Internacional instável e flutuante

Todos nós sabemos que, lentamente, o avanço da vacinação, os passaportes sanitários e outras ações podem começar ajudar a volta do mercado internacional. Mesmo com perspectivas ainda de médio e longo prazos ou novas variantes é importante monitorar e entender os movimentos domésticos, intra-regionais e de longo curso dos mercados emissores para o Brasil. Trago hoje os dados da ForwardKeys sobre a demanda internacional futura de viagens aéreas para o Brasil entre 16 de agosto e 26 de setembro desse ano de 2021 em comparação com 2020 e 2019 (bilhetes aéreos com reservas feitas).

A comparação correta que devemos fazer de 2021 é como 2019, basicamente por que é um ano em que não havia ainda a crise da pandemia e nos permite fazer comparações reais. O período de 16 de agosto a 26 de setembro de 2021 na comparação com o mesmo período pré-crise (2019) mostra uma queda de 83,4% no total de chegadas aéreas internacionais para o Brasil. Todas as semanas recebemos dados da ForwardKeys que nos permitem avaliar esses cenários.

Alguns mercados chamam a atenção. O primeiro deles é a Argentina, que tem hoje um share de 6% do total das chegadas aéreas internacionais ao Brasil (2021). Historicamente é o principal emissor para o Brasil, com cerca de 29% das chegadas totais de estrangeiros (cerca da metade chega por via aérea); já apresentou uma diminuição acentuada em 2019 (-22%) e ainda maior em 2020 e 2021. Estamos com fronteiras fechadas, pouquíssimos voos e restrições de viagens ainda severas; sem considerar a crise econômica que aquele país vive há alguns anos. Uma situação similar ocorre com o Uruguai, que além de ser nosso vizinho e ter uma série histórica de chegadas (cerca de 364 mil turistas por ano) também tem fronteiras fechadas e muitas restrições. O terceiro mercado também com grande queda é o Reino Unido, que temos acompanho as restrições severas até mesmo dentro da Europa. Esses três países registram uma variação negativa de 95,5% nas chegadas passadas e futuras ao Brasil na comparação com 2019 e também com 2020.

Quando olhamos para os mercados emissores para o Brasil que podemos considerar mais resilientes, ou menos piores nas chegadas aéreas, destaca-se o mercado português, aonde estamos na metade do patamar de 2019; a Espanha, que aumentou seu share de mercado em 2021 (4,5%), mas ainda com chegadas futuras até setembro no patamar de -73,4% em relação a 2019. Destaco ainda a Itália, que está a -78% de chegadas em 2021 na comparação com o período pré-crise com 4,7% de share internacional esse ano.

Esses movimentos de cada país, relacionados com diversos fatores, são essenciais para entender como o futuro do turismo receptivo internacional para o Brasil pode ser novos mercados prioritários. Também ajuda a entender o comportamento de viagens no médio e longo prazos, buscando orientar ações de marketing e vendas a um cenário bastante instável e flutuante. Acertar em políticas de atração de estrangeiros ao Brasil é hoje um desafio ainda mais complexo, que exige decisões com base em dados, fatos e evidências profissionais.

Ouça abaixo o HUB 37: episódio do podcast que fiz com Mariana Aldrigui sobre para que servem dados e informações na análise de cenários e na tomada de decisão nos negócios em turismo.

O internacional para o Brasil até abril

Seguimos acompanhando o cenário de viagens internacionais com os dados da Forwardkeys, empresa espanhola que trabalha com big data para viagens aéreas passadas e buscas/ reservas futuras. Nesse cenário ainda incerto em muitos países e, especialmente, com o lento ritmo de vacinação no Brasil é essencial sentirmos o comportamento de buscas e compras nos principais mercados emissores para o Brasil.

Vamos primeiro comparar janeiro e fevereiro desse ano com 2020. Os dados da Forwardkeys mostram que existe uma diminuição de 87% nas reservas aéreas internacionais para o Brasil no período mencionado. Os países que registraram as maiores quedas de reservas foram o Uruguai (-98,5%), a Argentina (-93,2%) e a Itália (-92,1%). Por outro lado, “menos piores” foram as reservas da Espanha (-79,8%) e de Portugal (-80,5%).

Quanto às reservas futuras, as mais importantes de monitorarmos para orientar nosso planejamento e as devidas ações de comunicação, os dados da Forwardkeys, com base nos GDS e outras fontes mostram que entre 1 de março a 11 de abril de 2021, se comparado às reservas realizadas no mesmo período, estamos com -87,4% de reservas aéreas internacionais. Os mercados que mostram até agora o pior índice são o Uruguai (-96,1%), a França (-94,5%) e o Reino Unido (-93,1%); nesses mercados as reservas futuras para o Brasil praticamente inexistem. Já os mercados em que há um número um pouco maior de reservas, embora ainda muito pequeno, são: Chile (-72,9%), Portugal (-79,6%) e Espanha (-84,3%). A Argentina, o principal mercado internacional para o Brasil, dá sinais de pouca demanda e reservas, além de diminuição de share de mercado.

Por que esses dados são importantes? Eles nos dão uma ideia de como as pessoas buscam ou já pensam em vir ao Brasil; de como nossa imagem está em cada mercado e, também, nos permite planejar com base em informações as ações necessárias para reconstruir a demanda internacional ao nosso país.