O futuro é agora: da ficção científica à realidade

Em setembro, nós, da Associação Latino Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas (ALAGEV), realizamos o LACTE LATAM Buenos Aires, na Argentina, encontro que promove conexões significativas entre os participantes e fornecedores do setor de turismo da América Latina. O evento contou com a palestra “O futuro do trabalho: impactos da inteligência artificial (IA) e a nova era da colaboração homem-máquina”, com Ronan Damasco, diretor nacional de tecnologia da Microsoft. O profissional fez uma apresentação em português que automaticamente na tela captava as palavras ditas no microfone e criava uma legenda em espanhol para os participantes argentinos entenderem o que estava sendo mostrado. Ou seja, a comunicação com o público fluiu de forma simultânea e sem ruídos de compreensão. 

Esse é um exemplo dos benefícios da tecnologia. De acordo com a pesquisa “Perspectiva de dados + IA 2023”, fornecida pelo Databricks Lakehouse e realizada com 9 mil clientes globais da marca, a humanidade está na era dourada dos dados. Nos meses após o lançamento do ChatGPT, chatbot on-line de inteligência artificial desenvolvido pela OpenAI, nós acordamos para as inúmeras possibilidades dessa plataforma. O ritmo frenético das descobertas, as melhorias de cada modelo e as estratégias para alavancar os negócios foram pautas em diversas conversas. 

Segundo o estudo, esses sistemas inauguram a próxima geração de inovação de produtos e softwares. O número de empresas que usam APIs, conjunto de padrões que fazem parte de uma interface, de LLM SaaS (Software-as-a-Service baseado em Large Language Models), usados para acessar serviços como ChatGPT, aumentou 1310% entre o fim de novembro de 2022 e o início de maio de 2023. 

O levantamento também destacou que o Microsoft Power BI é o produto de IA e dados mais popular de 2023, além do Databricks Lakehouse. A ferramenta de transformação de dados que mais cresce é a dbt, que expandiu 206% de clientes em relação ao ano anterior. Além disso, 8 dos 10 principais itens são baseados em código aberto. A integração de informações é o mercado que mais se desenvolve no Databricks Lakehouse, com crescimento de 117% em comparação a 2022.

Confesso que ao pensar nesse cenário, a primeira memória que me vem em mente é o filme “Eu Robô”, lançado em 2004 e dirigido por Alex Proyas, que tem como protagonista o ator Will Smith. Na história de ficção científica podemos observar de maneira um pouco pessimista a evolução, colocando como vilão um robô, mas ao mesmo tempo promovendo suas facilidades na vida das pessoas. Essa lembrança ficou ainda mais forte após a apresentação dos robôs humanóides alimentados por IA na conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) (link).

Brincadeiras e analogias cinematográficas à parte, podemos perceber que a IA não é apenas uma narrativa de ficção, o que parecia distante de nossas vidas em que apenas as futuras gerações poderiam ter acesso, chegou em nossas casas muito antes do que imaginávamos. Essas ferramentas fazem parte do nosso cotidiano, remodelando a maneira de planejar a carreira, viajar com a família e amigos, ou seja, a forma como ganhamos e interagimos com o mundo. Nos últimos anos, a tecnologia avançou, as máquinas estão exercendo cada vez mais tarefas que antes eram exclusivas do intelecto humano.

Essa metodologia pode ser usada na educação para personalizar o aprendizado, adaptando o currículo com base no desempenho do aluno. Isso pode tornar a educação mais acessível e eficaz. Já é uma realidade em algumas universidades de medicina o uso de ferramentas modernas para simular uma cirurgia e promover o aprendizado do estudante. 

No setor industrial, foram automatizadas as tarefas repetitivas e perigosas, melhorando a eficiência da produção. Além disso, a manutenção preditiva economiza tempo e recursos. Para a área de finanças ela é utilizada para detectar fraudes, previsão de tendências de mercado e gestão de investimentos. Com isso, a atuação de segurança melhorou e auxiliou nas tomadas de decisões. Pensando no varejo, a ferramenta pode ser usada para personalizar recomendações de produtos com base no histórico de compras do consumidor, com isso valoriza a experiência do cliente e impulsiona as vendas. A mobilidade está passando por uma revolução com veículos autônomos que utilizam a IA para navegação – isso tem o potencial de ampliar a eficiência no trânsito.

Benefícios da IA em viagens e eventos corporativos

Nos eventos e viagens corporativas esses sistemas desempenham um papel cada vez mais importante. Os chatbots e assistentes virtuais impulsionados por IA são comuns em sites de viagens. Eles fornecem suporte instantâneo, respondem a perguntas frequentes e ajudam os clientes a encontrar informações relevantes e a guiá-los na tomada de decisão mais eficientes. 

O diferencial do nosso mercado é a personalização e a IA deve ser usada para analisar o comportamento, necessidades e preferências do usuário. Com base nessas informações, as marcas oferecem recomendações, eventos, viagens e ofertas customizadas. Para o gerenciamento de despesas, por exemplo, o auxílio dessa plataforma simplifica a gestão e automatiza a classificação de recibos, rastreamento de gastos e ajuda no alinhamento de políticas do empreendimento.

Outros pontos de destaque que essa mudança trouxe para o segmento foi a previsão de tendências, traduções e comunicações em diversos idiomas, facilidade na organização de projetos, análise de dados, segurança, monitoramento de resultados e o que, no meu ponto de vista, é incrível: a automação de tarefas repetitivas ou a conclusão de atividades a partir do aprendizado da máquina (learning machine). Com isso, o profissional ganha agilidade para pensar em estratégias que promovam mais enriquecimento para o desenvolvimento do evento ou viagens de seu cliente.  

Quem é contra essa evolução, infelizmente, ficará fora do mercado. E eu não vejo a IA como inimiga ou que vá substituir empregos, mas observo como aliada para o crescimento profissional das pessoas, pois com isso surgirão novas oportunidades e profissões. 

High-tech e high-touch

Gosto também de citar a ideia do estrategista e autor John Naisbitt, que trouxe em seu livro “Megatrends 2000” o conceito “high tech, high touch”, ou seja, alta tecnologia, alta humanidade. Acredito que mesmo com o progresso da IA, as habilidades humanas, como empatia, criatividade, tomada de decisões éticas e interação social, continuam sendo insubstituíveis. Isso enfatiza a importância da sociedade em manter a conexão e a identificação no ambiente.

Porém, à medida que avançamos, é necessário considerar não apenas os benefícios, mas também  os desafios éticos e sociais que surgem com essa modernização, apoiados pelo Direito Digital. A Inteligência Artificial está aqui para ficar, isso é indiscutível, e nossa capacidade de aproveitar seu potencial para obter melhores relações de consumo e trabalho é um dos obstáculos mais importantes que enfrentamos neste século.

*Luana Nogueira, diretora executiva da ALAGEV

Combate ao etarismo: venha construir uma sociedade mais justa e diversa

Em junho, anunciamos a causa social do Latin America Community for Travel and Events Experience (LACTE), que acontecerá nos dias 26 e 27 de fevereiro de 2024 (segunda e terça-feira), no Golden Hall do WTC Events Center, em São Paulo. 

Com o tema principal “Inspire”, o evento combaterá o etarismo, também conhecido como preconceito baseado na idade. O objetivo será mobilizar uma mudança cultural e lutar contra estereótipos negativos associados às gerações, especialmente aos 60+.

De acordo com uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma em cada três pessoas com mais de 60 anos está trabalhando no Brasil, enquanto uma em cada cinco está em busca de oportunidade de emprego. Além disso, ainda segundo o estudo, um em cada três recém-formados está procurando um trabalho. 

Com base na pesquisa do Maturi, entidade que capacita empresas sobre diversidade etária e inclusão, feito em parceria com EY Building a Better Working World, em 2022, o país contava com 26% da população com mais de 50 anos, sendo uma projeção para 2040 de 57% dos trabalhadores terem 45+. Desta forma, existe uma necessidade do mercado de estar preparado para oferecer um ambiente acolhedor para estas pessoas. 

A diversidade etária é uma fonte de riqueza para a sociedade e os negócios. Cada geração tem perspectivas únicas e valiosas. Assim como todas as formas de preconceito, o etarismo viola o princípio fundamental da igualdade, negando às pessoas mais velhas os mesmos direitos, oportunidades e respeito que são garantidos a outras faixas etárias.

Para ficar nítida essa violação, acredito que lembrem do caso que viralizou nas redes sociais sobre as estudantes universitárias que debocharam em vídeo da colega que tem mais de 40 anos por querer estudar em uma faculdade (link). Infelizmente, estamos falando de uma situação recorrente no país. 

A idade não deveria ser fator determinante na realização dos nossos sonhos, e nós, da ALAGEV, valorizamos e respeitamos a sabedoria e a experiência dos mais velhos e lutamos para que continuem a participar plenamente do nosso setor, compartilhando suas histórias, conhecimentos e habilidades. Essa luta é um passo crucial para construir uma sociedade mais justa e inclusiva. Podemos promover o envelhecimento saudável e digno, permitindo que todas as gerações prosperem juntas.

Certificação Internacional

A Age Friendly Institute utiliza o Certified Age Friendly Employer (CAFE), uma maneira de certificar instituições que são referências no mercado para o trabalho de pessoas 50+ e que estão comprometidas no combate ao etarismo. Além das organizações terem o selo, são realizados encontros periódicos como forma dos líderes compartilharem suas experiências e aprenderem ainda mais sobre o assunto. Para que, desta forma, consigam aplicar novas ações em seus ambientes organizacionais e desenvolvam ainda mais o tema no dia a dia.

Como ajudar?

Seguindo o mapeamento do Maturi e do EY, 78% dos pesquisados afirmam que as organizações do Brasil são etaristas, sendo comprovado pelo fato de 80% das empresas que participaram do estudo não contarem com políticas para combater a discriminação nos processos seletivos e 42% delas entenderem que o assunto de diversidade, igualdade e inclusão (DEI) não é uma prioridade na estratégia da organização.

As empresas devem promover a conscientização, educação e implementação de políticas para garantir que todos os indivíduos, independentemente da idade, sejam valorizados e respeitados. 

E para que o colaborador sinta-se integrado ao grupo, um caminho é realizar divulgações que retratem essas pessoas de maneira justa e positiva, desafiando os estereótipos negativos e destacando suas histórias de sucesso. Fomente também a interação e o envolvimento entre os funcionários de diferentes faixas etárias com entendimento e o reconhecimento das contribuições de cada geração. Além disso, incentive programas que enfatizem a colaboração contínua de variadas idades como, por exemplo, mentoria de jovens com indivíduos mais experientes, já que ambos têm conteúdos distintos para compartilhar. Com ações como essas, surge uma troca rica de informações.

Por fim, desejo que JUNTOS possamos construir um futuro em que a idade não seja motivo de medo, mas sim um fator para celebrar a diversidade e a riqueza das experiências humanas.

Giovana Jannuzzelli, diretora executiva da ALAGEV

Greenwashing e o impacto nos eventos e viagens corporativas

A partir do Relatório Brundtland e da Agenda 21, a expressão “desenvolvimento sustentável” se popularizou e tornou-se pauta frequente na sociedade. Recentemente divulgamos o relatório de práticas de Environmental, Social, and Governance (ESG) com os resultados das ações adotadas no Latin America Community for Travel and Events Experience (LACTE), evento realizado pela ALAGEV que aconteceu nos dias 27 e 28 de fevereiro em São Paulo. O estudo, feito em parceria com a Arbache Innovations, Casa Causa e Mangue, tem o objetivo de incentivar eventos a adotarem ações semelhantes, contribuindo para que o mercado se desenvolva de forma mais sustentável (link).

Atitudes como essa surgiram com o Hub ESG ALAGEV, que nasceu em 2022 do encontro de três mulheres: Grace Kelly Cauzo, da Pinguim Incentive Travel & Tech, Giovana Jannuzzelli, diretora executiva da ALAGEV, e Ana Paula Arbache, fundadora do Hub Mulher e da Arbache Innovations.

Com esse foco, reforço a ideia de que para uma empresa ser reconhecida como sustentável é necessário ir além do discurso e comprovar na prática ações responsáveis social e ambientalmente.

O público dificilmente se opõe ao cuidado com rios e florestas, por exemplo. Mas o que debatemos aqui não é sobre a importância, mas sobre como fazer, a quem compete esta missão e a que valor. 

A população, governo e iniciativa privada têm responsabilidade sobre o tema. As consequências da crise ambiental e dos caminhos para revertê-la estão cada vez mais distantes do consenso. A exploração de recursos naturais e os interesses conflitantes entre todas as partes fazem com que o trajeto para uma solução esteja em um campo nebuloso. 

Hoje, as empresas buscam estratégias para se posicionar e liderar o mercado altamente competitivo das organizações. Uma das táticas usadas por algumas marcas na busca por vantagens está direcionada às questões sobre identidade e reputação. A comunicação corporativa e as ações de responsabilidade social têm mudado a imagem corporativa aos olhos do consumidor, bem como sua reputação no cenário organizacional. Consequentemente, seus posicionamentos refletem nas questões de ordem econômica e na melhoria direta dos resultados. 

Para entender essa linha de raciocínio, trago um termo que está em alta: o greenwashing, na tradução literal “lavagem verde”. Isso ocorre quando uma empresa utiliza a sustentabilidade para se promover, porém, na prática, não exerce o que divulga e afeta o impacto socioambiental de suas atividades. Além de questões legais, quando vem à tona essa farça, pode levar ao linchamento da marca e, de uma hora para a outra, destruir a reputação de toda uma história construída com décadas de investimento.

Essas ações negativas abalam as vendas, afastam investidores e até mesmo talentos, ou seja, colaboradores que não querem vincular sua carreira a organizações que não compartilham com os seus ideais.

De acordo com uma pesquisa do Interactive Advertising Bureau (IAB), o investimento em publicidade no Brasil chegou a R$ 32,4 bilhões no ano passado. O ritmo dos gastos em publicidade digital no país foi mais lento em 2022, refletindo o fim do auge da pandemia da covid-19 e as eleições, bem como os cenários econômicos de alta de juros e inflação no país e no mundo. Destes investimentos, uma boa parte é direcionada ao chamado “marketing verde”. Embora não haja números exatos, podemos observar uma tendência no aumento de propagandas com apelo ambiental nos últimos anos. 

A preocupação com a auto sustentabilidade é especialmente forte entre as gerações Z e Millennium, que ocupa cada vez mais o espaço do consumidor, na força de trabalho e entre investidores. Eles querem viver de maneira mais igualitária e percebem a tecnologia como uma extensão deles mesmos. Com esse cenário, o compromisso com esse público e com a sustentabilidade pode abrir a porta a novos mercados. 

Segundo Ana Paula Arbache, CEO & founder, diretora de sustentabilidade e D&I da Arbache Innovations, existe uma grande oportunidade para os negócios no setor se posicionarem a favor das práticas ESG e fazerem isso de modo legítimo. “Assim como nós, em nossos papéis de consumidores, as demais pessoas também querem informações compreensíveis a respeito dos impactos gerados por suas escolhas, acessibilidade, preservação ambiental, respeito à cultura local, cuidado com os resíduos gerados, o compromisso com uma cadeia produtiva limpa e sustentável, o apoio efetivo ao emprego e renda nos locais onde as empresas atuam, a preservação da biodiversidade e o acolhimento à diversidade. Destaco aqui a importância da formação de líderes e equipes capazes de desdobrarem estratégias coerentes e consistentes para o dia a dia das operações criando uma nova cultura para o segmento. Ai sim, comunicar ESG será legitimo e trará benefícios para as organizações”, comenta.

A partir de toda essa discussão, destaco a importância de os gestores de eventos e viagens corporativas ficarem atentos aos discursos de marcas e destinos que se dizem “eco-friendly”, pois podem estar apenas propagando o greenwashing.

E pensando em combater esse mal e auxiliar as empresas a de fato direcionar os seus recursos para práticas reais de sustentabilidade, a União Europeia criou o “Regulamento para Divulgação de Finanças Sustentáveis”, com um conjunto de regras estratégias de ESG. A partir desses parâmetros, os negócios europeus podem utilizar essas ações e apresentar resultados mensuráveis. 

Com o aumento dessa pressão social, as marcas precisam dominar o universo de possibilidades que se abriram. Devemos verificar o CPF, antes do CNPJ, ir além da venda e construir um mercado ético, transparente, sustentável e de acordo com os valores, convicções e construções dessa nova era. Desta forma, ao praticar efetivamente os princípios de seus negócios será possível ser honesto com os stakeholders e construir uma reputação corporativa consistente na estratégia de ESG. 

*Giovana Jannuzzelli, diretora executiva da ALAGEV