Espelho, espelho meu

Talvez 70% dos posts sobre a Praia do Espelho levem esse título, mas não dá para pensar em outra frase depois de visitar esse lugar. Cresci acompanhando as avaliações do finado Guia Quatro Rodas – minha referência preferida no tema –, e sempre tive curiosidade de conhecer uma das praias “5 estrelas” recomendadas pela publicação (a única representante da Bahia, inclusive). Seria de fato a melhor praia do Estado com o maior litoral do Brasil?

Oportunidades para descobrir a resposta não faltaram. Porém, como se estivesse me lembrando de que as melhores coisas da vida não chegam facilmente, a Praia do Espelho precisava colocar algum obstáculo para que eu finalmente a conhecesse: no caso, a chuva.

O vilarejo, situado a cerca de 50Km ao Sul de Porto Seguro, infelizmente tem um acesso de terra batida que pode ficar intransitável em dias de chuva (eu mesmo já havia tentado chegar lá duas vezes, ambas sem sucesso). Por isso, se estiver na região e desejar visitar o Espelho, nunca, jamais, e sob nenhuma hipótese deixe de se informar quanto à meteorologia e as condições da estrada. Seja esperto e não dê viagem debalde.

Já no último mês de setembro, para a nossa alegria, durante a press trip organizada pela Secretaria Municipal de Turismo, não havia sinais de fortes chuvas nos dias anteriores: entramos na van e seguimos rumo à Praia do Espelho. A estrada é uma continuação da rodovia que liga Arraial d’Ajuda a Trancoso, e vai até o povoado de Caraíva (outro tesouro que vem ganhando cada vez mais fãs). Sim, a pavimentação poderia ser melhor, mas aí fica a dúvida se o lugar ainda manteria o seu charme, ou se a sua maior virtude seria justamente a exclusividade garantida pela dificuldade do acesso.

Honestamente, fico com a segunda opção. De fato, a Praia do Espelho é maravilhosa, cercada de falésias e tem belíssimas piscinas naturais, mas outras praias da região – como a de Pitinga, em Arraial – são tão lindas quanto. Em compensação, é claro que o clima no Espelho é outro, e ainda que visualmente não esteja tão à frente das demais, vale se jogar numa excursão de um dia para conhecer esse paraíso – principalmente porque se hospedar por lá não é para qualquer bolso: mesmo numa pousada das mais simples, há diárias que podem custar até R$1000.

Não deixe de caminhar. Há muito a ser visto, fotografado e experimentado. O banho de mar em um ponto pode ser diferente de outro, assim como as paisagens proporcionadas pelas falésias e as espreguiçadeiras das várias barracas da praia.

Falando nas barracas, é importante que se diga que elas merecem um capítulo à parte. Apesar das inconvenientes taxas de consumação mínima, cada uma é a fiel representação do charme rústico que deu fama ao lugar. Se o orçamento não estiver folgado o suficiente para a hospedagem, fique ao menos com a experiência de passar o dia por aqui.

E para que fique claro, os passeios das agências não levam exatamente para a Praia do Espelho, e sim à praia de Curuípe, onde estão os estabelecimentos com melhor infraestrutura. Para chegar ao Espelho propriamente dito, você precisa andar em direção ao lado direito da praia, cruzar o rio e seguir até a outra ponta da pequena enseada.

Tivemos ainda a chance de visitar a Pousada Bendito Seja – um desses lugares que parecem ter saído de um filme de comédia romântica com Julia Roberts. Lógico que a gente já chegou perguntando se rolava desconto pra jornalista ou se aceitava vale-refeição na baixa temporada, mas não colou.

O único arrependimento foi não ter conseguido subir num dos mirantes, estrategicamente localizados no topo das falésias. Com mais tempo, disposição e clima favorável, a vista não seria nada mal: