Hoje ninguém mais se assusta ou se indigna com cenas de sexo explicito e violência nos meios de comunicação, mas as coisas nem sempre foram assim.
O poder e a moral na França sempre foram contestados, mas com a popularização da impressão as coisas ficaram sérias. E a partir dai o rolo compressor e no entanto, liberador da história não parou mais.
Molière , apesar de ser admirado por Luis XIV, teve Tartufo interditada e a versão que conhecemos hoje, sofreu cortes da censura religiosa da época.
Anos mais tarde, enquanto a burguesia descobria o Iluminismo, Voltaire ia e vinha da Bastilha. O autor obrigado a se exilar na Inglaterra, conseguiu lá e em outros países da Europa editar anonimamente obras contestarias do poder . Na França, era temido pelo reinado de Luís XV.
Na mesma época a Libertinagem ia de vento em popa com festas de cabide inimagináveis nos dias de hoje. E dos salões burgueses ou bordeis luxuosos transcreviam-se para as folhas de papel historias relatadas ou inventadas, para a grande desavença do clero.
Panfletos revelando ou inventando luxurias e imundices sobre Maria Antonieta ajudaram muito os revolucionários a cortar as cabeças reais com apoio do povo crédulo e faminto.
Isso sem falar em Marat e sua militância sanguinária, convidando a massa popular a fazer justiça com suas mãos, foices e ancinhos.
Muitos documentos foram queimados, as vezes até por seus proprietários temendo a repressão real ou da igreja.
A primeira obra literária que ganhou a menção infernal data de 1844 e com ela nasceu o departamento mais voluptuoso da Biblioteca Nacional da França, o Inferno.
Ali, obras outrora clandestinas ou impressas no exterior encontraram um lugar onde podem descansar pacificamente. Durante muito tempo escondidas do publico podem ser descobertas sem autorização especial ou carta explicativa, como exigiu-se até os anos 60. Textos e livros como Os furores uterinos de Maria Antonieta, esposa de Luís XVI;120 Dias de Sodoma do Marques de Sade ;A Filosofia na Alcova; Franceses, Mais um Esforço Se Quiserdes Ser Republicano, repousam ao lado de desenhos eróticos mais recentes de autores como Jean Cocteau e Paul Verlaine. Temas como a auto-flagelação, erotismo, militância revelam os conceitos da moralidade através dos séculos e esperam a todos, santinhos e safados no Inferno de Paris.
Nota Voltaire esteve preso duas vezes na Bastilha, antes de exilar-se na Inglaterra.