Feijão com arroz em Paris

Quem me conhece sabe que moro fora do Brasil há 35 anos. Há tanto tempo expatriada já não tenho muitas preferências alimentares, gosto de tudo: comida tailandesa, francesa, cubana e até a comida que eu mesma cozinhava enquanto vivi no Canadá. Não posso dizer que prefiro a comida brasileira a  qualquer uma delas, porém quando como comida brasileira eu vivo emoções  incomensuráveis, quase indescritíveis.  É como se voltasse ao lar materno, é como retornar no tempo e no espaço! É o colo da mãe, da avó, daquela emprega querida que já virou membro da família, do irmão que sempre comia ao meu lado. No exterior, qualquer feijão com farinha de mandioca fica deliciosamente incrível.

Deve ser por isso que quando brasileiros viajam ao exterior gostam, de vez em quando, de dar um pulinho gustativo e por meio do paladar voltar ao lar. Para os brasileiros que alugam apartamentos quando vêm a Paris poder cozinhar é vantagem, se souberem onde encontrar as coisas certas. Caso contrário o cardápio pode se resumir a macarrão e poucas coisas familiares do supermercado mais próximo. Aí a vantagem vira um desperdício no país da gastronomia.

Interessante este mercado de apartamentos. Paris está virando uma cidade dormitório de turistas. Daqui há pouco ninguém mais consegue pagar um “ap.” na cidade. Falando com amigos do ramo e conhecidos que apelaram para este serviço constato dois tipos de brasileiros usuários do “sistema b”: aqueles que buscam economizar e aqueles que buscam viver como parisienses.

Geralmente os primeiros não partem satisfeitos, seus comentários (deixados no AirBnB por exemplo) denotam que esperavam mais da relação custo-benefício. Percebo que desconheciam as condições reais do que obtiveram, não tinham noção do que significa um apartamento antigo ( de 100 a 300 anos). Não sabiam, por exemplo, que em Paris há sempre uma poeira constante sobre os moveis. Ninguém explica porque, se o móvel é branco a poeira fica preta e se o móvel for preto a poeira fica branca, mas aqui é assim. Então os visitantes concluem que o apartamento foi entregue sujo. Depois vem o primeiro banho e a água acaba, aliás, os tanques de água de 300 litros constituem a primeira relação  dos turistas com a vida francesa e  os obrigam a se adaptar aos recursos locais bem rapidinho!  Como cantava a Rita Lee “choque cultural é normal, choque cultural é normal”. Estes costumam entregar o apartamento de volta deixando até sua louça para lavar, sem entender que a limpeza incluída no preço é a do apartamento e não da sujeira pessoal deixada pelos clientes. O que para o francês faz uma sútil diferença também. “…choque cultural…é ..normal”.

Já os que vêm para viver como parisienses, estes sim se divertem, riem da poeira, aproveitam também para dar um pulo no espaço e no tempo, curtindo o que há de antigo e histórico.

Quem não ri por enquanto somos nós agentes, os hoteleiros e também o fisco francês. Mas essa é outra estória.

Quanto a como encontrar arroz, feijão, farinha de mandioca e outros ingredientes da nossa terra em Paris, fica a dica: lojas indianas. O pulo do pulo no espaço, a viagem na viagem. Veja as fotos da passagem Brady no 10° distrito de Paris.

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Babado forte LGBT e simpatizantes. Imagens da Parada Gay de Paris

Uma só razão, porém, muitas tribos estavam presentes neste dia de festa. Festejava-se a liberdade de expressão do amor sob todas as formas.

Se você não for pudico, veja as fotos da “galera” colorida. Chamou-me atenção como a turma é heterogênea. Pensava encontrar estereótipos, mas não, a tarde foi um desfile dos mais variados tipos de pessoas, muitas “Mariannes” brandiam suas flamulas arco-íris como se a liberdade sexual fosse uma nova descoberta e precisasse ser defendida. Mas de fato, os arco-íris geométricos ao vento eram somente bandeiras festivas, celebrando uma condição humana outrora rejeitada, sufocada, vivida entre quatro paredes, em silêncio e que hoje, graças a manifestações como esta, começa a ser exposta sem desonra.

Para quem tem medo que a “doença pegue”(sic), fico feliz em avisar que recentes estudos provam que diferenças biológicas ( assimetria do córtex cerebral) são ligadas a orientação sexual e explicam a existência de distintos gostos em sua prática.

 

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Show aguardava os participantes da caminhada
Paris
A caminhada terminou na Place de la Republique
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Comunidade de Transexuais brasileiros presente em peso.
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No passado, enquanto francesas tinham pelos no suvaco, transexuais brasileiros davam aula de glamour feminino aos parisienses.
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Trans brasileiras chamando a atenção !
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Transexuais brasileiras, parte integrante do mito Paris!
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A transexual brasileira dando um show de beleza. Atras transexual francesa.

 

PS Marianne é uma figura alegórica da República francesa. A personagem Marianne encarna a República francesa e seus valores no lema: “liberdade, igualdade, fraternidade”. Marianne é um importante símbolo republicano e um ícone da liberdade e da democracia retradada com frequência por artistas franceses.

Abaixo a Liberdade guiando o povo de Eugène Lacroix 1830

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Agressões e confusões durante a greve de taxis em Paris

“Overwhelmed, Dépassée, Passada”! “Passada” foi a palavra mais próxima que encontrei para o que sinto hoje.

Poderia estar indignada, inconformada, mas não estou. Ou ainda poderia estar chocada. Poderia dizer estou pasma! Porém, a gíria “passada” explica bem meu sentimento atual. Puxa, tinha tanta coisa para contar neste post! Queria falar da festa da música, de Solidays, das liquidações que já começaram ou onde encontrar comida brasileira em Paris, no entanto vou falar da greve de taxis que começou nesta quinta, dia 26 de junho e continua hoje. A coisa foi séria!

Pois é, mais uma greve de taxis atingiu a cidade, explodiu como uma panela de pressão. Os taxistas estão defendendo seus direitos contra Uber, porém mais uma vez demonstraram falta de bom senso, cortesia e moralidade que os fazem famosos personagens entre os habitués da cidade. Estão defendendo seus direitos e, sobretudo seu dinheiro, visto que com a expansão de Uber as licenças de taxi que foram negociadas a milhões de euros entre os próprios taxistas passam a valer muito menos. Não há por parte dos taxistas preocupação com a relação entre a escassa oferta e a crescente demanda de transporte na cidade. Quem se importa se parisienses e visitantes não tem taxi, contanto que uma licença de taxi continue a ser revendida a 250 mil euros?

Outra coisa que está incomodando muito os taxistas são os VTC ( Veículos de aluguel com motorista). Como mencionei aqui anteriormente, a prática desta profissão exige uma reserva feita com antecedência por parte do cliente. Quem tem VTC não pode ficar no aeroporto oferecendo serviço de taxi, como fazem muitos motoristas sem trabalho fixo.

E como se já não bastasse essa concorrência local, há também a concorrência on-line. A quantidade de blogs e falsas empresas vendendo transporte em Paris na web é impressionante. Eu mesma vejo todo dia empresas inexistentes na França vendendo transporte para brasileiros em Paris. Não uma ou duas, várias! Enquanto isso, agentes de viagens brasileiros vendem traslados e serviços de transporte do amigo do amigo, da irmã da amiga, curtem blogs vendedores de serviços de viagem, sem saber quem é quem nesta selva do transporte que virou Paris. Receptivos costumam ser mais caros que a irmã da amiga ou o amigo do amigo que mora em Paris. Porque será, hein?

Conclusão: os taxistas fecharam as estradas e principais estações de trens nesta quinta-feira dia 25, atacaram aleatoriamente quem ia ao aeroporto prejudicando visitantes e trabalhadores do ramo de turismo. Carros foram vandalizados, passageiros agredidos e obrigados a caminhar quilômetros para chegar ao aeroporto, mesmo tendo comprado seu transporte em uma agência brasileira, como previsto pelas leis locais. Um absurdo! Enfim, ninguém mais sabe a diferença entre um perueiro e um receptivo de verdade, nem agentes de viagens brasileiros, nem taxistas de Paris?

Eu bem que queria apoiar esta causa, visto que como profissional da área do turismo também sofro com a pirataria e perueiros, mas infelizmente os taxistas daqui mostraram ontem que não merecem!

“C’est la vie!”

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Carro vandalizado durante manifestações
Gréve taxis Paris
Nenhum lado escapou.
Paris greve de taxis
Alguns caros foram queimados. No total 70 queixas de vandalismo e 6 prisões
Paris, gréve de taxis
Pedro Estevez, motorista VTC agredido na função de seu trabalho.
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Barricadas, agressões e VTC feitos de reféms obrigaram muitos passageiros a caminhar da estrada até o aeroporto para embarcar
Paris, gréve taxis
Viu a placa Soldes? O começo das liquidações não foram manchetes nesta quinta-feira.
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Tento imaginar os passageiros dentro do carro!
Paris, gréve taxis
Carro vandalizado durante transporte entre hotel e aeroporto de Paris

PS Já ia publicando o post, quando o telefone tocou, um colega buscava transporte ao aeroporto para 10 pessoas. Os passageiros não compraram traslado em agência, pensando que ficaria mais barato tomar taxi. Ops, os taxis estão em greve. “Eh bien!” Esses não tiveram a D.Leda (minha mãezinha) nem como membro da família, nem como a exímia professora que foi. Dona Leda sempre dizia: o barato sai caro!