Não há nada mais tradicional do que um São João no Porto

A queima dos fogos, o ponto alto do São João no Porto

Uma das datas mais aguardadas do verão português é a celebração dos santos da casa. Como é de se esperar, as duas maiores festas do calendário acontecem nas duas maiores cidades do país. Na virada de 12 para 13 de junho, os lisboetas saem às ruas para homenagear Santo Antônio, que é o favorito na capital, apesar de não ser o padroeiro oficial. No último sábado, dia 23, foi a vez dos portuenses virarem a noite para farrear em nome de São João, que é celebrado no 24.

Parque montado na Rotunda da Boavista

A expectativa para a data aqui no Porto é imensa, o feriado é de longe o momento mais esperado do ano e todos, sejam crianças, jovens ou idosos, têm a sua maneira preferida de comemorar o dia. Com um propósito ~estritamente jornalístico~, passei o dia na rua para ver todas essas “caras” do São João e escrevo aqui no blog algumas linhas sobre a minha experiência.

Apesar de a festa ter data certa, o 23 de junho, a cidade começa a se preparar desde o comecinho do mês. As freguesias tradicionais do Porto levantam palcos para shows, montam barracas de comida e trazem “divertimentos” – dependendo do local, pode ser roda-gigante, carrossel, carrinho de bate-bate (que aqui chama carrinho de choque), etc.

Vendinhas e janelas de casas expõe pequenos vasos com pés de manjerico, planta da família do manjericão que em Portugal é conhecida como Erva dos Namorados. Segundo a tradição, é sinal de compromisso presentear o/a amado/a com a planta no dia de São João. Outro detalhe é a forma de sentir sua fragrância. Sensível, a planta não é muito amiga de narizes enxeridos, por isso deve-se apalpar o manjerico para sentir o perfume impregnado nas mãos.

Na região de Fluvial, tenda vende pão com chouriço feito na hora

Esta é somente uma das diversas tradições da festa. Comer e beber bem é outra. No dia de São João propriamente, as ruas são tomadas pela população local desde as primeiras horas da tarde. Nas festas, além de cerveja e vinhos, vocês encontrará caldo verde, queijos, bifanas (sanduíche com carne de porco), farturas (churros), doces, sorvetes e mais um sem número de iguarias.

As sardinhas, no entanto, têm um papel especial. É possível encontrá-las à venda em tendas nas festas das freguesias, mas o ato de assar o peixe é algo de certa forma familiar. Pequenas grelhas são montadas nas ruas e as pessoas se reúnem à sua volta para comer as suculentas sardinhas, servidas sempre na companhia de pimentões verdes e vermelhos.

As novas cores do Porto para o São João

O processo de comer e beber esse cardápio caprichado é repetido ao longo do dia. Isso porque costuma-se curtir o São João em uma espécie de via sacra. Como a festa não se limita a um local apenas, a população pula de bairro em bairro para aproveitar o dia ao máximo.

Marretadas

Nessas andanças, entra em cena uma importante ferramenta da festa: o martelo de plástico. É meio difícil de conseguir alguém que te explique exatamente a função e a origem da tradição, mas todos têm a peça em mãos para martelar cabeças alheias. Pelo que percebi, a etiqueta do São João libera marretadas naqueles que também possuem martelos em mãos, as marretadas são amigáveis, restritas à cabeça do outro, e são seguidas de um “bom São João”.

A ideia é provocar o colega (ou estranho) de forma bem humorada. As marretas, com seu apito e o eterno “pipipipi” que soa durante toda a noite, são algo até que recente. Antigamente, para importunar o outro, esfregavam a mal-cheirosa flor do alho poró em rostos aleatórios pela multidão. Apesar de menos comum, ainda existem aqueles que empunham porós pelo Porto no São João.

Próximo da meia noite, a concentração fica nas redondezas da Ribeira, margem do Douro na região central da cidade. A população faz a sua parte iluminando o céu com balões de papel, abrindo caminho para algo especial. Além dos shows e todo esse aparato citado acima, é de lá da Ribeira que é disparado o momento mais aguardado do dia: a queima de fogos de artifício.

Não se preocupe se não conseguir se posicionar no horário exato na região (que fica lotada), é possível apreciar o show de diversos pontos da cidade, principalmente ao longo do curso do rio. Os fogos não significam que é hora de voltar para casa. Ao seu fim, a programação nas freguesias segue e os bailaricos não param antes das 4 horas da manhã.

Apesar de parecer uma farra de adultos, é incrível o quão familiar a festa é. Durante todo o momento, e até a hora que voltei pra casa lá pelas 3 horas, bebês e crianças curtiam o São João com a mesma energia das primeiras horas do dia. Para mim foi uma mostra bem clara de que a festa abre espaço para ser comemorada do jeito que você melhor entender. Por isso, não se reprima e tenha um Bom São João!

Festa montada na freguesia de Massarelos, uma das mais tradicionais do Porto

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Koningsdag, o Dia do Rei na Holanda

Ruas cheias, fantasias, celebração e muito laranja durante o King’s Day (Instagram/jessinwanderland_)

Ter a real experiência de entrar em contato com a cultura de um país é prioridade para muitos viajantes – e algo, cá entre nós, extremamente difícil de se conseguir em destinos tão descaracterizados pelo Turismo de massa. Grandes festas e celebrações locais são uma dessas raras oportunidades e, por conta disso, não vou me cansar de escrever sobre elas neste espaço.

Hoje eu volto para a Holanda, país que iniciou a trajetória do Viajante 3.0, para tratar de um dos dias mais importantes daquela terra. Oficialmente uma monarquia parlamentar, nos Países Baixos a família real mantém um respeitável peso simbólico entre a população. Prova disso é a tradicional celebração do Koningsdag (Dia do Rei).

Anualmente, no dia 27 de abril, a população se reúne para brindar a cultura da Holanda, com atividades a céu aberto e cidades (e pessoas) vestidas de laranja. O motivo da cor em abundância é porque essa representa a família real holandesa, a Casa de Orange-Nassau. Voltando para a festa, sua data, não por coincidência, cai no aniversário do Rei Willem-Alexander (ou Guilherme Alexandre se você preferir essas traduções monárquicas).

O dono da festa, Willem Alexander, e a família (Instagram/koninklijkhuis)

A celebração é nacional, ou seja, em qualquer grande cidade do país que você estiver nesse dia, certamente serão ouvidos muitos “fijne Koningsdag” (“feliz dia do Rei”) e terá um mar de enfeites e fantasias laranjas para lhe engolir. Mais que isso, a tradição pede que o Rei Willem visite uma cidade a cada ano. Hoje, então, em seu 51º aniversário, o monarca esteve em Groningen – atraindo multidão de 40 mil pessoas, segundo as autoridades.

Um dos pontos altos do Koningsdag são os vrijmarkt, mercados de pulgas com objetos vintage e colecionáveis. O Dia do Rei é o único no ano em que qualquer um pode comercializar seus bens nas ruas, sem a necessidade de alvarás ou permissões e ainda livre de imposto. Entende-se por: muita gente reunida vendendo e trocando bugiganga.

História

Um fato histórico interessante do feriado é que a celebração mudou de data ao longo das regências. A festa nasceu, em 1885, como Prinsessedag (Dia da Princesa), em homenagem à Princesa Wilhelmina (Guilhermina) – tornou-se posteriormente Koninginnedag (Dia da Rainha) com a morte de seu pai e consequente nomeação como rainha. A festa era comemorada a cada 31 de agosto, dia de seu aniversário.

Juliana, ao suceder a mãe no trono, rearranjou a data para o dia em que nasceu, obviamente: 30 de abril. Foi assim por quase 40 anos, até que Beatrix (Beatriz) se tornou rainha. Como seu aniversário cai em 31 de janeiro e o rígido inverno holandês não é assim tão convidativo para celebrações a céu aberto, ficou acertada a manutenção do 30 de abril, como homenagem à antecessora Juliana.

Ruas de Amsterdã com as cores da bandeira holandesa e, claro, o laranja (Instagram/blooolooo)

Em 2013, ao abdicar do trono e abrir caminho para a regência de seu filho, Willem, a festa mudou então de nome, de Koninginnedag para Koningsdag (de rainha para rei), e também de data. Coincidentemente, não foram necessárias grandes alterações já que Willem Alexander nasceu em 27 de abril, três dias antes da data que fora celebrada durante os 65 anos anteriores.

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