Kotor, a porta de entrada para Montenegro

A baía de Kotor, cercada por montanhas, vista durante a saída do navio

Apesar de a viagem a bordo do Ovation não ser um cruzeiro “oficial”, ser apenas uma viagem-teste (shakedown cruise, eles chamam), todo o serviço da Seabourn está em operação – até porque a proposta é deixar o navio prontinho para os primeiros passageiros pagantes. Nesse sentido, a companhia também promoveu uma de suas paradas em destinos exóticos.

O porto escolhido foi o da pequena Kotor, cidade na saída de Montenegro para o mar Adriático. O país é uma ex-nação iugoslava que ao longo da década de 90 estava dentro de território sérvio e, em 2006, se tornou completamente independente. Apesar de não ser membro da União Europeia, o montenegrino utiliza no dia a dia o Euro de forma unilateral – algo que vem a calhar, já que, por conta de sua história e belezas naturais, a economia de Montenegro é fortemente baseada no Turismo.

Vielas da Cidadela de Kotor e, ao fundo, o monte de San Giovanni

Não é de hoje que Kotor recebe visitantes. Desde o século 6, quando a região fazia parte do Império Bizantino, a cidade possui fortificações que mostram sua importância comercial e defensiva. Ao longo dos séculos, essas construções foram tomando as formas da hoje conhecida como Cidadela de Kotor.

Passear pelas ruinhas da Cidadela é um misto de viagem no tempo e parque temático. É possível se perder nas vias minúsculas do que um dia foi o centro de Kotor, apenas caminhando sem rumo, apreciando o cenário que une arquitetura medieval e a bela montanha de San Giovanni na qual a cidade se recosta. Mas também há áreas totalmente feitas para turistas, com grandes restaurantes e bares, com lojas de souvenir e roupas. É democrático, você escolhe a forma de turistar que curtir mais.

Por falta de tempo, não consegui fazer a trilha até o Castelo de San Giovanni (€ 8), no topo da montanha. Utilizando as muralhas da fortificação como estrada, a íngreme caminhada demora em torno de uma hora e, lá de cima, dizem que a vista de Boka Kotorska, a baía de Kotor, é única.

A vista da baía de Kotor durante a trilha para San Giovanni (Wikimedia Commons/Ggia)

De volta ao centro da Cidadela, só que do lado de fora de seus muros, vale uma visita rápida ao pequeno mercado local, que exibe frutas e legumes, mas também iguarias como azeitonas, queijos e prosciuttos típicos da região. Apesar de estar em área totalmente turística, os preços do mercado não são tão exorbitantes – um mix com três variedades de queijos, por exemplo, sai por menos de € 10.

Pela beleza do trajeto, cortando as imponentes montanhas em uma espécie de fiorde (na verdade são rias), não posso evitar de sugerir a entrada/saída da cidade pela forma que ela historicamente é feita, pelo mar. Nos dias de hoje essa opção não é tão acessível assim, mas há empresas que oferecem todo o tipo (e preço) de passeio pela baía, vale conferir.

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Koningsdag, o Dia do Rei na Holanda

Ruas cheias, fantasias, celebração e muito laranja durante o King’s Day (Instagram/jessinwanderland_)

Ter a real experiência de entrar em contato com a cultura de um país é prioridade para muitos viajantes – e algo, cá entre nós, extremamente difícil de se conseguir em destinos tão descaracterizados pelo Turismo de massa. Grandes festas e celebrações locais são uma dessas raras oportunidades e, por conta disso, não vou me cansar de escrever sobre elas neste espaço.

Hoje eu volto para a Holanda, país que iniciou a trajetória do Viajante 3.0, para tratar de um dos dias mais importantes daquela terra. Oficialmente uma monarquia parlamentar, nos Países Baixos a família real mantém um respeitável peso simbólico entre a população. Prova disso é a tradicional celebração do Koningsdag (Dia do Rei).

Anualmente, no dia 27 de abril, a população se reúne para brindar a cultura da Holanda, com atividades a céu aberto e cidades (e pessoas) vestidas de laranja. O motivo da cor em abundância é porque essa representa a família real holandesa, a Casa de Orange-Nassau. Voltando para a festa, sua data, não por coincidência, cai no aniversário do Rei Willem-Alexander (ou Guilherme Alexandre se você preferir essas traduções monárquicas).

O dono da festa, Willem Alexander, e a família (Instagram/koninklijkhuis)

A celebração é nacional, ou seja, em qualquer grande cidade do país que você estiver nesse dia, certamente serão ouvidos muitos “fijne Koningsdag” (“feliz dia do Rei”) e terá um mar de enfeites e fantasias laranjas para lhe engolir. Mais que isso, a tradição pede que o Rei Willem visite uma cidade a cada ano. Hoje, então, em seu 51º aniversário, o monarca esteve em Groningen – atraindo multidão de 40 mil pessoas, segundo as autoridades.

Um dos pontos altos do Koningsdag são os vrijmarkt, mercados de pulgas com objetos vintage e colecionáveis. O Dia do Rei é o único no ano em que qualquer um pode comercializar seus bens nas ruas, sem a necessidade de alvarás ou permissões e ainda livre de imposto. Entende-se por: muita gente reunida vendendo e trocando bugiganga.

História

Um fato histórico interessante do feriado é que a celebração mudou de data ao longo das regências. A festa nasceu, em 1885, como Prinsessedag (Dia da Princesa), em homenagem à Princesa Wilhelmina (Guilhermina) – tornou-se posteriormente Koninginnedag (Dia da Rainha) com a morte de seu pai e consequente nomeação como rainha. A festa era comemorada a cada 31 de agosto, dia de seu aniversário.

Juliana, ao suceder a mãe no trono, rearranjou a data para o dia em que nasceu, obviamente: 30 de abril. Foi assim por quase 40 anos, até que Beatrix (Beatriz) se tornou rainha. Como seu aniversário cai em 31 de janeiro e o rígido inverno holandês não é assim tão convidativo para celebrações a céu aberto, ficou acertada a manutenção do 30 de abril, como homenagem à antecessora Juliana.

Ruas de Amsterdã com as cores da bandeira holandesa e, claro, o laranja (Instagram/blooolooo)

Em 2013, ao abdicar do trono e abrir caminho para a regência de seu filho, Willem, a festa mudou então de nome, de Koninginnedag para Koningsdag (de rainha para rei), e também de data. Coincidentemente, não foram necessárias grandes alterações já que Willem Alexander nasceu em 27 de abril, três dias antes da data que fora celebrada durante os 65 anos anteriores.

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O cravo vermelho e a memória portuguesa no 25 de Abril

Celebrações nas ruas, cravos em mãos e, ao fundo, a Câmara Municipal do Porto (Instagram/moiannette)

A destituição do Estado Novo português, uma ditadura que perdurou por mais de 41 anos, e a consequente instauração da Democracia se deram em um 25 de Abril como o de hoje. Conhecida como a Revolução dos Cravos, a tomada de poder por parte de um grupo de militares, em 1974, é celebrada anualmente por todo Portugal.

Iniciada em 1933 e perpetuada na figura de António de Oliveira Salazar, a ditadura em Portugal flertou com ideais fascistas e teve oposição (duramente reprimida) durante boa parte da sua longa existência. No dia 25 de Abril de 1974, em ação orquestrada em diferentes partes do território português, o grupo de militares dissidentes Movimento das Forças Armadas (MFA) depôs o então chefe de governo, Marcelo Caetano.

O cravo vermelho solitário, adereço das espingardas dos soldados das tropas libertadoras, virou o símbolo da revolução. Conta a história que Celeste Caeiro, funcionária de um restaurante do centro de Lisboa, topou com um soldado no caminho de volta para casa. Ao questionar a movimentação, e não ter um cigarro para oferecer ao pracinha, ela deu a ele um cravo que tinha em mãos – prontamente repousado no cano de sua arma.

Também nas ruas de Lisboa, o cravo vermelho em mãos, relembrando o 25 de Abril (Instagram/malyulka)

Mais soldados seguiram a ideia e a imagem se espalhou no Largo do Carmo, onde eles se reuniam. Além de poético, o cravo nas espingardas ajudava a população a distinguir quais eram as tropas amigas. A Revolução dos Cravos ganhou então nome e, desde então, a flor sempre se faz presente nas celebrações da data.

Em Portugal o 25 de Abril é feriado nacional e as grandes cidades promovem eventos durante todo o dia. Na virada da noite aqui no Porto, por exemplo, uma queima de fogos de artifício celebrou a chegada do dia em sua principal avenida, dos Aliados. Neste mesmo local, um palco promoveu shows gratuitos tanto ontem quanto hoje.

Em Lisboa, um tradicional desfile popular na Avenida da Liberdade marca o dia com uma caminhada da Praça Marquês de Pombal ao Rossio. Também na capital, pianos foram colocados na Praça do Comércio para quem quisesse praticar, em ação pela “liberdade de tocar”.

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