Milaneses e a cidade de Milão

O verde é constante em Milão, principalmente em áreas residenciais

Não foi uma escolha minha o roteiro ser dessa maneira, mas essa recente visita à Itália me proporcionou um itinerário interessante. Desembarquei do Seabourn Ovation em Veneza, uma cidade estritamente turística, e rumei para Milão, de onde meu voo de volta sairia e na qual o Turismo é apenas uma das facetas da cidade.

Esse paralelo entre os dois locais foi instantâneo. Primeiro porque a experiência inicial em Veneza foi um tanto quanto caótica. Segundo porque cheguei em Milão no fim da tarde de um domingo, em um ambiente completamente familiar.

O hotel em que fiquei era próximo da estação Wagner de metrô, em uma área residencial por essência. Sim, havia muitos estabelecimentos comerciais pelas principais avenidas no entorno da Piazza Piemonte, mas era pelos milaneses que os bares e restaurantes estavam tomados.

Famílias inteiras, mesas cheias com amigos, uns dates, a população local aproveitava o pôr do sol tardio e o clima favorável para curtir o dia à sua maneira. Logo descobri que se tratava do l’aperitivo a Milano.

A corridinha matinal aos pés do Duomo

O ato de se reunir para um drinque e beliscar algumas delícias antes da refeição é algo tradicional da cidade. O aperitivo é religioso em Milão e usualmente acontece após o expediente – mas, como presenciei, não se desperdiça uma tarde gostosa de domingo.

Nos locais mais tradicionais (e menos pomposos), paga-se um valor um pouco maior pela bebida (paguei € 10), mas que te dá direito a um pratinho e uma visita ao buffet de petiscos. A ideia não é se empanturrar de comida e perder o jantar. A própria origem do termo, que em latim significa “que abre e excita o apetite”, deixa isso claro.

Na manhã seguinte, os milaneses novamente me mostravam como usufruem sua cidade. Saí do hotel bem cedo para visitar a Piazza Duomo, talvez o ponto mais turístico de Milão, para tirar algumas fotos.

É de se imaginar que áreas que concentram tantas pessoas, principalmente turistas, sejam evitadas pelos moradores locais – até porque eles sabem rotas alternativas para evitá-las. No início da manhã, no entanto, isso não se faz necessário.

Galleria Vittorio Emanuele em uma silenciosa manhã

A imponente fachada da Catedral e o arco de entrada da Galleria Vittorio Emanuele lá estavam, acho que até maiores pelo vazio e silêncio da praça. Mas quem também estava eram pessoas comuns, iniciando seus dias, talvez a caminho do trabalho, ou em suas corridas matinais, alguns até mesmo atravessando a galeria vazia.

Segunda cidade mais populosa da Itália, com mais de 1,3 milhão de habitantes, Milão é conhecida por ser a terra da moda e do design, além de concentrar o mercado financeiro italiano. Ou seja, apesar de ser uma indústria importante, Turismo não é sua prioridade.

Nessa minha primeira visita, pude acabar com alguns preconceitos em relação a Milão. Fiquei fascinado por sua vida cotidiana, pela quantidade de verde nas ruas e, principalmente, por enxergar como o milanês curte sua própria cidade.

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A Veneza que não é feita para turistas

A vista de Veneza e o Canal Grande na chegada pelo mar

Eu cheguei duas vezes em Veneza. No fim de tarde de uma sexta-feira, o Seabourn Ovation se aproximava da cidade que, em todo o seu esplendor, nos aguardava para dar essa primeira e encantadora recepção. A segunda chegada ocorreu no dia seguinte (e foi um tanto quanto assustadora).

Ainda no porto, ao desembarcar do navio, eu e outros hóspedes entramos num desses barcos de, sei lá, 50 passageiros, para um tour ao redor das ilhas de Veneza – passeio disponibilizado pela Seabourn em nossa despedida. Novamente, lá estava Veneza ao longe, muito formosa, com suas belas construções e um céu azul incrível.

Eu não havia nem pisado na cidade e já estava a considerando pacas gostando do que via. Eis que o tour acabou e o barco desembarcou os passageiros em plena Piazza San Marco. Se você não está familiarizado com Veneza, a praça que hospeda a Basílica de San Marco é um dos pontos de maior concentração de turistas na Europa.

A calma manhã de domingo na fondamenta Misericordia

No espaço de minutos eu tinha trombado com muita gente, topado com carrinhos de bebê, desviado de paus de selfie, dito uma porção de “não” para comerciantes e presenciado um atendimento médico na fila para entrar no Palazzo Ducale. Aquilo era um caos e confesso que fiquei assustado.

Muita gente havia sugerido que eu me perdesse pelas ruelas de Veneza, que essa era a graça do passeio pela cidade. De fato a estratégia era boa, as multidões tinham sumido e a calmaria estava, por vezes, presente. Ainda assim, eu me sentia em um “parque temático” à beira dos grandes pontos de interesse.

Para a minha sorte eu teria dois dias em Veneza e, assim, eu pude organizar melhor o meu roteiro a fim de evitar a bagunça da véspera. Foram duas as soluções para conhecer a ilha principal de outra maneira: acordar cedo e evitar o centro.

Ainda não eram 9 horas do domingo e a cidade tinha outra atmosfera. Decidi passar minha manhã na sestieri de Cannaregio, perambulando por áreas como o Antigo Gueto (morada dos judeus entre os séculos 16 e 18) e descobrindo passagens minúsculas nas travessas da fondamenta Misericordia.

Os pequenos celebram a comunhão na igreja de Madonna dell’Orto

Essencialmente eram bairros residenciais, refúgios dos pouquíssimos venezianos que ainda moram na ilha principal. Era distante da aglomeração o suficiente para que a vida existisse, para que o treino de remo acontecesse, para que primeiras eucaristias fossem celebradas. Lá eu presenciei de relance o que pode ser a vida em Veneza e isso, pra mim, valeu a visita.

Acho necessário, por fim, fazer um adendo. Não posso ignorar o fato de que eu era um turista, assim como qualquer outro, que invadia esse espaço mais “privado” da cidade. Mas eu realmente acredito que, com respeito e bom senso, é possível o convívio mútuo entre cidadãos e visitantes – sem que aqueles tenham de mudar sua forma de viver por conta destes.

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Kotor, a porta de entrada para Montenegro

A baía de Kotor, cercada por montanhas, vista durante a saída do navio

Apesar de a viagem a bordo do Ovation não ser um cruzeiro “oficial”, ser apenas uma viagem-teste (shakedown cruise, eles chamam), todo o serviço da Seabourn está em operação – até porque a proposta é deixar o navio prontinho para os primeiros passageiros pagantes. Nesse sentido, a companhia também promoveu uma de suas paradas em destinos exóticos.

O porto escolhido foi o da pequena Kotor, cidade na saída de Montenegro para o mar Adriático. O país é uma ex-nação iugoslava que ao longo da década de 90 estava dentro de território sérvio e, em 2006, se tornou completamente independente. Apesar de não ser membro da União Europeia, o montenegrino utiliza no dia a dia o Euro de forma unilateral – algo que vem a calhar, já que, por conta de sua história e belezas naturais, a economia de Montenegro é fortemente baseada no Turismo.

Vielas da Cidadela de Kotor e, ao fundo, o monte de San Giovanni

Não é de hoje que Kotor recebe visitantes. Desde o século 6, quando a região fazia parte do Império Bizantino, a cidade possui fortificações que mostram sua importância comercial e defensiva. Ao longo dos séculos, essas construções foram tomando as formas da hoje conhecida como Cidadela de Kotor.

Passear pelas ruinhas da Cidadela é um misto de viagem no tempo e parque temático. É possível se perder nas vias minúsculas do que um dia foi o centro de Kotor, apenas caminhando sem rumo, apreciando o cenário que une arquitetura medieval e a bela montanha de San Giovanni na qual a cidade se recosta. Mas também há áreas totalmente feitas para turistas, com grandes restaurantes e bares, com lojas de souvenir e roupas. É democrático, você escolhe a forma de turistar que curtir mais.

Por falta de tempo, não consegui fazer a trilha até o Castelo de San Giovanni (€ 8), no topo da montanha. Utilizando as muralhas da fortificação como estrada, a íngreme caminhada demora em torno de uma hora e, lá de cima, dizem que a vista de Boka Kotorska, a baía de Kotor, é única.

A vista da baía de Kotor durante a trilha para San Giovanni (Wikimedia Commons/Ggia)

De volta ao centro da Cidadela, só que do lado de fora de seus muros, vale uma visita rápida ao pequeno mercado local, que exibe frutas e legumes, mas também iguarias como azeitonas, queijos e prosciuttos típicos da região. Apesar de estar em área totalmente turística, os preços do mercado não são tão exorbitantes – um mix com três variedades de queijos, por exemplo, sai por menos de € 10.

Pela beleza do trajeto, cortando as imponentes montanhas em uma espécie de fiorde (na verdade são rias), não posso evitar de sugerir a entrada/saída da cidade pela forma que ela historicamente é feita, pelo mar. Nos dias de hoje essa opção não é tão acessível assim, mas há empresas que oferecem todo o tipo (e preço) de passeio pela baía, vale conferir.

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