O QUE O GOVERNO VAI CONSEGUIR COM A CENTRAL DE COMPRAS

Desculpem se sou ácido, mas não consigo tapar o sol com a peneira e não vejo motivos para as recentes comemorações pela retomada, um conceito desejado por todos (onde naturalmente me incluo), mas distante de tornar-se realidade.

Não bastasse a conhecida desunião das categorias profissionais, com raras e nobres exceções, refiro-me não aos discursos (onde somos sempre unidos) mas aos interesses individuais que tendem a prevalecer sobre os coletivos, típico de um Brasil de sempre, agravado por um Brasil pandêmico.

Não bastasse a tendência pela desintermediação, um esforço não coordenado que une clientes e fornecedores num mesmo objetivo, equivocado sobre diversos pontos de vista, mas que sobrevive e avança a cada dia.

Não bastasse a auto-desvalorização do próprio agente de viagens corporativas, que precifica seu serviço ao mesmo tempo que o desvaloriza, oferece crédito sem ser agente financeiro (e sem lastro), concorre de forma sanguinária e autofágica, além de focar na venda do produto (que favorece fornecedores) quando deveria focar no serviço ao passageiro (que conquista clientes).

Não bastasse a pandemia do coronavírus, que além de prejudicar a economia global, feriu gravemente todas as atividades relacionadas a viagens e turismo, impactando todas as transportadoras (aéreas, terrestres e marítimas), todos os meios de hospedagem (de todos os tipos e segmentos) e toda a rede de distribuição, criando a tempestade perfeita, uma crise simultânea de oferta e de demanda.

Não bastasse este cenário de terra arrasada para todo o turismo brasileiro, em especial para as viagens corporativas, vem agora o governo federal aproveitar este momento de absoluta fragilidade do setor, para ressuscitar o fatídico projeto do governo Dilma, a Central de Compras, objeto de processos e prisões no antigo ministério do Planejamento do PT, à época sob a batuta do ex-ministro Paulo Bernardo (que também foi preso), sendo que esta iniciativa atualmente está ligada ao ministério da Economia.

Partindo das mesmas premissas equivocadas, a Central de Compras pretende substituir a expertise de toda uma indústria de gestão de viagens corporativas (especialidade conquistada pela capacitação, experiência e investimentos em tecnologia de centenas de agências de viagens corporativas ao longo dos últimos 20 anos), através da estatização da atividade, contratação de centenas de colaboradores, a preços de servidores públicos, um custo seguramente maior do que o praticado pelas TMCs que atuam no setor.

Sobre este mesmo tema (Central de Compras), postei aqui em julho de 2014, durante o governo Dilma:

Também tratei do assunto em post de julho de 2016, também durante o governo Dilma:

Já no governo Bolsonaro, postei aqui em abril de 2019 (há pouco mais de 1 ano), sobre esta mesma iniciativa, fomentada pelos burocratas do extinto ministério do Planejamento, atualmente alocados no ministério da Economia:

Fato é que nada mudou, sob o argumento político falacioso de reduzir gastos com passagens aéreas, o governo conseguirá, numa só tacada:

1) Estatizar a atividade de agenciamento de viagens: ponto para o corporativismo dos servidores públicos.

2) Aumentar o valor do ticket médio das passagens aéreas: ponto para as cias. aéreas.

3) Centralizar nas mãos de burocratas e políticos a negociação com as cias. aéreas e com a empresa privada de tecnologia que prestará este serviço ao ministério da Economia (a mesma empresa desde 2014): ponto para a velha política, que sobrevive a avança, mesmo confrontando os conceitos liberais do atual governo.

A Central de Compras representa a estatização da atividade de agenciamento de viagens, incluindo todas as suas conhecidas desvantagens

Todas essas 3 consequências resultam em óbvias perdas aos cofres públicos, essa fonte de recursos intangível que pertence a toda a sociedade, mas é gerida pela classe política e, neste caso, fomentado por burocratas de esquerda ainda hospedados no atual ministério, que buscam alargar a participação do estado na economia, na contramão do atual governo, que promete exatamente o oposto.

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O PRESIDENTE FOI MAL ORIENTADO

Verdade seja dita: o ministro Marcelo Álvaro Antonio tem se empenhado em destravar importantes gargalos ao desenvolvimento do mercado de viagens e turismo brasileiro.

A liberação do visto para americanos, australianos, japoneses e canadenses e a participação de até 100% de capital estrangeiro nas cias. aéreas nacionais são alguns destes acertos, além da aprovação da Lei Geral do Turismo, engavetada há anos sabe-se lá em qual gaveta…

Na ânsia de promover ações assertivas em diversas áreas nestes primeiros 100 dias de governo, o presidente Jair Bolsonaro foi levado ao erro de acreditar que o governo economizará através da compra direta de passagens aéreas pelos órgãos públicos do governo federal.

Esta iniciativa, originada no governo Dilma, provou-se um verdadeiro fracasso devido ao descontrole sobre as tarifas aéreas, quando reservadas e emitidas sem a devida consultoria de uma agência de viagens corporativas (ou TMC).

Sobre este assunto, postei aqui no Blog em 19/07/2016, sobre a desastrosa iniciativa do PT de criar a central de compras de passagens aéreas, incluindo denúncia contra equipe do MPOG Paulo Bernardes, no texto COMPRA DIRETA DE BILHETES AÉREOS PELO GOVERNO FRACASSA

Neste texto, provo matematicamente que o preço médio dos bilhetes aéreos emitidos pela tal central de compras do MPOG foi mais caro do que o preço médio dos bilhetes aéreos emitidos pelas agências de viagens corporativas no ano anterior, apesar da divulgação equivocada do MPOG na época.

Acrescente-se a isto os óbvios custos extras proporcionados pela equipe contratada (ou desviada de função) da central de compras, além do custo da tecnologia (online booking tool) contratada para este projeto e de sua integração ao SCDP (sistema de concessão de diárias e passagens do MPOG).

Governo do PT estatizou a atividade de agenciamento de viagens para servidores do MPOG
Governo do PT tentou estatizar a atividade de agenciamento de viagens para servidores do MPOG e o governo atual caiu neste engodo

Coincidência ou não, a área responsável pelo desenvolvimento deste projeto de estatização no governo do PT, foi a Assessoria Especial para Modernização da Gestão do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, cujo titular à época era Valter Correia da Silva, que comandou a “modernização” da gestão do MPOG, de nov/2012 a fev/2015, quando saiu para assumir a Secretaria Municipal de Gestão do prefeito Fernando Haddad.

Em 2016, Valter Correia da Silva, ex-assessor do ministro Paulo Bernardo e ex-secretário do prefeito Haddad, foi preso na Operação Custo Brasil, que apura desvios de mais de R$ 100 milhões em propinas, entre 2010 e 2015, de contratos no Ministério do Planejamento, relacionados a serviços do sistema de empréstimos consignados aos servidores federais.

Como afirmei, o mais provável é que tenha sido “mera coincidência” o fato de que a iniciativa de “modernização” (que culminou com a estatização do agenciamento de viagens e resultou em preço médio de passagem mais caro), tenha sido implementada pelo mesmo assessor especial e pelo mesmo ministro que estão presos por outro projeto de “modernização” de gestão, o dos empréstimos consignados, este também alardeado como uma iniciativa de grande alcance social, com um sistema de controle que traria “muitas vantagens” para a administração pública…

Por tudo isso, reafirmo que o presidente Bolsonaro não foi tecnicamente informado por quem entende do assunto, sobre as desvantagens da compra direta pelos órgãos públicos, da mesma forma que tal iniciativa não encontra sucesso entre as empresas privadas que a implementam.

Não foi à toa que as principais associações de agências de viagens, direta e injustamente impactadas pela medida, reagiram através de correspondência diretamente à Presidência da República, casos da ABAV-DF em 28/03/19, da ABAV Nacional em 29/03/19 e da ABRACORP em 29/03/19 e ABRACORP novamente em 01/04/19.

O jornalista Claudio Humberto também opinou a respeito, em sua coluna no Diario do Poder, atribuindo a lobistas a informação equivocada consumida pelo presidente.

Ok, o governo mudou e o Brasil mudou, mas alguém precisa mostrar ao presidente que a compra direta, através da estatização da atividade de agenciamento de viagens, gera prejuízos aos cofres públicos e não combina com um governo liberal.

UNIÃO ENTRE CIAS. AÉREAS, TMCs, ASSOCIAÇÕES E O LEGADO DE RUBINHO

Convenção Anual Abracorp, Mendoza, Argentina, de quinta a domingo, espaço de união, aprendizado e reafirmação do valor das relações duradouras. Sinto que aprendo cada vez mais quando me reúno com as TMCs associadas nesses sempre incríveis 4 dias de convivência.

Apesar do desejo dos associados, Rubinho anunciou que não concorrerá à reeleição, prerrogativa que o estatuto oferece, mas que conflita com os atuais desafios que os empresários enfrentam no dia-a-dia, que cobram a conta de uma dedicação exclusiva aos negócios, incompatível com as demandas do cargo de presidente do conselho de administração da entidade que, com apenas 30 agências associadas, gerencia 50% do volume de viagens corporativas do país.

Sim, uma potência, a Abracorp é mesmo uma potência, como bem afirmou o Guillermo Alcorta em discurso de impulso durante almoço dos associados e familiares na Bodega Zuccardi: “…Continuem unidos assim, pois vocês formam a melhor associação de viagens e turismo do Brasil.”

Sobre a gestão Rubens Schwartzmann

Dando sequência às gestões de Francisco Leme e Edmar Bull, o atual Conselho de Administração liderado pelo Rubinho, em apenas 2 anos, deixará a Abracorp:

1. Mais moderna e alinhada com as boas práticas de governança, com um novo estatuto, modernizado após meses de estudos apoiados pela KPMG e aprovação unânime em AGE aqui em Mendoza.

2. Mais moderna e atualizada tecnologicamente, com a consolidação do projeto BI Abracorp, origem dos “dados de vendas mais aguardados do mercado”, segundo o Eduardo Bernardes da Gol.

3. Mais moderna e organizada, com a operacionalização dos comitês e grupos de trabalho, com foco especial em pessoas, tecnologia e produtos, tripé que sustenta a associação.

Sobre a força da união

O crescimento da GOL no market share da Abracorp comprova a conhecida máxima do “juntos somos mais fortes”. A Gol nunca esteve tão junto da Abracorp como nos últimos 3 anos, tanto em parceria operacional, entendimento do negócio distribuição e relacionamento pessoal, sempre norteado pela qualidade do serviço ao cliente corporativo.

Gol, Delta e AirFrance KLM tem dado ao mercado outra lição do “juntos somos mais fortes”, com seus executivos, em todos os níveis, atuando e apresentado-se sempre juntos nos eventos, como este em Mendoza. “Em 2017, Gol, Delta e AirFrance KLM pareciam trigêmeos siameses, estiveram sempre colados um no outro, buscando sinergias e contornando diferenças, uma verdadeira aula de união operacional entre cias. aéreas”, comentei num coquetel no evento.

Não é uma fusão, mas as 3 cias. aéreas operam em sinergia exemplar

Mas a maior reafirmação de união em nosso mercado de viagens e turismo é mesmo o congraçamento entre concorrentes, o debate respeitoso com visões divergentes, a busca da conciliação a partir da controvérsia, proporcionados pelas reuniões e assembleias da Abracorp. Um ambiente em que a amizade e o respeito pessoal se sobrepõem aos conflitos concorrenciais (e existem), as principais virtudes dos associados são valorizadas no melhor espírito do “extrair o melhor de cada um em benefício de todos”, as especificidades regionais são consideradas nas decisões estratégicas.

As reuniões da Abracorp são norteadas para o permanente aprimoramento do mercado e de todos os players

Sobre o futuro

Assim é a Abracorp, um exemplo a ser seguido, uma inspiração para outras entidades e, quem sabe, a semente para uma união maior entre agências, em outra escala e outro formato, que confirme que a força de uma associação profissional é proporcional ao conjunto de todos os seus associados, que lhe emprestam representatividade no âmbito de mercado e legitimidade no âmbito da política, arena onde se resolvem os principais temas que travam o desenvolvimento do mercado de viagens e turismo brasileiro.

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