Piscina e mar, por que não?

A vista incrível que a Piscina das Marés tem da praia de Leça da Palmeira

O sol, enfim, surgiu aqui no Porto. O que parecia ser uma arrastada primavera, com semanas chuvosas e sem muitos dias abertos, acabou e deu lugar a um céu azul e calor dignos de ápice de verão – apesar de, tecnicamente, a estação iniciar apenas na próxima quinta-feira (21).

Com isso veio a necessidade de se refrescar e o povo correu logo para praias ou, então, para as piscinas públicas. Algo comum em cidades não-litorâneas do Brasil, essas piscinas abertas à população também fazem sucesso em Portugal, até mesmo em regiões com saída para o mar, como o Porto.

O sorriso esconde que eu tava congelando nessa água gelada!

Sem uma piscininha em casa, sem amigos com uma e sem quintal para aquelas versões de plástico, achei que essa era uma boa chance de visitar uma piscina pública completamente diferente do usual.

A escolhida foi a Piscina das Marés e as fotos explicam o porquê. Obra do ícone da arquitetura portuguesa, Álvaro Siza, a mescla perfeita entre cenários naturais e estruturas de concreto faz deste um projeto único. Siza ganhou o mundo com seus trabalhos e esta foi uma das primeiras construções públicas da premiada caminhada do arquiteto, que está hoje com 84 anos.

Não por acaso a Piscina das Marés fica localizada em Leça da Palmeira, em Matosinhos. Essa parte de terra aos pés do oceano Atlântico e vizinha do Porto é onde Siza nasceu, cresceu e desenhou os primeiros traços da carreira.

As Marés têm piscina para crianças, adultos e, ao fundo, o mar

Nas Marés, são duas piscinas (uma exclusiva para crianças) com água do mar que é tratada e trocada continuamente durante a alta temporada – há também áreas com acesso direto ao mar. A piscina principal, que é limitada pelas rochas que dão no mar, tem de 0,9 metros a 3,8 metros de profundidade. São 33,35 metros de comprimento e 27,80 metros de largura.

Em dias quentes como o que eu fui, é recomendado se proteger do sol abundante (aparatos de praia podem ser alugados, veja abaixo). Se refrescar na água é outra opção, mas aqui vale um adendo importante. Não se espantem, brasileiros acostumados com água de mar a temperaturas agradáveis, o lado de cá do Atlântico não funciona assim. A piscina é preenchida com água de mar e não possui aquecimento artificial: ou seja, podem esperar por um banho frio (bem frio).

A temporada atual começou no último sábado (16) e vai até 16 de setembro. As tarifas cobradas para o acesso à piscina são variadas, também alterando o valor se o tíquete é para o dia todo (9h às 19h) ou para meio dia (9h às 14h; 14h às 19h). De segunda a sexta-feira, adultos pagam €6 (dia) e €4 (meio dia) – para crianças até 12 anos, são €3,50 (dia) e €2,50 (meio dia). Em sábados, domingos e feriados, são cobrados €8 (dia) e €5 (meio dia) para adultos e €4 (dia) e €3 (meio dia) para crianças.

O ingresso permite a circulação por toda a estrutura da Piscina das Marés, seja vestiários, banheiros, faixa de areia e as piscinas, obviamente. Há a possibilidade de alugar guarda-sóis (2 euros), para-ventos (2 euros) e espreguiçadeiras (3 euros). Um bar local oferece comidas e bebidas, a preços similares ao de restaurantes em zonas turísticas do Porto.

Com bar, é possível curtir o sol e a vista bebendo ou comendo algo

PISCINA DAS MARÉS

Endereço – Avenida da Liberdade, 4450-716 – Leça da Palmeira
Acesso – ônibus 507 / metro Estação Mercado (20 min de caminhada)
Temporada 2018 – 16/jun a 16/set
Horário – 9h às 19h (o bar fica aberto até 0h)
Telefone – +351 229 952 610 / +351 635 222 143
Lotação máxima diária – 3,7 mil banhistas
Grupos (consulta prévia) – marepiscina@gmail.com / geral@matosinhosport.com
Visitas (fora da temporada) – visitas@casadaarquitectura.pt

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Uma visita ao Estádio de Braga (e a memórias passadas)

Portugal e Tunísia jogam, em Braga, amistoso antes da Copa

Era 2004 e o Renato adolescente da época, fascinado por futebol como o Renato de hoje, assistia aos jogos da Eurocopa que, naquela edição, era realizada em Portugal. Para o torneio de seleções mais importante dos europeus (depois, é claro, da Copa do Mundo), novos estádios foram construídos e um em particular me chamou a atenção.

Nem sei dizer em qual das partidas eu me deparei com o Estádio Municipal de Braga pela primeira vez, mas ele era completamente diferente de tudo o que eu já havia visto. A parede rochosa que limita o campo em uma de suas pontas dava à arena um ar mundano, pra não dizer amador.

Em um primeiro momento, pela tevê, parecia que arquibancadas haviam sido levantadas em um campo qualquer, de bairro, como os que eu via em São Paulo – “só que eles estão jogando uma partida de Eurocopa!”, falava a minha cabeça confusa. Acho que foi exatamente essa sensação de proximidade, de enxergar aquilo como uma “várzea profissional europeia”, que me fez gostar tanto daquele estádio.

Eu pensava em como seria legal um dia assistir a um jogo lá. Meio que desejando algo que, quando paramos para raciocinar, não é assim tão prático. Daquelas coisas que nos tiram uma risada do rosto ao percebermos que estamos pensando em algo um tanto quanto esdrúxulo. Até porque, naquela época, o que raios eu sabia de Braga? (Aliás, por muito tempo, a cidade foi para mim “aquela do estádio nas rochas”).

De outro ângulo, a pedreira que apelida o estádio (Twitter/@selecaoportugal)

Quando me mudei para o Porto, que é a apenas uma hora de trem de Braga, estava na minha lista de obrigações uma visita à Pedreira, como é conhecido o estádio. Neste ponto eu já sabia que o projeto era do Eduardo Souto de Moura, premiadíssimo arquiteto português, e que a manutenção da parede de rochas era parte de uma estética que visa promover a interação entre o natural e o artificial.

Eis que a preparação da seleção portuguesa para a Copa do Mundo de 2018 parou em Braga. Um dos amistosos programados antes do torneio, contra a Tunísia, foi realizado nesta segunda-feira e, enfim, eu pude entrar e ver um jogo naquele “estádio lindo e estranho”. Presenciar uma partida nele foi tão bom quanto eu imaginava – ou mais, já que eu não fazia ideia de alguns detalhes, como o incrível pôr do sol que se vê na ponta oposta à do rochedo.

Não vai ter relato do jogo aqui no texto: a) porque Portugal só empatou com a Tunísia (2×2) e a partida não foi um primor técnico; b) porque, além do estádio, eu também queria ver Cristiano Ronaldo em campo e, vitorioso na Champions no último sábado, ele tava de folga; c) porque o blog é meu.

A “surpresa” ao sol se por em Braga

O motivo por eu ter escrito essas linhas é que, ontem, na saída do estádio, eu me peguei pensando que uma viagem não se restringe apenas a um deslocamento físico. Gosto da ideia de que há mais nas entrelinhas, que viajar é a possibilidade de acessar pensamentos e memórias antigas, como que em uma visita a um imaginário que já não mais existe – ou, melhor, um imaginário que ganhou formas mais precisas por agora ser acompanhado da experiência real de estar e viver o local um dia desejado.

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