A visita a Auschwitz, campo de concentração nazista da 2ª Guerra Mundial

A visita a Auschwitz, na Polônia, é um dos exemplos do Turismo como ferramenta para a preservação da memória

Esta semana marcou o 75º aniversário da libertação de Auschwitz-Birkenau. Outrora campo de concentração e extermínio nazista, o complexo hospeda hoje um museu-memorial dos mais sensíveis e perturbadores a se visitar. “Relembrar a história para que ela nunca mais se repita” é o mantra ali pregado com necessária frequência. Faço aqui minha parte, lembrando uma visita feita há alguns anos e homenageando as pessoas que de alguma forma tiveram suas vidas alteradas ou interrompidas pelos eventos que foram promovidos naquele local.

A estrutura de um campo de concentração não poderia ser mais ostensiva

Em meio a II Guerra Mundial, os campos de concentração foram locais designados pelos alemães para receber qualquer um que o regime de Adolf Hitler julgasse seu inimigo. Eram ao todo cerca de 40 complexos. Para Auschwitz foram levados, num primeiro momento, presos políticos, depois aqueles que os nazistas determinavam que deveriam estar à margem da sociedade: ciganos, homossexuais, deficientes, judeus…

Apesar de ser impossível quantificar o número de pessoas assassinadas no local (e por, pessoalmente, não querer arredondar um valor que trata de vidas e histórias apagadas), fico com a estimativa de que as mortes superaram 1 milhão de indivíduos. Seja em experimentos médicos, de fome ou frio, espancamentos, fuzilamentos ou por meio de câmaras de gás.

Os escombros de uma das câmaras de gás de Auschwitz-Birkenau, explodidas pelos próprios nazistas antes da derrota na guerra

Esta é a história que lemos nos livros e vemos nos filmes. Estar no local onde isso tudo ocorreu, no entanto, foi um acréscimo de camadas de sofrimento e pesar as quais eu não estava pronto para experienciar. Visitei o campo em fevereiro, em meio ao inverno polonês, e foi impossível não relacionar o frio que eu sentia, mesmo debaixo de grossos casacos, com o que os prisioneiros enfrentavam. Tolo e fútil, mas era o único fragmento de realidade que eu conseguia usar para tentar traçar um paralelo com eles.

Flores adornam o paredão de fuzilamento de Auschwitz I

Porque o restante do passeio não abre brechas para que aquele sofrimento seja de forma alguma comparado. Há uma constante impressão de que o aspecto controlador e sádico do campo ainda permanece vivo, seja pela ostensividade de torres, grades e arames farpados que rodeiam toda a área, seja pelas imagens que inevitavelmente criamos em nossas cabeças ao ouvir e ler relatos. O tour dura pouco mais de 3 horas e passa por Auschwitz I e Auschwitz II-Birkenau – passando por estruturas administrativas e barracões (onde há uma exposição com pertences pessoais das vítimas coletados após a liberação do campo), além da estação de trem e os escombros das câmaras de gás.

A visita guiada não é obrigatória, mas eu definitivamente recomendo ela. É pelos profissionais que entendemos melhor sobre o funcionamento do campo e são eles quem nos guiam pelo amplo espaço, dando lógica à rota que fazemos ao longo do passeio – ao mesmo tempo que dando liberdade para focarmos em detalhes que julguemos importantes.

Auschwitz I foi criado em um complexo já existente desde o pós-1ª Guerra

Em retrospecto, relembrando essa visita, não consigo evitar um ponto que é muito caro a mim quando viajo. Turismo tem um milhão de facetas possíveis, e é claro que a diversão e o descanso estão entre esses pontos. Mas, para mim, viajar é a mais clara oportunidade de abrirmos janelas para o desconhecido, nos confrontarmos com o desconfortável e, acima de tudo, aprendermos algo novo.

Lidar com um tema delicado e pesado como o holocausto pode não estar no plano de férias de todos. No entanto, se assim como eu você se interessa por história e experiências que lhe dão novas perspectivas sobre nossos atos, por favor não hesitem em visitar Auschwitz. Abaixo dou algumas dicas sobre como fiz para chegar lá.

Auschwitz II-Birkenau nasceu para receber o crescente número de prisoneiros que semanalmente chegavam às instalações

A visita

A entrada para os complexos de Auschwitz I e II é gratuita em determinadas épocas do ano (veja quando no site oficial), mas reforço que, para uma experiência mais rica, é imprescindível que a visita seja feita em um tour guiado. Atualmente não há passeios realizados em português, mas há grande oferta de horários em inglês e espanhol – o tour guiado custa 70 złoty (por volta de R$ 75). Faça reservas e compre os bilhetes previamente pelo site oficial do museu.

Outra questão importante é como chegar até Auschwitz, já que o complexo fica em uma zona pouco urbanizada e distante 50 quilômetros de Cracóvia. Apesar de encontrar uma porção de passeios fechados com entradas, guias e traslado entre Cracóvia e Oświęcim incluídos, eu optei por pegar um dos ônibus que saem da MDA Station (próximo da estação central de trens de Cracóvia) e que deixa a poucos minutos caminhando da entrada do complexo. A passagem de ida e volta custa aproximadamente 30 złoty (R$ 32) e a viagem dura pouco mais de 1 hora. É possível se fazer entender em inglês, portanto não hesitem em questionar o motorista do ônibus sobre pontos e horários de partida para a viagem de retorno.

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Renato Machado

Renato é jornalista e encontrou na cobertura do Turismo a junção de grandes prazeres: escrever e conhecer novas culturas e lugares. Agora vive no Porto, Portugal, e neste espaço irá experimentar na prática tendências e inovações do mercado, além de buscar um olhar menos óbvio de destinos internacionais. No Instagram @Viajante3.0

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