Eventos: e a banda passando

A Copa do Mundo foi aqui. Os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016 serão aqui em 430 dias (nossa!!!). O Brasil já atingiu seu máximo no ranking da ICCA. Minha pergunta: para onde vai o setor de eventos de nosso país? Qual a estratégia para o setor de eventos associativos, eventos esportivos e outros tipos de eventos para um país que fez tantos investimentos em infra-estrutura turística e em equipamentos para receber todos os tipos de eventos ?

Não vejo nenhum debate sobre a visão que temos do setor para daqui a dez anos, quais os próximos passos a seguir ? Como inovar e avançar no processo de captação de eventos ? Como podemos expandir políticas para os eventos esportivos? Por acaso estamos estudando o que fez a Inglaterra ou o Canadá para aprender com outras experiências? Ou também vamos jogar fora essa oportunidade?

O Brasil não teve estratégia de imagem para a Copa do Mundo, não tem para os Jogos Olímpicos, não sabemos quais as mensagens queremos passar para o Mundo. As pesquisa de imagem com os estrangeiros mostram EXATAMENTE a mesma coisa há 10 anos. E o setor de eventos, também vai ser espectador nesse cenário? Parece que estamos sentados na arquibancada vendo a banda passar, e que não temos nada a ver com o que está acontecendo.

Eventos esportivos trazem mais turistas?

Além de estar acompanhando a realização do Mundial da FIFA aqui no Brasil, e das experiências na Alemanha e na África do Sul, tenho lido e estudado muito sobre os impactos desse evento no turismo dos países sede. Estou trabalhando na minha tese de mestrado em turismo exatamente sobre o aumento do número de turistas no Brasil em 2014.

Compartilho algumas considerações do estudo realizado por Fourie & Santana-Gallego chamado “The impact of mega-events on tourist arrivals”. Os autores aplicaram uma metodologia para entender os resultados de diversos eventos esportivos mundiais sobre as chegadas de turistas, e as principais conclusões são:

1. A hipótese de que os mega-eventos esportivos aumentam o número de turistas não pode ser rejeitada, depende da realidade do país e de alguns fatores

2. Em média, os eventos esportivos aumentam as chegadas em torno de 8%, durante o ano de sua realização (não somente no período do evento)

3. Os eventos que trazem maior impacto positivo ao turismo são as Olimpíadas de Verão e a Copa do Mundo FIFA, secundariamente o Mundial de Cricket e o Lions Tour

4. O número total de visitas a um país que recebe as Olimpíadas de Verão e a Copa do Mundo FIFA tende a ser maior quando os eventos são realizados em períodos de baixa estação. Quando estes acontecem na alta estação a tendência é diminuir as chegadas

5. Os impactos antes da realização do evento são significativos, o que pode explicar os resultados ruins das previsões pós eventos

O estudo realizado pela FowardKeys em parceria com a Pires e Associados mostra que até dia 10 de junho, as reservas para chegadas internacionais no Brasil aumentaram 1,6 vezes para os meses de junho e julho; e 2,4 vezes no períodos do Mundial (6 de junho a 13 de julho). Para saber mais entre aqui.

Estrangeiros na Copa

Estamos no início da Copa do Mundo FIFA e o estudo realizado pela Pires & Associados em parceria com a FowardKeys na Espanha traz dados sobre as reservas aéreas dos estrangeiros para o mundial. Os dados são coincidentes com o volume de ingressos vendidos pela FIFA, e ainda verão mudar com as futuras definições de chaves de jogos.

Por enquanto temos os seguintes resultados:

Destaques:

  • As reservas internacionais aumentaram 2,2 vezes durante a Copa do Mundo de 2014 – total de 392.225;
  • As reservas internacionais para chegadas ao Brasil entre junho e julho aumentaram 1,8 vezes – total de 478.456 .

Principais mercados emissores:

EUA:     81.339 (reservas); 22% (participação); 2,2 (crescimennto)

ARGENTINA:   29.446 (reservas); 8% (participação); 2,3 (crescimento)

CHILE:   19.445 (reservas); 5% (participação); 4,5 (crescimento)

 

Saídas do Brasil – junho-julho 2014:

As saídas do Brasil para junho e julho tiveram uma queda de 9% quando comparadas com o mesmo período de 2013. Na primeira etapa da Copa do Mundo haverá um aumento de partidas do Brasil, enquanto na segunda etapa as saídas ficarão abaixo das registradas em 2013 (-28%) (1). A tendencia é a retomada das viagens internacionais depois do mundial.

Principais destinos dos brasileiros no período:

  • Os Estados Unidos têm a queda mais significativa.
  • Apenas a Argentina e o Chile aumentaram as reservas para chegadas de brasileiros durante junho-julho de 2014.
  • Os EUA, o principal destino, quase duplica a queda média de visitantes do Brasil, enquanto a Espanha é único destino europeu abaixo da média.

Para acessar este e os demais estudos clique aqui: http://pireseassociados.com.br/2014/05/estudo-inedito-revela-o-impacto-da-copa-do-mundo-de-2014-no-turismo-brasileiro/

 

Antes, durante… depois

Volto a comentar uma parte da conversa que aconteceu hoje no Seminário de Turismo da CNC/ O Globo.

Todo evento tem esse “divisor” de águas: antes, durante e depois.

Resumindo, entendo que PARA O SETOR DE TURISMO NO CENÁRIO INTERNACIONAL:

O ANTES, já passou, e acho que o Brasil não conseguiu um posicionamento global para o país, aproveitando as oportunidades de visibilidade que teremos com a Copa. Não temos uma estratégia de comunicação única do país, com uma mensagem que diga ao mundo o que é o Brasil, nossas qualidades ou o que queremos que o mundo saiba sobre nós.

O DURANTE está chegando. E será a opinião dos estrangeiros que virão nos visitar, dos jornalistas e a multiplicação de fotos, vídeos e opiniões sobre o Brasil que poderão levar novas informações sobre nossa riqueza natural e cultural, assim como dos desafios ou problemas que ainda estamos enfrentando. Quando nos conhecem mais aparecem os aspectos bons e os ruins. Espero que o WIFI dos estádios, recepção de hotéis, restaurantes e pontos turísticos funcionem para que as pessoas possam compartilhar suas experiências.

O DEPOIS, tão importante quanto os anteriores, é o momento de reforçar a promoção do país, preparar o ANTES ( quase JÁ) dos Jogos Rio 2016 e tratar de estabelecer uma estratégia de mensagens que desejamos passar ao mundo. Revisar e inovar o Plano Aquarela 2020 para dinamizar e estabelecer novos rumos à promoção internacional do Brasil. Os grandes eventos esportivos não são o fim, mas um passo para avançar no conhecimento do destino.

Sim, e sobre o complexo de vira-lata, favor não confundir os problemas do Brasil, as obras que não estão prontas, as eleições, pois não estou falando disso (apesar de ser este um importantíssimo debate). Estou dizendo que acredito na alma brasileira, no povo brasileiro e em sua capacidade de receber os visitantes. E que problemas e coisas erradas também acontecem em outros países, não é só conosco “porque aqui é o Brasil”.