Quando a viagem foge dos seus planos

Espectadores de uma procissão que, por conta da chuva, não aconteceu

Viagens são compostas por detalhes tão mínimos que sonhar com férias perfeitas, sem uma pedrinha no caminho que seja, beira o absurdo. Transporte, alimentação, hospedagem, segurança, saúde, clima… são tantas as variáveis que é quase certo que algum errinho vai rolar em um mês num lugar completamente novo pra você.

A questão aqui é saber dançar conforme a música, conseguir minimizar prejuízos e, principalmente, não deixar os problemas atrapalharem o resto da viagem.

Isso rolou comigo na semana passada. Este post era pra ser um relato da procissão Ecce Homo, que anualmente acontece em Braga nas quintas-feiras que antecedem a Páscoa.

A caminhada se dá no meio da noite e percorre as vias que ligam importantes igrejas da cidade. Dentre os participantes, trajados como romanos do século 1, se destacam os emblemáticos farricocos, penitentes que desfilam com suas longas vestes negras (complementadas por um capuz que deixa pouco mais que olhos à mostra).

Farricocos com seus fogaréus em mãos, na procissão de 2017 (Flickr/Luis Ascenso)

Este era o cenário que não vi. A previsão meteorológica já havia me alertado para a chuva constante durante todo o dia. Ainda assim resolvi ir, tomei o comboio no Porto (estação Campanhã) e 1 hora e € 6,90 (ida + volta) depois eu estava em Braga.

De fato a meteorologia estava certa (dessa vez). Com algumas horas livres antes do início da procissão, marcado para as 21h30, enfrentei a chuva por vezes torrencial para visitar a Sé de Braga (catedral mais antiga de Portugal, construída no século 12) e o Santuário de Bom Jesus do Monte.

Comunidade local participa das encenações durante a Semana Santa

Já próximo do horário, me aproximei da igreja da Misericórdia, de onde partiria a procissão, e aguardei. A movimentação era grande, as pessoas fantasiadas chegavam, os espectadores ultrapassavam as centenas, claramente esse era uma dia importante para a comunidade local.

O horário estipulado já era passado, as informações eram escassas e uma espécie de debandada se desenhava – sem que a procissão tivesse existido. Cancelada pela chuva foi a resposta de policiais, decretando o fim da minha visita a Braga.

Como moro em Portugal, mais especificamente a 60 minutos de trem da cidade, fica muito fácil falar em “contornar obstáculos”. Eu simplesmente tomei um trem mais cedo e logo já estava em casa.

Em uma viagem de férias, com um cronograma apertado, eventos assim podem ser o detalhe a fazer você odiar um lugar que, em outras circunstâncias, amaria. Acreditem, essas coisas acontecem – e não são o fim do mundo.

Após o cancelamento da procissão, participantes deixam o entorno da igreja

Por mais que a gente queira, é impossível ter controle sobre absolutamente tudo que vai acontecer durante uma viagem. Obviamente que não devemos aceitar quando um serviço prometido não é devidamente oferecido (seja no voo, no hotel ou no restaurante), mas quando este não é o caso, se martirizar é o pior cenário.

Ainda restam dias de férias e destinos a visitar? Então deixa pra trás o que foi ruim e curta o que lhe resta. Quem sabe um desses episódios negativos não viram motivo de risada no futuro?

Acompanhe a jornada do Viajante 3.0 pela blogosfera da PANROTAS e também pela conta no Instagram.

Já ouviu falar em Leeuwarden (Holanda)? Neste ano, ela é Capital Europeia da Cultura

Em meio ao pôr do sol, o Achmeatoren, prédio mais alto de Leeuwarden (Flickr/Michiel Jelijs)

Este pode ser o ano para você explorar novas partes da Holanda. Se a capital Amsterdã já não é mais uma grande novidade, uma sugestão talvez seja se aventurar em cidades menores, que não estejam nos guias turísticos das grandes editoras. Um desses destinos, Leeuwarden, a capital da província de Friesland, tem motivos de sobra para receber sua atenção, já que em 2018 é uma das Capitais Europeias da Cultura.

No post anterior, expliquei como surgiu a ideia das Capitais da Cultura, falei sobre melhorias e investimentos que são feitos nas cidades e ainda analisei a programação de Valeta, em Malta, cidade que divide o título com Leeuwarden este ano. A construção de equipamentos que terão vida após o ano do título, como museus e centros culturais, e a revitalização de atrações históricas locais, representam um dos núcleos de atuação do dinheiro que é injetado nas ECoC’s, como são abreviadas. Ou seja, neste ano, as cidades Capitais da Cultura estão em sua melhor forma!

O charme da vida noturna de Leeuwarden (Divulgação/NBTC Holland)

Localizada a 140 quilômetros de Amsterdã (1h30 de carro ou 2h de trem), Leeuwarden tem 100 mil habitantes e é capital da província de Friesland além de ser uma das Capitais Europeias da Cultura. Em um ano tão especial como este, as cidades nomeadas colocam em ação um calendário com rica programação para toda a temporada, o que faz com que as Capitais ganhem força no radar turístico europeu.

Neste post, irei abordar a agenda de eventos que, segundo a organização, se baseará em um conceito de Comunidade Aberta, tendo como temas Dare to Dream (Ouse Sonhar), Dare to Act (Ouse Agir) e Dare to be Different (Ouse Ser Diferente). Para isso, chega ao público mais de 800 projetos que tocam áreas como a música e o teatro, mas também pintura, ópera e esporte. No fim das contas, o objetivo de Leeuwarden é ampliar o entendimento sobre diferenças culturais.

O Fries Museum expôe a trajetória de Mata Hari durante 2018 (Divulgação/Fries Museum)

Uma das filhas mais notórias da região, Mata Hari terá programação especial em sua homenagem. Até 2 de abril, o Fries Museum oferece uma exposição completa (€ 3 a € 38,50) sobre a trajetória da dançarina que fez nome na França mas que era original de Friesland.

Entre 19 e 22 de julho, a música vai rolar em Leeuwarden. O anual Welcome to The Village (€ 10 a € 109) terá edição especial dentro da programação da Capital da Cultura. Uma “minissociedade”, como dizem, é criada durante os dias do festival, que reunirá em seu palco artistas como Mark Lanegan Band, Mykki Blanco, Motorpsycho, Thomas Azier, Torres, Warhaus, Strand of Oaks.

O 8 de julho terá um simbolismo importante para o calendário de Leeuwarden. O oitavo dia (ou 8th Day) reunirá na cidade eventos das 9h às 23h. Performances de dança e trabalhos musicais, construção e esporte, toda essa mescla de temas pretende acionar na comunidade uma reação em cadeia para agir (e, claro, se entreter).

A programação holandesa da Capital Europeia da Cultura já está rolando a todo vapor e irá durar até o mês de novembro. No portal da iniciativa, você pode conferir com detalhes o calendário e organizar sua visita.

Acompanhe a jornada do Viajante 3.0 pela blogosfera da PANROTAS e também pela conta no Instagram.

Porque esse é o ano para conhecer Valeta (Malta), a Capital Europeia da Cultura

A enseada de Valeta, em Malta (Viewing Malta/Peter Vanicsek)

A cada ano, um par de cidades é definido como as Capitais Europeias da Cultura. Um calendário com rica programação é desenvolvido para toda a temporada, o que faz com que as cidades que ostentam o título ganhem força no radar turístico europeu. As capitais de 2018 são Valeta (Malta) e Leeuwarden (Holanda), levando ao público centenas de eventos e projetos, que envolvem também intercâmbio com artistas de diversos países e obras de infraestrutura.

A iniciativa de criar Capitais Europeias da Cultura ano a ano nasceu, em 1985, da cabeça da então ministra de cultura grega, Melina Mercouri. A ideia era reunir a comunidade em uma programação que exaltasse o senso de coletividade europeu, o compartilhamento de ideais e da história por si só.

Rua central da cidade de Valeta (Viewing Malta/Gregory Iron)

Nas cidades designadas como Capitais da Cultura, são realizados grandes investimentos na construção de equipamentos que terão vida após o ano do título, como museus e centros culturais, além de serem realizadas diversas obras de revitalização de atrações históricas locais. Ou seja, as cidades Capitais da Cultura estão em sua melhor forma!

Neste espaço, vou apresentar as Capitais Europeias da Cultura de 2018 e comentar a programação de cada cidade. O primeiro post falará da capital da pequena ilha de Malta. Destino de verão com suas belíssimas praias banhadas pelo Mediterrâneo e ensolaradas praticamente o ano todo, Malta tem em Valeta uma das menores capitais da Europa, com apenas 0,8 quilômetros quadrados de área e pouco mais de 6 mil habitantes. Dado seu tamanho, Valeta é uma cidade para se conhecer a pé.

Tendo em vista a nomeação de Capital Europeia da Cultura, Valeta ganhou o The Valletta Designer Cluster. Além da criação desse grupo de estudos em Design, a sua sede foi reflexo de uma obra de revitalização em il-Biċċerija – reformas deram nova vida ao prédio do Velho Abatedouro, localizado em uma área residencial negligenciada.

Além disso, foram consequência da nomeação as reformas no mercado da cidade, o Is-Suq tal-Belt, a transformação da viela Strait Street em um hub cultural e a criação do museu de arte MUŻA, em construção nas dependências do Auberge d’Italie.

Mas não é só de infraestrutura que são feitas as Capitais Europeias da Cultura. Ao longo de todo o ano, Valeta reunirá 140 projetos e outros 400 eventos em uma programação que contará com cerca de mil personalidades locais e internacionais, dentre artistas, curadores, performers, promotores de workshops, escritores, designers, corais e cineastas.

Foram escolhidos três temas principais para nortear os espetáculos, divididos em Island Stories (Contos da Ilha), Future Baroque (Barroco do Futuro) e Voyages (Jornadas). Em 18 e 19 de maio, a cidade recebe o Malta World Music Festival, que terá extensa programação, estrelada por Afro Celt Sound System, Cushion, Refugees for Refugees e Ana Alcaide.

Capital Europeia da Cultura em 2018, a pequenina Valeta é casa de apenas 6 mil habitantes (Viewing Malta)

Um dos destaques da temporada é o Malta Jazz Festival (16 a 21 de julho), que terá participação de nomes como Chick Corea, Christian McBride, Karim Ziad e até mesmo do brasileiro João Bosco. Além de apresentações, serão ministradas aulas e workshops de música com especialistas.

Dentre as exposições, chama a atenção o intercâmbio cultural entre Malta e Japão este ano. A mostra fotográfica European Eyes on Japan (Olhos europeus no Japão) mostra o resultado da residência da fotógrafa maltesa Alexandra Pace e da holandesa Alice Wieling no país asiático. Os trabalhos estarão expostos no Spazju Kreattiv Upper Galleries de 31 de março a 29 de abril.

A já agitada vida em Malta este ano ganhou motivos a mais para os turistas rumo à ilha mediterrânea, já que apesar dos eventos se concentrarem na capital, toda a ilha promoverá atividades diversas. A programação completa do projeto 2018 de Valeta como Capital Europeia da Cultura pode ser acessada neste link.

Acompanhe a jornada do Viajante 3.0 pela blogosfera da PANROTAS e também pela conta no Instagram.