Conheci o Carlos Henrique Dezen quando eu era então diretor adjunto na Atout France, o órgão que promove o turismo francês no Brasil. Participamos juntos do Rendez-Vous en France e de um famtrip. Lá descobri sua espiritualidade e sua atuação, não exclusiva, no segmento religioso. Técnico em turismo, jornalista e pós-graduado em marketing de serviços, atuou no marketing do Banco Bradesco, na Shell e Lufthansa. Em 1993 abriu a Senator Tour Operator e há pelo menos 15 atua no segmento do turismo de fé. Aqui ele fala sua visão sobre esse mercado, ainda desconhecido, embora muito antigo e altamente lucrativo.
O turismo espiritual no Brasil segue crescendo. Obviamente muito dependente ainda dos roteiros cristãos, com potencial de 179 milhões de clientes. Nada mau, principalmente porque o turismo religioso pode vir acrescido de outras experiências, como gastronomia, história e até esportes ( no caso de peregrinações e caminhadas). E muitos destinos, considerados cristãos, também são procurados por esotéricos e neopagãos, na medida em que oferecem experiências místicas. É o caso de Santiago de Compostela e até o Egito, muito além do roteiro da Sagrada Família.
Cada uma dessas entrevistas tem o objetivo de descortinar os mistérios que envolvem o turismo de fé. É possível, a cada conversa, perceber o tamanho do mercado no Brasil, seus atores, os maiores desafios e também, para quem pretende investir no segmento, quais cuidados tomar. Inclusive com o jargão próprio que vem também se transformando. Nesta entrevista Dezen alerta, no lugar de romeiros, use o termo peregrinos. Mudanças que impactam inclusive no marketing, e não apenas na comunicação. Aqui não há espaço para amadorismo. Os caminhos devem ser percorridos com precisão, seguindo as lições daqueles que começaram a peregrinar mais cedo.
Quais os destinos que você mais vende?
Os nossos principais destinos religiosos são Israel e Jordânia; os Santuários Marianos – Fátima, Lourdes, Pilar, Schoenstatt, Medgiugore, Guadalupe- e, é claro, o Vaticano que é muito, mas muito visitado, por todas as pessoas independente da religião que professa.
Quem é o seu cliente?
O nosso público é majoritariamente católico e, nesse grupo, curiosamente, temos pessoas de todas as idades. São viajantes que ajudamos a exercitar a sua fé nesses lugares sagrados.
O mercado está aquecido?
Neste pós-pandemia, o número de “peregrinos” tem aumentado muito e tudo indica que vai aumentar mais ainda…As pessoas querem agradecer ao seu Sagrado a proteção de suas vidas e dos seus familiares.
Qual viagem foi transformadora para você?
Duas viagens marcaram muito a minha vida, a primeira foi a Terra Santa por inúmeros motivos, mas o principal foi ter andado por onde Jesus caminhou. A segunda foi em Lourdes, na França, porque lá é um local de cura. Quando eu vi aquelas procissões, caí em prantos, foi muito emocionante. A fé não tem explicação ou você tem ou não tem. E repito : independente de religião.
E os roteiros e potencial doméstico?
Falando em Brasil, temos o santuário de Aparecida – que é um pouco menor do que o Vaticano. Temos em média 12,5 milhões de “romeiros” – como eram chamados, mas agora são conhecidos também como peregrinos. Desses peregrinos 99% são brasileiros e ainda estou sendo generoso. Temos uma grande parte no Brasil para ser trabalhada ainda porque desses 12,5 milhões 95% vem da região Sudeste.Temos também o Cristo Redentor no Rio, que a maioria vê apenas como ponto turístico mas não é ! Padre Omar que é o Reitor de lá faz um excelente trabalho. Possibilidades não faltam.
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