França vista pelos parisienses ou Paris Porto Seguro

foto pan rotad

Muita gente escolhe trabalhar no turismo porque gosta de viajar, esperando obviamente que a carreira proporcione muitas viagens. Eu escolhi esta profissão quando trabalhava como assistente social, auxiliando mulheres imigrantes que sofriam problemas de violência familiar. O trabalho era um verdadeiro desafio, pois apesar de todo empenho para inverter situações infelizes, muitas vezes a vitima tinha recaídas e o trabalho se perdia como cinzas ao vento.
Eu queria resultados e por isso resolvi utilizar meus conhecimentos em línguas estrangeiras e minha aptidão à resolver problemas para auxiliar esta magnifica clientela que chamamos de turistas.

Hoje, quando vejo um pretendente a um emprego no ramo e sobretudo para aqueles que desejam integrar minha equipe de trabalho, o primeiro aviso é: enquanto outros viajam, nós trabalhamos! Mas verdade seja dita: adoro viajar! E a cada viagem além de me divertir, aprender, relaxar, também aprimoro minha profissão.
Parti do Brasil para o Canadá aos dezoito anos de idade com essa esperança: correr o mundo. Porém, com o passar de poucos meses outras necessidades tornaram-se prioritárias.

Moro fora do Brasil há 30 anos e nunca imaginei que viver em Paris,onde estou há quase 10 anos, me levaria a viajar tanto. Férias escolares a cada dois meses e habitações exíguas obrigam. Há ofertas de ultimo minuto incríveis, em 2 anos fiz quase todos os cruzeiros oferecidos no Mediterrâneo e Oriente Médio gastando menos do que gastaria se tivesse ficado em Paris, sobretudo com formulas all-inclusive.Sendo assim, aqui de Tenerife, onde estou agora passando estas férias de “Finados” achei apropriado mostrar a França vista pelos parisienses. A imagem diz tudo. Mas não minimizem a nota em vermelho: Plus belle ville du monde! Você sabe o que isso quer dizer?

O porteiro, a Danuza e a cabala- Yud Yud Zayin

escola na franca

 

Há muito tempo li a Danuza dizendo que Paris já não era a mesma: Seu taxista era um chinês e não mais um francês fumando uma “Gitane” bem fedida. Ai que triste!!!

Foi ai que comecei a desconfiar que Danuza não entendia nada de Paris. Depois do polêmico artigo que escreveu na Folha sobre a cidade e o proletariado, fiquei muito feliz que ela tenha decidido ficar em casa lendo. Já que em Paris ela não aprendeu nada sobre a raça humana, igualdade e direitos, quem sabe se lendo em casa aprenderá. Enquanto isso eu ficarei em Paris, dando as boas vindas aos porteiros e qualquer outra pessoa que consiga pagar para vir até aqui…

O artigo da Danuza me interpelou de tal maneira que não pude deixar de pensar: essa mania de brasileiro de se achar o melhor povo do mundo tem que mudar! Sim somos simpáticos, sorridentes e informais, mas quantos são assim somente com pessoas da mesma classe ou de uma classe considerada superior a sua? Quando falamos com as pessoas que nos servem raramente somos solícitos, educados, finos como a Danuza e a classe que ela representa pensam que são.

Mas a Danuza tem razão, é melhor mesmo que o porteiro e sua classe não cheguem a Paris. Já imaginou se todos esses letreiros em todos os edifícios públicos dizendo “liberté, egalité et fraternité” dessem idéias francesas à esse povo? Já imaginou o proletariado brasileiro colocando a cabeça de pessoas que os discriminam em ancinhos para desfilar no Carnaval em uma versão tropical da Revolução? Ou pior ainda Danuza, já imaginou seu porteiro estralando os dedinhos para te chamar com toda a simpatia da classe alta ? Clac clac com os dedos: – Danuzinha deixei uns amigos subir lá no seu apartamento, você será a mais exclusiva das socialites e quem sabe ainda poderá aprender com eles umas coisinhas.

Em vista da antiga afirmação de que Paris havia mudado, há muito tempo queria dizer à Danuza que é justamente este traço que caracteriza Paris. Paris nunca foi a Paris que a Danuza viu. Ela pensou que Paris era aquela cidade que viu nos anos 70/80 e nunca soube que Paris dos parisis , não era Lutecia dos romanos, que  a Paris de Genoveva enterrou Lutécia , que Paris de Felipe o Belo não tinha nada a ver com Paris de Branca de Castilha, e o que dizer de Paris após a passagem do Barão de Haussman? Ah! O Louvre também mudou, tem uma pirâmide de vidro no meio do pátio já ha algum tempo.

Para aqueles que, como a Danuza, não virão a Paris visto que agora todo brasileiro rico ou pobre pode vir, fica aqui a minha dica de leitura:
72 nomes de Deus;
Yud Yud Zayin- Usando as boas palavras
Com este nome eu calo meu ego. Aperto o botão “mudo”. Agora peço para A Luz (divina) falar em meu nome, em todas as ocasiões, assim cada palavra elevará minha alma e toda minha existência.

Lamed Aleph Vav -A grande fuga
Este  NOME traz a melhor de todas as liberdades, escapo dos desejos construídos pelo meu ego,inclinações egoístas e o “eu primeiro” de minha mente que causa tristezas em minha vida. No seu lugar eu ganho os verdadeiros presentes de vida: amigos, família e realização.

Paris de todos os Santos.

Como eu sempre digo, Paris tem turismo e histórias para todos os gostos. Além dos Reis Malditos, muita gente bendita andou por aqui.

Poucos pensam em explorar turisticamente o caráter religioso da cidade e, no entanto, nada me aproximou mais de certos personagens religiosos conhecidos em minha infância que viver em Paris. Não que eu tenha sido muito religiosa, mas quem nunca ouviu falar de uma instituição de caridade chamada São Vicente de Paulo? Aliás, você sabe por que há tantas instituições com este nome no mundo? Quem nunca ouviu falar de Santa Terezinha de Jesus, ainda que em uma canção infantil?

Mesmo aqueles turistas que vêm hoje e pedem para conhecer Lisieux, lugar onde nasceu Santa Tereza em 1873, muitas vezes desconhecem que a pequena santa era devota de Nossa Senhora das Vitórias e que a ela rendia graças na basílica do mesmo nome localizada no centro de Paris, no distrito 2. Graças a uma novena que mandou rezar seu pai na Basílica de Notre Dame des Victoires, Terezinha teve visões da Nossa Senhora e encontrou cura e alivio para uma doença que a assolava.

Lugar de alto culto “Tereziano”, a Basílica Notre Dame des Victoires mantém viva a chama da criança que foi devota de sua santa padroeira e nela encontrou inspiração. Todos os anos, no mês de maio a basílica recebe as relíquias de Santa Tereza para a adoração e realiza uma novena com o tema “A Família”. As paredes do lugar são cobertas com mais de 37000 ex-votos em mármore com agradecimentos a Nossa Senhora, inclusive dois ex-votos com palavras da própria Terezinha.

Paris
Os devotos pais de Santa Tereza
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Fachada da Igreja Notre Dame des Victoires 1639
Ex-voto Paris
Ex-votos de 2013
Oratório de Santa Terezinha
Igreja Notre-Dame des Victoires Ex Voto
F.H. Raptado no “Tuileries” com dois meses dia 16 oct. 1859, encontrado a Orléans dia 21
Igreja Notre-Dame des Victoires Paris
Igreja Notre-Dame des Victoires coberta por mais de 37 000 ex-votos
Ex Voto Paris
Lendo o (ex_voto) n° 2205 Oh Virgem Maria eu senti a confiança emergir de minha alma; eu também pedi pelo meu irmão e vós o salvastes. Outubro 1863
Ex Voto Paris
Durante os 20 anos de explorações mineralógicas passadas no fundo da Sibéria, só, as vezes face à morte … Eu rezei à Santa Virgem e ela sempre veio ao meu auxilio 1869

Já São Vicente de Paulo, teve uma vida fascinante antes de se juntar à corte da rainha Margot. Vítima de um naufrágio em um navio mercante, prisioneiro durante anos na Tunísia, fugiu e chegando na França logo integrou uma comitiva papal. Já não bastasse a sorte, foi escolhido pelo papa para levar uma mensagem à Paris para rainha Margot, filha da falecida Catarina de Médici, onde ficou a seu serviço. Foi com o dinheiro da rainha que o padre Vicente começou a fazer caridades. Margot ficou conhecida na história como uma jovem princesa desvirtuada, Catarina, sua falecida mãe, como supersticiosa e má, então eu me digo que a soberana tentava reparar a situação, seja a da população , seja da própria família junto a Deus, através do dinheiro que dava ao padre Vicente e aos pobres.

E assim, com algumas freiras, o Padre Vicente inventou a primeira instituição de caridade do mundo que chamou de “Les Filles de la Charité”! Muitos lugares da cidade têm lembranças de São Vicente, como a Igreja Saint-Eustache perto do Halles de Paris, onde viveu. Sem duvida a mais importante lembrança de São Vicente está na capela dos Lazaristas ou de São Vicente onde o próprio santo se encontra exposto em seu ataúde de ouro. Aliás, situa-se logo ao lado da Igreja da Medalha Milagrosa, outro ponto importante para os católicos do mundo inteiro.

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Ataúde de São Vicente – Capela dos Lazaristas

A Capela da Medalha Milagrosa é o maior lugar de peregrinações internacionais de Paris. Neste lugar em 1830 a Virgem Maria apareceu à Santa Catarina de Labouré, uma noviça das “Les Filles de la Charité”, para apresentar-lhe a idéia de criação uma medalha protetora. Segundo as irmãs que mantêm o lugar “o simples objeto, destinado a todos sem exceção, resume, pelo seu rico simbolismo, os mistérios da fé cristã”.

Conta a história que quando estoura em Paris, em fevereiro de 1832, uma epidemia de cólera, fazendo mais de 20.000 mortos, as Filhas da Caridade começam a distribuir as primeiras medalhas. As curas multiplicam-se, assim como os sinais de proteções e conversões. O povo de Paris chama então a medalha de “milagrosa”.

Conhecido pátio dos milagres de Paris, a Igreja da Medalha Milagrosa recebe ainda hoje peregrinações de milhares de devotos e segue concebendo sua graça aos cristões e turistas que levam sua medalha para casa.

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Igreja da Medalha Milagrosa
Interior da Igreja da Medalha Milagrosa- Paris
Interior da Igreja da Medalha Milagrosa
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Dizeres de Santa Tereza
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Calendário Peregrinação

Estes são alguns personagens do meu imaginário infantil e religioso com os quais tenho impressão de conviver “virtualmente” desde que vivo aqui.

Há também, São Luiz, rei da França, organizador de cruzadas e responsável pelo acesso aos cristãos ao tumulo do Cristo durante a idade média.

E é claro, Santa Genoveva, criança riquíssima que fez voto religioso aos nove anos e tornou-se a solteira mais abastada e carola da cidade no século V. Em 451 dc, aos 28 anos, Genoveva salvou a cidade do devastador Atila rei dos Hunos, e mais tarde de Clovis-o-franco a quem converteu e corou como primeiro rei cristão da França em 481.

A própria Genoveva era devota de São Dionísio, catequizador e primeiro bispo de Paris decapitado pelos romanos em Montmartre, que teria corrido oito quilômetros com a cabeça na mão. No lugar onde caiu São Dionísio em 250 dc, Genoveva duzentos anos depois construiu um oratório, que se tornou o sepulcro de todos os reis franceses, a magnífica Basílica Saint Denis. Inclusive a decapitação de São Dionísio marcou o início do declínio do Império Romano na região e 100 anos mais tarde Lutèce passou a chamar-se Paris.

Um só post não será suficiente para falar de todos os santos ou personalidades divinas de Paris, de São Dionísio, passando por Santa Tereza, São Martinho até Alan Kardec, como eu disse no inicio do post, há para todos os gostos e até mesmo crenças.

 

PS

Catarina de Médici -rainha regente viveu de 1519 a 1589, hipóteses lhe acusam de ser a mandante do massacre da São Bartolomeu

Parisis-tribo gaulo-celta habitante na região 200 anos antes de Cristo.