Festas reais e histórias macabras

Versalhes e Vaux Le Vicomte, 2 capítulos da mesma história.

Devido às diferenças climáticas acentuadas, as quatro estações ditam muitos dos costumes e práticas locais. Venho escrevendo sobre parques e atrações estivais desde a primavera. Em setembro será a volta as aulas* e outubro as mesmas atrações encerrarão a temporada sob uma temperatura outonal.

Por isso agora é hora de aproveitar de algumas dessas imperdíveis atrações e eventos ! Dois grandes clássicos ainda desconhecidos da clientela brasileira são os espetáculos noturnos de Versalhes e do Castelo de Vaux Le Vicomte.

VERSALHES

Versalhes recebe milhares de visitantes nos sábados a noite para admirar seus jardins, bosques e fontes iluminadas. Durante algumas poucas datas pode-se inclusive visitar o Castelo antes do passeio ao jardim e assistir a um sarau musical. No final da noite fogos de artifício encerram a visita.

Lembrando que Versalhes foi construído por Luís XIV, o rei Sol, o rei mais glamoroso, ostentador e um dos maiores amantes das artes que a França conheceu. Versalhes foi o último castelo construído pela monarquia absolutista e sua construção por si só explica seu declínio.

O passeio é fantástico, as fotos mostram mais beleza que minhas palavras poderiam descrever.

Eaux NocturnesCredit de Givry Fountain Night Show@ T NAvA Fountains Night Show@ N Diaye Fountains Night show-copyright Gde Givry Fountains Show 2-copyright JC N'Diaye

VAUX LE VICOMTE-A PRISão de FOUQUET

Já poucas pessoas sabem que Versalhes só existiu por que Luís XIV apaixonou-se por Vaux Le Vicomte, construído por seu intendente das finanças Fouquet.

Após a festa de inauguração do castelo em 1661, Luís partiu indignado. Como seu intendente tinha um castelo tão bonito? Luís XIV tomou então uma decisão que mudou o curso da história da França: Decidiu se ocupar pessoalmente das finanças do reino, mandou Dartanhã  e seus colegas ( sim Dartanhã o mosqueteiro sobre quem escreveu Alexandre Dumas dois séculos mais tarde) darem um sumiço perpétuo no Fouquet e convocou os arquitetos, artistas e decoradores de Vaux Le Vicomte para construir Versalhes.

o máscara de ferro: ABSOLUTISMO E ILUMINISMO

Em 1703 um homem é enterrado após anos de reclusão sob uma máscara de ferro. Seria ele Fouquet? Voltaire escreve sobre o fato denunciando veemente a monarquia sob o reino do rei Sol. Começa o Iluminismo. Em 1789 saem de Versalhes Luís XVI e Maria Antonieta acusados de abuso de poder e obscurantismo pelo povo revolucionário para serem guilhotinados**.

Enterrado em 1703 ,apos anos de reclusão o mascara de ferro seria Fouquet?
Enterrado em 1703, após anos de reclusão o máscara de ferro seria Fouquet?
Voltaire ataca a monarquia e o poder absoluto
1703 Voltaire indignado ataca a monarquia e o poder absoluto
Guilhotina, simbolo de igualdade e misericordia. Morrer enforcado ou esquartejado era muito pior.
Guilhotina, simbolo de igualdade e misericordia. Morrer enforcado ou esquartejado era muito pior.

Nossa! Falávamos de festas estivais e fomos parar na queda da monarquia e o inicio da 1° república. Assim é Paris.

O RENASCIMENTO DE VAUX LE VICOMTE E SUAS FESTAS

Após mais de um século de turbulências politicas, da queda do Império de Napoleão e em presença de uma nova república Vaux Le Vicomte abandonado teve somente um candidato à compra quando leiloado em 1875, o afortunado industrial Alfred Sommier. Hoje os descendentes da família se dedicam a conservar e manter este patrimônio histórico e sua beleza original. E por esta razão organizam além das visitas regulares eventos temáticos.

Também aos sábados à noite, o Domínio de Vaux Le Vicomte  recebe visitantes para a exploração do castelo e jardins iluminados assim como para um jantar a luz de velas. Duas mil velas iluminam os jardins, as fontes e o exterior do castelo. Para o jantar: salada de frutos do mar e lagosta como entrada, medalhão filé mignon com batatas e degustação de sobremesas variadas para terminar ( o café gourmant).  E para despedida “la grande finale” com fogos de artifícios.

Vaux le Vicomte K Jardin depuis le Dôme - Garden from the Dome L DSC00058 Chambre du Roi - King's bedroom 196 148 (2) 128 (2)

Com festas como estas para os sábados a noite não há em Paris quem não fique feliz.

 

PS **Calculam-se 40 mil vítimas da guilhotina entre 1792 e 1799. No período do Terror, entre (1793 e 1794), constataram-se 15 mil mortes na guilhotina. A última execução com guilhotina na França foi em 1977. A pena de morte foi abolida em 1981.

* E por falar volta às aulas, antes que isso aconteça estou dando uma saidinha, volto em 15 dias. Até lá!

 

O Parque Asterix, uma divertida viagem no tempo.

Nunca foi tão fácil e divertido aprender história.
Enquanto as crianças voltam  às aulas no Brasil, aqui as férias escolares de verão estão de vento em popa. E como algumas atrações abrem somente durante a temporada de verão ou férias escolares vamos continuar falando sobre uma delas.

Asterix, Obélix e seus amigos gauleses, criados pela dupla Goscinny e Uderzo, recebem visitantes de todas as idades num ambiente mágico e extraordinário.
As inúmeras atrações estão situadas em seis diferentes universos históricos: A Gália, Roma, Grécia, o Egito, o mundo Viking e a Belle Époque. O quotidiano destas civilizações, sua arquitetura, costumes e culturas servem de cenário para muita diversão em trinta e cinco brinquedos dos mais familiares, até os mais radicais. Além disso, as peças de teatro e animações contam com os melhores criadores e artistas do ramo: pantomima, comédia ou simplesmente o encontro com os personagens do famoso desenho, tudo é diversão e cultura.
Este ano as novidades são as atividades instaladas na floresta que cerca o parque, cinco atrações e duas áreas de repouso em plena natureza.

Eu e minha família gostamos muito deste parque porque além da originalidade, da beleza e da convivialidade, as filas para os brinquedos tem tamanho humano e os seis restaurantes oferecem comidas boas e variadas. É possível também levar seu pic-nic e utilizar as áreas disponíveis para estes fins. Um verdadeiro parque familiar!
O Parque Asterix dispõe ainda de um hotel, o Hotel des Trois Hiboux ( Hotel das Três Corujas) que oferece espaços amplos com uma decoração rustica de muito bom gosto. O estabelecimento está situado também em plena floresta. Não oferece muitas comodidades, mas as crianças ficam felizes em brincar com seus novos amigos e recentes fantasias adquiridas no parque. Sim, por que além da diversão há lojinhas. E quem resiste a ser um viking, um gaulês ou ainda uma princesa de outrora?
Para ter uma pequena idéia da dimensão cultural e do ambiente não deixe de visitar o site e ver um pouco de cada universo http://www.parcasterix.fr/univers.

La Galère
La Galère

O Roubo da Gioconda
Peça de Teatro O Roubo da Gioconda

Personagens
Personagens

Le Grand Splash
Le Grand Splash

Escadrille de As
Escadrille de As

Restaurante Fartura Romana
Restaurante Fartura Romana

Há férias escolares de 2 semanas a cada três meses que se intercalam entre diferentes regiões da França. Há muitas férias e dias de parques abertos. Em caso de duvida consulte o calendário do parque disponível no site.

As aparências enganam, até em Paris.

Alguns grandes segredos desta maravilhosa cidade não são constituídos de mistérios políticos e históricos, mas sim, turísticos. Paris é a mais linda cidade do planeta feita pela mão do homem, já ouvi Valter Patriani em discurso comparando-a com o Rio de Janeiro, a cidade mais linda do mundo feita pela mão de Deus. E eu assino embaixo.

Quando os turistas chegam podemos dar as boas vindas com convicção: Em Paris você fica feliz!

Apesar de tudo, Paris não é o Paraiso, ainda que somente duas letras nos impeçam de desfrutar deste imenso privilégio que deve ser morar no “Paraiso”.

Prova disso, que apesar de termos a melhor culinária do mundo, os melhores vinhos, os melhores criadores de moda, a Torre Eiffel, a Notre-Dame de Paris, o Arco do Triunfo, crepes fantásticos, a exclusividade sobre o champanhe, o queijo camembert e outras delicias mais, há, apesar de tudo, uma ou duas coisas ruins em Paris. E hoje eu vou surpreender vocês falando sobre uma delas.

A semana passada eu recebi um amigo que conheci quando trabalhávamos no Cirque du Soleil. A primeira coisa que ele me pediu foi que reservasse o Moulin Rouge. Fiquei muda, mas não podia recusar-lhe este sonho. Aliás, sonhos de muitos turistas. Horas depois ele me ligou dizendo que tinha convites com desconto. Conclui que meu amigo havia se tornado muito importante, pois na ultima feira de turismo quando solicitei um pendrive souvenir do Moulin para dar a um agente de viagens brasileiro em visita fui esnobada, que dirá se houvesse pedido entradas com preços reduzidos. O estabelecimento é famoso por recusar pedidos de cortesia para agentes de viagens, já ouvi da boca de uma funcionária que com a sala sempre cheia não precisam muito da nossa classe de trabalhadores.

Reserva confirmada, lá fomos nós. É a 5° vez que eu vejo este mesmo show porque todo mundo que me visita quer ir vê-lo. Na chegada fomos encaminhados para a recepção onde informamos ao recepcionista nosso numero de reserva e condições de pagamento. N° 208, 50% de desconto. Para nossa surpresa o recepcionista se pôs a balançar a cabeça. Humm! Mal sinal! Meu amigo começou a discar para seu contato na empresa onde trabalha atualmente, enquanto o recepcionista me avisava: -A única reserva que tenho hoje com estas condições é para 3 pessoas e não 2 e o numero é o 280. Ele não podia imaginar, mas na hora eu desvendei o mistério: Se há uma só reserva como esta e os dígitos são os mesmos… – Sim, somos nós!

-Quem lhe convidou? Perguntou o recepcionista.

-Helène respondemos. Mas quem garante que ele a conhece? Pensei eu!

-Foi o Fulano de Tal? Retrucou o recepcionista, ignorando minha resposta.

-Fulano de Tal? Bom, digamos que foi ele. – Sim foi provavelmente por intermédio do Fulano que Helène adquiriu os convites, afirmei com certa hesitação.

E assim passamos a recepção para chegarmos a outro balcão aonde ai sim, nosso numero de reserva foi reconhecido como tal: – Quem foi que lhe convidou? Disse o segundo atendente enquanto eu olhava um pires no balcão como sinal de pedido de gorjeta e me perguntava: o que este pires de madame pipi** fazia ali.

E lá vamos nós de novo: -Je ne sais pas! O Fulano, peut-être?

-Ok, disse o atendente que não recebeu nenhuma gorjeta no pires cedendo o lugar ao « maitre » para nos levar até a entrada da sala e nos entregar, por sua vez, ao garçom que nos levaria até nossa mesa.

Onde esta o senhor Henry pensei com meus botões?* O desconhecido não falou para ter cuidado com o degrau, como o fazem em outros cabarés, mas no breve encontro com seu colega não se esqueceu de mencionar: -São convidados do Fulano. Seguimos o garçom até nossa mesa e antes de deixar-nos o garçom perguntou outra vez quem havia nos convidado, antes de nos posicionar em uma mesa longa entre dois casais. Um bom lugar, para os padrões locais.

Já não se fazia necessário tecer comentários sobre o serviço ao meu amigo. Quis falar-lhe quais eram minhas reticências sobre o espetáculo, mas combinamos que falaríamos depois do show, para evitar qualquer influência.

Vou poupar-lhe caro leitor toda minha critica artística, visto que não é minha especialidade. Não tive também que falar nada ao meu amigo. Ele próprio foi direto na principal razão de minha já mencionada reticência. O playback é no mínimo duvidoso e por acaso naquela noite foi muito mal feito por certos artistas. Será que os falsos microfones iludem alguém ou somente reiteram a impressão que estamos sendo enganados? Há bons cabarés na cidade, na realidade todos subsistem graças à fama do Moulin Rouge, porém parece que o Moulin parou de fazer esforços para agradar enquanto os outros seguem se aprimorando.

Felizmente, preocupada em que meu amigo conhecesse um bom cabaré mais cedo liguei para a comercial de um cabaré concorrente. Como trabalho no trade, fui convidada. Fizemos uma maratona, um espetáculo as 9h00 e outro as 11h00.

Querido leitor, confesso que como aprendi que se não há nada de bom há dizer sobre alguém fique calado, há dois dias não durmo pensando neste post. Mas não me agrada a sensação de que outras pessoas paguem para ver este espetáculo e que possam se decepcionar como meu amigo se decepcionou. Juntando o fato de que nunca me trataram bem e que escrevo para clientes em potencial deste estabelecimento, comecei a achar que como diria o autor tão amado pelos franceses: Paulo Coelho, “o universo conspirou” para que esse  segredo fosse desvendado.

Moulin Rouge
Fachada Moulin Rouge

French Can Can
French Can Can

*O senhor Henry, chefe de recepção do Moulin durante muitos anos, partiu devido a um derrame cerebral. Senhor Henry, este é uma homenagem ao senhor, pois mesmo que não possa ler fica aqui meu testemunho, o senhor está fazendo falta por lá.  Inclusive tenho certeza que os “meninos” estão um pouco perdidos com sua recente partida, mas logo reencontrarão o característico rigor da sua “brigada”.
**Mme Pipi é a senhora que fica nas portas de toaletes públicos ou privados e recebe 0,50 centavos de euro a cada vez que alguém vai usar o recinto.