Semana passada tive a grata oportunidade de participar da Phocuswright Conference, um dos maiores eventos de turismo e tecnologia do mundo, que aconteceu em Fort Lauderdele nos USA e reuniu líderes e mentes brilhantes de todo mundo.
Aproveito para agradecer a queridíssima Carol da Mapiê pela oportunidade e o desconto concedido (sabe como é né, dólar tá caro e por aqui a grana anda curtíssima) e aos brasileiros que também tiveram por lá e que eu tive a oportunidade de conhecer e trocar muito conhecimento.
Luís Ferrinho da Omnibees, João Carlos e Fernando da Copastur, Eduardo do Grupo Wish, Rodrigo Melo do Viajala, obrigado de verdade pela troca e networking durante os 4 dias.
Me considero um privilegiado por ter conseguido ir e se Deus e meus sócios me permitirem, pretendo ir todos os anos.
Este post é uma compilação de algumas anotações realizadas durante o evento e espero que de alguma forma, gere valor para você que dedicou alguns minutos do seu tempo para lê-lo.
Simbora?
1 – Os problemas são os mesmos no mundo todo, aqui no Brasil, nos EUA, na Alemanha, na Índia e até na China
Pra começar, a primeira reflexão que eu tive é que os problemas que eu acrediava que acontecia apenas no Brasil, acontecem no mundo todo, como mapping dos quartos dos hotéis na distribuição online, hotéis que não confirmam as reservas, custo da distribuição na hotelaria e na aviação, baixa digitalização dos parceiros, baixa remuneração das companhias aéreas para os distribuidores, briga entre GDS e companhias aéreas, etc.. etc… etc… etc….
A parte legal é que por lá havia muitas soluções de tecnologia que “supostamente” prometem resolver alguns destes problemas.
2 – O metaverso morreu
Sabe aquela bobagem que o Zuckeberg criou e que um monte de guru de inovação ficou repetindo igual um papagaio durante meses?
Então…
Ninguém falou de metaverso por lá, definitivamente aquilo foi uma mentira e todos nós já esquecemos.
3 – O Google e a Meta continuam mandando no turismo
No final do dia, boa parte da grana da distribuição do turismo vai para o bolso do Google e da Meta, e eles não colocaram nenhum real como patrocínio no evento, mas foram lembrados o tempo todo, algo muito parecido com o o que vejo acontecer no mercado de e-commerce do Brasil há anos.
Grandes players como Expedia, Booking, Tripadvisor e Trivago possuem uma relação de amor e ódio com o Google, pois hora ele é parceiro gerando tráfego, outrora ele é concorrente, capturando audiência e bypassando as OTAs.
Tripadvisor que o diga, o Google Reviews é uma grande ameaça para o seu modelo.
Estima-se que este ano só o Booking e a Expedia vão colocar perto de U$ 10B em anúncios no Google!
E até mesmo as companhias aéreas e cadeias hoteleiras que se orgulham de ter um grande share de venda direta, também pagam um alto pedágio para o Google e para o Meta, através de caríssimos CPCs (Custo por clique).
4 – Amadeus está engolindo o Sabre
O valor de mercado do Amadeus hoje está em €28B (sim, euros), e o do Sabre está em $1.4B (dólar), tinham vários profissionais da Amadeus em papéis de protagonismo no evento e pouquíssimos do Sabre.
Nesta corrida sobre a liderança de player de tecnologia e distribuição para turismo, a Amadeus está ganhando de longe, veja abaixo a evolução das ações das duas empresas ao longo dos últimos anos.
5 – O NDC é inevitável
Teve um painel sobre NDC com executivos da American Airlines e da AirCanada, e claramente as cias aéreas estão acelerando suas estratégias de distribuição centradas no NDC, gerando alguns conflitos inclusive com a cadeia de distribuição. E a reflexão é que não dá para “combater” o NDC como muitas agências estão fazendo, é preciso entender e aceitar. As companhias aéreas não querem mais o modelo antigo de distribuição EDIFACT, liderado por décadas pelos GDS.
6 – BACK TO THE BASICS – O dinheiro barato acabou, não tem esta de crescer só por crescer negligenciando margens
Em uma apresentação sobre o mercado de venture capital e funding em travel, Mike Coletta da PhocusWire trouxe insights valiosos sobre como está o panorama atual de investimentos no setor.
Duas coisas me chamaram a atenção:
1 – A grana reduziu
O dinheiro alocado em empresas de turismo e tecnologia voltou ao patamar de 9 anos atrás, depois de uma abundância em 2018 e 2019 e pasmém, em 2021.
2 – Acabou o oba-oba de crescer “a qualquer preço”
Durante muitos anos, em tecnologia, o conceito de “blitzscaling” criado por Reid Hofman (founder do Linkedin) foi considerado o modelo a ser seguido pelas startups. Agora, com a falta de dinheiro, “voltar ao básico” e olhar margens e lucratividade voltou a fazer parte do jogo.
7 – Pagamento via cartão de crédito virtual é uma luz para os intermediários
Devia ter pelo menos umas 8 empresas oferecendo soluções muito boas de geração de cartão virtual para pagamento para os fornecedores, em um mercado de margens cada vez mais esprimidas, ganhos de interchange da bandeira parecem ser uma boa alternativa de receita para operadoras e agências. E para os fornecedores uma melhor forma de ter recebimento automático, com baixo índice de inadimplência, e com facilidade de conciliação dos recebíveis. É uma relação “ganha-ganha-ganha”, a Visa e Mastercard ganham mais alguns bilhões em TPV (Total Payment Volume), as agências, operadoras e “bed banks” ganham um pouquinho de dinheiro com interchange, e os fornecedores como hoteis e cias aéreas automatizam seus recebíveis.
8 – IA é a bola da vez, e eu especulo que não seja apenas um hype
A cada 10 palavras faladas no evento, 8 era especificamente IA (inteligência artificial), eu ainda tenho um pouco de dificuldade de falar de IA em uma indústria que ainda deixa o hóspede 30min em pé para entrar no quarto do hotel, ou que deixa um viajante 45min na linha com o call center para fazer o “cancelamento” do vôo.
Ou seja, o turismo ainda tem muita coisa “básica” para resolver antes de pensar aplicação de inteligência artificial.
Mas eu tenho a suspeita que quando chegar, vai ser de uma vez e vai disruptar algumas verticais completamente.
Lembrando que já tem muitas empresas de tecnologia e turismo que aplicam IA há anos em suas plataformas, como os algoritmos de recomendação do Booking, Airbnb e da Expedia. O próprio Google Flights pra fazer mapping de hotéis e de aéreo em sua busca.
Estamos bem no início da jornada de adoção de AI no turismo.
9 – Ainda há muita oportunidade no turismo
No painel entre os founders do Kayak, ficou muito evidente que há ainda muita oportunidade no setor. Paul English por exemplo, após fundar o Kayak, fundou a Lola.com, uma traveltech que foi vendida para a Capital One, e atualmente fundou a Deets, uma plataforma que cria roteiros personalizados em diversos lugares do mundo com o apoio de inteligência artificial.
Existem inúmeros problemas no turismo, o que consequentemente pode ter inúmeras oportunidades.
Para qualquer lugar que se olhe há oportunidades, em distribuição, pagamentos, marketing, personalização de experiências, entre outros segmentos. É bem provável que o player líder de travel daqui há 10 anos, ainda não exista.
10 – Vida longa aos intermediários
Ficou claro, em boa parte dos painéis, que por mais que haja algum esforço de algumas companhias aéreas e de algumas cadeiras hoteleiras em verticalizar a distribuição, a audiência e a tecnologia dos intermediários, vide Tripadvisor, Expedia, Hopper, Booking, Priceline, HotelBeds, TBO, entre outros, ainda é muito relevante.
Se olharmos o resultado do terceiro trimestre deste ano dos principais players de tecnologia e turismo do mundo, todos cresceram em volume de reservas e de receita, o que comprova o protagonismo que estas empresas possuem no segmento.
E antes de terminar, gostaria de contribuir compartilhando também toda a cobertura feita pelo time de jornalismo do Panrotas no evento e no próprio canal do Youtube da Phocuswright também há vários vídeos do evento publicados e completamente aberto.
Enjoy 😉
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