Os 14 patrimônios culturais da Unesco em Portugal

Os patrimônios naturais e culturais da Unesco nasceram para atestar a importância e a relevância de determinados locais e, sobretudo, para garantir sua longevidade por meio de ações de conservação. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura colocou em prática essa ideia na década de 1970 e, desde então, mais de mil áreas, em 167 países, entraram na lista.

Além do evidente ganho em preservação, entrar no grupo da Unesco também faz com que essas regiões façam uso de uma vitrine capaz, por si só, de alavancar o Turismo e atrair um público que até então desconhecia certos destinos. A cidade de Elvas é um exemplo. Listada em 2012 por hospedar uma fortaleza do século 17, em pouco mais de cinco anos a região viu o fluxo turístico local crescer 300%.

Espalhados por todos os continentes, a maior concentração de patrimônios está na Europa. Aqui em Portugal não é difícil topar com a plaquinha que identifica áreas tombadas como patrimônio pela Unesco. Por ter cruzado com algumas nos últimos meses, resolvi listar todas as 14 áreas identificadas pela entidade no país. Confira a lista abaixo (entre parênteses, o ano em que as regiões foram tombadas pela Unesco):

(Turismo Açores)

Angra do Heroísmo (1983)
No distante arquipélago dos Açores, região autônoma portuguesa no meio do Oceano Atlântico, está a cidade de Angra do Heroísmo. Parada estratégica durante as expedições ultramarinas, a cidade se desenvolveu desde o século 16. A importância de seu centro histórico e das fortificações militares fizeram de Angra do Heroísmo uma das primeiras cidades portuguesas a integrar a lista da Unesco.

(Flickr/Oscar Cuadrado Martinez)

Convento de Cristo, Tomar (1983)
O complexo do Convento de Cristo, em Tomar, é um dos maiores exemplares de construção religiosa da Europa. Com obras entre os séculos 12 e 18, o convento reúne elementos arquitetônicos românicos, góticos, manuelinos, renascentistas, maneiristas e barrocos. Um dos destaques da construção é a charola, inicialmente um oratório privativo, com o tempo o espaço se tornou a capela-mor do Convento de Cristo.

(Flickr/Pedro Caetano)

Mosteiro da Batalha (1983)
Em 1385 a Batalha de Aljubarrota definiu a vitória definitiva dos portugueses sobre os castelhanos. Para celebrar o feito e em agradecimento à Virgem Maria, o vitorioso rei D. João I mandou construir o Mosteiro da Batalha – que só foi finalizado quase dois séculos depois. A marcante presença do estilo manuelino, com traços do gótico final europeu, é a credencial para que o Mosteiro figure na lista da Unesco.

(Visit Lisboa)

Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém (1983)
Talvez o Patrimônio Cultural mais visitado pelos brasileiros em Portugal, o Complexo de Belém se divide entre a Torre, nas margens do Tejo, e o Mosteiro dos Jerónimos. Ambos datados do século 16, as edificações construídas na dinastia de Avis são uma mostra do poder de Portugal durante a Era das Descobertas: a Torre, pelo caráter defensivo; os Jerónimos, pela pomposidade da construção.

(Flickr/François Philipp)

Centro Histórico de Évora (1986)
Évora, no Alentejo, já foi a segunda cidade mais importante de Portugal. Era o século 15 e os reis desses tempos costumavam passar períodos na região, motivo pelo qual a cidade ganhou construções históricas como os conventos de Santa Clara e dos Lóios ou o Palácio de D. Manuel. Uma cidade-museu, Évora também guarda memórias de um passado longínquo, da presença dos Mouros (rua da Mouraria) e dos romanos (Templo Romano), por exemplo.

(Flickr/Angel de los Rios)

Mosteiro de Alcobaça (1989)
Em 1153 foi fundada a Abadia de Santa Maria de Alcobaça, que 20 anos mais tarde iniciou as construções de seu mosteiro. Por muito tempo a cidade no Centro de Portugal foi uma das poucas no país a hospedar um templo de arquitetura genuinamente gótica. Ficam lá os túmulos de D. Pedro I e Inês de Castro, amor proibido retratado por Camões nas páginas de Os Lusíadas.

(Visit Lisboa)

Sintra (1995)
Refúgio da aristocracia portuguesa e de ricos estrangeiros no século 19, Sintra se desenvolveu como um dos centros da arquitetura romântica na Europa. Lá estão obras tocadas pela realeza lusitana, como o Palácio Nacional de Sintra e o Palácio Nacional da Pena, mas também construções de moradores abastados, como o Palácio de Monserrate e a Quinta da Regaleira. A singularidade e a conservação dos palácios foram alguns dos motivos para que a cidade entrasse na lista da Unesco.

Centro Histórico do Porto (1996)
A Ribeira, a Ponte Luís I e o Mosteiro da Serra do Pilar compõem, juntos, o famoso cenário das tantas fotografias tiradas pelos turistas que visitam o Porto. O coração da segunda maior cidade de Portugal é tombado pela Unesco por ser a representação física, com seus prédios e construções históricas, do desenvolvimento ocasionado pela herança comercial da região.

(Flickr/Nmmacedo)

Vale do Côa e Siega Verde (1998, 2010)
Único parque arqueológico na lista portuguesa, o Vale do Côa (listado pela Unesco em 1998) e a jazida de Siega Verde (2010) ficam localizados no Norte de Portugal, próximos da fronteira leste com a Espanha. Representante do passado pré-histórico da região, foram encontrados no vale gravuras em pedra datadas do Paleolítico Superior (22 mil a 10 mil anos a.C.).

Alto Douro (2001)
Apesar do nome, a produção do vinho do Porto nunca foi feita nesta cidade. As uvas são cultivadas e o vinho processado a mais de 100 quilômetros dali, no vale do rio Douro, ou Alto Douro. As montanhas talhadas por quase dois mil anos de produção vinícola criam um cenário único, assim como é única no mundo a produção do vinho fortificado da região.

(Guimarães Turismo)

Centro Histórico de Guimarães (2001)
“Portugal nasceu aqui” é uma frase comumente ouvida em Guimarães. Não é exagero dizer que a identidade e a língua portuguesa nasceram na cidade do Norte, primeira capital do país, no século 12. O bem conservado centro histórico de Guimarães, com edificações originais que datam desde o século 10, mostra a relevância que a cidade teve em diferentes momentos da história portuguesa.

(Turismo Açores/M Rocha)

Ilha do Pico (2004)
O português é alguém intimamente ligado ao vinho. Para onde fosse o levaria e a Ilha do Pico, segunda maior do arquipélago dos Açores, é prova disso. Lá a cultura foi implementada desde o século 15 e existe até hoje. As características únicas das vinhas centenárias, que exigiam cuidados específicos como a proteção contra a água do mar, colocaram a cidade na lista da Unesco.

(Flickr/Oscar Cuadrado Martinez)

Fortaleza de Elvas (2012)
Diante de séculos de invasões mouras e muçulmanas, a estratégica cidade de Elvas, no interior de Portugal, foi ganhando importância militar com as Guerras de Reconquista. A necessidade de se defender foi traduzida na construção da maior fortificação em estrela da Europa. O complexo, que contém castelo, praça-forte, fortes, aqueduto e muralhas, é exemplar único de seu tipo no continente.

(Turismo do Centro)

Universidade de Coimbra (2013)
Os mais de 700 anos de história fazem da Universidade de Coimbra uma das mais antigas instituições de ensino superior europeias ainda em operação. Além da importância histórica e a relevância atual (são 25 mil estudantes), o complexo possui construções notáveis, como o Paço das Escolas, a Biblioteca Joanina e o Jardim Botânico.

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Os termômetros chegaram a 40 graus na Europa

Praia de Matosinhos, em Portugal (Flickr/alopzm)

Quem não lembra das notícias sobre a série de altas temperaturas que dominou o verão europeu no ano passado? Em 2017, Portugal sofreu muito com o calor, seja no desconforto para a população (e visitantes), seja nos devastadores incêndios em áreas florestais. O que parecia ser ato isolado, “temperaturas mais altas dos últimos anos” ou acidente de percurso, ganhou uma incômoda sequência neste 2018.

Essa introdução toda para dizer que está um calor quase que insuportável por aqui. A onda chegou de vez na Europa e, em um primeiro momento, mostra que será tão extrema quanto a anterior. Aqui no norte de Portugal a situação é até mais “amena”, com termômetros chegando aos 35 graus, mas não indo além disso.

Temperaturas em Portugal nesta sexta-feira, 3 (Reprodução/O Tempo.pt)

Mais ao sul do país a situação piora. A máxima de hoje para Lisboa é de surreais 42 graus, com a manutenção das temperaturas acima dos 40 graus por todo o final de semana. Nas regiões vizinhas de Ribatejo, Alto Alentejo e Baixo Alentejo, os termômetros podem marcar até 43 graus!

O mesmo acontece na Espanha, com altas por todo o país. O Norte, assim como em Portugal, está um pouco menos severo. Em Zaragoza, por exemplo, termômetros marcam 38 graus. Na região central, a capital Madri enfrenta 41 graus, enquanto que no sul, de Sevilha, as temperaturas estão em 42 graus.

Todo o noticiário local tem focado nas temperaturas extremas, divulgando focos de incêndios controlados (ou não) ou repetindo os alertas de segurança passados pelas autoridades. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) declarou que o país está e irá se manter pelos próximos dias em alerta vermelho, o mais grave da escala.

Além dos possíveis focos de incêndio, a preocupação do órgão é com o risco elevado de exposição à radiação ultravioleta (UV). Por isso, a recomendação é de que a população utilize óculos de sol, chapéu, camisetas, guarda-sol e protetor solar.

Se você está a caminho da Europa, principalmente Portugal e Espanha, se prepare. A massa de ar seco e quente proveniente do Norte da África, razão pela qual as temperaturas estão tão extremas, deve se manter pelo continente por mais alguns dias. Se proteja do calor, bebam muita água, procure atividades internas (como museus) e deixe para caminhar a céu aberto quando o sol estiver mais baixo (por volta das 20h/21h).

Para aqueles que viajam por esses países de carro, não deixem de checar o portal fogos.pt. O site mostra em tempo real a situação em áreas de risco de incêndio, que podem fechar estradas ou ameaçar regiões povoadas.

Caso esteja pela região, deixe nos comentários os seus relatos de como têm enfrentado esse calor. Acompanhe a jornada do Viajante 3.0 pela blogosfera da PANROTAS e também pela conta no Instagram.

10 Festas Populares para conhecer melhor Portugal (parte II)

Como prometido, aqui está a segunda parte da lista de festas populares portuguesas que eu criei para o Viajante 3.0. No primeiro post, que você pode acessar neste link, apresentei celebrações como o São João (Porto), Sebastianas (Freamunde), Feiras Novas (Ponte de Lima), Festa dos Tabuleiros (Tomar) e Festa dos Remédios (Lamego).

Em homenagem a entidades religiosas diversas, essas comemorações têm entre si pelo menos uma coisa em comum: todas representam a data (ou uma das datas) mais importantes para estes locais. Participar de festas populares em Portugal significa estar presente no melhor dia do ano para uma grande parte da população, seja pelo viés religioso, seja pelo profano.

Abaixo apresento cinco outras celebrações que completam essa lista, escolhidas a dedo para que o leitor possa se programar e conhecer a fundo a mais autêntica experiência portuguesa.

Os desfiles na Av Liberdade são um dos pontos altos da festa de Santo António (Facebook/Visit Lisboa)

Santo António (Lisboa)

Junho é sinônimo de festa em Lisboa e a capital portuguesa não poderia ficar de fora. Santo António é o homenageado e as comemorações se espalham pelos cantos da cidade do primeiro ao último dia do mês. Em 12 de junho, no entanto, é quando a cidade realmente para em nome do santo.

A Avenida da Liberdade vira passarela para o desfile das marchas populares, cada uma representando uma área da capital. Todos coloridos, bairros tradicionais se enfeitam com luzes, guirlandas e balões, seja na Alfama, em Bairro Alto, Ajuda, Graça ou Mouraria.

Nestes locais, aliás, palcos são montados para a realização dos divertidíssimos arraiais e bailaricos – todos regados a muita cerveja e, é claro, acompanhado de sardinhas na brasa. A parte religiosa novamente está presente, com procissões nas cercanias da Sé no dia seguinte (13).

Jovens reunidos durante o Pinheiro, uma das etapas das Nicolinas (Divulgação/Município de Guimarães)

Nicolinas (Guimarães)

Fugindo ao padrão das comemorações que se aglomeram no verão europeu, as Nicolinas são festas estudantis realizadas entre 29 de novembro e 7 de dezembro, em Guimarães. Como o nome indica, o homenageado da vez é São Nicolau de Mira, padroeiro dos estudantes.

Os nove dias de festa são divididos por temas e formas de celebrar diferentes: Pinheiro e Ceias Nicolinas; Novenas; Posses e Magusto; Pregão; Maçãzinhas; Danças de São Nicolau; Baile Nicolino; e Roubalheira.

Destas, destaco três datas. O Pinheiro, dia em que os estudantes saem para jantar e no fim da noite entoam cânticos pelas ruas de Guimarães. A roubalheira, madrugada em que estudantes vão às ruas para zombar comércios, trocando placas de lugar ou tomando pertences esquecidos ao léu. E as Maçãzinhas, quando estudantes mulheres se postam em janelas e varandas para ouvir as serenatas românticas e ganhar pequenas maçãs de seus pares.

Os assustadores Caretos das Festas dos Rapazes (Flickr/Visit Porto and North/Associação Grupo de Caretos de Podence)

Festas dos Rapazes (Trás-os-Montes)

Os últimos dias do ano em Trás-os-Montes são reservados para um importante rito local. Entre Natal e Dia de Reis, os jovens da região do extremo nordeste de Portugal se vestem de forma peculiar (e, de certa forma, assustadora) para marcar a passagem para a vida adulta.

Originalmente pagã, celebrada no solstício de inverno, a festa secular foi apropriada pela igreja e hoje homenageia Santo Estevão. Nela, os garotos da cidade se vestem de Caretos, personagem que assusta os presentes com sua máscara rudimentar e roupas coloridas em verde, vermelho e amarelo.

Para marcar o momento, os rapazes vão às ruas para brincar, provocar e assustar os presentes. Muito celebrada no distrito de Bragança, a festa está espalhada por toda região de Trás-os-Montes. Por isso, vale pesquisar pequenas cidades da área e suas respectivas datas de desfiles.

De cima de carros, pétalas são atiradas no público durante a divertida Batalha das Flores, na Festa das Cruzes (Flickr/Município de Barcelos)

Festa das Cruzes (Barcelos)

Se não há santo a ser celebrado, não tem problema. Em Portugal, dá-se um jeito para comemorar. Em Barcelos, a misteriosa aparição de uma cruz negra no campo, em 1504, foi motivo para a criação de um mito que alcançou devoção e, posteriormente, ganhou sua própria festa.

A Festa das Cruzes é a “mais famosa e mais conhecida das festas minhotas” (da região do Minho), como se gabam os locais. As datas de início e término das comemorações variam de ano a ano, mas em 2018, nos primeiros minutos de 25 de abril (data que tem grande valor simbólico para Portugal), uma Salva de Morteiros marcou o início das festividades.

A programação dura até 6 de maio, cheia de cerimônias oficiais e religiosas, com missas e a Grandiosa Procissão da Invenção da Santa Cruz. O templo do Senhor das Cruzes, com seus tapetes de pétalas naturais, é visita indispensável.  Também são realizados concertos, espetáculos, arraiais e, claro, shows pirotécnicos.

A imagem da Mãe Soberana, durante procissão da Festa Grande (Divulgação/Munícipio de Loulé)

Mãe Soberana (Loulé)

Tratada por Mãe Soberana durante sua comemoração anual, a festa em homenagem a Nossa Senhora da Piedade é “a maior manifestação religiosa a Sul de Fátima”. O concelho de Loulé, no Algarve, hospeda o santuário que recebe romeiros de todo o Portugal para a celebração, que acontece no domingo de Páscoa.

Como na criação de expectativa para um ápice final, a Mãe Soberana se divide entre a Festa Pequena e a Festa Grande. De início, nesta primeira parte, a imagem da Nossa Senhora desce de seu posto no santuário, participa de uma marcha com a Filarmónica de Minerva e ruma então para a Igreja de São Francisco – onde, por 15 dias, é acompanhada de novenas e sermões.

Após essa quinzena, chega o dia da Festa Grande. Uma missa é celebrada pelo Bispo do Algarve, em Faro, e assim a imagem está pronta para retornar à casa, em nova procissão que termina com a subida da Nossa Senhora a seu posto no santuário.

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