demanda (pessoas trancadas em casa, nada mais justo que investir em reformas e mobiliário para o lar) inflaram suas receitas e até abriram capital (Mobly e Westing) se beneficiando de um otimismo exagerado no mercado.

E especificamente no turismo,  a pandemia caminha para o fim, com um novo líder no setor: Airbnb.

A empresa que abriu capital bem no meio da pandemia, em dezembro de 2020, viu suas ações subir 113% só no primeiro dia, hoje, é a empresa de turismo com maior valor de mercado no mundo, superando uma hegemonia de mais de 20 anos do Booking.


Veja:

Ainda sobre a “retomada”, o Airbnb foi o único player, de turismo, com capital aberto que cresceu na pandemia, em uma análise junto Booking, Expedia, Despegar e CVC.

Veja abaixo os números de cada empresa, e sua retomada em relação a 2019, com destaque negativo para a CVC, que de todos os players analisados foi o que está retomando de forma mais “lenta” em relação ao período de pré-pandemia.

Airbnb

Na liderança da retomada, o Airbnb capturou bem um novo perfil de viajante, que mistura estadias mais longas, com um trabalho remoto, além de pegar um pouco de market-share de players tradicionais como Expedia e Booking em hospedagens curtas, com a inclusão de diversos hotéis de rede em seu inventário.


Embora tudo tenha começado com a ideia de locação de três colchões de ar e um café da manhã, de uns rapazes quebrados que estavam com dificuldade de pagar o aluguel lá na Califórnia, hoje já é possível reservar hotéis de rede dentro da plataforma.

Sabe aquela briga entre hotéis e Airbnb, que rolava lá no início? 

Então, agora os hotéis enxergam o Airbnb como um canal alternativo para distribuição e reduzir a dependência do Booking e da Expedia, e para o Airbnb é uma oportunidade incrível de aumentar o inventário e rentabilizar sua audiência.

Algo muito parecido com o que está acontecendo inclusive entre o Uber e os Táxis.

Números da retomada

Volume de Reservas

2019 – U$ 37B
2021 – U$ 46,9B (​​Δ26%)

Receita

2019 – U$ 4.8B
2021 – U$ 6B (​​Δ25%)

Valor de Mercado

2019 – U$ 30B (tinha capital fechado, nesta época)
2021 – U$ 112B (​​Δ273%)

Booking

Player mais tradicional de todos os analisados, o Booking segue em “segundo” nesta corrida, retomou 80% do volume de reservas de 2019, com praticamente o mesmo take rate (14,23%).

O destaque do Booking em 2021 foram as aquisições, a empresa desembolsou um cheque de U$ 3B para levar a Getroom e a Etraveli.

A Getroom é focada no mercado de B2B, e este movimento tem um claro objetivo de competir com a Expedia, líder neste segmento.

Já a Etraveli é dona de marcas famosas como Mytryp e GoToGate.

Muitíssimo a propósito, levanta a mão quem nunca recebeu uma cotação de passagem aérea da Mytryp, enviada por um amigo, perguntando se o site é confiável?

Bom, agora dá pra falar: “É confiável, faz parte do Booking” 😉

Outro ponto relevante sobre o Booking, hoje a empresa tem um valor de mercado maior do que dias antes da pandemia, sinal que o mercado confia muito no futuro da empresa.

Números da retomada

Volume de Reservas

2019 – U$ 96.4B
2021 – U$ 76,6B (​​Δ-20,54%)

Receita

2019 – U$ 15B
2021 – U$ 11B (​​Δ-27,65%)

Valor de Mercado

2019 – U$ 83B (tinha capital fechado, nesta época)
2021 – U$ 96B (​​Δ15%)

Expedia

A Expedia anunciou a chegada de um novo CEO no meio da pandemia, fez o movimento de desinvestimento da Egência,  braço corporativo do grupo que em 2019 chegou a fazer U$ 8B em reservas, “vendido” para a Amex em uma troca de ações avaliado em U$ 750M (A Expedia ficou com um share de 14% na Amex, que deve ir para a bolsa este ano).

Historicamente, a empresa sempre teve volume de reservas muito próximo do Boooking, mas com o take rate menor (11% em 2019) e com valor de mercado bem menor também.

Fato curioso sobre a empresa (além de ter feito um anúncio com o Projota relacionando a cultura do cancelamento com o “cancelamento grátis”  no Hoteis.com) é que ela hoje vale 78% mais que no período pré-pandemia.

Mais uma que tem a benção e a fé do mercado pela sua recuperação.

Volume de Reservas

2019 – U$ 108B
2021 – U$ 72.4B (​​Δ-32,90%)

Receita

2019 – U$ 12B
2021 – U$ 8.59B (​​Δ-28,7%)

Valor de Mercado

2019 – U$ 16.8B
2021 – U$ 30B (​​Δ78%)

Despegar

A Argentina Despegar, conhecida aqui no Brasil como Decolar.com, possui capital aberto em Nova York, a empresa também apontou uma perda muito alta de receita e de reservas sobre 2019.

Parte disto tem uma relação com o câmbio, e a outra parte, sobretudo olhando no Brasil, é que na pandemia ela teve problemas sérios de atendimento, o que jogou sua reputação lá embaixo (hoje, a empresa tem um “não recomendado” no ReclameAqui).

Ademais, aqui no Brasill ela sofre de uma concorrência forte de duas nativas digitais, que estão crescendo muito: 123Milhas e Hurb.

O tráfego de usuários da 123milhas, já é o dobro da Decolar.com no Brasil, segundo dados da Similarweb, considerando que há uma taxa de conversão bem semelhante entre os modelos de negócio de OTA, é possível afirmar que especificamente no B2C, a 123milhas já esteja faturando duas vezes a Decolar.com no Brasil.

O interessante sobre esta briga “Decolar.com e 123milhas”, é que a 123milhas está executando o mesmo playbook utilizado por anos pela Decolar: mídia de massa intensiva com anúncios em aeroportos e na TV aberta e fechada com pessoas famosas (até o Bruno de Luca, a 123milhas surrupiou da Decolar), além de investimento alto em marketing online 😉

Por outro lado, a Despegar anunciou que fechou 2021 com um caixa de U$ 279M e deve fazer investimentos relevantes de M&A para retomar o seu protagonismo no Brasil e na América Latina.

O ano de 2022 pode ser o ano em que os argentinos retomam a liderança (e não estou falando de copa do mundo, ok?)

Números da retomada

Volume de Reservas

2019 – U$ 4.7B
2021 – U$ 2.4B (​​Δ-47,54%)

Receita

2019 – U$ 0.5B
2021 – U$ 0.32B (​​Δ-38%)

Valor de Mercado

2019 – U$ 971M 
2021 – U$860M (​​Δ-11%)

CVC

De todos os players analisados, a CVC apresentou os piores números de 2021 comparado a 2019, em relação ao valor de mercado, a empresa perdeu 57% do seu valor.

Recordemos, a maré ruim da CVC vem muito antes da Covid-19, começou lá trás com quebra da Avianca, problema com mancha de óleo no Nordeste, aumento do dólar e problemas internos com demonstrações financeiras que tiveram que ser reclassificadas.

Também é conhecido que a CVC tem uma presença digital ainda muito baixa, comparada  a outras “nativas digitais”, então é uma que também sofre com o crescimento da 123milhas e do Hurb.

Além disso, no meio do caminho, viu o nascimento de um grande concorrente no Brasil, a Befly, que surge da junção da Flytour e da mineira Belvitur.

Sob a batuta do visionário Marcelo Cohen, a empresa deve morder um bom market share da CVC no Brasil, especialmente no mercado B2B (Consolidação e operadora).

O resultado da CVC também foi impactado, infelizmente, por um ataque hacker que prejudicou quase 1 mês de vendas da empresa no último trimestre, se tirarmos este fato isolado, é provável que a empresa teria alcançado mais de R$ 10B em reservas realizadas em 2021.

A empresa também teve uma leve melhora em seu  take rate, conseguindo finalizar o ano de 2021 com take rate de 9,4%, o que certamente deu um otimismo aos investidores, no dia pós anúncio de resultados, suas ações subiram  17%.

Números da retomada

Volume de Reservas

2019 – R$ 17.2B
2021 – R$ 8.9B (​​Δ-48,54%)

Receita

2019 – R$ 1.56B
2021 – R$ 825M (​​Δ-47%)

Valor de Mercado

2019 – R$ 8.8B
2021 – R$ 3.7B (​​Δ-57%)

Resumindo

Se pudermos resumir estes números em um quadro, temos o seguinte resultado.

Ps:. Este é o meu primeiro post por aqui, há 4 anos não sabia absolutamente nada deste mercado, e incentivado pelo meu amigo Guto Rocha, meu colega de Conselho do ECBR, comecei a ler vários posts aqui no Panrotas para aprender sobre o segmento.

Guto, gratidão pela oportunidade de ter aprendido muito contigo, aqui eu resgato uma foto sua, ainda menino e com cabelo, na época que blogava por aqui, you rock!

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Tentarei manter uma agenda quinzenal de artigos com temas relacionados a turismo, tecnologia, empreendedorismo, negócios digitais e nova economia!

Se tiverem sugestão de assuntos, fiquem à vontade para sugerir!

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8 thoughts on “Como foi 2021 para os principais players de turismo do Brasil e do Mundo

  1. Que honra meu amigo, ver tanto conhecimento dividido aqui. Você e a onfly vão voar muito e é um grande prazer te acompanhar torcendo pelo sucesso. O mercado do turismo cresce com a chegada de novos e muito bem preparados empreendedores.

    1. Grande Guto, obrigado demais pelos ensinamentos e pela toda ajuda.

      Vamos em frente, aprendendo diariamente a entender este mercado, cada vez mais imprevisível e mutável 😉

    1. @Fernando,
      A 123milhas e Viajanet não possuem capital aberto, difícil saber exatamente os números deles.

      Pelo Similarweb dá pra ter uma leve inferência sobre os números e o crescimento de cada um deles.

  2. Como eu já disse em seus posts no LinkedIn, parabéns por toda vontade de aprender cada vez mais sobre este mercado! Não é por acaso o sucesso da OnFly! O Mercado precisa de cada vez mais empreendedores como você.

    1. Fala Hugo,
      Eu que agradeço, seu blog é leitura obrigatória para todo mundo que quer entender um pouco mais do segmento.

      Por favor, volte a escrever mais 😉

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