A busca por exclusividade tem limite?

O Retreat, área exclusiva dos cruzeiros Seabourn (Divulgação/Seabourn)

Eu achava que o termo “exclusividade” tinha uma definição meio direta, que não abria margem para muitas interpretações. “Exclusivo” não aquele que elimina, mas aquele que diferencia, que é restrito. Essa minha experiência a bordo do Seabourn Ovation, um dos mais exclusivos cruzeiros do mercado, me mostrou que essa tal exclusividade tem lá suas camadas.

Digo isso porque é muito evidente que viajar assim está ao alcance de poucos. Não são muitos os afortunados capazes de realizar cruzeiros que podem durar até quatro meses, pagando uma média de US$ 600 por noite, por pessoa. Serviços, decoração, comida e bebida estão lá, em suas mais refinadas versões, para justificar os altos valores. As boas vindas na suíte são com champanhe e caviar, os coquetéis no bar são feitos com os melhores rótulos, a comida é assinada por chef renomado. De fato tudo isso é bem exclusivo.

Acontece que lá pelo terceiro dia de viagem eu fui apresentado ao conceito do Retreat. A Seabourn propagandeia a área como “um santuário isolado para o hóspede esticar as pernas, recarregar energias e relaxar em cabanas privativas”. Do alto do navio, no 12º e último deck, uma dezena de bangalôs debaixo de toldos circundam uma jacuzzi.

Coquetel e sombra no meu dia de Retreat

De cara eu percebi que silêncio e proteção contra sol e vento estão de fato no pacote. Uma pequena sala compõe a cabana, com uma TV de grandes proporções e fones de ouvido wireless – indícios de que o contato interpessoal não é bem uma constante por lá.

O serviço é complementado por um menu próprio do Retreat, com refeições que não serão encontradas em outros restaurantes da embarcação e coquetéis sendo preparados por um bartender próprio.

Não consigo descrever o Retreat de outra forma que não uma ilha. Dentro do arquipélago de exclusividades que o cruzeiro Seabourn representa, já bem distantes do mundo real, o Retreat aparece como a ilha mais remota. Para acessá-la, é necessária uma reserva e o pagamento de US$ 399 por dia.

Se o valor é justificável? Não cabe a mim responder, já que estou longe de pertencer ao seleto grupo de passageiros da Seabourn. Aqui estou mais interessado em questionar essa busca pela exclusividade e entender se é possível, em algum momento, enfim alcançá-la.

A existência de um cruzeiro como o Seabourn me mostra que uma das definições de exclusividade tem modelo e preços definidos. Uma oferta como o Retreat, no entanto, me faz crer que, para alguns, ser um “passageiro comum” do Ovation pode não ser o suficiente.

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Bastidores da operação de um cruzeiro de luxo

Seabourn Ovation em Kotor, Montenegro

Na semana passada eu fiquei um tanto quanto ausente aqui do blog, mas quem acompanha a jornada pelo Instagram viu que eu estava a bordo do Seabourn Ovation. O novo navio da armadora de ultraluxo deixou o estaleiro da Fincantieri, em Gênova, para sua viagem inicial – e eu fui lá cobrir esse cruzeiro para a Panrotas.

A reportagem completa sobre a visita estará em breve na Revista PANROTAS. No portal PANROTAS saíram algumas notinhas com detalhes internos do navio, como o design inteligente do premiado Adam Tihany e a gastronomia de primeira linha oferecida no cruzeiro.

Aqui para o Viajante 3.0 também resolvi escrever algumas linhas sobre o Seabourn Ovation – especialmente sobre o que acontece por trás de todo o aparato de luxo criado pela companhia. Durante a viagem, pude conhecer o interior do navio e fazer dois tours extremamente interessantes: pela sala de comando e pela imensa cozinha do navio.

Olhos atentos para o mar

Bridge tour

Bridge, na linguagem marítima, é a ponte de comando de onde capitão/capitã, oficiais e marinheiros definem coordenadas, leem mapas, calculam manobras e botam a embarcação para navegar. A tecnologia envolvida é altíssima, com equipamentos de última geração auxiliando os navegadores e motores potentes dando a força necessária. Ainda assim, o olho humano tem um papel essencial. A todo instante, ao lado dos comandantes, marinheiros checam as águas com seus binóculos, atentos para qualquer detalhe que possa surgir no horizonte.

Sala de comando, a “ponte” do navio

As escalas dos oficiais são variadas mas, em geral, eles trabalham oito horas por dia, com turnos intercalados de cinco e três horas. Ao todo, contando o capitão (que no Ovation é o norueguês Stig Betten), são nove profissionais atuando na ponte de comando.

Apesar de estar longe de ser o maior dos navios de cruzeiro, o Seabourn Ovation tem um tamanho considerável – ainda mais se for levado em conta os destinos remotos pelos quais ele passa. São 12 decks e mais de 40 mil toneladas de aço em alto mar, com capacidade de transportar confortável e luxuosamente até 600 passageiros, em 300 suítes.

Uma das estações da gigantesca cozinha

Galley tour

Come-se muito e come-se bem a bordo do Seabourn Ovation. As refeições são dignas de restaurantes conceituados em terra firme e este é um dos pontos que a armadora faz questão de investir para manter seu nível de luxo.

Galley, na terminologia da navegação, é a sala de preparo das refeições. Em um navio como o Ovation, toda a operação alimentar fica reunida em um só lugar (no deck 4). Eu visitei a cozinha no período entre almoço e jantar, então coube presenciar apenas o momento mais tranquilo da rotina dos cozinheiros.

O resultado final

Nas horas mais críticas, são cinco restaurantes e o room service enviando pedidos para as estações – que são divididas por comida quente, fria, vegetariana, doce, etc. O objetivo é entregar esses pedidos entre 7 e 12 minutos, para isso o Ovation tem à sua disposição 64 chefs!

Se alguém pensou que basta decorar o modo de produção dos pratos e ser feliz, o Chef de Cuisine executivo da galley, David Whelehan, mostra a extensa biblioteca de receitas do navio, que ele garante ser capaz de produzir menus diferentes por 42 dias seguidos. Só por curiosidade, termino o texto com o dado de que, por dia, são consumidos 2,5 mil ovos e 40 quilos de avocado.

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Koningsdag, o Dia do Rei na Holanda

Ruas cheias, fantasias, celebração e muito laranja durante o King’s Day (Instagram/jessinwanderland_)

Ter a real experiência de entrar em contato com a cultura de um país é prioridade para muitos viajantes – e algo, cá entre nós, extremamente difícil de se conseguir em destinos tão descaracterizados pelo Turismo de massa. Grandes festas e celebrações locais são uma dessas raras oportunidades e, por conta disso, não vou me cansar de escrever sobre elas neste espaço.

Hoje eu volto para a Holanda, país que iniciou a trajetória do Viajante 3.0, para tratar de um dos dias mais importantes daquela terra. Oficialmente uma monarquia parlamentar, nos Países Baixos a família real mantém um respeitável peso simbólico entre a população. Prova disso é a tradicional celebração do Koningsdag (Dia do Rei).

Anualmente, no dia 27 de abril, a população se reúne para brindar a cultura da Holanda, com atividades a céu aberto e cidades (e pessoas) vestidas de laranja. O motivo da cor em abundância é porque essa representa a família real holandesa, a Casa de Orange-Nassau. Voltando para a festa, sua data, não por coincidência, cai no aniversário do Rei Willem-Alexander (ou Guilherme Alexandre se você preferir essas traduções monárquicas).

O dono da festa, Willem Alexander, e a família (Instagram/koninklijkhuis)

A celebração é nacional, ou seja, em qualquer grande cidade do país que você estiver nesse dia, certamente serão ouvidos muitos “fijne Koningsdag” (“feliz dia do Rei”) e terá um mar de enfeites e fantasias laranjas para lhe engolir. Mais que isso, a tradição pede que o Rei Willem visite uma cidade a cada ano. Hoje, então, em seu 51º aniversário, o monarca esteve em Groningen – atraindo multidão de 40 mil pessoas, segundo as autoridades.

Um dos pontos altos do Koningsdag são os vrijmarkt, mercados de pulgas com objetos vintage e colecionáveis. O Dia do Rei é o único no ano em que qualquer um pode comercializar seus bens nas ruas, sem a necessidade de alvarás ou permissões e ainda livre de imposto. Entende-se por: muita gente reunida vendendo e trocando bugiganga.

História

Um fato histórico interessante do feriado é que a celebração mudou de data ao longo das regências. A festa nasceu, em 1885, como Prinsessedag (Dia da Princesa), em homenagem à Princesa Wilhelmina (Guilhermina) – tornou-se posteriormente Koninginnedag (Dia da Rainha) com a morte de seu pai e consequente nomeação como rainha. A festa era comemorada a cada 31 de agosto, dia de seu aniversário.

Juliana, ao suceder a mãe no trono, rearranjou a data para o dia em que nasceu, obviamente: 30 de abril. Foi assim por quase 40 anos, até que Beatrix (Beatriz) se tornou rainha. Como seu aniversário cai em 31 de janeiro e o rígido inverno holandês não é assim tão convidativo para celebrações a céu aberto, ficou acertada a manutenção do 30 de abril, como homenagem à antecessora Juliana.

Ruas de Amsterdã com as cores da bandeira holandesa e, claro, o laranja (Instagram/blooolooo)

Em 2013, ao abdicar do trono e abrir caminho para a regência de seu filho, Willem, a festa mudou então de nome, de Koninginnedag para Koningsdag (de rainha para rei), e também de data. Coincidentemente, não foram necessárias grandes alterações já que Willem Alexander nasceu em 27 de abril, três dias antes da data que fora celebrada durante os 65 anos anteriores.

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