Espírito Santo: o novo destino do turismo de esporte e aventura

Sabe aquela viagem que você faz sem muita pretensão de grandes descobertas e se surpreende a cada dia no destino? Pois é … acabo de chegar de uma. Meu destino? Um Estado fronteiriço com 3 dos mais visitados Estados brasileiros – Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais. De topografia montanhosa e ao mesmo tempo, com 411km de costa litorânea. Composto por 78 municípios. Com um povo hospitaleiro de origem inicialmente italiana, alemã, holandesa e suíça. Conhecido por uma moqueca feita em panela de barro, produzida pela paneleiras. E uma torta criada no século XIX, rica em frutos do mar e pescados, feita especialmente para a semana Santa.

O Estado do Espírito Santo me surpreendeu ao longo dos 6 dias de estada.

um novo olhar

Essa não foi a minha primeira vez em terras capixabas. Voltando um pouquinho no túnel do tempo, me vejo aos 13 ou 14 anos, passando férias em Vila Velha – cidade vizinha da capital – na casa de primos. Contudo, nada além de praia, uma turma de condomínio e festas em clubes locais nas minhas lembranças. Alguns bons anos se passaram até que em novembro de 2018, volto ao estado rumo ás Montanhas Capixabas, e ajusto um novo olhar ao destino.

Entretanto, voltar 5 anos depois para o Estado, não foi nem de perto fazer “mais do mesmo”. Ao contrário, foi uma sequência de “uaus” seguidas de “quero mais”. Por isso, se você planeja viajar dentro do Brasil e busca uma pitada de esporte e aventura, mas não tinha o Espírito Santo no seu mapa …. prepare-se para mudar sua “lista de lugares á visitar”!

O Estado do Espírito Santo é um prato cheio de desafios em novas e exuberantes paisagens: canoa havaiana, stand up paddle (SUP), caiaque, barco á vela, surf, navegação marítima, mergulho, corrida, ciclismo, caminhada, escalada, trekking, mountain bike, trail run, rappel, raffting, voo livre, são apenas algumas das atividades que você pode praticar enquanto visita o destino.

Cachoeiras, montanhas, rios e a temperatura amena das regiões mais distantes da praia, facilitam a prática do turismo esportivo e de aventura em terras capixabas. Um destino com os 3 elementos: água, ar e terra.

vitória: porta de entrada

Comecemos por Vitória. Com voos diretos vindos de São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Porto Seguro e Recife. A capital oferece opções de praias para banho e Sol, e também, esportes aquáticos.

Imagem aérea da Capital Vitória, ES – Imagem de divulgação
  • Praia de Camburi: a mais famosa e uma das mais extensas da capital, com boa infraestrutura e opções de lazer.
  • Curva da Jurema: uma praia tranquila e familiar, com águas calmas e quiosques.
  • Ilha dos Frades: uma ilha paradisíaca com praias de águas cristalinas e natureza preservada.
  • Ilha do Boi: uma ilha nobre e exclusiva, com praias de areia branca e mar azul.
  • Praia das Castanheiras: uma praia urbana e movimentada, com sombra de castanheiras e águas limpas, situada na Ilha do Frade.
  • Praia do Canto: a mais central e badalada, com bares, restaurantes e vida noturna. Local que inclui a Praia da Guarderia, um lugar bem procurado pelo público jovem e por famílias com crianças. Que se destaca pela “guarderia”, um grande “estacionamento” de pranchas de Stand Up Paddle, caiaques, canoas havaianas e pequenos barcos á vela.

elemento 1: água

Vista aérea da Praia da Guarderia, em Vitória – ES (Imagem de divulgação)

Foi na Praia da Guarderia que euzinha, Cacá Filippini, conheci o Sr. Edmar Zouain Campos, que não tem apenas o mar no nome, como também em seu estilo de vida. Um dos responsáveis pela criação da instalação do CNC-CENTRO NÁUTICO CAPIXABA  (1998) ou simplesmente GUARDERIA. Inicialmente instalados na Praia de Camburi. Tornou-se uma associação náutica sem fins lucrativos em 2006 e em 2008, foi transferida para a Praia do Canto. No ano seguinte, o CNC passou a sediar as 2 primeiras escolas de canoa havaiana do Estado. Para se ter uma ideia, são mais de 400 equipamentos à vela, remo e canoagem, guardados na instalação. O que fez da Praia de Guarderia um point para a prática de esportes náuticos.

Desportista náutica que sou e habilitada com Arrais Amador, sempre conduzi embarcações de recreio (barcos motorizados) mas trazia comigo a curiosidade de conduzir barco de vela. Bastou apenas um convite do Sr. Edmar para eu vestir o colete salva-vidas, aprender á armar a vela e partir para o mar. Em pouco tempo, lá estava eu navegando em águas claras, impulsionada pelo vento da bacia abrigada. Em poucos minutos, realizei as primeiras manobras, me sentindo aprendiz de Torben Grael. Por fim, atraquei nas areais amareladas, de frente á Praça dos Namorados, querendo mais.

Mas se você pensa que esse foi meu único contato com a água, se engana. Não resisti e subi no caiaque para remar meio aos barcos ancorados na baia e em torno das rochas que despontam no mar. Ainda mais, após saber que a Praia da Guarderia integra a Área de Proteção Ambiental Baía das Tartarugas. Mergulhadora que sou, não poderia deixar de perder a chance de avistar tartarugas enquanto remava por lá. Lindo, lindo e lindo!

O CNC também oferece experiências e aulas de Stand Up Paddle, WindSurf, natação em águas abertas e canoa havaiana.

Na orla, é possível avistar praticantes de caminhada, corrida e bike. Vale também dizer que a praia em si é pequena, tem pouca estrutura e não conta com muitos quiosques e restaurantes a sua frente. Embora não tenha comércio, é bem provável que você encontre vendedores ambulantes por lá no período de alta temporada e finais de semana. Assim como pessoas alugando guarda-sóis e cadeiras de praia.

Outra opção de “água” é o mergulho … assunto para o futuro.

elemento 2: ar

Há quase 90km dali, o município de Alfredo Chaves marcou definitivamente a minha vida.

Vista aérea de Alfredo Chaves, na região das Montanhas Capixabas em Espírito Santo – Crédito: Rodolpho Cavalini

Muito procurado por turistas, o município de Alfredo Chaves possui uma paisagem exuberante formada pela Mata Atlântica, refletida em suas serras e cachoeiras. Recentemente passou a integrar as Montanhas Capixabas. Ali, reside o piloto de parapente, Rodolpho Cavalini, detentor do recorde capixaba de voo livre por 196,4km – 7h40min. Fundador da AVLAC (Associação de Voo Livre de Alfredo Chaves) e do espaço TakeOff Adventure Co, o brasileiro que acumula prêmios por todo o Mundo, colocou o Espírito Santo no cenário internacional da modalidade. E o parapente nas vivências da minha vida.

Sim, isso mesmo que você leu! Cacá Filippini voou por aproximadamente 11 minutos, em voo duplo com Rodolpho Cavalini. Ali, pude viver a adrenalina e a sensação de voar como um pássaro em uma paisagem que não sai da minha lembrança.

Confesso que até o momento de me desprender do chão, o nervoso tomava conta de mim. Rara foram as vezes que senti minhas pernas tremerem tanto, a ponto de achar que não conseguiria ficar em pé. Mas Rodolpho que iniciou sua história com os voos em 1995, de forma tranquila e voz calma, fez com que eu me sentisse cada vez mais segura e com vontade de viver aquela experiência. Aliás, saltei com 121 batimentos por minuto (bpm) e tão logo estava voando, registrei 82bpm. Logo, eu realmente me entreguei aquele cenário esplêndido e me senti muito bem voando. Com uma linda cachoeira, montanhas nos rodeando preenchidas de 50 tons de verde e um companheiro de voo, cheio de histórias para contar, a experiência foi singular. Estava tão radiante ali em cima que a vontade não era que acabasse. Vale conferir um trecho do meu voo aqui.

E adivinhe? Trago na mala o gostinho de “quero mais” e a promessa de que volto para conhecer outros “ares” locais.

Espírito santo no circuito internacional de voo livre

Espírito Santo entra para o Circuito Internacional de Voo Livre – Imagem de divulgação

Rampas de voo livre e beleza natural não faltam na região das Montanhas Capixabas. Outro município que se destaca e sedia campeonatos regionais e até internacionais, é Castelo, na região do sul do Estado do Espírito Santo. Em 2023, Castelo recebeu atletas de 25 países. Começando pelo Open Castelo/CCVL, seguindo pela etapa do Campeonato Britânico de Parapente, e finalizando com a Copa do Mundo de Parapente (PWC). Foi literalmente um colorido lindo no céu do Vale de Ubá.

Pancas, Mantenópolis e Cachoeira Alta, são alguns outros locais com rampas naturais para o voo livre em solo Capixaba. Ou seja, cenário e pessoas habilitadas para receber turistas aventureiros, é o que não falta!

elemento 3: terra

E por falar em Montanhas Capixabas, a região inclui diversas cidades e vilas montanhosas – cada uma com sua própria personalidade e atrações naturais. Portanto, um destino popular para amantes da natureza e aqueles que buscam uma experiência de montanha única no Brasil. Tendo como cartão postal capixaba, a formação rochosa que se destaca no horizonte, chamada: Pedra Azul.

A montanha tem esse nome devido à tonalidade azulada que assume em determinadas condições de luz e umidade. Mas, de acordo com a época do ano e a incidência solar, a rocha pode ganhar cores com tonalidades que vão do laranja ao rosa.

Vista do Patrimônio Geológico Brasileiro formado por Pedra Azul, Pedra das Flores e Pedra do Lagarto. E registro da subida de Cacá Filippini na Pedra Azul, ES

Ademais, Pedra Azul com seus 1822m de altura compõe patrimônio geológico brasileiro, junto á Pedra das Flores e a `Pedra do Lagarto.

Vale dizer que a Pedra Azul está dentro do Parque Estadual da Pedra Azul e também dá nome ao distrito que pertence ao Munícipio de Domingos Martins. A área do parque se estende por 1240 hectares e possui um circuito de trilhas autoguiadas (percurso sinalizado sem a necessidade de guias) que permite conhecer atrativos como: mirantes, piscinas naturais, formações rochosas, vegetação e animais silvestres. Apesar de termos acesso só a 5% da área do Parque, a visita vale á pena. Por isso, programe-se com antecedência. O Parque recebe apenas 150 pessoas por dia, distribuídas em grupos de até 30 pessoas. A entrada é gratuita e o agendamento deve ser feito aqui

Sobretudo, para os trilheiros, a região é um convite. Ali pertinho, temos o Parque Estadual de Forno Grande. Nomeado após o Pico do Forno Grande – montanha mais alta do estado do Espírito Santo, atingindo cerca de 2.039 metros de altitude. Acima de tudo, o Parque abrange uma área significativa de floresta tropical, riachos e rios, criando um ambiente rico em biodiversidade com trilhas bem conservadas que levam os visitantes a pontos de vista panorâmicos espetaculares. É dali que temos a vista panorâmica das Montanhas Capixabas e das áreas circundantes. Verdadeiramente deslumbrante!

Lá é possível fazer escalada. Todavia, lembro que a prática de escalada em rocha é um esporte que exige experiência do praticante e o uso de equipamentos de segurança, caso não seja um praticante regular, é necessária a contratação de um guia de escalada com certificação comprovada. O acesso geral é limitado á 20 pessoas com saídas diárias entre as 6 e 6h30. De modo que, o agendamento deve ser feito aqui.

trilhando novas experiências

Por outro lado, não posso deixar de mencionar a Gruta do Limoeiro, em Castelo. Uma formação rochosa que se destaca por suas estalactites e estalagmites, criando uma paisagem subterrânea espetacular. Acessada por meio de uma trilha cênica que leva os visitantes a uma jornada pelas paisagens montanhosas da região, a experiência na gruta surpreende pelas belezas das formações calcárias, e pelo ambiente misterioso e fresco que contrasta com o calor das montanhas capixabas.

Imagens de Divulgação – Formações da Gruta do Limoeiro, Castelo – ES

Não muito distante dali, a Cachoeira de Matilde é mais um atrativo de encher os olhos. Há 18km do Centro de Alfredo Chaves, é também conhecida como Cachoeira Engenheiro Reeve e tem aproximadamente 70m de queda. Para visitar, há uma taxa de entrada de R$5,00. No percurso de descida, pontos “instagramáveis” para fotos. A trilha é bem segura, pois é feita com bloquetes e alguns degraus, porém não há acessibilidade á cadeirantes. Do mesmo modo, para aqueles que querem ir além da contemplação, atividades como rapel, bungee jumping e pendulo jumping estão disponíveis desde que haja agendamento prévio. Mais informações aqui.

O Estado do Espírito Santo se destaca pela quantidade de Parques Estaduais onde o verde é protagonista. Além dos mencionados nessa matéria, temos os Parques Estaduais: Cachoeira da Fumaça, Itaúnas, Mata das Flores e Paulo César Vinha, que valem a menção.

hospedagem com experiências

Tendência em alta, o turismo de experiência, vem ganhando cada vez mais os holofotes quando o assunto é viajar. Por consequência, os hotéis e pousadas capixabas estão caprichando na experiência de seus hóspedes.

Um bom exemplo disso é o complexo Hotel Fazenda China Park , no Munícipio de Domingos Martins, há 51km da capital capixaba. O local possui 140 unidades para hospedagem entre chalés e suítes. Teleférico, Tirolesa, Arvorismo, Parque Aquático, Trenzinho, Pesca Esportiva, Recreação, Mini fazenda, Caiaques, Pedalinhos, Trilhas ecológicas, Mirante, piscinas aquecidas, cinema, salão de jogos, restaurantes buffet e a la carte, lanchonetes, centro de eventos, campo society, e muito verde em mais de um milhão de metros quadrados, agradam viajantes de todos os tipos.

Cacá Filippini aproveita a estrutura do Hotel Fazenda China Park e se aventura na maior tirolesa do Espírito Santo

Com 107 m de altura e 669 m de extensão, a tirolesa do China Park é a maior do Espírito Santo e terceira maior do Brasil. O aventureira chega por meio de um teleférico individual e acessa a plataforma. Ali, preenche termo de responsabilidade, recebe instruções, se equipa e sente o coração acelerar ao se deparar com toda a vista área e a imensidão do horizonte. São 60 segundos de percurso com velocidade de até 65 km/h. Uma baita experiência. Foi o aquecimento para o meu voo livre, que aconteceu 2 dias depois.

Essa atração é gerida por uma empresa terceirizada. Portanto, o valor do ingresso não está incluso no passaporte (day use) ou hospedagem. Importante ressaltar que ás sextas-feiras a atração permanece fechada para manutenção semanal. Para mais informações, acesse aqui.

Uma outra experiência, com menos adrenalina porém, repleta de emoções, é o Banho de Floresta na Reserva Natural Águia Branca, quintal do Natureza Eco Lodge, em Vargem Alta, ES. Com a proposta de desacelerar e se conectar ao aqui e agora, a atividade nos possibilita uma pausa para o que nos rodeia. O banho de floresta, ou shinrin-yoku, é uma técnica japonesa de terapia florestal que consiste em passar algum tempo em contato com a natureza e ao ar livre. A técnica foi desenvolvida em 1982 pela Agência Florestal do governo japonês, que buscava encorajar as pessoas a saírem de casa e passarem algum tempo fazendo imersão na natureza.

Cacá Filippini vivencia o Banho de Floresta na Reserva Natural Águia Branca, no Natureza Eco Lodge em Vargem Alta, ES (Arquivo pessoal)

A Reserva Ambiental Águia Branca foi criada em 2017 para proteger o maior remanescente florestal de Mata Atlântica da região. Possui mais de 2.225 hectares e uma riquíssima biodiversidade, com registro de várias espécies da fauna e de flora, algumas raras e ameaçadas de extinção. E além da experiência de Banho de Floresta, também oferece trilhas aos seus hóspedes, desde que agendadas previamente.

experências para todos

Se pensa você que viver experiência é sinônimo de gastar dinheiro, se engana. Não é preciso muito para experimentar contemplar o nascer do Sol. Precisa ter disposição!

Uma trilha de esforço médio (cerca de 30min), chão de terra, pedras e erosões, nos leva ao topo Morro do Moreno, em Vila Velha, há 184m de altura. Local de encontro de trekking, trail run (corrida de trilha) e mountain bike em plena cidade. O presente pela chegada ao topo, é uma vista 360, onde de um lado você se depara com o Convento da Penha, maior o símbolo turístico do Espírito Santo. Fundado em 1558 e localizado no alto de um morro de 154m, no tranquilo bairro da Prainha. Cercado pela Mata Atlântica, tem uma vista incrível e é um passeio imperdível para quem visita Vitória e Vila Velha. E do outro lado, é possível admirar a beleza da Terceira Ponte, bem como toda a baía de Vitória. Além desses locais, o visitante ainda pode contemplar as belezas da praia de Camburi contrastando com o mar de Vila Velha. De longe, você também verá a Ilha do Frade, a Ilha do Boi e o Porto de Tubarão, com suas chaminés.

Embora eu tenha visitado o local para comtemplar o nascer do Sol, o pôr do sol é o período mais escolhido dos visitantes.

Para não perder a oportunidade, contemplei o entardecer bem no centro de Vitória, no Parque Estadual Fonte Grande. Com área equivalente a 218 campos de futebol, o parque é composto pela maior área de remanescentes de Mata Atlântica protegida por Lei em área urbana do país. É um respiro da agitação da cidade que eu desconhecia até então.

Mesmo localizado em um terreno acidentado ele atende também quem gosta de um parque natural, mas não quer ou não pode fazer muito esforço. As trilhas mais tranquilas começam na sede do parque que apesar de ficar no alto de 300m, chega-se facilmente de carro por uma estrada calçada de aproximadamente 3km. No caminho á sede, fizemos nossa primeira parada de carro no Mirante Mochuara.

 

Vista a partir do Parque Estadual de Fonte Grande em Vitória, ES

Atrás da sede tem início a Trilha da Pedra da Batata com 320m. Uma trilha calçada e fácil de ser feita em meio a mata terminando no Mirante Sumaré. Há também a trilha que leva ao Mirante da Cidade de onde se tem uma vista panorâmica voltada para outro lado da cidade e litoral. E uma terceira trilha, que está em frente a sede. A Trilha do Caracol sem calçamento, porém fácil. De lá é possível observar a extensão do parque com vegetação rupestres, arvores centenárias, fauna variada, mirantes naturais, trilhas mais difíceis e fontes de água que dão nome ao parque. Esta área deve ser explorada com guias de turismo ou condutores ambientais.

Por fim, como vocês podem ver, são tantas possibilidades que uma única viagem é pouco para se viver tudo que o Estado do Espírito Santo oferece. O destino que até pouco tempo não tinha muito destaque quando o assunto era turismo, fez a lição de casa e começará um 2024 escrevendo uma história promissora e oferecendo aos visitantes o melhor que tem. Belezas naturais, o jeito capixabear de ser, cores de cenários exuberantes e muitos atrativos, lançam Espírito Santo como o mais novo destino de Turismo no Brasil.

Portanto, não perca tempo e programe agora mesmo a sua próxima viagem!

Viagem inclusiva ao Pantanal Sul

Turismo inclusivo: registros da estada na Pousada Xaraés, Pantanal Sul (arquivo pessoal)

O Pantanal Sul Matogrossense é um lugar de beleza indescritível, um paraíso natural que encanta os olhos e a alma de todos que têm o privilégio de visitá-lo. Localizado no coração do Brasil, é a maior área alagada contínua do planeta. Portanto, um dos ecossistemas mais ricos e diversos do mundo.

É ali que se encontram algumas das espécies mais icônicas e ameaçadas do continente, como a onça-pintada, o tuiuiú, a arara-azul, o jacaré e o tamanduá-bandeira. A diversidade de aves é especialmente impressionante. De modo que são mais de 650 espécies registradas, fazendo do Pantanal um verdadeiro paraíso para os observadores de pássaros. E um local repleto de sons, que formam o que chamo de “o barulho do silêncio”.

Especificamente, esse foi o cenário que acolheu a mim, meu marido, nosso caçula Rafael (14, que tem TEA) e nosso outro filho, Allan (17) por 5 dias. Na região banhada pelo rio Abobral, munícipio de Nhecolândia, Mato Grosso do Sul, em uma fazenda de 400 hectares que recebe hóspedes e leva o nome de Pousada Xaraés.

Como chegar

Nosso ponto de partida, Aeroporto de Congonhas – SP, com voo direto à Bonito. Antes de tudo, é importante dizer que desde 2 de dezembro/21, a Gol Linhas Aéreas mantém voos diretos com duas frequências semanais para a cidade do Mato Grosso do Sul, sem escalas, às quintas e aos domingos. Nos dois dias, os voos têm saídas e chegadas previstas: de Congonhas (CGH) às 12h40, com pouso no Aeroporto Regional de Bonito (BYO) às 13h40; e, no sentido contrário, da cidade do Mato Grosso do Sul às 14h20, para desembarque na capital paulista às 17h10.

Logística é um item bastante importante, uma vez que estamos falando de viagem em família com autista. Consequentemente, menos tempo de percurso aéreo ou rodoviário são sempre bem-vindos para o Rafael (14, autista).

Trajeto rodoviário (Google Maps), Cacá e família navengando no Rio Abobral, Pantanal Sul (Arquivo Pessoal), trajeto por águas (Strava) e foto área da Pousada Xaraés (divulgação)

De Bonito à Nhecolândia, ainda tínhamos 261km pelas rodovias MS-178 e BR-262 , o que acrescentou pouco mais de 3h30min ao nosso deslocamento. Além do mais, visitamos o Pantanal no começo do mês de maio, época em que muitas das estradas ficam alagadas, por isso, não conseguimos chegar ao nosso destino final, de carro. De modo que, os últimos 16km, viraram 18km via Rio Abobral, o que resultou em 1h15min á mais. Trecho esse, que embora pudesse ser uma perrengue de viagem, foi nossa primeira experiência imersiva no Pantanal de Corumbá.

Regiões do Pantanal

No Brasil, o Pantanal se divide entre os Estados de Mato Grosso do Sul (MS) e Mato Grosso ((MT). De modo que são 10 as principais regiões pantaneiras sul: Corumbá (nosso destino), Aquidauana, Miranda, Ladário, Porto Murtinho, Coxim, Rio Verde de Mato Grosso, Anastácio, Bonito e Botoquena. Região conhecida também por Pantanal Sul ou Pantanal Maior.

Contudo, vale dizer que o Pantanal também se distribui em outros 2 países além do Brasil: Paraguai e Bolívia.

O Pantanal é conhecido por seus ciclos sazonais de inundação e seca, e os períodos de cheia e vazante são características desse ecossistema. Entretanto, a região acumulava alguns anos de seca constante e incêndios frequentes. Em dezembro de 2022, tive a oportunidade de conhecer a região de Aquidauana e Miranda, em uma viagem solo, e me deparei com rios praticamente secos, animais dividindo o que restava de água e campos com mata amarelada, castigada pela seca.

Em maio, ao retornar com minha família, me deparei conheci um outro Pantanal, cheio de rios transbordados, áreas baixas alagadas e muitas cores.

Arquivo pessoal de imagens feitas por Cacá Filippini no Pantanal Sul – abril/23

Assim, vale dizer que essas imensas áreas alagadas, abrigam uma grande variedade de plantas aquáticas, como vitórias-régias e aguapés, que embelezam ainda mais a paisagem, harmonizadas perfeitamente com as matas ciliares e as áreas de cerrado.

A cheia no Pantanal é um momento crucial para a vida selvagem e para o ecossistema como um todo. As áreas alagadas fornecem alimento, abrigo e condições de reprodução para a diversidade de espécies, incluindo peixes, aves, répteis e mamíferos.

Imersão no pantanal

Temos que combinar que para aqueles que vivem nas grandes cidades, sufocados pelas filas quilométricas de carros, transporte público lotado, relógios cronometrados segundo á segundo e em estado de alerta constante, escapar um pouco para uma cidade de interior, já é um alívio.

Agora imagina um local onde o silêncio é preenchido com os sons da natureza e ao invés de prédios, mais de 50 tons de verde, árvores centenárias, uma cartela de cores distribuídas nos pássaros, flores e frutos, enchem os nossos sentidos. Um local onde o tempo é regido pelo nascer e o pôr do Sol. Não há necessidade de relógios. E os celulares funcionam apenas quando conectados á um ponto de wi-fi fixo. É um convite para conectar-se a si e ao ambiente que nos cerca.

Tenho que confessar que me arrisquei ao levar dois adolescentes para o meio do nada. Mas, para a minha surpresa, ouvi do Allan (17), que essa havia sido a viagem mais transformadora de sua vida! E de Rafael, que gostaria de voltar durante as férias escolares!

Benefícios do contato da Natureza para pessoas Autistas

De uma forma bastante resumida, podemos elencar pelo menos 6 benefícios que uma experiência imersiva à natureza, proporciona à pessoa autista:

  1. Estímulo sensorial controlado: A natureza oferece uma variedade de estímulos sensoriais que podem ser mais previsíveis em comparação aos ambientes urbanos e fechados, dando mais conforto e equilíbrio ao autista;
  2. Redução do estresse e ansiedade: A atmosfera tranquila, os sons suaves da natureza e a beleza serena do ambiente, acalmam e relaxam;
  3. Estímulo ao processamento cognitivo e atenção: a natureza oferece uma variedade de estímulos visuais, sonoros e táteis. Isso pode ajudar na concentração, observação e interação com o ambiente natural, promovendo o aprendizado e a exploração;
  4. Estímulo à comunicação e interação social: Passeios ao ar livre, atividades em grupo e experiências compartilhadas na natureza, podem facilitar a comunicação verbal e não verbal. Com isso, promovem interação social de forma mais confortável e natural;
  5. Estímulo à exploração sensorial e interesse pelo que o cerca: A natureza é um mundo muito rico, com texturas, aromas, cores e sons. Isso pode despertar o interesse e curiosidade da pessoa autista, encorajando-o a explorar o ambiente e se envolver com a natureza de maneiras únicas;
  6. Oportunidade de aprendizado e desenvolvimento de habilidades: Atividades ao ar livre, estimulam habilidades motoras e de resolução de problemas, orientação espacial e compreensão do ambiente que o cerca. Além de aprendizado a cerca da biodiversidade, ecologia e sustentabilidade.

Vivências pantaneiras na Pousada Xaraés

Chegamos na pousada, como dito anteriormente de barco. No comando, Alex, funcionário da fazenda, responsável por uma série de tarefas que compõe à rotina do lugar. Localmente, recebe o nome de peão. De baixa estatura, trajado literalmente como peão, Alex carregava seu chapéu na cabeça, facão e amolador na cintura de sua calça jeans. Inicialmente, de pouca fala, Alex chamava nossa atenção para animais que cruzavam o nosso caminho e algumas espécies de plantas e árvores locais.

Ao chegarmos na Pousada, descemos em um píer e fomos recebidos por Sandra, proprietária da fazenda que deixou Maringá-PR para realizar o sonho de viver no Pantanal e Marcelo, conhecido de Sandra também do Paraná, que mudou-se com a esposa para administrar a Pousada, distante 340km da capital Campo Grande. Consequentemente, um presente para nós! Nos integramos rapidamente ao local, aos funcionários e á rotina.

Arquivo pessoal: Regsitros de Alex, Rafael e Allan durante a imersão no Pantanal Sul

Apesar de nossos filhos mal terem tido contato próximo com vacas e cavalos, em pouco tempo, os dois estavam á vontade nos estábulos, alimentando-os. Estes mesmos meninos, acostumados com computador, celular e video-game, entraram mata acompanhados de Alex, que se tornou nosso guia e referência para eles, e lá foram colher plantas para criar pastos artificias, nas áreas secas, para que os animais pudessem se alimentar. Os adolescentes, que sentam-se diariamente em carros com janelas fechadas e ar condicionado ligado, estavam ali, cavalgando cada um em “seu” cavalo, nas áreas pantaneiras secas e alagadas.

Tudo acontecia de forma genuína e orgânica. Ora, visualizava Rafael em meio as vacas, ora brincando de pega-pega com as cabras. Em outros momentos, lá estava ele, conversando com as Araras ou abraçado á um porco Cateto (nome popular que se dá ao Caititu).

Arquivo Pessoal: Registros de Rafael interagindo com animais na Pousada Xaraés, Pantanal Sul, MS

Rafael literalmente estava realizado. Feliz, interagia com tudo e todos. Estava curioso, com sede de aprender e viver novas experiências. Foi incluído por todos, em especial, por Alex, que se mostrou extremamente paciente e parceiro do Rafa, ajudando-o nas realizações daquilo que o interessava, guiando-o quando necessário e respeitando-o seus momentos de regulação.

Ali, vi nossos filhos remarem uma canoa ao pôr-do-Sol. Observei-os criando conexões com a natureza. Testemunhei 2 jovens acordarem sozinhos antes das 6 da manhã, para ajudar na alimentação dos animais da fazenda. Conheci uma nova versão, disposta á cortar, carregar e sentar por cima da palha em trajeto de barco, sem frescura, sem preguiça, simplesmente, como parte daquele ecossistema.

dicas de viagem com autistas

Viajar com uma pessoa autista pode trazer desafios únicos, mas também pode ser uma oportunidade incrível de vivenciar o mundo de uma forma diferente e enriquecedora. É claro que é importante compreender as necessidades e características individuais da pessoa autista para tornar a jornada mais tranquila e prazerosa para todos.

Primeiramente, é essencial ter em mente que cada indivíduo é único e que o autista, por estar em um espectro, também não tem padrões. Por isso, antes da viagem, é fundamental conversar com a pessoa autista. Em casa, sempre falamos das possibilidades e ouvimos suas preferências. E entendemos que nem sempre o “não” dito naquele momento, será “não” durante a viagem também, assim, vice-versa.

Informar àqueles que irão nos receber, também é de extrema importância. Autismo não tem cara e ninguém é obrigado a saber ou entender do assunto, como nós.

Por fim, destinos como o Pantanal, podem ser uma experiência bastante positiva para a família que viaja com autista. A natureza, oferece um ambiente acolhedor, rico e terapêutico que contribui para o bem-estar, de pessoas típicas e atípicas. Em resumo, é uma excelente opção como turismo inclusivo.

Por conseguinte, o Pantanal Sul Matogrossense é uma verdadeira joia do Brasil. Suas belezas naturais, sua fauna exuberante, suas águas cristalinas e seus pores do sol deslumbrantes tornam esse lugar único no mundo. É um destino imperdível para quem busca se encantar com a natureza em sua forma mais selvagem e preservada. Uma visita ao Pantanal é uma experiência transformadora, capaz de despertar um profundo senso de admiração e respeito pela riqueza natural que o nosso planeta tem a oferecer.

Para mais informações, visite www.visitms.com.br , nosso apoiador principal nessa aventura!

Autismo e turismo esportivo

Viajar é bom demais! Entretanto, talvez não para todos. Famílias e indivíduos com deficiências físicas e intelectuais, nem sempre têm boas experiências.

Viajar com um cadeirante é um bom exemplo. Não diferente com deficientes visuais. Contudo nem sempre a deficiência é óbvia, e nem mesmo os desafios que veem com ela.

Há quase 15 anos, vivo a maternidade atípica. Sou mãe de um adolescente no Espectro Autista. Por ser um “espectro”, os sintomas são diversos e os níveis também. Dessa forma, cada indivíduo tem seu próprio conjunto de manifestações, o que o torna único dentro do TEA – Transtorno do espectro Autista. Mas tem algo que, praticamente todos os autistas, concordam – independente do grau, nível ou idade, quando o assunto é: Viagens

Pessoas em geral dizem: “Vou relaxar e quero aproveitar ao máximo!” Por outro lado, pessoas atípicas, pensam: “Será cansativo. Mudança de rotina e mais socialização do que o usual. Vou precisar de dias para me recuperar quando eu voltar!”

Pode parecer estranho para quem conta os dias até as sonhadas férias, mas de fato, como mãe de adolescente autista, sei que é uma verdade. Em suma, de uma forma bastante genérica e super resumida, autistas se sentem bem em rotinas. Contudo quando há quebra da rotina, a pessoa com TEA, fica mais ansiosa e emocionalmente descompensada. Basta um simples passeio no shopping para deixá-la mais cansada. Logo. quem dirá novos cenários, horas no carro, no avião, espera em aeroportos e o pacote de “novidades” que uma viagem traz…

Uma família atípica de corredores

Recebi o diagnóstico do meu filho antes do seu 1° ano e por conseguinte, criei alguns processos para amenizar esses momentos. Vale dizer que nossa família é composta por 4 filhos mais eu e meu marido. Rafael é o caçula. Somos uma família socialmente ativa e bastante viajante, seja de carro, navio ou aéreo. Embora sejam todos filhos meninos, cada um está em um momento diferente da vida. São “quereres” diversos. Dessa forma, precisamos levar em consideração o que cada um quer, gosta e está apto a fazer.

Para completar, eu e meu marido, gostamos de correr. Participamos de muitas provas de corrida de rua nacional e internacional. E nosso gosto pela atividade, contagiou 3 dos nossos meninos, inclusive Rafael. Assim, nossas “escapadas” passaram a ter mais um propósito: correr no destino. Às vezes, me arrisco dizer que é o contrário. Escolhemos a corrida que queremos e viajamos para onde ela acontecerá.

Importante dizer que não existem locais específicos ou passeios mais indicados para pessoas com autismo. O indivíduo com TEA pode estar onde ele quer, desde que se sinta bem. E o bem-estar, é o item número 1 em tudo que fazemos. Assim sendo, dividir com Rafael o que estamos planejando, é essencial. Além de deixá-lo menos ansioso, me dá a oportunidade de realizar eventuais ajustes na programação, antes mesmo de sairmos de casa.

Outro ponto que não abro mão, é informar à todos a condição do meu filho. Desde a companhia aérea, o hotel, os receptivos e até as atrações que visitaremos. Isso diminui a possibilidade de perrengues na viagem. Ademais, nos dá a sensação de maior acolhimento.

Turismo acessível

Dizer que existe um membro na família com alguma deficiência não é vergonha alguma. Existem deficiências que não tem “cara” e as pessoas não tem obrigação de adivinhar. O turismo de modo geral, vem se preparando cada vez mais para todos os tipos de turistas. O turismo acessível é uma temática recente no Brasil. Viagens para pessoas com deficiência, destinos acessíveis, turismo inclusivo, roteiros para pessoas com mobilidade reduzida e serviços para turistas com necessidades especiais (PcD´s) são alguns itens que estão ganhando cada vez mais relevância quando o assunto é viajar.

Para a minha família, dentro das nossas características e “quereres” diversos, viajar não é apenas sobre locais novos que vamos conhecer. Assim sendo, viajar é uma forma de autoconhecimento. Uma ferramenta perfeita para experimentar a vida, saber até onde conseguimos ir, derrubar o máximo de barreiras e transcender a liberdade.

Portanto, toda quarta-feira eu Cacá Filippini, estarei aqui com vocês, dando dicas de experiências de viagem com autistas, roteiros acessíveis, serviços para viajantes com necessidades especiais, destinos para correr, provas de corrida pelo mundo e muito mais…

Acompanhem: Maraturismo e Inclusão !