Eu já falei sobre a Hopper por aqui, há mais ou menos 18 meses, quando ainda tinha poucos holofotes apontados para traveltech canadense no Brasil.
Vou me auto-plagiar e pegar um trecho da minha definição sobre a Hopper na época…
“A Hopper é uma das Online Travel Agency (OTA) globais mais “sexies” do momento. Ela é tipo o “Tik Tok” do mercado de viagens a lazer, 100% mobile, e 70% das suas reservas foram realizadas para o público menor de 35 anos. Eu, tiozão, já estou fora do público-alvo da empresa. Hopper nasceu no Canadá em 2007 e em toda sua história já captou US$ 598 milhões. Em sua última rodada foi avaliada em US$ 5 bilhões, e já faz aproximadamente U$ 1.5 bilhão/ano em reservas.“
O mais legal da Hopper, na minha visão, é que ela conseguiu “hackear” o modelo tradicional de OTA, intensivo em mídia, para um modelo com maior recorrência e menor dependência de mídia.
Recordemos, uma OTA precisa comprar o cliente todo mês, não há nenhuma fidelidade ou recorrência neste negócio, lembre-se da Viajanet lá entre 2010 e 2012 que inundou a tv aberta com propagandas agressivas, e agora recentemente a 123Milhas, que teve seu faturamento esvaziado quando parou de comprar anuncios.
Por exemplo, se analisarmos o primeiro trimestre deste ano, Expedia gastou 62% da sua receita com marketing e vendas, enquanto a Hopper gastou “apenas” 16%.
Recentemente a Hopper ganhou destaque, ao anunciar que será o parceiro oficial do Nubank no segmento de viagens.
Mas vamos lá, nem tudo são flores na startup canadense, nos últimos meses uma série de acontecimentos levantaram dúvidas sobre o modelo de negócios da startup.
Acontecimento 1 – Expedia versus Hopper
Recentemente a Expedia removeu a distribuição do seu conteúdo para a Hopper alegando publicamente que eles:
“Criam uma má experiência, levando clientes a comprar coisas que eles não precisam ou não entendem, e levam 27 cliques para realizar a compra eenquanto na Expedia o usuário consegue reservar com ‘apenas’ 6 cliques”
A Expedia também reforçou no anúncio de cancelamento que a Hopper “‘explora a ansiedade do consumidor’” oferecendo ofertas que ele não precisa.
Já a Hopper, alega que a Expedia removeu a sua distribuição por medo da concorrência, e que ela (Expedia) irá perder vendas com isto, e não a Hopper e dando uma alfinetada sobre a experiência falou:
“Eu gostaria de lembrar o Peter Kern (CEO Expedia) que não existe cliques no celular mas sim ‘taps’, e é que algo completamente diferente”
A Skift bancou o teste, fazendo uma reserva de aéreo com origem New York (JFK) para Paris (CDG) e o resultado é que na Expedia foram 22 ‘taps’ (que poderíamos traduzir para ‘touchs’) e na Hopper foram 37 ‘taps’.
Sim, a experiência na Hopper é muito mais longa e confusa, durante a jornada, vários tipos de anciliares são ofertados, inclusive seguros para cancelamento, atraso e até congelamento de preços.
Acontecimento 2 – Booking versus Hopper
Esta semana, de forma “pró-ativa” a Hopper anunciou que removeu o conteúdo do Booking da sua plataforma também, e algumas especulações apontam que esta iniciativa foi pró-ativa pois o Booking já estava em conversas para cancelar a parceria.
Alguma coisa bem séria deve ter acontecido, para Expedia e Booking encerarrem seus contratos de distribuição com a plataforma canadense.
A verdade que o fato da Hopper ter capital fechado, todos os dados relacionados a “gross booking”, receita, e até mesmo investimento em marketing e vendas, são informações confidenciais e não públicas, portanto, não se sabe de fato se é verdade ou pura especulação.
ACONTECIMENTO 3 – LAYOFF de 30% do quadro dos colaboradores
E pra finalizar, no dia 04 de outubro a Hopper anunciou a demissão de 250 colaboradores, aproximadamente 30% do seu quadro, alegando que irá focar em produtos mais rentáveis.
Convenhamos, empresa que está indo bem, crescendo e com margens saudáveis, não tem motivos para desligar tantas pessoas.
Sem Expedia, sem Booking, com dados fechados, e talvez não auditados, o futuro da Hopper é completamente imponderável.
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