O “X' da questão

Não conheço nenhuma dona de casa que vá à feira aos domingos e compre uma dúzia de tomates podres. Se o fruto passou do ponto, ela vai na banca ao lado e leva tomates fresquinhos, perfeitos para um bom almoço. Fazendo um paralelo com os nossos aeroportos, não temos a opção de procurar outra banca. Se o aeroporto for ruim, temos que engolir goela abaixo, custe o que custar.
Com a privatização – ou concessão, como prefiram – dos aeroportos brasileiros, iniciada em 2012, já são seis os aeródromos sob gestão privada: Galeão, no Rio; Confins, em Minas; Brasília, no DF; São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte; Viracopos e Guarulhos, em São Paulo. A previsão do Governo é privatizar mais três este ano: em Curitiba, Recife e Cuiabá. Dos 60 aeroportos administrados pela Infraero, apenas 10% deles estão sob uma gestão descentralizada da burocracia federal e os tomates frescos se destacam. Nos demais, sem exceções, se alguém lembrar de um me avisa, a banca está caindo aos pedaços e não só o tomate, mas a cebola, o chuchu e o que mais se vê nestes aeroportos está passando do ponto.
Por isso, reajustar os preços das tarifas aeroportuárias nos aeródromos administrados pela Infraero em 14,21% é, no mínimo, incoerente, sob a ótica de quem utiliza o sistema aeroviário no Brasil. Não faz sentido este aumento, ainda que autorizado pela Agência Nacional da Aviação Civil (Anac).
O reajuste, que segundo a Anac passará a ocorrer anualmente, segue uma regra para o cálculo que está prevista na Resolução 350/2014. Ou seja: o aumento tem como base o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), deduzido do fator “X”, que compartilha os ganhos de produtividade do setor com os usuários.
Estes ganhos de produtividade são o grande “X” da questão.
Estamos vendo os tais ganhos nos poucos aeroportos já privatizados. Nos restantes, pouca ou quase nenhuma melhora. A Anac afirma que a nova resolução cria um modelo de regulação das tarifas aeroportuárias mais adequado à nova estrutura do mercado, diante do processo de concessões no setor. Mas, ao contrário dos operadores privados, a nova metodologia não exige da Infraero o atendimento de requisitos de qualidade do serviço prestado aos usuários. Vale dizer: devemos pagar tarifas de aeroporto novo mesmo utilizando os velhos e sucateados.
Entre os quesitos de qualidade avaliados pela Anac estão: o bom funcionamento de elevadores, de escadas rolantes, esteiras e processamento de bagagens; a limpeza; as informação aos usuários; o conforto térmico e acústico; a disponibilidade de carrinhos de bagagem, de vagas para estacionamento para veículos; e a variedade de lojas e praças de alimentação, entre outros. Interessante, mas a verdade é que, se os requisitos acima fossem utilizados hoje para ajustar os valores das tarifas dos aeroportos administrados pela Infraero, certamente estes preços seriam reajustados para baixo. Afinal, tomate ruim não tem valor.
Edmar Bull

Via de mão dupla

O mercado de viagens corporativas contribui quatro vezes mais com o ingresso de divisas para o Brasil, a tomar por referência o gasto médio diário dos viajantes que nos visitam para fazer negócios (US$ 329,39) e turismo (US$ 73,77).
O fato foi mais uma vez constatado e com a credibilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que executou a pesquisa para Embratur entre os meses de abril a setembro de 2014, com 1.726 entrevistas realizadas, incluindo as cinco regiões do Brasil.
Vários outros dados relevantes também foram obtidos, revelando informações sobre o perfil destes desejados visitantes, entre as quais destaco as seguintes:
Origem
– 23% são da Europa
– 20% são da América do Norte
– 6,2% são da América do Sul
Sexo
– 58,6% são homens
– 41,4% são mulheres
Faixa etária
– 54,4% dos turistas têm entre 25 e 44 anos
Escolaridade
– 97,4% têm nível superior
Renda mensal
– 41,9 % têm renda acima de US$ 4.000
Apesar de o referido estudo apontar ainda que, a imagem do País é positiva para 74% dos entrevistados e mais 92% deles terem elogiado a receptividade do povo brasileiro, sabemos ser indispensável investir em infraestrutura e capacitação profissional.
Neste sentido, cabe ressaltar a importância das agências de viagens corporativas, na perspectiva de atuarem em sinergia com o poder público para potencializar resultados. Afinal, todos nós sabemos que o nosso setor é constituído por uma via de mão dupla, que propicia boas oportunidades em ambos os sentidos: emissivo e receptivo.
Edmar Bull

Lição de casa

Não existem desafios estratégicos relacionados às questões concorrenciais e de mercado, ou que envolvam revisão de processos, atividades de capacitação, inovações, enfim, aspectos de interesse corporativo, sem soluções capazes de proporcionar ganhos de eficiência. O simples fato das agências de viagens associadas Abracorp no primeiro trimestre de 2014 terem juntas conseguido aumentar em até 18% os resultados, mantendo praticamente a mesma quantidade de colaboradores, demonstra que existem sim medidas administrativas possíveis de serem adotadas com eficácia.
Nossa expectativa é que haja também mudanças no modelo de desenvolvimento econômico brasileiro, com o governo passando a promover redução da carga e simplificação da legislação tributária; reforma nas nossas leis trabalhistas; melhorias no ambiente de negócios; supressão dos excessos burocráticos; estímulos aos investimentos privados; aumento dos investimentos em infraestrutura e efetiva melhoria na qualidade da educação. Para que isso seja possível, cortar gastos e liberar recursos é o ponto de partida.
Estatísticas confiáveis, provenientes de diferentes fontes nacionais e internacionais, revelam o que todos nós sabemos: a produtividade média do trabalhador americano é hoje cinco vezes a do trabalhador brasileiro. Além da qualidade da educação, nos EUA a força de trabalho conta e usufrui de avançados equipamentos (hardwares e softwares).
Portanto, essas ações distintas, complementares e imprescindíveis à conquista das vantagens competitivas que tanto almejamos, são as que devem ser impulsionadas neste “Brasil, pátria educadora”. O segundo passo desta lição de casa essencial é romper com o pessimismo reinante e agir, sabendo que agora e sempre “a mãe das oportunidades são os problemas”; máxima do espírito empreendedor, de quem faz mais com menos; é capaz de reduzir custos, aumentar a produtividade e, com isso, obter merecida rentabilidade.
Edmar Bull