Milton Friedman, um dos economistas mais notáveis da nossa história, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 1976 e um dos maiores defensores do live mercado, popularizou esta frase em seu livro no ano de 1977.
A frase fazia referência aos bares nos Estados Unidos que davam almoço grátis para os consumidores que comprassem bebida.
Veja, Friedman faleceu em 2006 e 16 anos após a sua morte, ele deve estar neste momento se revirando no caixão ao saber que pessoas de terno e gravata tiveram a brilhante ideia de aprovar a volta das bagagens gratuitas.
Por sorte (e por favor, não quero trazer este artigo para um debate político), o presidente Jair Bolsonaro vetou, mas o congresso ainda pode votar o veto.
Em ano eleitoral, tudo é possível para atrair os holofotes com uma perspectiva futura de ganhar eleitores, portanto, vale a pena acompanhar esta disputa.
Por aqui, vou me ater ao discurso, do quão equivocado é a ideia do despacho gratuito da bagagem, com apenas quatro argumentos, então vamos lá
Primeiro, a errônea narrativa que o empresário explora a sociedade
A exigência da bagagem gratuita faz parte da narrativa equivocada, que prevalece hoje, onde empresas más exploram cidadãos de bem, e o estado, precisa proteger e gerar equilíbrio nesta relação.
Com esta narrativa, governantes, funcionários públicos e deputados aumentam a gordura do estado, com a falsa promessa de melhorar os serviços para a sociedade, quando no final, acontece justamente o contrário, aumentam os impostos e pouco ou quase nada é visto de melhor na ponta.
Precisamos de verdade mudar este cenário, com esta decisão, nos juntaremos a Cuba e a Coréia do Norte, os únicos países do mundo que ainda mantém obrigatoriedade da franquia de bagagem despachada, convenhamos, duas economias parcas e bem longe de gerar alguma inspiração (Admito, em 1996, eu tinha uma baita admiração pela seleção feminina de Cuba, lembro como se fosse ontem, Mireya Luis, Regla Torres e time, ganhando das valentes jogadoras do Brasil).
Segundo, as companhias aéreas estão em frangalhos
Sabe aquela história, o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada e o segundo melhor negócio do mundo é uma companhia de petróleo mal-administrada?
Companhia aérea é exatamente o oposto.
Muito bem administrada, é o pior negócio do mundo, mal administrada, ela quebra, Varig, Vasp, Transbrasil, Avianca e recentemente a Ita Transportes, não me deixam mentir.
Richard Branson, fundador do grupo Virgin, disse certa vez que a forma de ser milionário, é começar como um bilionário e então fundar uma companhia aérea.
Veja só a instabilidade em ser acionista de uma companhia aérea, um maluco resolveu soltar umas bombas na Ucrânia, e os custos explodem, só nos últimos 4 meses, de guerra, Azul e GOL perderam quase R$ 7B em valor de mercado.
No início de janeiro de 2020, um vírus proveniente do morcego se espalha pelo mundo, as pessoas ficam trancadas em casa, e nos dois anos seguintes, Azul e GOL tiveram prejuízos de R$ 21,7 bilhões.
Para ser exato, Azul teve um prejuízo de R$10,8B em 2020 e R$ 4,2B em 2021, e a GOL um prejuízo de R$ 5,98B em 2020 e R$ 7,2B em 2021.
Veja abaixo, o pesadelo para os acionistas desta empresas.
Resultado da GOL nos 2020 e 2021
Resultado da AZUL nos 2020 e 2021
Ainda temos que reconhecer, que estas companhias foram heróicas e não foram socorridas com dinheiro público, ao contrário do que aconteceu em outros países, a TAP por exemplo, foi socorrida pelo governo dos nossos irmãos europeus.
A Lufthansa, teve um incentivo parecido na Alemanha.
E olha, que eu nem estou falando da Latam, que pediu Chapter 11 lá nos EUA e está em um processo longo de recuperação que vai durar alguns bons anos.
Agora, é o momento destas empresas se recuperarem, e tirar esta receita adicional de bagagem é reduzir o oxigênio dos aparelhos.
Terceiro, Perda de atratividade de novos competidores
Eu preciso reconhecer, não morro de amores por companhias aéreas brasileiras, acho que há enormes oportunidades para novos competidores e aumento da competitividade, existem várias rotas no Brasil, que está na mão de apenas uma companhia aérea, e a história já nos mostrou que a ausência de concorrência gera serviços piores no longo prazo.
Mas a gratuidade da bagagem, por lei, inclusive atrapalha novos entrantes, veja, eu viajei uma vez com a Allegiant, uma low cost americana, e tive que pagar até para imprimir o bilhete, era algo como U$ 5,00, a experiência foi horrível, mas era o que meu bolso estava disposto a pagar e no final, eu fiquei feliz.
A venda de “ancillaries” é uma oportunidade da companhia aérea aumentar suas receitas: bagagem, alimentação, checkin antecipado, escolha de assento, tudo isto deve ser uma oportunidade para as companhias áreas.
Já falei com um executivo da Azul, aquelas balinhas de aviãozinho, gera uma conexão tão forte entre eu e meu filho, que eu pagaria uns R$ 20,00 para comprar aquelas balinhas e ver o sorriso do guri toda vez que chego de viagem 😉
Criar uma lei e empurrar para as aéreas, proibindo-as de rentabilizar, é um tiro no pé, pois afugenta novos possíveis competidores, exatamente tudo que não precisamos.
Na pandemia, a parte logística foi uma das poucas linhas de receita que continuaram relevantes para as companhias aéreas, de certa forma, a explosão do e-commerce beneficiou um pouco as cias aéreas, que possuem unidades de negócios de entrega, como GOLLOG, AzulCargo e Latam Cargo.
Com a canetada do despacho gratuito, há um custo de oportunidade de espaço, que poderia estar sendo alocado para despachar encomendas, aumentar a receita das cias aéreas, otimizar custos, e adivinhem, até baratear os custos da passagem em um futuro próximo.
Senadores, e deputados, nós não precisamos que vocês entrem nesta briga!
QUARTO, eu não quero PAGAR A CONTA, e acho que você também não!
Nos meus tempos à frente de uma operação de e-commerce, quando algum cliente vinha pedindo frete grátis, eu falava que iria ver com a transportadora, se eles topavam levar a carga de graça. Era uma forma elegante e divertida de dizer que não tinha esta possibilidade, no final o cliente ria, eu também ria, nos divertíamos, mas ele acabava pagando o frete.
Eventualmente, quando queríamos fazer promoção de frete grátis, a gente tirava do marketing para subsidiar o frete, de novo, alguém estava pagando.
Em aproximadamente 90% das minhas viagens eu não levo bagagem, não quero olhar para o colega do lado, e saber que eu estou pagando pela bagagem dele, não me parece justo.
As companhias aéreas sempre ofereceram opções de bagagens adicional a preços razoáveis, e ainda há a possibilidade de despachar a bagagem através de outras empresas, conheço pessoas que para não despachar a bagagem e pagar o preço das companhias aéreas, fazem entrega das bagagens como encomenda através de transportadoras.
Enfim, existem opções mais baratas, e entenda que a comodidade aqui tem um preço, da mesma forma que paguei 50% para viajar com uma low-cost e tive uma experiência ruim, eu poderia ter pago 100% em uma outra companhia aérea e ter uma experiência melhor.
É aquela velha relação entre “preço e valor” que os gurus de inovação sempre ficam falando.
Conclusão
Eu estou muito otimista que esta bobagem de bagagem gratuita não vá pra frente, tivemos um lapso do presidente em vetar, entretanto, em anos eleitorais, o interesse pessoal sempre sobressai sobre os interesses coletivos.
Portanto, vários parlamentares já declararam que vão brigar para derrubar o veto do presidente.
Muitos, infelizmente acreditam, que existe almoço gratuito!
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