TURISMO CORPORATIVO INICIA 2º SEMESTRE COM VÁRIOS DESAFIOS

Por Gervásio Tanabe, presidente executivo.

Estamos iniciando o segundo semestre com uma agenda prá lá de movimentada em vários segmentos da economia brasileira. A reforma tributária é, sem dúvida, um dos temas de maior interesse no momento e que vai impactar também no setor de turismo em geral e nas viagens corporativas. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que está sendo elaborada com mudanças no regime de impostos do país ainda tenta costurar os mais variados e legítimos interesses de agentes da economia brasileira.

Os nossos interesses, aliás, estão expressos no MANIFESTO PELA REFORMA TRIBUTÁRIA JUSTA QUE PROMOVA O CRESCIMENTO DO BRASIL E DO TURISMO NACIONAL, assinado o pelo Grupo 20+, composto pelas principais associações do turismo e eventos no Brasil.

No nosso documento, identificamos algumas preocupações em relação à PEC: há risco, dependendo do texto final, de se aumentar drasticamente a carga tributária do setor de turismo e eventos e inviabilizar a competitividade internacional do Brasil no setor, destruindo emprego, renda e arrecadação de impostos.

O Manifesto também lembra que “o setor representa cerca de 10,5% do PIB brasileiro, com R$1,041 trilhão de receita bruta, sendo também um dos maiores empregadores da economia, com 13,6 milhões de empregos diretos. Tudo isto com baixo impacto ambiental, promovendo nossa cultura e patrimônio e apoiando a preservação do meio ambiente. E de modo descentralizado, nos vários cantos do Brasil, levando desenvolvimento regional por meio da geração de emprego e renda”.

Assim, nossa proposta é que seja adotada uma alíquota diferenciada para o setor de turismo e eventos no processo de reformulação do sistema tributário brasileiro. Entendemos que, com essa medida, “teremos condições de aumentar a competitividade do Brasil como destino turístico, estimulando a economia local, atraindo novos investimentos e promovendo o crescimento sustentável”.

Somente esse tema já seria o bastante para atrair a atenção do setor neste segundo semestre, mas ainda temos mais. A Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA) está propondo uma redução nos prazos de pagamento das companhias aéreas, o que pode aumentar a pressão sobre as agências de turismo, que atualmente já trabalham com um prazo curto, de 10 dias fechada a semana. Essa sugestão da IATA deve entrar em pauta neste segundo semestre.

Se o prazo for reduzido, as agências terão um cenário em seus caixas ainda mais difícil, já que recebem atualmente por seus serviços com prazos, principalmente de clientes de grande porte, de até 120 dias. Ou seja, pagam pelos serviços aéreos, que representam 60% de seu faturamento, com prazo de até 10 dias e recebem em até quatro meses. Essa realidade torna impossível a gestão de fluxo de caixa, de um mercado ainda em recuperação após o longo período de pandemia.

Essa dificuldade no fluxo de caixa contradiz a discussão sobre como se relacionar da forma mais saudável e sustentável com os clientes, um dos princípios da política de ESG. O G de governança aborda a relação entre stakeholders, que não vem sendo respeitada por uma parte dos grandes clientes das agências de viagens corporativas.

É um princípio que devemos lembrar sempre.

COMPETIÇÃO E COOPERAÇÃO

por Gervásio Tanabe, presidente executivo da Abracorp
 
Na última quinta-feira (27), tivemos nossa Reunião Geral dos Associados da Abracorp. É uma instância importante de nossa governança, onde podemos apresentar o andamento dos projetos estratégicos e ajustar os planos de ação com esse grupo.
 
Aconteceu no Pullman Ibirapuera (SP), da Rede Accor, com o suporte técnico da RCOM na infraestrutura de áudio, parceiros de valor Abracorp, que sempre tem nos apoiado nas atividades da entidade.
 
No dia do encontro, tínhamos acabado de divulgar os resultados do setor de viagens corporativas. Fechamos em março com expressivo crescimento de 44% em relação ao mesmo mês de 2019. Foi R$ 1,28 bilhão no período, comparados aos R$ 890 milhões em março de 2019. Um faturamento recorde, diga-se.
 
O faturamento de março deveu-se ao ótimo desempenho do segmento de serviços aéreas, que faturou R$ 820 milhões, 42% acima do mesmo mês de 2919. Serviços aéreos foram responsáveis por 64% de todo o volume dos onze setores analisados. Ênfase para segmento aéreo doméstico, que ficou abaixo apenas 12% em bilhetes emitidos em relação a março 19, com forte crescimento da Latam tanto em oferta como demanda. A Gol continua líder (+34,1%).
 
As transações de passagens aéreas domésticas nos estimulam a afirmar que o mercado doméstico dá claros sinais de recuperação. Mas a forte recuperação da hotelaria e do setor de locação de veículos continua, além do setor rodoviário, que registrou expressiva elevação (+500%).
 
Na pauta da reunião estava também o cronograma de implantação do NDC. Retomamos os contatos com os desenvolvedores ARGO, em tratativas de integração com WOOBA, ENVISION, LEMONTECH, RESERVE e WOOBA, para sabermos em qual estágio estaria a integração do NDC ao GDS para 15 companhias aéreas.

O primeiro painel que tínhamos era o de janeiro. Pois bem, de lá para cá, pouco se avançou. Fica aqui o registro.
 
É nítido e claro que o mercado ainda está muito confuso e preocupado com o tema. É sabido, também, que os GDSs estão em discussões com importantes aéreas no mundo. A afirmação mais comum: estamos prontos. Mas estamos prontos para que e qual versão? Sim, pois o NDC tem, além de tudo, várias versões.

Alento é sabermos que  existem companhias aéreas que têm uma visão clara: entrar num projeto desses quando todos os fios estiverem conectados, sem riscos de choque, como afirmou o diretor de distribuição da DELTA AIRLINES, semanas atrás. De fato, entendemos que não é recomendável tentar oferecer experiência ao cliente, fazendo experiências.  
 
Ainda sobre a agenda de negócios, contamos com a presença da equipe da Gol. Foi uma boa conversa sobre mercado e a estratégia da empresa para os próximos anos.
 
Nesses encontros temos o compromisso de trazer novas tendências, pensamentos para nos ajudar a pensar em modelos de gestão em momentos tão desafiadores. Nessa reunião convidamos o professor e palestrante Fábio Ashcar, autor do livro “Uma Grande Aventura: Conheça a história da Universal Studios”, e do consultor Diogo Kotscho, que atuou como vice-presidente sênior de comunicação do Orlando City SC e Orlando Pride por oito anos.
 
O tema era Competição e Cooperação. Fábio falou como a Disney e a Universal, mesmo sendo concorrentes diretos, se uniram para criar um mercado ainda maior. Diogo trouxe sua experiência na Major League Soccer, liga americana do nosso futebol, onde atuou por longos anos, após passagem pela Ambev.
 
Cada um do seu jeito deixou um bom recado: segundo suas experiências, não raro deixou-se de pensar no individual para o bem do coletivo. Eles ressaltaram que essa decisão não é um conto de fadas. É feita com muita discussão e dor. Mas acontece.
 
A visão de competição, que existe e sempre existirá a relevância da cooperação em busca de melhorias e crescimento do setor, é prioridade de grupo. O grupo cresce e, consequentemente, o integrante do grupo cresce. Essa é a mensagem principal.

PROGRAMADA EMERGENCIAL DE RECUPERAÇÃO PARA EVENTOS PODE RECUPERAR ATÉ R$ 18 BILHÕES AOS COFRES PÚBLICOS

por Gervásio Tanabe, presidente executivo Abracorp

Acabamos de divulgar o faturamento de fevereiro do setor de viagens corporativas. Voltamos a apresentar bom desempenho, com faturamento de R$ 908 milhões, 76% acima do mesmo período de 2022 e 10% acima de fevereiro de 2019, antes da pandemia da Covid-19.

O resultado, porém, não reflete a recuperação total do setor de viagens corporativas, que ainda não retomou o volume de 2019. Se no faturamento já estamos acima de 2019 é porque as tarifas, fruto de inflação e alta de insumos, tiveram um aumento. Mesmo assim, 2022 fechou 7,46% abaixo de 2019.

As agências de viagens corporativas carregam, ainda, em seus balanços, o peso dos prejuízos enfrentados de 2020 a 2022, pois mesmo com a redução de volumes a praticamente zero em 2020, tiveram custos de manutenção e pessoal, para que os clientes pudessem ser atendidos, mesmo que em menor quantidade.

A  Fundação Dom Cabral (FDC) preparou um estudo sobre o Programa Emergencial de Recuperação do Setor de Eventos (Perse). O levantamento mostra que o setor teve variação positiva de 5,8% no estoque de empregos formais e informais, enquanto a economia como um todo 3,8% no mesmo período. Hoje 92% da mão de obra formalmente empregada não têm ensino superior. A geração de empregos bate os 18 milhões, entre formais e informais. Ou seja, cada posto gerado subsidia a manutenção de três outros indiretos e induzidos.

Outro dado relevante é a variação positiva de 6,3% no estoque de empregos formais, acima da economia como um todo, que apresentou variação positiva de 5,4% em 2021 em relação a 2020.

A  Lei 14.148, que acaba de completar um ano, instituiu o Perse, reduzindo a zero a alíquota de quatro impostos federais por cinco anos: PIS, Cofins, IRPJ e CSLL. Também houve a renegociação de dívidas tributárias e não tributárias com a União com descontos de até 70% e com prazo máximo de quitação de 145 meses.

Mais de R$ 595 milhões já foram arrecadados pelos cofres públicos até o momento com o Perse, mas a expectativa com a renegociação de dívidas é de uma recuperação total de R$ 18 bilhões, conforme o estudo  feito pela Fundação Dom Cabral.

Ainda segundo a FDC, a pandemia evidenciou uma questão sobre o mercado de eventos e turismo: o desconhecimento da importância do setor para a economia brasileira, responsável por 6,4% do PIB, movimentando mais de R$ 550 bilhões (WTTC,2022). Além de fomentar toda a cadeia, impulsionando direta ou indiretamente 571 atividades econômicas.

Durante a pandemia, o segmento ficou inativo/proibido de operar por cerca de 24 meses, mas teve de arcar com o custo da manutenção dos equipamentos, equipes e tributos. A pesquisa da FDC expõe em números esse período de inatividade total:

• Queda de 50,2% na receita nominal e no volume de atividades para o mês de abril de 2020, no auge da pandemia, seguido de picos negativos entre junho de 2020 (-17,4%) e março de 2021 (-25,4%).

• Variação negativa de 19% no estoque de empregos formais (2020/2019), enquanto o agregado da economia apresentou queda de 1% (RAIS,2023).

• Variação negativa de 20,5% no estoque de empregos formais e informais (2020/2019), enquanto todos os setores apresentaram queda de 8,7% (PNAD, 2023).

• Variação negativa de 5% no número de empresas, enquanto a economia como um todo registrou queda de 1% (2020/2019) (RAIS, 2023).

O estudo comprova que qualquer alteração no Perse pode gerar um descontrole incalculável em um setor relevante que está se recuperando.