Ao longo dos últimos oito anos, aqui no Brasil, as OTAs de milhas eram as grandes ofensoras das companhias aéreas, o presidente da Latam inclusive chegou a afirmar que estes sites são um câncer para o setor.
Com o iminente declínio da 123Milhas, líder histórico do setor com vendas anuais na casa de R$ 6B, as companhias aéreas respiram de forma aliviada.
Este suposto “câncer” foi contido, por enquanto…
Nos EUA, um novo player (aliás, nem tão novo assim) tem incomodado a indústria aérea, trata-se da Skiplagged, um meta-buscador que através de tecnologia traz tarifas das companhias aéreas que supostamente elas não querem que os viajantes vejam.
O site é tão ousado e provocativo com a indústria que na página inicial já coloca: “Nossos vôos são tão baratos, que a United Airlines nos processou… mas nós ganhamos“.
Recentemente a American Airlines também processou a plataforma.
Agora, sobre este assunto, vou me permitir destacar um paradoxo desta indústria…
De um lado as companhias aéreas investem tubos de dinheiro em sofisticadas equipes de revenue management e em aquisição de softwares como a Fetcherr, que utiliza inteligência artifical para otimizar a precificação em real-time das cias aéreas (Azul é cliente deles)…
E do outro lado, um caminhão de dinheiro é colocado diariamente em startups e empresas que criam algoritmos igualmente sofisticados que buscam “hackear” o modelo de distribuição das companhias aéreas, com o único objetivo de entregar tarifas menores para os consumidores.
Note o conflito, a companhia aérea quer maximizar o retorno para os acionistas equilibrando aumento da taxa de ocupação (load factor) e aumento da tarifa média, e OTAs e Metabuscadores como Skiplagged buscam maximizar o retorno para os consumidores com algoritmos inteligentes que buscam tarifas mais baratas.
É uma guerra puramente tecnológica.
Para resumir esta introdução e adentrarmos no modelo da SkipLagged, se você está comprando passagem aérea muito barata, através de canais intermediários, você não é bem quisto dentro da companhia área, simples assim 😉
Mas afinal, o que faz a SkipLagged?
Voltando a SkipLagged, o que ela faz do ponto de vista de tecnologia é demasiadamente simples, ela arbitra sobre alguma ineficiência de precificação das companhias aéreas e mostra tarifas com paradas “escondidas” para o consumidor final.
Exemplo buscado hoje:
Uma passagem de Porto Alegre para São Paulo, direto e sem parada, o vôo custa R$ 580,00, entretanto se você buscar Porto Alegre para Goiânia, o mesmo vôo, com conexão em SP e que depois vai pra Goiânia custa R$ 390,00, se o viajante comprar este vôo e descer em SP, nesta brincadeira ai ele já economizou R$190,00, veja o print:
Observe que o “hack” só funciona se o viajante não despachar mala, pois ele desce no meio do vôo, e a mala vai direto para o destino final do bilhete.
Eu não tenho competência alguma para tentar explicar o motivo disto acontecer, mas especulo que esta precificação dinâmica e de certa forma equivocada, onde um destino com trecho mais longo é mais barato que um vôo com trecho mais curto, seja algo relacionado a competitividade e concorrência entre as companhias aéreas.
Novamente, é uma especulação, talvez algum especialista em revenue de companhia aérea possa dar mais contexto neste assunto aqui.
É ilegal?
Tudo que tira receita da companhia aérea é combatido, logo esta prática é considerada ilegal para grande maioria das companhias aéreas, haja vista que ela viola os termos e condições dos bilhetes e lá fora já existe casos de companhias aéreas que processaram os passageiros. As agências de viagens que tiverem muitos casos deste tipo também são passíveis de punições por parte das das aéreas, com multas e ADMs.
Por aqui, não conheço casos semelhantes de punição, nem de consumidor, tampouco de agência de viagem, embora vale ressaltar que a prática ainda seja desconhecida pela grande maioria dos consumidores.
Quais os riscos?
Tem um risco clássico que é o de esquecer que foi realizado a compra deste tipo de bilhete e despachar a bagagem, daí, só no destino final, com uma grande dor de cabeça.
Vôos com ida e volta juntos (round-trip) também não são elegíveis, visto que o bilhete da volta é automaticamente cancelado.
Existe no Brasil?
Por enquanto não existe um site referência no Brasil, muito embora as tarifas “ocultas” do Brasil também estão disponíveis pelo site Skiplagged. Esta prática não é nova, o Skiplagged existe desde 2015, há mais ou menos 8 anos, e eu chutaria que neste exato momento deve ter algum nerd desenvolvendo um site parecido aqui para o Brasil.
Sou agência de viagens, posso vender isto para meus clientes?
Minha dica curta e grossa: NÃO!
No modelo de intermediação, um agente de viagem tem essencialmente dois clientes, o viajante final e o fornecedor, seja companhia aérea, seja locadora de carro ou cadeias hoteleiras, portanto utilizar de modelos que prejudicam a companhia aérea pode ser um tiro no pé, passível de punições como perda de sinal e eliminação de incentivos, definitivamente não faça isto!
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