Raul, 75 anos, agente de viagens em extinção, você perguntou, aqui vai minha resposta.
O que acho do IRRF?
O IRRF me faz sentir algo já conhecido, um sentimento de “Déjà vu” meu amigo. Raul perdoe a intimidade, mas um desabafo desses, só mesmo para um amigo.
Como você, constato mais uma vez a incompetência de nossos governantes. Fico muito triste pelas pessoas que estão perdendo seus empregos. Fico preocupada com meu emprego.
Fico angustiada com essa sensação de impotência diante do tamanho da problemática e até mesmo em face das inadimplências. A mesma angústia e impotência que sinto ao ver uma criança na rua, a desigualdade que reina neste mundo e de como age este monstro sedento que precisa de mais e mais pobres para saciar sua sede de obscurantismo. Há dias que sinto o peso das instituições financeiras em minhas costas, assim como nas costas de milhares de pessoas desta humanidade.
Porém Raul, onde vivo, patrão é tratado como vaca leiteira pelo governo e com desprezo pela classe trabalhista. Prima à norma do “dividir para melhor reinar”. Enquanto isso gastam verbas astronômicas em festas e comemoram o crescimento de meia dúzia de grandes empresas, querendo acreditar que bastará aos reles mortais que somos viver felizes nas classes C e D, pagando tudo a prazo e com juros incomensuráveis!
Sendo assim, as atitudes deste governo brasileiro somente se inscrevem num amplo quadro de irresponsabilidades de governantes mundiais e na regra da Causa e Consequência.
O mundo está comendo mau graças a interesses financeiros de minorias. A Coca- Cola está secando as águas do México, conservantes e colorantes E 440 e toda sua família são cancerígenos, sementes Montsanto (das quais depende o Brasil) são estéreis, pesticidas são cancerígenos. Mas quem escolhe o que vende e o que come ?
O mundo está em guerra graças a avidez de vendedores de armas e voracidade de governos produtores bélicos. Mas quem fica mudo diante de tal evidência?
O mundo vai comprar todo gênero de bens e serviços de baixa qualidade de grandes empresas que tem proteção de governantes, acordos mundiais, subsídios e verbas fenomenais. Mas quem se esqueceu de transmitir a seus filhos valores morais e só anda desesperado por preços na hora da compra e por ganhar dinheiro acima de tudo? Quem prefere ser bom profissional antes de ser uma boa pessoa?
Raul sabia que caminhar, correr e nadar são atividades que fazem um cidadão feliz porque produzem no corpo humano endorfina? E isso é de graça. Mas quem é vitima da moda e acredita que Android, I-Phone e carro são essências para a realização do indivíduo? Seriamos nós prisioneiros alienados de um sistema monetário? Já ouviu falar: Quem semeia vento recolhe tempestade?
Então, vem mais uma gota neste poço de asneiras. Uma verdadeira catástrofe para um mercado tão fragilizado. Em curto prazo vamos sofrer, mas vamos nos adaptar, sobreviver como sobrevivemos a tantas outras crises. Quem já viu esse Brasil sob o AI-5, em crise inflacionária, com infindas mudanças de moeda, quem já viu Fernando Collor, Paulo Maluf, quem assiste o noticiário diariamente, não se assusta com mais nada. Estaríamos apopléticos?!! Ou de mãos amarradas?
Quando chego à beira do abismo da razão, aí então, eu respiro fundo. Vou dar uma volta pelas ruas ou em minha memória para lembrar que o Homem é um ser fascinante, a natureza magnânima. Lembro-me da floresta amazônica destruindo a Transamazônica. Que perda de dinheiro, que luta contra a natureza. E finalmente conseguimos desmatar! E aí me recordo: cada civilização chegando ao ápice do que pensava ser sua glória, graças à gargantuesca ignorância entrou em colapso. Raul, eu só estou arregaçando a manga e me preparando para o que der e vier.
Eterna otimista que sou, eu tenho fé. Chegaremos ao ponto culminante da nossa estupidez em breve e assim as novas gerações, mais informadas, terão a oportunidade ( para não dizer, serão obrigadas) de reconstruir um mundo com melhor partilha de bens, melhor aproveitamento dos recursos naturais, mais responsável, amigável e mais focada no bem estar do Homem.
Enquanto isso não acontece, vou superando as angústias ocasionadas pelo IRRF e tantas outras besteiras à minha volta graças ao meu lema: fazer mais e o melhor possível com menos e com o pouco que temos! Sem esquecer que esta vida é uma lição de desapego.
Feliz semana Raul e a todos queridos leitores
PS: Nestas horas de mudanças no PanRotas e de despedidas, escrevo aqui o que reflete sempre meus sentimentos nestes momentos de adeus: Ce n’est qu’un au revoir, mes amis, ce n’est qu’un au revoir… *
Esse é somente um “até mais ver” meus amigos, somente um “até mais ver”…