Os erros dos novos hotéis

“O sucesso econômico gerou uma classe média em rápido crescimento e,consequentemente, uma explosão das viagens domésticas. Lucrando com o boom do turismo, o parque hoteleiro vem aumentando rápido, e já é aberto um novo empreendimento a cada dois dias.”

Recentemente, a CNN usou essa frase para descrever o ambiente de negócios na China. Essa semana, o Ministério do Turismo divulgou que as cidades-sede da Copa terão 100 novos hotéis e 19 mil quartos.

letreiro_hotel.2

O crescimento é evidente nos BRICs, mas algumas perguntas continuam sem resposta quando o assunto é  abertura de hotéis. Todos sabemos dos custos fixos altos, da concorrência acirrada, e da sazonalidade da indústria.

Então, porque muitos deles amarguram a falta de rentabilidade, mesmo com um bom plano de viabilidade? Porque alguns donos de hotéis pequenos ainda acreditam que seu círculo de amizades vai manter a ocupação o ano todo? Porque muitos empreendedores tem certeza que os clientes virão, pelo simples fato de estarem construindo um hotel com uma ou outra novidade?

Acompanho a abertura de muitos hotéis, e convivo com vários tipos de empreendedores, desde os super inovadores e conectados, até os mais tradicionais, preocupadíssimos com a parte técnica e racional do projeto. Em comum, o sonho de empreender minimizando riscos.

Mesmo assim, alguns erros são mais comuns e recorrentes do que deveriam.

Selecionei 4:

1) Focar muito na arquitetura e no design de interiores, deixando o serviço em segundo plano.

Como evitar:

* Seja obsessivo com a seleção, desenvolvimento e retenção de talentos. Um hotel bonito não sobrevive a um acolhimento medíocre.

* Proporcione uma experiência original e comovente, daquele tipo que os hóspedes queiram compartilhar vídeos, imagens e comentários nas redes sociais. Terceirize a promoção do hotel e torne seus hóspedes os embaixadores da marca no mundo digital. Coloque isso como meta do serviço.

2) Não definir um conceito original e inovador.

Como evitar:

* O hotel precisa “resolver o problema” existente no mercado. Ofereceça, por exemplo, um serviço que outros hotéis não proporcionam, ou torne-se mais eficiente perante conceitos já existentes.

* Mais do que um sonho, é preciso projetar um conceito de negócio viável. Isso ajuda na obtenção de investidores e/ou financiamentos. Inovação e pé no chão são os primeiros passos para o sucesso.

3) Falta de timing na promoção 

Como evitar:

A divulgação de um hotel começa junto com a limpeza do terreno e as primeiras fundações.

Invista desde o início em Relações Públicas, Mídias Sociais e no seu site. Quanto mais desejo for criado no mercado, mais curiosidade e expectativa serão criadas em torno do projeto. Não deixe a comunicação para a última hora.

4) Falta de planejamento

Os motivos são 3: falta de tempo, não saber o que escrever, e falta de compreensão da parte financeira.

Sem um plano claro, e “no papel”, dificilmente você conseguirá convencer investidores, instituições financeiras, colaboradores, e muito menos, o mercado.

Uma boa idéia não é garantia de bom negócio. A diferença entre sonhadores e empreendedores é a mente voltada para a ação.

Não ache que problemas operacionais são as maiores causas do fracasso de um hotel. Uma estratégia mal feita é a grande vilã dos novos negócios.

Dito isso, só resta uma última pergunta: “Sua idéia está pronta para ir para o mercado?”

“Hotel é Commodity!”

Ficou desconfortável com a afirmação acima? Que bom!

Há alguns anos, ouvi um gestor de Viagens de uma multinacional afirmar que, para ele, hotéis são commodity. E, para minha surpresa, fui descobrindo que muitos hoteleiros também pensam assim.

Commodity são produtos sem diferenciação por qualidade. O ganho é unicamente sobre volume de venda.  Exemplos: café, aço, prata, soja, arroz, madeira, etc. Alguns até com preços globais.

Se fossemos commodity, não teríamos valor agregado que nos diferenciasse e o equilíbrio do mercado estaria somente entre preço e quantidade.

É assim que você enxerga a hotelaria hoje?

O que está acontecendo com os hoteleiros? Que baixa autoestima é essa? Até marcas mais econômicas têm propostas distintas.

Preço é o que você paga. Valor é o que você recebe.”

Warren Buffet, investidor bilionário e filantropo Americano.

Portanto, vamos falar de “valor”. Afinal, oferecemos experiências totalmente diferentes, mesmo em hotéis da mesma categoria, certo? Ou seja, nossa indústria se diferencia pela qualidade sim!

No fundo, a questão é simples: o consumidor só pede desconto quando não consegue perceber valor suficiente no produto ou serviço.

Veja as 2 questões que mais atrapalham nosso posicionamento de valor:

1)  Paradigmas Internos

Geralmente surgem nas equipes de vendas, com afirmações como:

1.a) O cliente exige – Os clientes sempre vão pedir um desconto, mas muito raramente eles vão exigir um.

1.b) A concorrência está mais barata – Isso pode ser verdade, mas se você está vendendo para o público certo, ele conseguirá ver valor na sua oferta. Pare de querer abraçar o mundo, isso é falta de posicionamento. O mundo é feito de nichos, escolha o seu. Esta desculpa pode significar que a sua empresa não tem um diferencial claro para o mercado.

Capacite sue equipe, coloque metas conectadas ao RevPar e, se o vendedor não dá resultado, deixe de ser paternalista (não há mais espaço nem tempo para isso no mercado) e troque.

2) O Caos da Distribuição

Já presenciei um Gerente Geral levantar em um evento, dizer com orgulho que havia demitido sua equipe de vendas, e deixado 100% do seu inventário na mão de intermediários.

Ou aquele Coordenador de Reservas que, ao receber uma ligação de um cliente querendo fazer uma reserva, indica o site de uma das OTAs com quem firmou contrato, pois está “mais barato”.

O que você quer?

a)  Distribuir seu hotel de maneira inteligente, aumentando margens e mantendo a identidade da sua marca.

b)  Deixar que intermediários transformem quartos de hotel em commodity com o menor preço possível?

Não estou dizendo para deixar de usar seus intermediários, mas tentar identificar os reais parceiros e impor limites. O negócio é seu!

Commodities tendem a parecer iguais. Seus hóspedes querem um lugar para dormir onde o preço é sempre o mais baixo, ou uma experiência que eles vão querer repetir várias vezes?

Escape da armadilha da “comoditização” e lembre-se que commodity tem mais a ver com a visão empresarial do que com o produto.

Como disse o Professor Stephen Kanitz no Conotel 2013: “Vocês estão no país certo, no setor certo, em um ano histórico. Aproveitem!”

E aí? Seu hotel é commodity?