Sinais do Planalto

Todos os atores que movem a economia do país acompanham pari passu a movimentação do governo federal em torno de temas cruciais. E o setor do turismo, onde se insere o segmento de viagens corporativas, vê com apreensão a propensão da presidente Dilma Rousseff de reeditar a CPMF. Na reunião do dia 28 de janeiro do Conselho do Desenvolvimento Econômico, o ‘Conselhão’, ela apontou a recriação do tributo como a melhor opção para superar as dificuldades.
Não bastasse o aperto geral por que passam nossas empresas, pressionadas pelas elevadas taxas de juros, inflação ascendente e câmbio desfavorável, a eventual ressurreição da CPMF tornaria o arrocho fiscal ainda mais corrosivo. Seria como transformar o ruim em péssimo, com impacto imediato sobre o custo de toda a cadeia produtiva do turismo. Considerando que a recriação da CPMF já está prevista no Orçamento aprovado pelo Congresso Nacional, visando à arrecadação de R$ 10,3 bilhões, temos de criar meios de nos defender.
Uma das formas de amenizar o impacto da possível volta da CPMF passa pelo incentivo ao uso do Cartão de Crédito no pagamento de serviços essenciais à indústria de viagens de negócios. No caso, se o comprador do serviço paga por meio de cartão, a alíquota do tributo (definido no próprio nome como ‘contribuição’) é cobrado uma só vez. No entanto, se compra for faturada pela agência, haverá uma dupla cobrança – paga o comprador, paga também a vendedora. Uma distorção gritante e injusta, ruim para todos os atores.
Todos sabemos que o conservadorismo retarda a percepção do brasileiro (pessoas físicas e jurídicas) sobre a notória obsolescência do modelo de compra faturada. A divulgação da pesquisa de vendas das associadas Abracorp, em 28 de janeiro, indicou um sinal positivo: em relação a 2014, o pagamento faturado recuou 15% e por meio de cartão, cresceu 34%. Porém, quando comparamos o setor aéreo com o hoteleiro, temos o primeiro registrando 63,3% de operações por cartão, E o segundo, com pagamento faturado de 56,5%.
Fechando: o mecanismo faturado já é página virada nos Estados Unidos. Vamos, nós, também, virar esse jogo.

Números do paradoxo

O desenho da crise econômica brasileira apresenta alguns sinais de alerta que devem ser levados em conta com toda atenção e seriedade. Um deles incide sobre um dos pilares da atividade turística como um todo – o transporte aéreo. As quatro maiores companhias aéreas com voos regulares no Brasil (Avianca, Azul, Gol e Latam) acumulam prejuízos significativos, que chegam perto dos R$ 5 bilhões, em 2015, quando anualizamos, pela média, o resultado negativo de R$ 3,7 bilhões consolidado nos primeiros nove meses do ano. O prejuízo contábil dos três primeiros trimestres representa o triplo daquele verificado em igual período no ano de 2014. Calcula-se que as aéreas acumulam prejuízos da ordem de R$ 13 bilhões, nos últimos 13 anos, salientando que boa parte desse resultado decorre do fato da aviação ser altamente sensível à variação cambial, com itens como combustíveis, manutenção, leasing, entre outros, atrelados ao dólar.

Deixemos as planilhas salpicadas de vermelho das quatro aéreas para aterrissarmos no território todo azul dos cinco maiores bancos em operação no país. A somatória do lucro contábil destas instituições, consolidada nos três trimestres de 2015, resultou em R$ 45. 1 bilhões. Anualizando pela média, a conta ultrapassa os R$ 60 bilhões. Só o lucro anualizado de um deles passa dos R$ 4 bilhões – aproximando-se, em termos nominais, do prejuízo calculado das quatro aéreas mencionadas.

Não se trata de comparar o desempenho desde ou daquele setor, nem abrir mão do otimismo e do ânimo que marcam a conduta dos players da grande cadeia turística, onde destacamos a presença das empresas associadas à Abracorp. Mas os números aqui apresentados se encarregam de mostrar o duro caminho que temos de percorrer para virar esse jogo. Sabe-se que as aéreas pleiteiam redução da carga tributária e política de preços menos escorchantes do querosene de aviação.

Mais do que nunca, a palavra de ordem é essa: união, lembrando que cerca de 70% do faturamento das agências de viagens tem origem no setor do transporte aéreo! E unidos, seremos muito mais fortes.

Rubens Schwartzmann

Prazo ou Carência?

Por mais animados e otimistas que sejamos, não há como negar o cenário de estagnação econômica que recobre o Brasil de norte a sul, em todos os setores produtivos. Diante do aperto generalizado, é preciso tomar muito cuidado com práticas leoninas e até mesmo predatórias no âmbito do mercado como um todo. E no nosso setor, o de viagens corporativas, despontam casos preocupantes no que tange, por exemplo, à imposição de prazos de pagamento.

Hoje, as agências de viagens corporativas oferecem aos seus clientes prazos de pagamentos que seguem determinações dos próprios fornecedores, a exemplo da Iata/BSP no segmento aéreo. Ou seja: 10 dias fora a semana, na forma de pagamento faturado.

Qualquer tentativa ou a tentação de ampliar os limites de prazo estabelecidos, como condição para se fechar negócios, pode ser interpretada como um sinal de alerta, ou pior, de carência. Isso porque não cabe à agência de viagens atuar como agência financiadora do cliente, dispondo de um folego que nem os fornecedores possuem – ainda mais num ambiente econômico, onde a taxa de juros beira os 15%.

Os números são claros e irrefutáveis. E servem como referência substantiva para a boa reflexão e, também, para a adoção de políticas consensuais de prazos. Dar as costas à realidade é passaporte para o caminho sem volta.

Rubens Schwartzmann

PS: Com a licença do comando da Abracorp, para assumir a presidência da ABAV Nacional, Edmar Bull transferiu para Rubens Schwartzmann, o vice-presidente do Conselho de Administração da entidade, a atribuição de publicar os posts neste blog. A partir de março de 2016, o Espaço Abracorp continuará a compartilhar com os leitores, semanalmente, informações e considerações sobre fatos relevantes para o setor, a exemplo do tema em pauta, sob a gestão do próximo presidente eleito.