10 Festas Populares para conhecer melhor Portugal (parte II)

Como prometido, aqui está a segunda parte da lista de festas populares portuguesas que eu criei para o Viajante 3.0. No primeiro post, que você pode acessar neste link, apresentei celebrações como o São João (Porto), Sebastianas (Freamunde), Feiras Novas (Ponte de Lima), Festa dos Tabuleiros (Tomar) e Festa dos Remédios (Lamego).

Em homenagem a entidades religiosas diversas, essas comemorações têm entre si pelo menos uma coisa em comum: todas representam a data (ou uma das datas) mais importantes para estes locais. Participar de festas populares em Portugal significa estar presente no melhor dia do ano para uma grande parte da população, seja pelo viés religioso, seja pelo profano.

Abaixo apresento cinco outras celebrações que completam essa lista, escolhidas a dedo para que o leitor possa se programar e conhecer a fundo a mais autêntica experiência portuguesa.

Os desfiles na Av Liberdade são um dos pontos altos da festa de Santo António (Facebook/Visit Lisboa)

Santo António (Lisboa)

Junho é sinônimo de festa em Lisboa e a capital portuguesa não poderia ficar de fora. Santo António é o homenageado e as comemorações se espalham pelos cantos da cidade do primeiro ao último dia do mês. Em 12 de junho, no entanto, é quando a cidade realmente para em nome do santo.

A Avenida da Liberdade vira passarela para o desfile das marchas populares, cada uma representando uma área da capital. Todos coloridos, bairros tradicionais se enfeitam com luzes, guirlandas e balões, seja na Alfama, em Bairro Alto, Ajuda, Graça ou Mouraria.

Nestes locais, aliás, palcos são montados para a realização dos divertidíssimos arraiais e bailaricos – todos regados a muita cerveja e, é claro, acompanhado de sardinhas na brasa. A parte religiosa novamente está presente, com procissões nas cercanias da Sé no dia seguinte (13).

Jovens reunidos durante o Pinheiro, uma das etapas das Nicolinas (Divulgação/Município de Guimarães)

Nicolinas (Guimarães)

Fugindo ao padrão das comemorações que se aglomeram no verão europeu, as Nicolinas são festas estudantis realizadas entre 29 de novembro e 7 de dezembro, em Guimarães. Como o nome indica, o homenageado da vez é São Nicolau de Mira, padroeiro dos estudantes.

Os nove dias de festa são divididos por temas e formas de celebrar diferentes: Pinheiro e Ceias Nicolinas; Novenas; Posses e Magusto; Pregão; Maçãzinhas; Danças de São Nicolau; Baile Nicolino; e Roubalheira.

Destas, destaco três datas. O Pinheiro, dia em que os estudantes saem para jantar e no fim da noite entoam cânticos pelas ruas de Guimarães. A roubalheira, madrugada em que estudantes vão às ruas para zombar comércios, trocando placas de lugar ou tomando pertences esquecidos ao léu. E as Maçãzinhas, quando estudantes mulheres se postam em janelas e varandas para ouvir as serenatas românticas e ganhar pequenas maçãs de seus pares.

Os assustadores Caretos das Festas dos Rapazes (Flickr/Visit Porto and North/Associação Grupo de Caretos de Podence)

Festas dos Rapazes (Trás-os-Montes)

Os últimos dias do ano em Trás-os-Montes são reservados para um importante rito local. Entre Natal e Dia de Reis, os jovens da região do extremo nordeste de Portugal se vestem de forma peculiar (e, de certa forma, assustadora) para marcar a passagem para a vida adulta.

Originalmente pagã, celebrada no solstício de inverno, a festa secular foi apropriada pela igreja e hoje homenageia Santo Estevão. Nela, os garotos da cidade se vestem de Caretos, personagem que assusta os presentes com sua máscara rudimentar e roupas coloridas em verde, vermelho e amarelo.

Para marcar o momento, os rapazes vão às ruas para brincar, provocar e assustar os presentes. Muito celebrada no distrito de Bragança, a festa está espalhada por toda região de Trás-os-Montes. Por isso, vale pesquisar pequenas cidades da área e suas respectivas datas de desfiles.

De cima de carros, pétalas são atiradas no público durante a divertida Batalha das Flores, na Festa das Cruzes (Flickr/Município de Barcelos)

Festa das Cruzes (Barcelos)

Se não há santo a ser celebrado, não tem problema. Em Portugal, dá-se um jeito para comemorar. Em Barcelos, a misteriosa aparição de uma cruz negra no campo, em 1504, foi motivo para a criação de um mito que alcançou devoção e, posteriormente, ganhou sua própria festa.

A Festa das Cruzes é a “mais famosa e mais conhecida das festas minhotas” (da região do Minho), como se gabam os locais. As datas de início e término das comemorações variam de ano a ano, mas em 2018, nos primeiros minutos de 25 de abril (data que tem grande valor simbólico para Portugal), uma Salva de Morteiros marcou o início das festividades.

A programação dura até 6 de maio, cheia de cerimônias oficiais e religiosas, com missas e a Grandiosa Procissão da Invenção da Santa Cruz. O templo do Senhor das Cruzes, com seus tapetes de pétalas naturais, é visita indispensável.  Também são realizados concertos, espetáculos, arraiais e, claro, shows pirotécnicos.

A imagem da Mãe Soberana, durante procissão da Festa Grande (Divulgação/Munícipio de Loulé)

Mãe Soberana (Loulé)

Tratada por Mãe Soberana durante sua comemoração anual, a festa em homenagem a Nossa Senhora da Piedade é “a maior manifestação religiosa a Sul de Fátima”. O concelho de Loulé, no Algarve, hospeda o santuário que recebe romeiros de todo o Portugal para a celebração, que acontece no domingo de Páscoa.

Como na criação de expectativa para um ápice final, a Mãe Soberana se divide entre a Festa Pequena e a Festa Grande. De início, nesta primeira parte, a imagem da Nossa Senhora desce de seu posto no santuário, participa de uma marcha com a Filarmónica de Minerva e ruma então para a Igreja de São Francisco – onde, por 15 dias, é acompanhada de novenas e sermões.

Após essa quinzena, chega o dia da Festa Grande. Uma missa é celebrada pelo Bispo do Algarve, em Faro, e assim a imagem está pronta para retornar à casa, em nova procissão que termina com a subida da Nossa Senhora a seu posto no santuário.

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10 Festas Populares para conhecer melhor Portugal (parte I)

Mês passado o Porto parou para comemorar o Dia de São João, de longe o feriado mais importante do ano na cidade. A minha visão dessa festa vocês puderam ler neste post aqui. Eu gostei tanto dessa coisa de farrear na rua que resolvi me aprofundar no tema, já que em cada rincão de Portugal as cidades possuem seus próprios santos e padroeiros a serem homenageados.

Fui então celebrar a festa de Freamunde, a 50 quilômetros do Porto. Assim como no Rio de Janeiro, São Sebastião é o padroeiro da pequena cidade do concelho de Paços de Ferreira, onde entre 5 e 10 de julho são comemoradas as Sebastianas – por conta do inverno, a data é empurrada para julho, ignorando o habitual 20 de janeiro.

Essa experiência foi incrível por me mostrar o quão importante são essas reuniões populares por aqui, independentemente do tamanho da cidade. Era nítido que as pessoas haviam passado o ano esperando para brincar sua festa favorita, fosse no Porto, a grande cidade, fosse em Freamunde, a terrinha de menos de 10 mil habitantes.

Por isso resolvi pesquisar outras festas e lugares para visitar em Portugal durante o verão, período em que as comemorações explodem em cada canto do país. Neste post, dividido em duas partes, eu listo as 10 festas populares portuguesas que você não pode deixar de fora do seu calendário:

Os famosos bailaricos de São João, que embalam os portuenses até a madrugada

São João (Porto)

Tá bem, eu sei que eu tenho um post inteiro só sobre o São João no Porto, mas eu me recuso a fazer uma lista como esta e não incluir a festa que participei somente uma vez e já sou grande fã.

Martelos de borracha em mãos, sardinhas na grelha, cerveja no copo e todos na rua. É assim que o Porto vive o dia 23 e, principalmente, a virada para o dia 24 de junho, dia de São João (que, aliás, não é o padroeiro oficial do Porto). As festas se espalham pelas freguesias da cidade e as pessoas saltam de bairro em bairro, como em uma via sacra, para comemorar. O ápice do São João ocorre à meia noite, quando todos se aproximam da margem do Douro para apreciar um incrível show de fogos de artifício.

As famosas vacas de fogo de Freamunde (Divulgação/Associação Sebastianas Freamunde)

Sebastianas (Freamunde)

Diferentemente das grandes festas do país, que têm reuniões espalhadas por toda a cidade, as Sebastianas acontecem em local determinado, no centro de Freamunde, durante o segundo final de semana de julho.

Está lá todo o arsenal de entretenimento português para festas populares. Isso inclui comidas salgadas e doces, muita cerveja e vinho, divertimentos (brinquedos temáticos) e shows.

O viés religioso da festa ocorre durante o dia, em procissões. Mas é de noite que a grande marca das Sebastianas acontece, com uma ensurdecedora queima de fogos de artifício e as tradicionais “vacas de fogo” – que envolve uma pessoa carregar nas costas um barril cortado ao meio (a vaca) que dispara foguetes a todo lado para a diversão (e temor) dos presentes.

A tradicional corrida de garranos, em Ponte de Lima (Flickr/Rui Pedro Costa)

Feiras Novas (Ponte de Lima)

No extremo norte de Portugal, perto da divisa com a Espanha, uma ponte corta o rio Lima. Literais que são, os portugueses fundaram ali a cidade de Ponte de Lima (quase 900 anos atrás!). Essa é a terra das Feiras Novas, que acontecem todo segundo final de semana de setembro.

Com quase 200 anos de história, a celebração em homenagem a Nossa Senhora das Dores surgiu de um decreto de Dom Pedro IV (que no Brasil é o nosso Dom Pedro I). A festa se volta para a cultura popular de Portugal, por isso música e folclore são pontos altos das Feiras Novas.

Como é praxe, também há show de fogos de artifício, além de concursos pecuários, corrida de garranos (uma raça portuguesa de cavalos), cortejos, grupos de bombos (tambores tradicionais) e os familiares gigantones e cabeçudos, que para o olhar brasileiro carregam grandes semelhanças com os bonecos de Olinda.

Flores e pães ornamentam os tabuleiros de Tomar (Flickr/Jaime Silva)

Festa dos Tabuleiros (Tomar)

Assim como a Copa do Mundo, a Festa dos Tabuleiros também é realizada de quatro em quatro anos. Por conta disso, a expectativa para cada edição é enorme conforme se aproxima o ano de desfilar pelas ruas da cidade do Centro de Portugal. Para a sorte do leitor que está programando férias futuras, a próxima Festa dos Tabuleiros ocorre já em 2019.

No ano que vem, de 29 de junho a 8 de julho, Tomar estará colorida pelo povo carregando seus tradicionais tabuleiros. Sobre suas cabeças, as mulheres caminham com uma espécie de pilar adornado com flores, pães e espigas, algo que dizem ser uma lembrança das antigas festas das colheitas. Ao seu lado acompanham homens, trajados com roupas tradicionais.

Durante os dez dias de celebrações, diversos cortejos preenchem as ruas da cidade, que por conta da festa se fecham para veículos. Nestes desfiles se destacam o Cortejo dos Rapazes (para os pequenos das escolas locais), Cortejo do Mordomo (a entrada na cidade dos bois de sacrifício – que não mais são sacrificados, que fique claro) e o Grande Cortejo (no domingo final).

Na véspera do Grande Cortejo, os participantes se encontram no estádio municipal de Tomar para os Jogos Populares Tradicionais, que consistem em disputas de corrida de bilhas e pipas, tração de cordas (cabo de guerra), subida de pau ensebada e chinquilho (uma espécie de bocha com discos).

Lugar de destaque para Nossa Senhora dos Remédios, na Procissão do Triunfo, em Lamego (Divulgação/A Romaria de Portugal)

Festa dos Remédios (Lamego)

É preciso muita confiança de que sua festa é boa para chamá-la de “A Romaria de Portugal”. As festas em honra de Nossa Senhora dos Remédios, em Lamego, são assim conhecidas pela população local, que divulga esta ser “uma das mais grandiosas do país, na qual os rituais religiosos e profanos se misturam numa harmonia perfeita”.

Pois bem, aí está o resumo. As caminhadas religiosas têm papel fundamental, como no ápice das celebrações: a Procissão do Triunfo (8 de setembro), quando imagens sagradas são puxadas por carros de boi.

O outro lado da comemoração conta com uma programação de shows e desfiles, como a Marcha Luminosa e a Batalha das Flores. Neste ano, a festa de Nossa Senhora dos Remédios acontece entre 23 de agosto e 9 de setembro. Lamego, para quem não sabe, é uma cidadezinha do Norte de Portugal, não muito distante do Porto e bem próximo do curso do rio Douro.

Estas foram as primeiras cinco festas populares portuguesas que resolvi destacar. Como o post ficaria muito longo com todas as celebrações que pesquisei, acabei por dividi-lo em duas partes. Fique ligado no blog para a próxima postagem!

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Koningsdag, o Dia do Rei na Holanda

Ruas cheias, fantasias, celebração e muito laranja durante o King’s Day (Instagram/jessinwanderland_)

Ter a real experiência de entrar em contato com a cultura de um país é prioridade para muitos viajantes – e algo, cá entre nós, extremamente difícil de se conseguir em destinos tão descaracterizados pelo Turismo de massa. Grandes festas e celebrações locais são uma dessas raras oportunidades e, por conta disso, não vou me cansar de escrever sobre elas neste espaço.

Hoje eu volto para a Holanda, país que iniciou a trajetória do Viajante 3.0, para tratar de um dos dias mais importantes daquela terra. Oficialmente uma monarquia parlamentar, nos Países Baixos a família real mantém um respeitável peso simbólico entre a população. Prova disso é a tradicional celebração do Koningsdag (Dia do Rei).

Anualmente, no dia 27 de abril, a população se reúne para brindar a cultura da Holanda, com atividades a céu aberto e cidades (e pessoas) vestidas de laranja. O motivo da cor em abundância é porque essa representa a família real holandesa, a Casa de Orange-Nassau. Voltando para a festa, sua data, não por coincidência, cai no aniversário do Rei Willem-Alexander (ou Guilherme Alexandre se você preferir essas traduções monárquicas).

O dono da festa, Willem Alexander, e a família (Instagram/koninklijkhuis)

A celebração é nacional, ou seja, em qualquer grande cidade do país que você estiver nesse dia, certamente serão ouvidos muitos “fijne Koningsdag” (“feliz dia do Rei”) e terá um mar de enfeites e fantasias laranjas para lhe engolir. Mais que isso, a tradição pede que o Rei Willem visite uma cidade a cada ano. Hoje, então, em seu 51º aniversário, o monarca esteve em Groningen – atraindo multidão de 40 mil pessoas, segundo as autoridades.

Um dos pontos altos do Koningsdag são os vrijmarkt, mercados de pulgas com objetos vintage e colecionáveis. O Dia do Rei é o único no ano em que qualquer um pode comercializar seus bens nas ruas, sem a necessidade de alvarás ou permissões e ainda livre de imposto. Entende-se por: muita gente reunida vendendo e trocando bugiganga.

História

Um fato histórico interessante do feriado é que a celebração mudou de data ao longo das regências. A festa nasceu, em 1885, como Prinsessedag (Dia da Princesa), em homenagem à Princesa Wilhelmina (Guilhermina) – tornou-se posteriormente Koninginnedag (Dia da Rainha) com a morte de seu pai e consequente nomeação como rainha. A festa era comemorada a cada 31 de agosto, dia de seu aniversário.

Juliana, ao suceder a mãe no trono, rearranjou a data para o dia em que nasceu, obviamente: 30 de abril. Foi assim por quase 40 anos, até que Beatrix (Beatriz) se tornou rainha. Como seu aniversário cai em 31 de janeiro e o rígido inverno holandês não é assim tão convidativo para celebrações a céu aberto, ficou acertada a manutenção do 30 de abril, como homenagem à antecessora Juliana.

Ruas de Amsterdã com as cores da bandeira holandesa e, claro, o laranja (Instagram/blooolooo)

Em 2013, ao abdicar do trono e abrir caminho para a regência de seu filho, Willem, a festa mudou então de nome, de Koninginnedag para Koningsdag (de rainha para rei), e também de data. Coincidentemente, não foram necessárias grandes alterações já que Willem Alexander nasceu em 27 de abril, três dias antes da data que fora celebrada durante os 65 anos anteriores.

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