Como é possível aproveitar a conectividade da AF-KLM na Europa?

Aeronaves da Air France em sua casa, o Aeroporto Charles de Gaulle (Divulgação/Air France)

Se aproxima o início das operações da Air France e da KLM em seu novo hub brasileiro, em Fortaleza. Desde o anúncio dos novos voos, que começam em 3 de maio, muito se foi falado sobre a possibilidade de conectividade da malha do grupo dentro do Brasil, a bordo da parceira Gol. Um aspecto pouco explorado, no entanto, foi a oportunidade que o passageiro brasileiro terá de conectar dentro da Europa via os hubs em Paris e Amsterdã.

Já operante em São Paulo, por Guarulhos, e no Rio de Janeiro, por Galeão (Air France e KLM), em breve o grupo ganha as saídas do Brasil desde o Ceará. Inicialmente serão três voos semanais entre Fortaleza-Amsterdã, a bordo da KLM, e dois entre Fortaleza-Paris pela Joon (em outubro essa rota ganha uma terceira frequência).

Schiphol, em Amsterdã, é o principal hub da KLM (Divulgação/Schiphol-Amsterdam Airport)

Somando as já existentes rotas Rio de Janeiro-Amsterdã (com a KLM, diária), Rio de Janeiro-Paris (Air France, diária), São Paulo-Amsterdã (KLM, diária) e São Paulo-Paris (Air France, dois voos diários), o grupo Air France-KLM terá, neste verão no hemisfério norte, semanalmente 40 ligações diretas entre o Brasil e a Europa – o número sobe para 44 frequências/semana em outubro.

Se o seu destino final for Amsterdã ou Paris, você não poderia estar mais feliz. As facilidades para quem segue viagem em algum outro destino europeu, no entanto, são mais simples do que você possa imaginar – com uma oferta incrível de conexões e ainda a possibilidade de realizar stopovers nos hubs.

Quem voa Air France ou KLM pode fazer uso das malhas das companhias aéreas subsidiárias do grupo para conectar. Joon, KLM Cityhopper, Transavia e HOP! são as empresas irmãs. Globalmente, o grupo opera em 314 destinos em 116 países. Só na Europa, esse número chega a incríveis 170 aeroportos.

Pelo mapa de rotas da Air France em Paris dá pra ter uma ideia do tamanho da malha do grupo (Reprodução)

Stopover

O stopover se popularizou na aviação comercial e o mercado brasileiro tem pegado gosto pela coisa. A possibilidade de permanecer em uma cidade por alguns dias, sem acréscimo de valores, antes de rumar ao destino final parece ser algo atraente. Ao voar AF-KLM, essas primeiras paradas podem ser Paris ou Amsterdã. Nada mal, certo?

Com a conectabilidade do grupo, o stopover pode acontecer tanto na ida quanto na volta. Imagine, por exemplo, um passageiro saindo de Guarulhos rumo a Berlim, na Alemanha. Sem aumentar o valor final da passagem, esse viajante pode chegar via Amsterdã (KLM), ficar por lá alguns dias, antes de seguir para seu destino, Berlim. No retorno, ela/ele voa de Berlim até Paris, para por alguns dias se assim quiser e, então, volta ao Brasil. Em um roteiro como este é possível visitar três destinos sem pagar nada mais por isso. Confira aqui o tutorial da empresa.

Opção “múltiplos-destinos” permite acesso ao Stopover da Air France-KLM (Reprodução)

Tanto no site da Air France quanto no da KLM, há a opção de “múltiplos destinos” na área de reserva de bilhetes. Os voos precisam ser necessariamente originados no Brasil e todas as classes ofertadas têm acesso ao Stopover. Condições especiais e taxas aeroportuárias podem ser aplicadas.

Automatização é um dos pontos que facilitam a vida do viajante em Schiphol (KLM/Capital Photos)

Os hubs

As “casas” da AF-KLM na Europa são Charles de Gaulle, em Paris, e Schiphol, em Amsterdã. Dois dos mais movimentados terminais aéreos da Europa, os hubs também se destacam por sua tecnologia e pela facilidade de locomoção entre terminais.

Apesar de enormes, andar por entre terminais e encontrar portões é tarefa simples graças à insistente sinalização de ambos aeroportos. Como são hubs, a maioria dos voos da AF-KLM saem ou de Paris ou de Amsterdã.

Isso significa que Air France e KLM definem suas malhas de forma com que os principais destinos europeus sejam acessíveis sem a necessidade daquelas esperas infinitas no aeroporto. Ir de São Paulo a Viena, na Áustria, por exemplo: a bordo da Air France é necessária uma conexão de apenas 1h10 em Paris (voos AF 459 + AF 1738).

Salon Lounge, área exclusiva da Air France em CDG (Divulgação/Air France)

No meu voo de ida para a Europa, eu pude experimentar toda essa conectabilidade da malha da AF-KLM. Antes de chegar ao Porto, em Portugal, parei em Amsterdã em um rápido Stopover, que até rendeu um teste do assistente pessoal da KLM, o Care Tag.

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Lisboa na companhia de Fernando Pessoa

O panorama da Lisboa de Fernando Pessoa, uma “multicolorida massa de casas”

É razoável pensar que as dicas dadas por um morador da cidade para a qual você está viajando sejam extremamente valiosas. E se tais indicações forem passadas por um dos maiores escritores da língua portuguesa? Nada mal, certo?! É o que Fernando Pessoa fez, lá pelo meio da década de 20, em um guia turístico para Lisboa.

Acredito que a maioria que aqui me lê já tenha buscado informações externas sobre um destino, seja em um guia oficial, desses comprados em livrarias, seja na própria internet. É indiscutível que opções de rotas e prioridades do que visitar são uma mão na roda quando lhe faltam tempo e/ou conhecimento acerca de um local.

Quando escreveu o tal guia – publicado no Brasil, em edição bilíngue (português/inglês), pela Companhia das Letras sob o título de Lisboa: O que o turista deve ver -, Fernando Pessoa queria valorizar Portugal, colocando na vitrine internacional a amada pátria.

A versão da Companhia das Letras do guia de Pessoa

Sua proposta era apresentar ao mundo sua cidade, Lisboa, como o destino incrível que de fato é, equiparando-a a locais que à época já possuíam uma presença mais frequente no imaginário do viajante – em um período que o Turismo, como conhecemos, ainda não era uma realidade.

Para apresentar a capital portuguesa, o autor de Mensagem e Livro do Desassossego propôs então uma rota por regiões importantes da cidade, em itinerário a bordo de um carro fictício. Uma leitura fácil, longe dos rebuscamentos característicos de sua prosa e poesia, é a marca do guia.

Sim, há lá horários de funcionamento e valores de admissão em atrações como a Biblioteca Nacional e o Museu Nacional de Arte Contemporânea, tal qual os guias turísticos convencionais. Mas Pessoa dá seu toque ao conversar com o leitor como se estivesse ao pé de seu ouvido enquanto é feita a visita pela Lisboa de 1925, ano em que provavelmente a obra foi escrita.

“Convidaremos agora o turista a vir connosco. Servir-lhe-emos de cicerone e percorreremos com ele a capital, mostrando-lhe os monumentos, os jardins, os edifícios mais notáveis, os museus – tudo o que for de algum modo digno de ser visto nesta maravilhosa Lisboa”, diz nas primeiras páginas.

O plano de Lisboa no início do século 20 (Reprodução/The Map House)

Antes, logo no primeiro parágrafo, o escritor descreve a cidade: “Sobre sete colinas, que são outros tantos pontos de observação de onde se podem desfrutar magníficos panoramas, espalha-se a vasta, irregular e multicolorida massa de casas que constitui Lisboa.”

Com a obra em mãos, a jornada se torna um misto de viagem no tempo, por uma Lisboa de 90 anos atrás, e o aprendizado por um guia muito bem feito e “atual” – especialmente quando se trata de atrações abertas ao público até os dias de hoje, como a Torre de Belém ou o Castelo de São Jorge.

Ao fundo, a estátua de Marquês de Pombal, que ainda não estava pronta quando o guia foi escrito

Por outro lado, a distância temporal nos permite episódios interessantes. Pego como exemplo a importante Praça Marquês de Pombal, com a icônica estátua do nobre diplomata, que ainda estava em construção quando Pessoa escreveu o guia.

“Foi este o local escolhido para erigir o monumento ao grande estadista português […]. De acordo com o projecto, representará o grande estadista, no seu pedestal de glória contemplando a sua formidável obra”, descreve, baseando-se apenas em projeções.

Em outro momento, Fernando Pessoa faz ressalvas para problemas que tardariam quase um século para serem resolvidos. Ao tratar do Museu dos Coches (em sua localização original, no Picadeiro Real), o autor pontua que “alguns dos veículos estão guardados e só serão expostos quando for criado espaço para eles com a construção de novas galerias”. Tal espaço surgiu somente em 2015, com a inauguração do novo edifício, assinado pelo premiado arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha.

Torre de Belém e sua longa fila de turistas

Pessoa sonhava em ver seu Portugal retomando as glórias de eras passadas e acreditou que o reconhecimento internacional, por meio do Turismo, era peça-chave desse processo. Escreveu o cartão de visitas para uma Lisboa “desconhecida”, morada de 435 mil pessoas.

Mais de 90 anos depois, a capital portuguesa e suas ruelas se espremem diante de hordas de turistas de todas as partes do mundo. Maior, hoje com 3 milhões de habitantes, Lisboa entrou de vez na vitrine estrangeira, como sonhava Pessoa.

Se a realidade agradaria a imaginação do poeta, é difícil saber. Resta aos mortais que estiverem de passagem por Lisboa aproveitar o que a cidade tem a oferecer. E, se possível, na companhia atemporal das páginas escritas por Fernando Pessoa.

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Road trips: opções e custos de viagens saindo do Porto

No mapa, os destinos sugeridos para road trips desde o Porto (Reprodução/Google Maps)

Apesar das grandes distâncias entre destinos, a viagem rodoviária pelo Brasil é praticamente um patrimônio da nossa cultura nacional – sendo até mesmo explorada comercialmente, com marcas se afirmando apaixonadas por carro “como todo brasileiro”. Para quem tem este costume, a realidade europeia soa como ideal: estradas estruturadas, distâncias curtas e custos relativamente mais baixos.

Se são necessárias mais do que 5 horas para chegar ao Rio de Janeiro desde São Paulo, o mesmo tempo na Europa é o suficiente para que fronteiras fiquem para trás e novas línguas e culturas se façam presentes. Já que estou alocado no norte de Portugal, neste post pretendo mostrar algumas possibilidades de viagens de carro ao redor do Porto, onde moro.

Dividi as viagens por tempo de estrada. A quilometragem pode variar dependendo das rodovias disponíveis, mas em geral cada opção está a 1, 3 ou 5 horas de direção – sempre tendo o Porto como ponto inicial.

A charmosa Aveiro, a apenas uma hora do Porto

Bate e volta

Apenas 60 minutos separam o Porto de três cidades incríveis – e que eu recomendo fortemente a visita: Braga, Guimarães e Aveiro. Esta última está ao Sul do nosso ponto de início (77 km) e é tida como a “Veneza lusitana” por conta de seus canais (“rias”). Construções em Art Nouveau completam o charme de Aveiro. Segundo o Via Michelin, o custo da viagem (combustível + pedágios) é € 12.

Guimarães fica a Nordeste do Porto (52 km), uma rota feita em menos de uma hora completa (€ 8 pelo Via Michelin). O vimaranense se orgulha em dizer que “Aqui nasceu Portugal”, já que a cidade era o centro da região de Porto Cale no século 9. Não dá pra deixar de fora da visita o toucinho do céu, bolo à base de ovos e açúcar típico da região.

Ao Norte do Porto (55 km), e muito próximo de Guimarães, está Braga (€ 9 pelo Via Michelin). A cidade de origem romana reflete as marcas de uma história bimilenar, principalmente nos estilos de suas dezenas de igrejas. Construída no século 12, a Sé de Braga é a catedral mais antiga de Portugal (“mais velho que a Sé de Braga”, aliás, é um dito popular em Portugal).

O Padrão dos Descobrimentos, beirando o Tejo em Lisboa

Pra ficar por uns dias

Duas sugestões bem diferentes entre si estão a cerca de 3 horas de direção do Porto: Santiago de Compostela e Lisboa. Não preciso de muito para convencer alguém a visitar a capital portuguesa, vibrante e histórica de uma forma balanceada. Algo que sempre me salta aos olhos é o fato de Lisboa ter sido uma inspiração tão evidente para muitas cidades brasileiras, suficiente para criar uma familiaridade automática entre nós. Cerca de 300 km que podem ser feitos em pouco mais de 3 horas de estrada (a um custo de € 49, segundo o Via Michelin).

O grande motivo para que tantos visitem Santiago de Compostela são as peregrinações dos Caminhos de Santiago, de origem cristã medieval. Religião à parte, a cidade é um destino culturalmente muito rico, englobando aspectos espanhóis e, principalmente, galícios – além de ser uma excelente oportunidade para se provar tapas. A 230 km ao Norte do Porto, a rota é feita de carro em cerca de 3 horas (e a € 40 pelo Via Michelin).

A Plaza Mayor de Salamanca, considerada uma das mais belas da Espanha

Longa estrada

Há quem não se importe com longos períodos de estrada. Para o padrão europeu, cinco horas de direção é uma quantidade razoável. Em Portugal, por exemplo, é o suficiente para praticamente cruzar o país de ponta a ponta.

Fazendo isso desde o Porto, no caso, chega-se a belíssima Faro, no extremo Sul de Portugal. Os 550 km que separam as cidades podem ser realizados em 5 horas e meia (a um custo de € 88). É a cidade mais importante do Algarve, região que é conhecida pelas altas temperaturas e por ter as melhores praias de Portugal. Seu passado mouro é outro atrativo, refletido na arquitetura de Vila Adentro de Faro.

Cruzando a fronteira mais uma vez rumo à vizinha Espanha, são muitas as possibilidades de parada. A que cito aqui é Salamanca por ser um exemplar do que há de mais tradicional na cultura espanhola – sua Plaza Mayor, por exemplo, é uma das mais belas (e culturalmente ativas) do país. Em geral a viagem para Salamanca dura menos do que as 5 horas desta “categoria”, só que, saindo do Porto, a sugestão é fazer o percurso cruzando o Vale do Douro – o que lhe custa uma hora a mais de estrada, mas também rende paisagens de tirar o fôlego. Pelo Via Michelin, o custo do trajeto é de € 39.

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